Comemora, Brian de Palma! Invicto nos mata-mata. Também, né, com a ajuda do Tony Montana...
Começou por causa da Copa do Mundo, período em que normalmente fazemos posts relacionados a futebol. Era uma brincadeira, fazendo como se a comparação de um filme com sua refilmagem, fosse um jogo de futebol. As virtudes e as fraquezas de cada filme, avaliados como se fossem times, seus roteiros, esquemas táticos, seus diretores técnicos. A ideia era encerrar a seção uma vez findado o ano de Copa, só que era tão divertido falar de cinema em linguagem de futebês que não tinha como parar por ali e aí emendamos uma segunda temporada. Depois disso a seção já estava oficializada e era inevitável que continuasse e seguisse para uma terceira temporada. E, assim, a Clássico é Clássico (e vice-versa) entrou mais um ano com novos embates cinematográfico-futebolísticos emocionantes e, se nos anos iniciais os originais passaram por cima dos remakes como o trem do filme do Lumière, nesta terceira temporada, as refilmagens mostraram mais competitividade e, embora continuem perdendo no geral, equlibraram as ações e, como um terror-soft, até meteram um pouquinho de medo nos originais.
No que diz respeito a diretores, como curiosidade, apenas dois deles conseguiram 100% de aproveitamento considerando mais de um confronto, é claro. Somente Brian De Palma, com "Carrie" e "Scarface", e Paul Verhoeven, com "Vingador do Futuro" e "Robocop", tiveram duas vitórias nas duas contendas em que estiveram envolvidos. Já Zack Snyder e Don Siegel, também tiveram dois jogos mas cada um só conseguiu uma vitória.
Embora tenhamos feito uma breve estatística dos confrontos no final do segundo ano, não nos demos ao trabalho, no entanto, de examinar e de dar um maior destaque ao placar geral. Então é hora de organizar as coisa e botar esses números em ordem: primeira temporada, a segunda, o somatório geral, diretores mais assíduos, os que mais venceram e tudo mais que for interessante. Vamos repassar as tabelas dos três últimos certames porque o ano tá começando e a temporada 2021 já tá pra começar.
2018
A primeira temporada teve apenas 9 jogos e apontou uma evidente supremacia dos filmes originais sobre as refilmagens, com destaque, na temporada para a maior goleada até aqui, o 11x0 do "Ben_Hur" de William Wyller sobre o fraquíssimo desafiante de 2016.
2019
A segunda temprada também teve apenas 9 partidas e trouxe o primeiro empate na nossa disputa filme contra filme. Nenhum dos "Bravura Indômita" conseguiu domar e montar o adversário.
2020
Já o ano que passou, teve o número de jogos das duas temporadas anteriores somadas e, por mais que os remakes tenham dado uma boa reagida, ainda tem que se conformar em não conseguir superar os originais (por enquanto). Curiosidades nesta temporada foram os dois confrontos de filmes de mesmo diretor ("Gloria" x "Gloria Bell", ambos de Sebastián Lelio, e "A Garota de Rosa-Shocking" x "Alguém Muito Especial", os dois de Howard Deutch), os dois placares mínimos nos confrontos dos dois "12 Homens e Uma Sentença" e dos dois "Black Christmass", e o incrível confronto dos Dráculas com uma vitória pra cada lado e empate no placar agregado. No total, uma vitoriazinha apertada dos originais, bem diferente do que acontecera nos anos anteriores.
No geral, os originais ainda gozam de boa vantagem, mas é bom ficarem espertos. Os remakes estão reagindo.
Todo mundo tem mãe e, como não podia deixar de ser, no cinema, todo personagem tem mãe. Muitas vezes elas não são mencionadas, não aparecem, são secundárias, não tem sequer relação com a história, mas sabemos que elas existem. Contudo, em outros casos, elas são tão essenciais ou têm participação tão destacada na trama que é impossível não lembrar delas. o ClyBlog destaca algumas dessas mães aqui. Sei que cometeremos injustiças, vai faltar uma que outra, alguém vai dizer que essa ou aquela não podia faltar, mas procuramos fazer uma lista interessante e heterogênea em características, estilos, época, nacionalidade, ambiente, gênero cinematográfico, etc.
Então, vamos à lista:
*(Cuidado! Pode conter spoilers)
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Ela, inatingível, pairando sobre tudo.
1. "O Espelho", de Andrey Tarkovski (1975) - Para
mim, desde que vi pela primeira vez, "O Espelho", filme semiautobiográfico
do diretor russo Andrei Tarkovski, representa uma obra sobre mães. No filme
Maria (Margarita Terekova), uma mãe abandonada pelo marido, voluntário para o exército, vive com
seus dois filhos em uma propriedade campestre e ali acompanhamos parte do
cotidiano desse núcleo familiar corajosamente conduzido por uma mulher. Filme
cheio de simbologias e metáforas, embora traga elementos como infância,
saudade, nostalgia e seja passível de diversas interpretações, para mim, é a
maternidade o elemento que mais chama atenção e emociona. O olhar e as imagens
sempre poéticas de Tarkovski mostram aquela mulher como uma espécie de entidade
superior, uma criatura inabalável, altiva, incólume, impenetrável, mesmo com o
mundo desabando à sua volta. A cena de sonho em que ela flutua, elevada da
cama, confere a ela ares de divindade, de magia, de alguém com um poder
inexplicável que talvez até ela mesmo desconheça. E, na maioria das vezes, não
é bem assim que são nossas mães?
