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sexta-feira, 20 de maio de 2016

cotidianas #434



arte: Cly Reis
Ela estava com frio. Escondia-se dentro de um grosso casaco e uma longa manta vermelha. Mas não era a única coisa que sentia. O medo também a congelava. Paralisava-a. Aguardava o último horário do D43 no Campus do Vale da UFRGS, na divisa entre Porto Alegre e Viamão. Ficara bebendo junto com colegas num boteco na parte onde já é o bairro Jardim Aparecida. Eles moravam em JKs por ali, mesmo. Nenhum se dispôs a acompanhá-la. O medo a apunhalou com mais força quando ele apareceu. Um rapaz. Jovem. Pele escura. Lábios grossos. Usava um moletom com capuz, uma calça de abrigo larga com três listras e calçava tênis da principal concorrente da marca do abrigo. Havia ido visitar parentes. Precisava chegar até o Pinheiro. Ele também estava com medo. Pelos tênis caros. Pelo celular que havia comprado há pouco. Pela ideia de assustar a jovem que o observava visivelmente aterrorizada. Esperaram. Enquanto isso o silêncio tratava de ensurdecê-los.



Eduardo Dorneles

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Eduardo Dorneles é jornalista em formação e escritor. Considera-se um cético romântico: não crê em utopias que tenham o braço humano como elemento transformador, mas acredita no poder redentor que essa coisa inexplicável que é amar pode causar. Gosta de escrever sobre a comédia trágica que é nosso dia a dia e de rir da rotina. Amante de literatura e cinema, tem como ícones Nelson Rodrigues e Stanley Kubrick.

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