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quinta-feira, 27 de junho de 2024

"Matador de Aluguel", de Rowdy Herrington (1989) vs. "Matador de Aluguel", de Doug Liman (2024)

 


Pra começo de conversa, vamos deixar uma coisa bem clara: o título em português de ambas as versões é uma gloriosa enganação. Nenhum dos dois protagonistas, Dalton, é, efetivamente, um MATADOR e, se tem alguma coisa que eles alugam, em ambos os casos é apenas sua capacidade de manter estabelecimentos em ordem, sem confusões, sem bagunça. E nisso, o primeiro dá de dez na nova versão. O personagem de Patrick Swayze é  aquele cara que você olha pra ele e vê que ele sabe o que está fazendo, sabe a atitude a tomar, a próxima providência, está de olhos bem abertos mesmo quando parece desligado. Um personagem que a gente lembra e admira. O de Jake Gyllenhaal é mais intuitivo, menos compenetrado, menos profissional. Daqueles brutamontes descartáveis como tantos que o cinema americano já fez.

Mas do que estamos falando afinal? Bem, tanto na versão original quanto no remake de "Matador de Aluguel", um cara durão é procurado para pôr ordem numa casa noturna, no primeiro filme, num bar interiorano, no segundo, na praia, na Flórida. O cara topa a parada, vai lá, dá jeito, arruma a casa, afasta as frutas podres, põe pra correr os maus elementos, mas vê o estabelecimento, a garota com quem se envolve e outras pessoas por quem zela, constantemente ameaçados por um ricaço do local. Com contextos diferentes, mas em ambos os casos, é  muito interessante para o magnata do pedaço que o bar deixe de existir naquele lugar... Nosso herói vai evitando conflitos, vai protelando, mas quando mexem com os que ele realmente preza, ele vai pro pau.


"Matador de Aluguel" (19890 - trailer


"Matador de Aluguel" (2024) - trailer


A diferença entre os dois filmes é que o remake cai na pancadaria muito antes, muito facilmente e se vale muito disso para se manter interessante. Tenho que admitir que as cenas de luta, em pequenos planos sequência, com câmera on-board, são impressionantes e intensas, especialmente quando entra em cena o ex-lutador de MMA Conor McGreggor que, nesse sentido, até dá  alguma contribuição, mas, no mais, a nova versão não tem nenhuma vantagem sobre o original.

O bar de praia é uma mudança estúpida pra agradar público jovem, a 'namoradinha' é totalmente superficial e tem toda uma rede de relações complexa e mal amarrada com os bandidos e com a polícia, o vilãozinho, que na verdade é apenas filho do verdadeiro manda-chuva, é um personagem caricato e insignificante, seus capangas são ridículos e risíveis, sem falar no matador (esse sim um matador) convocado para dar fim no nosso herói, o inqualificável Conor McGregor, que chega a ser engraçado de tão ruim.

O original não é nenhuma obra-prima. Não! Muito pelo contrário. É daqueles filmes de ação bem banais dos anos 80. Mas pelo menos nos apresenta um protagonista mais cativante, personagens mais naturais, uma contextualização mais coerente e uma trama um pouco mais consistente. De quebra, ainda, já que o negócio era um bar musical e tinha que preencher o roteiro vazio com alguma coisa pra aumentar a duração, pelo menos no primeiro essas "encheções de linguiça" eram com o sensacional Jeff Healey e sua banda desfilando vários clássicos do blues. Já na nova versão, embora o repertório até não seja desprezível, as atrações da taberna praieira são os ilustres... ninguém.

Vitória fácil do primeiro Matador.

1x0 pelo protagonista e toda a composição do personagem; 2x0 pela ambientação interiorana da casa noturna e todo seu contexto de funcionários, frequentadores, práticas, música, etc.; e já que falamos de som, 3x0 por conta da participação da Jeff Healey Band. E ficamos por aí. O argumento fraco, o roteiro sem rumo, os vilões desinteressantes mal construídos, o desfecho forçado, nada disso representa uma margem maior para o original. Por outro lado, o remake não consegue se valer dessas deficiências para equilibrar o jogo, uma vez que tem os mesmos problemas e só consegue fazer um golzinho de honra, mesmo, por conta das empolgantes sequências de luta.

O presidente do clube pensou bem na contratação: foi buscar o cara certo pra função que precisava.
 James Dalton, sereno, cerebral, só bate quando necessário.
O verdadeiro xerife da grande área. 
O outro? Mais um jogador tosco e cheio de deficiências técnicas.



Num jogo fraco tecnicamente, jogo de dois times de segunda divisão
o Matador de 1997, sem pressa, só esperando a hora certa de contra-atacar,
faz 3x1, fácil fácil, no afobado e agressivo Matador de 2024.





por Cly Reis


segunda-feira, 22 de junho de 2015

"O Abutre", de Dan Gilroy (2014)



Desde que vi, no cinema, o trailer do filme "O Abutre" já fiquei impressionado pela breve mostra da atuação de Jake Gyllenhaal e, às vésperas do Oscar, como estávamos na época, chamou-me a atenção o fato de não estar entre os indicados para melhor ator, mas, enfim, a amostragem havia sido pequena e eu podia estar enganado.
Mas não estava.
Pois só agora, então, tive a oportunidade de assistir ao filme e ele me confirmou a boa expectativa e a impressão da performance do ator. Gyllenhaal está quase irreconhecível, esquálido, rosto chupado, cabelo escorrido, expressão tresloucada, olhar fixo, quase sem piscar. Ele encarna Louis Bloom um pequeno vigarista que ganha a vida com pequenos furtos e golpezinhos mas que descobre, por acaso, na violência da madrugada a possibilidade de ganhar uma boa grana vendendo vídeos de crimes, incêndios, acidentes e outras tragédias urbanas a redes de TV sensacionalistas. Alcançando êxito em sua nova empreitada de cinegrafista amador e videomaker, ele não mede esforços nem consequências, deixando para trás qualquer escrúpulo ou noção ética para obter as melhores matérias.
O abutre farejando a carniça
na noite de Los Angeles
O filme, uma variação do argentino "Abutres" (2010) que por sua vez, com a mesma ambição do protagonista abordava a área da saúde, não é espetacular, não é brilhante, mas é um bom filme, muito bem conduzido pela mão do bom Dan Gilroy, estreante na direção, e a atuação de Jake Gylenhaal, mais uma vez merece todo o destaque.
Embora não seja um daqueles filmes com "mensagem", "moral da história" e coisas do tipo, "O Abutre" nos leva a algumas reflexões sobre a qualidade e conteúdo da mídia televisiva, a sede de sangue da sociedade enquanto espectadores e consumidores, sobre a ética de uma maneira geral em nossas vidas e no mundo que vivemos, mas também, independente de julgamentos pelos meios, métodos e princípios por parte da personagem, a pensar de uma maneira mais interessante sobre determinação e planejamento pra fins de uma escalada ambiciosa na vida. Louis Bloom extrapola os limites, é verdade, mas não deixa de ser um personagem extremamente cativante, talvez pela inocêcia de seus atos. Sim, inocência, sim! Mesmo nos mais cabeludos,nos que compromete vidas, ele, efetivamente, não o faz por maldade. Seu egoísmo, seu foco, seu objetivo, o fazem ver simplesmente sua conta bancária, seu negócio, seu sucesso crescerem, sendo as perdas pelo caminho, ora, meros objetos para seus fins. No fim das contas vemos que ele não é mais vilão do que toda a sociedade em si. A violência já está lá, ele só faz levá-la ao consumidor. E o consumidor gosta. E pede mais. Sangue, sangue.


Cly Reis