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terça-feira, 12 de setembro de 2017

"Como Nosso Pais", de Laís Bodanzky (2017)



"Como Nossos Pais", grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado, é um filme melhor do que eu apostava que fosse, mas menor do que poderia ser. Na ânsia de abordar o máximo de assuntos pertinentes à condição da mulher na sociedade, a diretora Laís Bodanzky acaba sobrecarregando o próprio filme e endurecendo-o, deixando pouco espaço para  ou para a imaginação e interpretação. Sei que quem vem "apanhando" há tempos tem pressa, tem necessidade de se expressar, de mandar o seu recado da maneira mais clara possível, mas essa literalidade, muitas vezes, sacrifica a poesia e é bom lembrar, cinema é arte. Por outro lado, mesmo um tanto endurecido por essa escolha da diretora, o filme consegue ter um bom ritmo e na maior parte do tempo, mantém-se atraente para o espectador.
No filme, Rosa (Maria Ribeiro) é uma mulher que, como muitas no mundo de hoje, vê-se completamente sufocada e perdida diante de todas as suas atribuições, o que é ainda mais agravado pela total falta de comprometimento do marido, por problemas com a mãe e pelas situações complicadoras do dia a dia que não escolhem hora para aparecer. Maria Ribeiro, conforme já era comentado, está realmente muito bem em seu papel, transmitindo com muita verdade todas as angústias daquela mãe-dona de casa- profissional-cozinheira-chofer de filhos-contadora de histórias-psicóloga-filha-esposa-sonhadora-gente. E aí vai outro mérito à diretora na construção da personagem fazendo com que no início quase a odiemos, tamanha sua irracionalidade, mas que logo venhamos a compreender que aquelas atitudes iniciais refletem seu estado emocional absolutamente no limite. Já Paulo Vilhena, também bastante elogiado no seu papel de Dado, o marido, a mim pareceu-me o mais do mesmo. Gostaria que ele tivesse me surpreendido mas não foi dessa vez. Foi o mesmo surfista de sempre só que desta vez sem prancha. A praia era outra. Eram reservas indígenas mas ele era o mesmo "carinha" lóki de sempre. Pro papel... serviu. Mas gostaria um dia de ver esse ator fazendo algum personagem que não seja ele mesmo.
Jorge Mautner, ao contrário, num papel menor, quase uma participação especial, é um show à parte, esbanjando carisma como o pai de Rosa, artista plástico doidão garantindo as cenas mais gostosas e divertidas do filme.
Embora não confirme o grande filme que prometia entregar, "Como Nossos Pais" é sem dúvida um filme importante no atual contexto e no presente momento de debate da condição da mulher dentro da atual configuração de sociedade na qual vivemos. é uma obra urgente e necessária que suscita uma série de reflexões especialmente por parte de nós, os marmanjos, mas que, não se engane, propõe sim, também bons questionamentos e reavaliações direcionados às mulheres. Talvez por sua relevância neste momento de discussão e afirmação da mulher, independente de ser maravilhosos ou não, "Como Nosso Pais" venha a ser lembrado como um daqueles filmes que marcaram época. Talvez... O tempo dirá.
Rosa tendo que enfrentar, além de todos os problemas "normais"
do dia a dia, situações difíceis com a mãe.


Cly Reis

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Deixe a meta do poeta Chico Buarque

Chico, lançando novo disco e nova polêmica
Toda unanimidade é burra, diz o jargão popular. No caso de Chico Buarque, entretanto, esta máxima vale para os dois lados: a quem o idolatra e a quem o odeia. A quem idolatra, porque acha, infantilmente, que seu gosto tem que valer para todo mundo, fazendo com que qualquer crítica ao “intocável” Chico se transforme num manifesto político de esquerda. Uma burrice sem tamanho. Do outro lado, os que odeiam não têm nenhum pudor em deixar transparecer que todos os que, na sua visão, infantilmente gostam de Chico são burros, haja vista que se trata de um velho ultrapassado e enganador.

