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terça-feira, 30 de maio de 2017

cotidianas #512 - Pílula Surrealista #18



Atento feito um gavião faminto, o helicóptero sobrevoava o céu da cidade à noite lançando jorros de luz feito holofotes cinematográficos e soltando o rugido de suas asas, que se desvencilhavam do vento com tamanha violência que o som se espalhava por quilômetros. As operações da polícia, mesmo que já corriqueiras, sempre alarmam a população. Assim, pelo menos, os cidadãos de bem, os beneficiados, se sentem devidamente protegidos. E não haveriam de estar?! Glória à polícia!

A missão era, obviamente, buscar e prender delinquentes, vagabundos, facínoras, meliantes. Aqueles que não são “cidadão de bem”, trocando em miúdos. Os policiais cumpriam a estardalhante e grandioculente missão aérea quando um deles solta a pergunta: “Vem cá: como a gente vai prender esses caras que tão lá embaixo se a gente tá aqui em cima?” Os outros se entreolharam, visivelmente pelo fato de não terem pensado nisso. O óbvio e assertivo questionamento não teve nem tempo de ser debatido, pois, voando alto, o piloto não percebeu que a nave ia na direção da Lua e, como num videogame: bum! Espatifou-se contra a estrela, esta, que nada sentiu. A Lua ganhou apenas mais uma de suas várias crateras – e das pequenas. A operação militar, esta sim, sofreu maiores efeitos: considerada inútil e sem sentido a partir de então, não ganhou mais verba do Secretário de Segurança para ser realizada depois que este passou por aquele vexame todo nos jornais do dia seguinte.

Daniel Rodrigues

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