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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

cotidianas #552 - Pílula Surrealista #24



Espírito sonhador e infantil tinha Mia. Encantava-se pelos meninos da escola, um a cada mês diferente, praticamente conforme o tempo de tentativa pela atenção nunca recebida de volta. Esquecido o primeiro, então, partia para próximo, sempre com paixão e tesão renovados. Ao final do solitário flerte ao escolhido da vez, chorava e se entristecia. Eles só queriam saber de futebol, celulares e das meninas gostosinhas, não de gordinhas e retraídas como ela. Talvez fosse por causa das manias... Mia tinha manias, quase sempre inocentes, inofensivas. Hábitos estritamente particulares, mas os meninos deviam suspeitar. Comer pão com uma pitada de açúcar por cima, por exemplo. Pingar apenas uma gota de café para vê-lo espalhar-se aos poucos sobre o leite também. Igual, assistir tevê de ponta-cabeça no sofá, que lhe dava uma sensação divertida de suspensão.

Outra ideia meio besta que não lhe saía da mente de adolescente era também o seu maior temor: o de um inseto entrar-lhe ouvido adentro. Mosquitos, moscas, cigarras, abelhas, besouros, gafanhotos, escaravelhos, zangões. Todos lhe davam pavor só de imaginar. Por isso mesmo, punha-se a sondar as mais improváveis situações em que um bicho desses invadisse sua cabeça através das orelhas. Acampamento na natureza, passeios desavisados pelo parque, sonos profundos demais ou fechar os olhos por muito tempo na rua. Imaginava-os vindo voando ou rastejando seus cascos e asas lentamente sobre o travesseiro em direção a seu cérebro enquanto dormia à noite. A passos silenciosos chegavam e se acomodavam no novo lar.

Tanto foi, que aconteceu. A libélula copulou lá dentro, soltou seus ovos e fizeram-se as ninfas, que se desenvolveram durante meses até ganharem asas. Várias delas e ao mesmo tempo, todas batendo asas no interior da cabeça de Mia. De primeiro, sentira coceiras e zunidos incômodos dentro da caixa encefálica. A sensação ruim se dissipou quando as libélulas, afoitas pelo céu, ergueram a menina pelo crânio e a carregaram num voo sobre a cidade. Mia sobrevoara a estação do trem, o lago, a praça e a escola, vitoriosa como nunca tivera sido.

Daniel Rodrigues

O Frango Atirador

Cly 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

"Com Amor, Van Gogh", de Dorota Kobiela e Hugh Welchman (2017)



Cheia de cor, deslumbrante, uma verdadeira obra de arte, mas que ao mesmo tempo é carregada de uma enorme melancolia. O “Com Amor, Van Gogh” não poderia ter sido feito de uma maneira diferente: a melhor maneira de contar a vida de artista que pintava sua vida só poderia ser feita através de suas obras, e nesse aspecto o longa  é perfeito.
O filme é uma investigação aprofundada sobre a vida e a misteriosa morte de Vincent Van Gogh através das suas pinturas e dos personagens que habitam suas telas. Animado com a técnica de pintura a óleo do pintor holandês traz entrevistas com os personagens mais próximos e reconstruções dos acontecimentos que precederam sua morte.
A arte de "Com Amor, Van Gogh" é tão deslumbrante que o espectador quase nem se apercebe de sua narrativa um pouco travada. A história demora um pouco ganhar força e para fazer o espectador embarcar na ideia de investigar a morte (misteriosa) de Van Gogh.
A triste e solitária vida de um gênio.
Visualmente não há falhas. O filme é uma obra perfeita. Suas cores são fantásticas digna de uma obra do próprio artista. A historia carrega toda uma melancolia e por mais que tenha momentos alegres e tente passar uma bela imagem do artista (e consegue), sempre vem algo e puxa você para baixo. Como uma depressão, o que faz muito sentido com a vida do artista.
Você ter a honra de acompanhar os últimos dias de Van Gogh, por mais triste que seja, é uma grande experiência embora decididamente não seja não é algo tão positivo devido toda a depressão que recaía sobre Vincent em seus últimos momentos.
“Com Amor, Van Gogh” é baseado em relatos das pessoas que viveram com Van Gogh ou que moravam na cidade e o viam diariamente. É uma delicia passear por suas obras pois vão mostrando os locais de suas principais pinturas  e vê-las, assim, em movimento, realmente emociona demais.
Um equilíbrio entre o belo e o triste. O filme mostra-se bastante maduro ao encontrar esse ponto. Assim como Van Gogh, que transformava sua dor em arte, o preto e branco de sua vida em colorido em uma tela, o longa da dupla Dorota Kobiela e Hugh Welchman faz o mesmo com grande mérito e competência. Recheado de melancolia e tristeza ele não deixa de lado o colorido e mostra de maneira bela a trajetória de um dos gênios da arte que durante toda sua vida queria apenas ser reconhecido e fazer o que gostava, mas que infelizmente não passou de um homem incompreendido até mesmo considerado louco para muitos até sua morte.
Que trabalho, que empenho dessa equipe de arte!




por Vagner Rodrigues

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Museu da Gente Sergipana - Aracaju - SE




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A fachada do belo prédio localizado
às margens do Rio Sergipe.
Um programa interessante para turistas que estiverem na aprazível capital sergipana é uma visita ao Museu da Gente Sergipana, lugar onde se pode conhecer a apreciar um pouco mais dos hábitos, costumes, história e produção artística daquela região. O espaço mescla com bom senso e inteligência, o novo com o velho, a tecnologia com o artesanal, a inovação com a tradição, apresentando tanto espaços de mera observação como outros de total interação fazendo com que o visitante sinta-se instigado o tempo inteiro, de uma forma ou de outra. Música, teatro, artesanato, vestuário, culinária, multimídia, memória,  tudo é contemplado na medida certa neste valioso espaço cultural que  proporciona esta aproximação e valorização do visitante de fora com o simpático e atencioso povo sergipano, com seu sítio e sua história.




A cultura local capturada numa rede de pesca
no alto do pátio central do museu 

Teatro de bonecos, uma das tradições nordestinas


A praça e seu carrossel,
recuperação de tradições

Utensílios em exposição

Imagens de barro produzidas
pelo homem sergipano

A música em destaque

Indumentárias de festas

Rendas em destaque

Grande painel de retalhos com bordados.

Cubos com diversos elementos da cultura nordestina

No túnel onde se "navega" em meio à mata
num incrível passeio interativo.

***

Museu da Gente Sergipana
endereço: Av. Ivo do Prado, 398 - Centro, Aracaju - SE
horário: de terça a domingo, das 10 às 16h, exceto sáb. e dom. das 10 às 15h
entrada gratuita

ELVIS


Cly