Primeiro, nem todo mundo gosta de Chico Buarque e de sua arte, o que, mesmo que raramente, escuta-se por aí. Até aí, ok, uma vez que é saudável que, por um motivo ou outro, haja quem discorde ou não se afine com o que o cantor, compositor e escritor faz. Por outro lado, contudo, a mesma unanimidade soa diferente – e não coincidentemente, mais burra ainda. Se praticamente toda a esquerda forma filas seguindo seus passos, há uma direita reacionária e raivosa que está permanentemente no encalço de Chico. Em tudo que ele faz, seja uma música, uma aparição pública ou algum posicionamento político. A direita não engole Chico, e por isso o persegue, tentando achar, sob a capa de uma artificial unanimidade, a ideológica, erros de conduta no artista que o incriminem.

E não conseguem, claro. São polêmicas vazias que, no instante seguinte, se esvaziam. Foi assim agora, em agosto, quando do lançamento da música “Tua Cantiga”, presente no mais recente disco de Chico, “Caravanas”. Livre dos estereótipos e dono de seu trabalho, Chico segura com açúcar e afeto essa turma irritadiça desde os anos 70, quando o patrulhamento sobre si já se manifestava com agressividade. Não foi diferente neste último episódio, quando, sem criatividade (visto que sem argumentos de fato), trouxeram mais uma vez a pecha de “machista” a ele, coisa que tentam desde o tempo em que não entenderam (ou fizeram de conta que não entenderam) a trágica ironia de “Mulheres de Atenas”. De 1976... Igual ao que tentaram imputar-lhe quando do seu até então último álbum, “Chico”, de 2011, ao implicaram com os versos: “Amar uma mulher sem orifício”. Fizeram-no idiotamente, sem fazerem questão de considerar as palavras que vinham antes: ”Hoje pensei em ter religião/ De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício/ Por uma estátua ter adoração...”.

Desta vez, a acusação da ala “feminista” foi a mesma, porém a polêmica foi maior. A letra de “Tua Cantiga”, um lindo maxixe moderno escrito por ele em parceria com Cristóvão Bastos, fala de um homem perdidamente apaixonado por uma mulher distante dele a quem, romanticamente, venera. Nela, os versos: “Largo mulher e filhos/ E de joelhos/ Vou te seguir”, entretanto, foram o estopim da avalanche de discussões. Desde julgamentos de que a atitude de “largar mulher e filhos” seria machista até a de que, por absoluta falta de interpretação de texto, a de que esse ato significaria um desrespeito às mulheres, por que ter uma “amante” seria inaceitável. Detalhe: em nenhum momento a letra diz que o homem ficaria com as duas mulheres ao mesmo tempo, e nem que “largar mulher e filhos” significaria precisamente isso, visto que a frase pode tranquilamente ser entendida como uma força de expressão. Ou seja, talvez nem mulher e filhos existam, apenas o arroubo romântico do personagem. Haja vista o não entendimento ou a forçada intenção de tentar não compreender o que foi dito, é fácil também de explicar porque confundem com tanta convicção este com o próprio autor.

Mallu Magalhães: fez clipe mas não soube
resistir às críticas
A repercussão que tomou redes sociais e depois a imprensa e a sociedade de um modo geral foi, de fato, surpreendente. Até para o próprio Chico Buarque, que, sem ter o que esconder, entrou no circuito de manifestações, não para explicar-se, tal qual infantilmente fizera recentemente Mallu Magalhães ao defender-se de ter posto dançarinos negros em um videoclipe, como se, de maneira racista, os tivesse “rebaixando” ao relegá-los a meros figurantes “exóticos” a seu serviço, uma mulher branca e bem sucedida (!). A inconsistente artista caiu na rede “deles”: acusou culpa por algo que, se fosse imbuída do seu próprio conceito artístico ou, simplesmente, tivesse raciocinado melhor, não tinha absolutamente nada de errado. Chico, no seu caso, entrou na jogada para, educadamente, estabelecer contrapontos às criticas. Primeiro, postou em suas redes sociais um vídeo do professor de Literatura Sérgio Freire, da UFAM, que defende, com argumentos bem embasados, a expressão “largar mulher e filhos” como uma figura de linguagem (hipérbole), e que a confusão personagem/autor é proposital e saudavelmente literária. Noutra postagem, Chico, não sem atiçar mais discórdia, propôs uma interessante leitura ao caso postando um comentário que ele mesmo ouvira num supermercado quando duas mulheres dialogavam sobre “Tua Cantiga”:

“- Será que é machismo um homem largar a família para ficar com a amante?

- Pelo contrário. Machismo é ficar com a família e a amante.”

