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domingo, 14 de agosto de 2022

"Procurando Nemo", de Andrew Stanton e Lee Unkrich (2003)




O cinema tem, ao longo de sua história, tantos pais marcantes, de todos os estilos, bons, maus, amorosos, relapsos, loucos, autoritários, passivos..., mas, por incrível que pareça, dentre tantos homens, o meu pai preferido do cinema, o que mais me emociona, não é um humano. Nem toda a ascendência de um Vito Corleone em "O Poderosos Chefão", o empenho de melhora como pai, de um Ted Kramer em "Kramer vs. Kramer", uma dedicação com sentimento de impotência de um Chris Gardner em "À Procura da Felicidade", fúrias vingativas como a de um Bryan Mills em "Fúria Implacável", ou uma inconformidade transformada em criatividade de um Daniel Hillard em "Uma Babá Quase Perfeita", se igualam à figura paterna de Marlin, de "Procurando Nemo". Um peixe, num filme de animação simboliza mais do que qualquer outro a condição de pai. 
Marlin, um peixe-palhaço, é um pai solteiro, e aí entra a habilidade da Disney/Pixar em lidar com tragédias dando-lhes a devida relevância no âmbito geral da história, sem contudo, deixar o filme pesado. A mãe de seu filho morre, tragicamente, quando seu ninho com as ovas que ela pusera, é atacado por uma barracuda. Apenas um ovo se salva e este será Nemo. Nemo nasce com uma nadadeira menor que a outra, mais um ponto sensível da trama que lida com deficiências físicas de uma maneira muito natural e bonita, mas até por isso e por ser o filho único de uma ninhada quase totalmente exterminada, é tratado por seu pai com um cuidado excessivo. Merlin não permite que Nemo faça nada minimamente arriscado, que se afaste alguns metros a mais, que tente alguma coisa diferente do rotineiro, que explore possibilidades, que descubra coisas novas. Essa restrição toda faz com que Nemo, que é um bom "menino", na verdade, meio que se rebele e desobedeça o pai em uma orientação importante. Só que essa teimosia pontual, em especial, é determinante para o destino do peixinho, que acaba sendo apanhado por mergulhadores que o levarão para ser peixe decorativo em algum aquário, em algum lugar, sabe-se lá onde.
Tudo perdido! Não há como encontrar alguém assim... Pode ter ido parar em qualquer lugar do mundo. Impossível! Não para o Marlin.
Com uma determinação comovente, juntando o mínimo de pistas que vai conseguindo, a partir de uma máscara perdida de um dos mergulhadores, ele vai seguindo o rastro do filho numa contagem regressiva antes que aquele seja vendido, descartado ou comido, num destino que ele desconhece mas que sabe que precisa impedir que aconteça. Para isso ele rompe mares com uma coragem que nem ele mesmo conhecia em si mesmo, enfrentando seus piores medos e passando por cima de suas próprias regras e restrições, tudo isso contando com a "ajuda" da atrapalhada mas simpaticíssima e cativante Dory, uma peixinha cirurgiã-patela com problemas de memória que, por mais que muitas vezes ponha o amigo em enrascadas, é decisiva para que o peixe-palhaço encontre o filho. 

Cena em que um pelicano conta para Nemo
 as peripécias do pai à sua procura


Ele passa do limite que estabelecera para que o próprio filho nunca passasse, ele enfrenta tubarões famintos, ele nada entre águas-vivas, pega correntes perigosas, conhece tartarugas centenárias, pega carona numa baleia, escapa de gaivotas e, por todas essas façanhas, praticamente se torna uma lenda: a história do pai que atravessou oceanos enfrentando a tudo e a todos para encontrar o filho é contada pelos sete mares. Predadores, moluscos, crustáceos, cardumes e até pássaros conhecem a lenda e a contam, exaltando os feitos do pai-herói. E, exatamente, pelo fato da lenda ter ido tão longe e chegar até de outras espécies, um desses pássaros, um pelicano acaba tornando possível o tão improvável reencontro entre pai e filho.
Marlin é um pai exemplar, um pai que faz a gente chegar a se perguntar se iria a tal ponto, tão longe como ele foi (e a reposta acaba sendo sim). Um pai para o qual nada importa mais no mundo do que o filho. Mas Marlin é, sobretudo, um pai que aprende a lição de que é importante ser zeloso, sim, cuidadoso mas que, na verdade, não se cria um filho para si mesmo, se cria um filho para o mundo. E essa condição, a de pai, é uma condição na qual se está sempre aprendendo. e o mais importante nela é, exatamente, ficar atento às lições.
Sejamos, nós pais, todos, um pouco como Marlin, e aprendamos todos os dias mais um pouco sobre essa coisa mágica mas desafiadora que é ser pai.



Cly Reis

quinta-feira, 7 de julho de 2016

"Procurando Dory", de Andrew Stanton e Angus MacLane (2016)




Uma personagem carismática mera coadjuvante num filme no qual praticamente roubou a cena e que é elevada à condição de protagonista mas que infelizmente, na linha de frente, não teve bala na agulha pra sustentar sua nova condição de superstar. Não deu. Eu também adoro a Dory mas não deu. "Procurando Dory" é fraco. A história é fraca, o argumento é fraco, quase não há situações verdadeiramente hilárias e a ação não empolga. Totalmente sustentado pelos lapsos (não raros!) e flashes de memória da peixinha (frequentes demais para quem nunca lembrou de nada) o filme filme fica picotado e não engrena. A própria motivação da jornada de Dory é bastante questionável. Pra quem não sabe, Dory, depois de toda a ventura do primeiro filme da busca do peixe-palhaço pelo filho Nemo, agora vive próxima a eles, confusa e esquecida como sempre mas de repente algumas palavas, fatos, situações passam a funcionar como gatilhos de lembranças perdidas no fundo da mente da peixinha que lembra que tem pai e ma~e e resolve ir atrás deles. Ok! Não que encontrar os pais não seja algo importante, motivador, etc., mas teeeempos depois, com uma criatura que tem falhas constantes de memória fica tão pouco plausível ou aceitável. A busca do Marlin em "procurando Nmo", não. Aquilo era uma busca obstinada de um pai que acabara de perder um filho e não se conformava com aquilo, indo até o inferno, se precisasse para encontrá-lo. Sim, mas porque era uma coisa presente, uma coisa palpável, não uma memória apagada talvez nem exatamente fiel. E a propósito de Nemo, o despropósito e´q eu ele e o pai aparecem quase forçadamente, sem propósito, protagonizando uma cena aqui outra ali nas quais nem precisariam ser eles a estarem presentes que daria na mesma.
Tá bom, ela é muito querida, as cenas dela bebê são muito fofas, a mensagem sobre crianças com algum tipo de dificuldade é extremamente válida mas pra mim não foram o suficiente para fazer um bom filme. Entretenimento? Tá bom. Se eu for considerar só isso posso dizer que não é aquela coisa que dá ódio de ficar quase duas horas no cinema com aquela sensação de dinheiro jogado pela privada. Não chega a isso. Tem cisas legais. A cena da perseguição de caminhão foi muito bacana, o personagem Hank, o polvo, é um barato, a qualidade da animação da Pixar é impecável e, é claro, a Dory é divertida, louquinha e um amor. No mais, quem ficou procurando, procurando, procurando alguma coisa e não encontrou, fui eu.
O polvo Hank, personagem de destaque no filme. Um tanto ranzinza mas gente boa.




Cly Reis