“Escuta, não fica aí de cara feia porque o nome da sua banda é roubado de uma música minha.”
contando sobre quando participara de um amistoso entre amigos do Zidane e amigos do Figo, em Lisboa, e o técnico Luís Felipe Scolari o escalara de titular deixando o baterista do Radiohead no banco. Chico referia-se então ao fato de que David Byrne, quando do lançamento de"A Opera do Malandro" ouvira a expressão 'Rádio Cabeça' na música "O Último Blues" de Chico e inspirara-se nela para dar nome a uma canção do disco "True Stories" dos Talking Heads ("Radio Head"), que por sua vez, originou o nome da banda Radiohead.
Durante muito tempo alimentei uma certa implicância com o
Radiohead. Acho que muito em função de uma discussão que tive com uma irmã de
uma amiga minha, fã dos caras, que
desfazia do The Cure, que ouvíamos naquele momento, reduzindo sua
qualidade e importância, ao passo que enaltecia exageradamente a turminha do
sr. York. No fundo, no fundo a discussão descabida tratou-se na verdade de uma
desinteligência de ambos: dela porque é inegável que o Radiohead nada mais é do
que um fruto de bandas oitentistas pós-punk como o próprio Cure e outras tantas,
tendo herdado deles inclusive a melancolia, as atmosferas, o pessimismo; e
minha porque não há como negar que trata-se de uma das mais originais e
criativas bandas dos últimos tempos e que, se se espelharam em alguma coisa do
pessoal sombrio dos anos 80, o produto obtido pelo Radiohead a partir destas
influências apresenta mais qualidade e técnica do que aqueles conseguiram
outrora, mas o que não significa que seja melhor ou pior, uma vez que primor,
originalidade e virtuosismo não garantem necessariamente superioridade
qualitativa. E este é outro aspecto que me incomoda: o endeusamento da imprensa
e do público ‘cabeça’. É como se nunca tivessem visto (ouvido) nada igual.
Calma aí!!! É bom? É. É original? É. É criativo? Sim. Mas não é o último baluarte
da genialidade musical e nem deve-se ajoelhar e dizer amém pra tudo que os
caras fazem.
Em parte essa negação à reverência coletiva também me fez
manter distância do Radiohead durante muito tempo. Mas não precisava ir nem
tanto ao mar nem tanto à terra. Não precisava necessariamente concordar com
todos os entusiastas mas podia muito bem admitir que têm, sim, trabalhos
significativos. Vencendo essa barreira, há pouco tempo, depois de muita
resistência, adquiri o que considero o melhor e mais significativo trabalho da
banda, o álbum “OK Computer”, de
1997, coisa que já devia ter feito há muito tempo, uma vez que SEMPRE admirei
muito o álbum, que no fim das contas é um dos melhores dos anos 90, um dos
melhores dos últimos 20 anos e um dos grandes da história do rock.
“Ok Computer” ,
de 1997, é exatamente o momento em que o Radiohead resolve que não quer ser uma
banda como qualquer outra, não fazer álbuns comuns, não se fixar num modelo
musical básico, e a partir de então dá outro rumo ao seu som. Deixam de
trabalhar com o que seria lógico, óbvio e, inquietos, partem para
experimentações e possibilidades sonoras variadas e ousadas. Incrementam seu
som de elementos eletrônicos, sem contudo fazer um disco especificamente neste
estilo. Pelo contrário: não abre mão do caráter rock e alterna ruídos, efeitos,
texturas, baterias eletrônicas com guitarras pesadas, distorções e levadas
aceleradas.
Quanto às letras, os temas variam entre desespero,
depressão, decepção, alienação, angústia, tragédias... De um modo geral, uma visão crítica
e nada otimista do mundo que nos cerca, tudo sob a visão de um dos grandes letristas dos tempos atuais.
A ‘ode’ à tecnologia, “Airbag”, e sua bateria eletrônica
alucinada; as guitarras de rompantes furiosos em “Paranoid Android” e praticamente
flutuantes em “Subterranean Homesick Alien”; a intensidade dramática de “Karma
Police” e sua ‘camada’ eletrônica do final; a melodia doce contrastando com a
letra depressiva de “No Surprises”; e a energia pegada de “Electioneering”
merecem meu destaque particular, embora também mereçam menções “Let Down”e sua
cara bem noventista; a boa “Lucky” e a dorida “Exit Music (For a Film).
E no fim das contas minha antagonista e eu tínhamos razão,
mas ao mesmo tempo nenhum dos dois tinha: não se pode desfazer de aristas dos
quais o próprio Radiohead bebeu na fonte, mas eu também, por minha parte, não
tenho o direito de negar que trata-se de uma das melhores e mais importantes
bandas dos últimos tempos, e, especialmente, “OK Computer”, um disco
excepcional. Um daqueles poucos que já nasceram clássicos.
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FAIXAS:
01. Airbag
02. Paranoid Android
03. Subterranean Homesick Alien
04. Exit Music (For A Film)
05. Let Down
06. Karma Police
07. Fitter Happier
08. Electioneering
09. Climbing Up The Wall
10. No Surprises
11. Lucky
12. The Tourist
02. Paranoid Android
03. Subterranean Homesick Alien
04. Exit Music (For A Film)
05. Let Down
06. Karma Police
07. Fitter Happier
08. Electioneering
09. Climbing Up The Wall
10. No Surprises
11. Lucky
12. The Tourist
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Ouvir:
Afudê!
ResponderExcluirOlha, e digo mais: Paranoid Android é uma das obras-primas do rock. Aquele clipe animado chega a me dar enjoo de tão densa que é a coisa. Essa densidade é uma característica muito forte do OK Computer. Lembro que tinhas me "encomendado" essa resenha, e como o demorado aqui não fez, achei ótimo que tu tenhas feito, porque a tua visão ficou bem mais rica do que alguém como eu que já admirava o disco desde que foi lançado. A resenha ganhou um toque muito especial por isso.
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