Todo esse debate em torno da música nova de Chico Buarque é um verdadeiro espelho da sociedade brasileira, contudo. Não há, por parte de uma fatia (considerável, poderosa e midiática) da sociedade uma real vontade de que as coisas mudem: a desigualdade social, a corrupção, a hipocrisia, o preconceito e o próprio machismo pretensamente atacado. Ao invés de se preocupar e brigar por coisas que afetam a vida do brasileiro de forma estrutural, como o crítico cenário político atual e as desigualdades sociais que se dão a cada esquina, “neguinho” presta atenção no problema periférico ou naquilo que nem problema é. Porque dar atenção demasiada ao que Chico Buarque está falando na letra da música é, sim, desviar do que importa. Afinal, é mais fácil isso do que fazer um mea culpa por bater panela e alçar ao poder o primeiro presidente julgado por corrupção no exercício do mandato. E que ainda está lá.

Jack Nicholson em "O Iluminado"
Para além das interpretações positivas ou não, a questão, porém, nem devia ser esta, o que adensa ainda mais a percepção de que o Brasil idiotizou-se. É ridículo, se não, maldoso e tendencioso, deslocar o discurso de uma obra artística e jogá-la num contexto sociopolítico para que esta responda a problemáticas outras que não lhe dizem respeito. Fosse assim, todo ator que fizesse o intrigueiro e invejoso Iago, do “Othelo” shakesperiano, seria linchado em praça pública. Ou mesmo todo mundo correria de Jack Nicholson após vê-lo violento e ensandecido em "O Iluminado", ainda mais porque o primeiro nome do personagem leva o mesmo do ator. É claro que tem sempre um pouco de criador na criatura, mas, convenhamos: menos, né?

O que está escrito em “Tua Cantiga” e todas as interpretações que a obra suscita são, impreterivelmente, do âmbito artístico. São da obra, e devem ser vistas como tal. Mesmo que fosse (e não é) um trabalho autobiográfico de Chico Buarque, ainda assim exigiria que fosse visto como arte. Que interessa se o “eu-lírico” da letra é ou não machista, ora essa! Se o é ou não, é objeto da obra, e assim foi intencionalmente escrita. E ponto. É sinal de um retrocesso descomunal observar que algo desta natureza ainda gere controvérsia e, ainda mais triste, precise ser explicado. De outra música da safra nova de Chico, "As Caravanas", uma denúncia do preconceito racial e social, ninguém comenta.

Desculpem, mas não é por aí que se defende o “empoderamento feminino” – ou pior: não é por aí que se usa a moda do “empoderamento” para atacar ideias políticas divergentes. A questão é que, em época de evidente crise moral brasileira, o mínimo suspiro de linguagem culta só vem confirmar o empobrecimento cultural no qual nos forçam a afundar todos os dias. “Porcaria na cultura tanto bate até que fura”, né, Itamar Assumpção? Outro poeta, Gilberto Gil, sabiamente esquivo, escreveu certa feita: “Uma meta existe para ser um alvo/ Mas quando o poeta diz: Meta/ Pode estar querendo dizer o inatingível”. Não atingir isso é burrice. Unanimemente.

