Vi recentemente um filme muito apropriado para estes tempos de
protestos e pedidos (alucinados) pela volta da ditadura: "O Clã", do cineasta argentino Pablo Trapero – que fez "Abutres" e "Elefante
Branco", duas outras pauladas. Na década de 80, em pleno Governo Galtieri,
a família Puccio, liderada pelo patriarca Arquimedes, se constitui numa espécie
de poder paralelo dentro da repressão militar, sequestrando e matando. O
roteiro do diretor joga com passado e presente e contrapõe as imagens do filho
Alex, um jogador bem-sucedido de rúgbi, com os sequestros de gente rica e de
desafetos do poder militar. Além disso, o diretor se utiliza de canções pop de
grupos como The Kinks, Creedence Clearwater Revival e Seru Girán para criar um
clima incômodo, pois as músicas são ensolaradas e alegres e o que se vê na tela
é porrada pura.
A insuspeita família Puccio. |
A expressão impassível do ator que interpreta o patriarca Puccio,
Guillermo Francella, assusta o público pela frieza com que ele planeja e
executa seus planos de sequestros e mortes das suas vítimas. É interessante
ressaltar que toda a família está envolvida nestas atividades ilegais e
paralelas, seja o filho Alex, que participa diretamente dos sequestros ou as
filhas, que fazem de conta que não ouvem os gritos vindos do sótão macabro.
"O Clã" é mais uma prova da teoria de que o cinema argentino
é o melhor feito em toda a América Latina e que a cinematografia brasileira tem
muito a aprender em termos de abordagem, roteiro e mise-en-scène. Recomendado a
toda esta turminha que fala na "volta da ditadura" sem imaginar a
imbecilidade deste pedido. Recomendo também a todos aqueles que gostam de
cinema. Um dos melhores do ano, sem dúvida alguma.
trailer - "O Clã"
por Paulo Moreira
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