Dos vários espaços culturais do Rio de Janeiro, sempre há um novo a se descobrir. A cada vez que volto à Cidade Maravilhosa um dos roteiros é, justamente, visitar algum desses espaços para conhecer. Foi assim anos atrás com Instituto Moreira Salles, Sesc Cultural e Casa Fundação Roberto Marinho. Desta feita, o local desvendado foi a bela Pinakotheke Cultural, em plena Rua São Clemente, uma das duas principais vias arteriais do querido bairro de Botafogo. Lá, por conhecimento prévio, sabíamos haver a exposição
“Anjos com Armas”, que reuniu obras de quatro artistas visuais brasileiros aos quais nutrimos grande admiração:
Hélio Oiticica, Lygia Clark, Mira Schendel e Sergio Camargo.
A mostra, que já se encerrou neste mês de maio, reuniu obras destas quatro referências das artes visuais modernas brasileira e suas relações com a lendária galeria Signals, em Londres, nos anos 60, marco para a arte de vanguarda e experimental daquela época. Por curtos mas eternos 2 anos, o crítico e curador britânico Guy Brett e o artista filipino David Medalla, fundadores da Signals, expuseram Camargo, Lygia, Mira e, mais tarde com o fechamento da Signals, na White Chapel, Oiticica, dando uma inédita vitrine internacional à produção artística brasileira ou de fora do tradicional circuito das artes.
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A convidativa entrada lateral da Pinakotheke Cultural, em Botafogo (RJ)
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Em “Anjos com Armas”, como escreve Max Perlingeiro, curador da mostra,
“Guy Brett sempre foi a grande referência para uma melhor compreensão da produção artística no Brasil a partir dos anos 1960, na Europa. Sua amizade com estes artistas, na década de 1960, e, mais tarde com Lygia Pape, Cildo Meireles, Antonio Manuel, Tunga, Waltercio Caldas, Regina Vater, Roberto Evangelista, Maria Thereza Alves, Jac Leirner, Ricardo Basbaum e Sonia Lins propiciou a divulgação da produção artística, internacionalmente, através de diversos artigos e livros”.
Em termos de exposição, o belo casarão em estilo neoclássico abriga uma espaço de boa proporção de obras, nem muito nem pouco. Grosso modo, uma grande sala para cada um dos quatro artistas além de uma sala de projeção, havendo, principalmente na entrada, pontos de confluência entre cada um. Na sala dedicada a Mira, seu desenho gráfico exato e, principalmente, o trabalho inventivo de logotipia que muito diz à publicidade e ao design. Lygia, das maiores de sua época, a relação visual pura e o corpo da matéria extraordinariamente concisa, como nos seus “Espaço Modulados” nº 4, 8 e 9, de 1958 (tinta automotiva sobre aglomerado). Nas palavras de Brett, a coerência da obra de Lygia “nos torna capazes de registrar uma trajetória que começa com a pintura e termina com a prática de uma espécie de psicoterapia”.
No entanto, obras de Oiticica não só conversam como, em alguns momentos, saudavelmente se confundem com as de Lygia em especial. Caso da escultura suspensa de acrílico sobre madeira, de 1959, que lembra os parangolés, que o artista desenvolveria anos depois, e que muito dialoga com os bichos de alumínio de Lygia (“Bicho-contrário II”, de 1961, “Bicho-caranguejo” e “Bicho”, de 1960). Até mesmo dos Metaesquemas, conhecidos trabalhos e Oiticica da fase pré-tropilcalista, nota-se semelhanças e interinfluência, seja em “Voo alto pra cima, pra dentro e pra fora” (1958) ou “Dual mas nem tanto” (1957).
Entre os quatro, a que tinha menos contato, mas cuja obra merece muita atenção, é a de Camargo, com seus relevos brancos que saltam das telas e mesmo das esculturas, as quais até a tridimensionalidade não é capaz de frear tal sensação. Seja em madeira pintada ou em mármore, as formas cônicas e em enterramentos muito fizeram vir à mente a arte geométrica-construtiva de Sérvulo Esmeraldo, outro brasileiro com experiência de residência em Paris assim como Camargo.
Fique com algumas imagens do que Leocádia e eu presenciamos nesta primeira visita a Pinakotheke Cultural. Imagino que venham muitas ainda.
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O desenho geométrico e perfeito de Mira Schendel |
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Outras técnicas: bastão oleoso e tinta a base de água sobre papel e massa, pigmento e areia sobre aglomerado, ambas dos anos 60 |
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Mais do olhar minimalista de Mira |
Aula de letterings de Mira Schendel
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Lygia, oura craque das variações mínimas |
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Os "bichos" de Lygia Clark e sua relação estreita com a Signals
Catálogos e materiais originais da galeria Signals |
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Lygia ou Oiticica? Bichos ou pré-parangolés? |
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Metaesquema "“Dual mas nem tanto” de Oiticica |
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Outro da fase dos Metaesquemas de Oiticica, final dos anos 50 |
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O potente trabalho de Sergio Camargo |
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Detalhe de seus relevos em branco |
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A obra essencialmente limpa e construtiva de Camargo |
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Mármore com as mesmas ideias/resoluções |
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Outra escultura de Camargo, que recepciona os visitantes na abertura da exposição |
Daniel Rodrigues