Clipe de "Tua Cantiga" - Chico Buarque



por Daniel Rodrigues

sábado, 9 de setembro de 2017

cotidianas #527 - O Barulho no Andar de Cima




Aproveitei que encontrei o Sr. Jeremias, o síndico, na portaria, e reclamei com ele do constante barulho de correria, possivelmente de crianças com alguma espécie de triciclo, eu acho, no apartamento em cima do meu, todas as noites, desde que me mudei há duas semanas. Ele me olhou com uma cara que misturava dúvida com espanto e me disse que no 401 não morava ninguém. Que a família que morava ali se mudara, fora embora depois da morte trágico dos filhos, dois meninos, um de 6 e um de 8 anos. Desde então o apartamento estava vazio. Percebendo a minha expressão de surpresa, no entanto, se comprometeu de ver com a imobiliária se alguém estaria visitando o apartamento, um corretor ou um representante qualquer. Achei pouco provável que um corretor levasse clientes para conhecer um apartamento às 11 da noite mas em todo caso, aceitei e, não tendo outro jeito me dei por satisfeito com a providência. O deixei colocando as cartas nos escaninhos de cada morador e entrei no velho e pequeno elevador que já me esperava no térreo. Subi. Pela pantográfica, enquanto subia, podia avistar uma bela moça que aguardava o elevador no meu andar. Ao abrir a grade de correr, a garota sorridente me cumprimentou. Se apresentou, disse que chamava-se Clara, que era minha vizinha do lado, do 302, e que se precisasse de alguma coisa, que não hesitasse em chamá-la. Agradeci e aproveitei a simpatia para perguntar-lhe se os barulhos de cima não a incomodavam, sendo que o Sr. Jeremias, o síndico, dissera que ninguém morava lá. Ela, no entanto, não se deu atenção à questão dos ruídos e dos moradores de cima, fixou-se no síndico. Quis confirmar com quem havia falado. Pediu que eu descrevesse. Um senhor assim, dessa altura, meio calvo na frente, cabelos brancos, óculos redondos, meio encurvado. Disse que era impossível. O Sr. Jeremias, cuja descrição correspondia à que eu fizera, morrera fazia dois anos. Cortou o assunto abruptamente. Tinha pressa. Estava atrasada para a faculdade. Depois nos falaríamos. Despediu-se. Ia entrar em casa quando lembrei que ela. no fim das contas não falara-me sobre os moradores de cima. Voltei-me mas ela já havia desaparecido. Já devia ter descido, pensei. Mas o elevador ainda estava, ali, no andar com a grade aberta. Deve ter ido pela escada. Entrei. Tinha que trabalhar. No escritório falaria com o Juan, ele se interessa por essas coisas de espíritos, outras vidas e coisas assim. Diz que é médium, que pode sentir os espíritos. Poderia me falar alguma coisa. Cheguei. Fui direto à mesa do meu colega. Ansioso, assim que o vi, de costas, trabalhando, já comecei a falar relatando a ele tudo o que se passara naqueles últimos dias e naquela manhã. Assim que terminei, quis saber sua opinião. Toquei em seu ombro. Só então ele se virou da mesa em minha direção e pude ver as lágrimas em seus olhos. Mirando em minha direção mas parecendo procurar alguma coisa no vazio, ele disse então
- Meu amigo... É você?... Você está aí?... Eu posso senti-lo. Eu posso senti-lo.



Cly Reis

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Museu Madame Tussauds - Londres - UK









Londres tem inúmeros museus dos mais variados estilos, assuntos e interesses, desde arte a tecnologia, de história natural a moda, mas dentre todos, um dos mais legais, clássicos e imperdíveis é o lendário museu de cera de Madame Tussauds. Com suas reproduções altamente fiéis de celebridades, o museu é um dos mais famosos e frequentados do mundo. O acervo vai sempre se renovando, adequando-se à época e aos ídolos e grandes nomes que façam parte do momento, mas algumas figuras como Pelé, Michael Jackson, Marilyn Monroe, Beatles e a realeza britânica estão sempre presentes nas coleções. Vai a Londres? Não deixe de visitar o Tussauds, que como mais uma atração, curiosamente, fica exatamente na rua que inspirou o famoso livro de Arhtur Conan Doyle para o detetive Sherlock Holmes, a Baker Street, que tem até uma estátua para o icônico personagem de romances de mistério.
Confira abaixo algumas imagens do Madame Tussauds:





Deus Salve a Rainha.
(Rainha Elizabeth e o Príncipe Consorte Philip)


Royalle with Cheese
(Samuel L. Jackson e John Travolta)
Bond, James Bond.
(Sean Connery)

Tudo é relativo.
(Albert Einstein)

Meu brother Morgan
(Morgan Freeman)

E aí, Nicolinha, será que rola?
(Nicole Kidmann)

A benção, João de Deus.
(João Paulo II)

Supense!
(Alfred Hitchcock)

Acelera, Lewis!
(Lewis Hamilton)

Beckham e a Posh Spice
(David e Victoria Beckham)

Oscar e eu, divagando.
(Oscar Wilde)

Os quatro rapazes
(The Beatles)

Vamos fazer um som, aí, Jimi!
(Jimi Hendrix)

Hum! Que peitinhos, Britney.
(Britney Spears)

Nos contentamos com o que há de melhor, não é, Winston?
(Winton Churchill)

Guilhotina neles
(Luís XVI e Robespierre, os dois à esquerda
e Maria Antonieta, bem à direita)

E na parte de fora, Sherlock Holmes, na Baker Street.