Semanas atrás Leocádia e eu fomos a uma sessão de pré-estreia no GNC Cinemas do Praia de Belas Shopping do novo sucesso de bilheteria da DC Films, “Adão Negro”, com o astro Dwayne "The Rock" Johnson. Legal? Impossível dizer que não. Cenas de aventura empolgantes, efeitos visuais de alto nível, desenho de som impecável, roteiro eficiente, astros consagrados, trilhas com músicas pop... Tudo embalado para que a coisa funcione. Mas será que "funciona" mesmo? Talvez sim, e talvez seja exatamente este o termo mais adequado: cumprimento de função.
Spin-off de "Shazam!" (2019) e "Shazam!: Fúria dos Deuses" (2022), o filme conta a história se passa após quase cinco mil anos de prisão
de Adão Negro, um anti-herói da antiga cidade de Kahndaq, no que seria o Oriente
Médio, que é libertado nos tempos modernos. Suas táticas brutais e seu modo de
justiça atraem a atenção da Sociedade da Justiça da América (JSA), que tenta impedir
sua fúria e ensiná-lo a ser mais um herói. Além disso, Senhor Destino (Pierce
Brosnan), Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo) e Cyclone
(Quintessa Swindell) se unem para impedir uma força maligna mais poderosa que a
do próprio Adão.
Filmes de super-heróis são uma verdadeira galinha dos ovos
de ouro para o cinema comercial do século XXI. Após mais uma crise da indústria
cinematográfica nos anos 90, quando o envelhecimento dos realizadores
consagrados do cinema comercial como Spielberg, Lucas e Zemeckis se deparou com a falta
de agentes capazes de trazer um novo produto para a permanente necessidade de
novidade da sociedade de consumo, o avanço técnico da era digital permitiu que
o cinema pudesse concretizar algo que vinha ensaiando há décadas: a transposição
dos quadrinhos de heróis para as telas. E a considerar a riqueza
temático-simbólica dos HQs, bem como a amazônica quantidade de histórias e
personagens a serem explorados, este se tornou o caminho certo para a
construção do novo blockbuster.
O Adão Negro do HQ original da DC |
Nada contra a ideia de blockbusters e nem de exploração do filão graphic novel em audiovisual. O que questiono é: será que esta fórmula funciona de verdade a ponto de se sustentar por mais anos sem desagaste? Continuarão avançando na tática de, igual a Globo aplicava ao humorístico Zorra Total, misturar personagens incansável e indistintamente até nem se saber mais de onde cada um veio? Quentin Tarantino recentemente disse que jamais rodaria para a Marvel, pois considera que filmes deste tipo sejam fruto de uma prática de mercado produtivista a qual ele, ligado ao cinema de autor, não se enquadra. Martin Scorsese, tempo atrás também se manifestou contrário ao declarar que o universo cinematográfico da Marvel está "mais próximo dos parques de diversão do que do cinema". Vindo de dois autores que revolucionaram e mudaram a história do cinema é, no mínimo, de considerar a interrogação quanto ao que se esperar no futuro do “grande cinema”.
The Rock e os atores que fazem os super-heróis da JSA |
Ao final, se sai do cinema cativado, pois se fez tudo
psicosinestesicamente para que isso aconteça, mas muito mais amortecido do que
outra coisa. É tanta superexposição a estímulos sensoriais, que não há como
absorver. O script não tem erro, e isso é um defeito: não há espaço para
apreciação e nem elaboração. O filme é tão consumível e embalado quanto a
pipoca e o refrigerante que se come assistindo.
Não digo que tudo isso seja ruim, e nem que filmes da DC ou
Marvel devessem parecer uma obra de Bergman constituída basicamente em diálogos.
Mas para poder dizer com segurança que filmes assim como "Adão Negro" convencem,
ainda falta algo mais do que simplesmente cumprir uma função. Por mais que a
intenção seja ao de tentar me alegrar.
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"Adão Negro" - trailer
Daniel Rodrigues
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