Um dos nomes mais infelizes, em português, que um filme já recebeu para a entrada nos cinemas brasileiros, podendo ser interpretado como uma comédia de terror ou, principalmente, um pornô racista, "Homens Brancos Não Sabem Enterrar", é uma produção bem legal que diverte e mantém o espectador envolvido, interessado e torcendo pela sua dupla de protagonistas. Billy (Woody Harrelson) e Sidney (Wesley Snypes) são dois fãs de basquete, dois jogadores de rua, que se conhecem e se unem para ganhar dinheiro em desafios contra outras duplas nas quadras espalhadas pela cidade. Normalmente em territórios de negros, Sidney que é da área, chega sozinho, encena que precisa de alguém para completar a dupla e "por acaso" só encontra um cara branco rondando por ali (completamente "por acaso"). Ninguém dá nada pelo branquelo e é aí que nossos heróis aproveitam para aumentar a aposta e limpar os otários. É que, na verdade, Billy joga muito e com Sidney compõe uma dupla praticamente perfeita e imbatível. Ele só tem um probleminha: Billy não sabe subir no garrafão, tomar aquele impulso e dar aquela cravada humilhante e intimidadora. Ora, isso, verdadeiramente, não representaria nenhum problema, eles não deixariam de aplicar seus golpes, vencer seus desafios, faturar uma grana, se não fosse o orgulho ferido de Billy que faz com que ele perca dinheiro e coloque tudo a perder por causa desse pequeno detalhe. E assim, jogando dinheiro fora, se endividando, sendo ameaçado por bookmakers, ele só decepciona e decepciona, constantemente, sua namorada, (Rosie Perez) viciada em quiz-shows de TV, que praticamente implora para que ele pare de apostar e ameaça deixá-lo caso não o faça. A dupla é carismática, o personagem de Woody Harrelson é cativante, ao mesmo tempo malandro e tão ingênuo; o de Snypes é safo, irreverente, divertido, as cenas de jogo são bem filmadas garantindo a tensão do jogo com slow-motions precisos em momentos oportunos interessantes. Enfim, "Homens Brancos Não Sabem Enterrar", sem maiores pretensões cinematográficas, apesar do título, é um bom entretenimento e dá pra assistir na boa, curtir sem nenhum constrangimento ou arrependimento. Esse tipo de jogo de rua, bem raiz, muitas vezes em quadras precárias, com o número de jogadores que dá pra conseguir, dois ou três para cada lado, apenas em um dos lados da quadra, somente em uma das cestas, saiu das ruas e ganhou o mundo, inspirando o basquete 3x3, modalidade que estreia, esse ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A coisa vai ser mais profissional, mais séria, com mais estrutura, mas, independentemente de tudo isso, podem estar certos de que não vai faltar o espírito moleque e irreverente das ruas, das quadras mais modestas, dos cantos mais remotos que, afinal de contas, é algo intimamente ligado à prática de um esporte tão espontâneo como é o caso do basquete de rua.