Voltavam animados e bêbados os quatro da festa, que tinha bombado aquela noite. Ainda excitados, entre risadas e tirações de sarro, as quais escondiam as intenções sexuais de pelo menos dois dos três homens em relação à moça do grupo, iam em direção ao ponto de táxi. Na esquina, correram desengonçados antes que o sinal abrisse, mas um deles, abobado pelo álcool, ficou para trás. Teve que esperar o semáforo abrir novamente. Do outro lado, os amigos faziam-lhe caretas e gargalhavam alto e compulsivamente. Ele riu também, mas logo achou bastante sem graça rir sozinho do outro lado da rua e seriou de repente. Nada pra fazer, pôs a mão no bolso e descobriu ali pedaços de papéis sem utilidade. No lixo ao lado, ali a acompanhá-lo, jogou fora o que achou. Como não havia nada melhor para ocupar-se naqueles segundos até atravessar, investigou os outros bolsos da calça e da jaqueta e achou mais inutilidades. Foi se desfazendo de tudo que já não mais prestava: cartões de visita, chaveiro, lenços de papel, moedas, chaves sem utilidade. Tudo ia para aquela pertinente lixeira, a nova amiga onde agora despejava também a carteira, o celular, os sapatos, a roupa, os documentos. Apercebia-se que, no frigir dos ovos, não precisava de nada daquilo de fato. E antes que o sinal abrisse enfiou-se ele mesmo pela boca da lixeira e de lá não mais saiu. Não havia mais quem atravessar a rua, e os carros avançaram desimpedidos. Os amigos, impassíveis em seu estado de animação, retomaram o passo rumo ao ponto de táxi aliviados: seria preciso agora um carro apenas para devolvê-los a seus lares.
Daniel Rodrigues
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