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segunda-feira, 3 de maio de 2021

"Death Note: O Primeiro Nome", de Shūsuke Kaneko (2006) vs. "Death Note", de Adam Wingard (2017)

 


Sabe aquele jogo do Estadual com dois times que estão brigando para não cair de divisão, em dia de chuva, no gramado irregular? Nosso duelo de hoje é bem assim.

As formações táticas são praticamente as mesmas: inspirado no famoso mangá, "Death Note", os filmes acompanham a história de um estudante (no original um universitário, no mais novo um colegial) que encontra um caderno sobrenatural, no qual, ao escrever nele o nome de alguém e imaginar seu rosto, essa pessoa morre. Light, (no primeiro filme, Yagami Light, no segundo Light Turner) é o rapaz que  encontra o Death Note, um caderno de notas com uma uma lista de regras e detalhes para seu uso, e quando este se dá conta do poder que ostenta, passa a se auto-intitular "Kira" e decide mudar o mundo à sua maneira, pretendendo transformá-lo em um lugar melhor, matando aqueles que considera que não merecem viver. No entanto, um detetive, de codinome L, um brilhante investigador que vive secretamente, surge das sombras e dedica-se a tentar capturar Light. Ambos, L e Light, vivem em busca da justiça, cada um à seu modo, e de uma disputa definirá qual deles é o “bom” e qual é o “mau”.

Apita o árbitro e a bola está rolando. Logo no primeiro minuto, "Death Note" de 2006 já vem na marcação sob pressão, o famoso abafa. Já o "Death Note" de 2017 começa perdido, com erros na saída de bola, parecendo estar assustado. Em um desse erros, perde a bola e Kira de 2006, marca. É um matador nato e não perdoa. 1 x 0, time 2006. 

Visualmente a primeira aparição do caderno é mais bonita e cinematográfica na versão americana, mas é só isso. Quando começa a explorar a relação Ryuk e Light, assim como a personalidade psicopata de Light, a versão japonesa dá um banho de bola.


"Death Note: O Primeiro Nome" (2006) - trailer



"Death Note" (2017) - trailer


Torcidas ainda empolgadas com o jogo, esperando os times darem aquele espetáculo, mas  parece que a bola no chão não vai rolar. O time de 2017, começa a apelar para violência, tornando seu jogo mais feio ainda. Já o time de 2006 começa a tramar melhor a jogada, e em um lance polêmico, confusão na área, o bola fica com Kira, que mata a jogada. 2 x 0 para 2006, e final de primeiro tempo. 

O longa japonês, quase desanda quando Light e L começam seu duelo, com cada um tendo um plano mais absurdo que o outro. Em um dos momentos, a cena do ônibus, Light parece ter mais preparo que o Batman (Meu Deus do céu!), mas a gente até releva porque lembra que é história do caderno da morte de um Shinigami, então pode até ter seus absurdos. O filme de 2017 meio que esquece que o grande ponto do sucesso do anime e mangá de Death Note é a questão moral do que Light está fazendo com o caderno, e a partir de determinado momento cai direto num terror-core, de pessoas perdendo a cabeça, sendo atropeladas e explodindo, jogando sangue na nossa cara, o que, a bem da verdade, não ajudou em nada a narrativa.

Seria melhor que os dois times ficassem no vestiário pois o segundo tempo é sofrível. As duas equipes voltam cometendo os mesmos erros, o jogo não anda, e até o time de 2006 parece ter perdido força e não ter mais pernas. É só bola para Kira, bola para o Kira... que, até tabela bem com L, mas na hora de concluir, no último trecho do campo, a equipe falha. Já a equipe de 2017 é mais confusa no segundo tempo. Cadê seu craque? Sumido. Os jogadores coadjuvantes tentam assumir a responsabilidade mas não dá certo de forma alguma. Nos últimos minutos, o filme até tenta, se esforça mas não dá em nada. Não faltou vontade para esse segundo tempo, o que faltou mesmo foi qualidade. 

O último arco do filme de 2006, não resolve muita coisa, deixa muitas pontas soltas, o duelo tão aguardado de L e Light não ocorre pois o longa apostava muito em uma continuação que, por sinal, veio a acontecer. O mesmo parece ter acontecido com o filme de 2017, apesar de neste filme rolar o duelo, uma vez que a produção não parecia muito confiante em uma sequência. Mas é fraquíssimo e as mudanças na estrutura da história que essa versão toma, só pioram o filme e enfraquecem o personagem Kira. Em ambos os filmes, quando chegam ao clímax, o espectador já está cansado da brincadeira de gato e rato. A versão japonesa, tem menos capricho visual, mas é muito mais próxima do conteúdo original, o que me agrada mais. Já a americana, faz muitas alterações e quase nenhuma é boa, sem falar das péssimas atuações, mesmo contando com Willem Defoe no elenco, vivendo o demônio Ryuk. Mas nem ele se salva. 

Aqui, os dois Ryuk, o Anjo da Morte.
O do remake, à direita,é até mais sinistro,
porém, o original funciona melhor no que diz respeito à trama.


Um primeiro tempo sem brilho, mas com gols, e um centroavante no lugar certo que resolveu a parada. 
Um segundo tempo bem morno, onde até tivemos vontade, uma escapada em contra-ataque aqui, outra ali, mas sem perigo. 
Jogo feio, violento e resolvido cedo. 





Vagner Rodrigues