2. "Psicose", de Alfred Hitchcock (1960) - Esse é o caso de uma mãe que
é fundamental para a trama mas, na verdade, não está presente fisicamente
o tempo inteiro durante o filme. Hitchcock, genial como era, até nos deixa com
a pulga atrás da orelha num primeiro momento, sugerindo alguma farsa ou
assombração, uma vez que nos tornando conhecedores do fato que a mãe do dono do
motel, Norman Bates, está morta, faz aparecer um vulto feminino na janela da
casa, nos deixa ouvir uma bronca de voz feminina envelhecida no filho Norman e,
por fim mostra-nos uma senhora de cabelos brancos e coque esfaqueando a cliente
loura no chuveiro, numa das cenas mais clássicas do cinema. "Como
assim?", pergunta-se o espectador de primeira viagem. Acho que não
vou dar *spoiler porque a essas alturas, mesmo quem não viu, está
cansado de saber que é o próprio Norman que, perturbado e esquizofrênico assume
o papel da mãe, vestindo-se como ela e punindo quem quer que seja que venha a
despertar algum tipo de desejo no reprimido Norman.
É incrível mas uma das mães mais célebres do cinema, não está
verdadeiramente no filme. Loucura!
"Psicose" e sua famosa cena do chuveiro.
3. "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski (1968) - Rosemary (Mia Farrow) é uma
futura mãe que pressente uma ameaça ao filho que ainda está em sua
barriga, vinda de seus vizinhos, um casal de velhotes estranhos e enxeridos e,
por incrível que pareça, de seu próprio marido. Tudo começa quando se mudam
para o novo apartamento, conhecem os vizinhos e não muito tempo depois, o
esposo, um ator pouco valorizado, ganha um papel importante em um filme em
virtude da morte do ator que interpretaria o papel. O marido passa agir
estranhamente, os velhos passam a estar constante e inconscientemente presentes
em sua casa e sua vida e até mesmo administram à grávida uma estranha dieta à
base de algumas ervas de origem e efeitos duvidosos. Aos poucos Rosemary,
fragilizada física e emocionalmente, começa a desconfiar estar sendo
vítima de alguma espécie de seita para a qual o bebê que leva dentro de si,
provavelmente, virá a ser elemento chave.
Paranoia, imaginação, ansiedade, fantasia, reflexo de sua fraqueza física,
estresse da gravidez? Exagero ou não, essa mãe vai brigar até o último instante
para proteger seu filho de algo que, na verdade, nem ela sabe bem ao certo do
que se trata mas que, pelo que vai se apresentando a ela, parece algo muito,
muito maligno.
4. "Sexta-Feira Muito Louca", de Mark Walters (2003)
- Quantas vezes já não ouvimos que só estando no lugar da outra pessoa para
saber como ela se sente, não? Pois é, "Sexta-Feira Muito Louca"
promove essa possibilidade justamente em uma relação de uma mãe e uma filha.
Relação difícil, intolerância, falta de compreensão mútua... Só mesmo uma troca
de corpos para fazer com que cada uma perceba as dificuldades da vida da outra.
E nessa confusão quem sai ganhando é o espectador com situações muito
divertidas, com Jamie Lee Curtis fazendo uma adolescente no corpo de uma
"coroa", e da maluquete Lindsay Lohan curtindo uma de senhora
responsável presa num corpo de garota de colégio. Mamãe vai entender, ou talvez
lembrar, que existe pressão por notas, coleguinhas implicantes e insuportáveis,
professores chatos, paqueras, necessidade de privacidade, tempo para lazer,
etc. e talvez, a partir de tudo isso, se remodelar; e a filhota vai perceber
que ser mãe, ter obrigações, preocupações, casa, trabalho, e, principalmente
filhos aborrecentes, não é tarefa para qualquer uma.
Mães e filhas e suas histórias.
5. “Clube da Felicidade e da Sorte”, de Wayne Wang (1993) – Filme emocionante sobre mulheres que foram filhas, se tornaram mães e viram as filhas se tornarem mães.
Quatro chinesas com histórias diferentes em seu país de origem, vão parar nos Estados Unidos e lá constroem famílias, se conhecem e tornam-se grandes amigas. Muitos anos depois, após a morte de uma delas, Suyuan, é revelado à sua filha June, que as filhas gêmeas que a mãe tivera na China e que abandonara bebês durante a guerra em circunstâncias pouco esclarecidas, às quais todos acreditavam não terem sobrevivido, estavam, sim, vivas e dispostas a conhecê-la. Então, a festa de despedida de June, que embarcará para a China para conhecer as irmãs, serve de pano de fundo para conhecermos as histórias de vida de cada uma delas, de suas dificuldades na China, das particularidades das relações com suas próprias filhas quando crianças, e dos problemas da vida adulta destas como mulheres.
Traumas, reminiscências, roupa-suja, desabafos, remorsos, sacrifícios, esqueletos dentro do armário são trazidos à tona em momentos chave do filme de modo a preencher lacunas em aberto e colocar as coisas nos seus devidos lugares e apenas reafirmar aquilo que todos sabemos: que ela pode ter todos os defeito que tiver, mas que não existe ninguém como a mãe da gente.
6. "Dançando no Escuro", de Lars Von Trier (2000) - Tudo o que Selma queria era guardar um dinheirinho para fazer a cirurgia de olhos de seu filho para que ele não acabasse como ela, quase sem enxergar nada, uma vez que herdara dela a doença progressiva de perda de visão. Mas um vizinho, um policial proprietário do terreno onde ela vive num trailer com o filho, descobre sobre o dinheiro e rouba as economias da pobre coitada que, além de tudo, acabara de ser demitida da fábrica onde trabalhava. Tentando recuperar seu dinheiro, Selma acaba matando o vizinho e é presa por isso. Uma história dura, dramática, pesada, é verdade. Mas a vida de Selma, de certa forma, é embalada e seus momentos difíceis amenizada pela música. Amante dos musicais cinematográficos, Selma foge mentalmente de sua realidade imaginando estar em cenas de filmes musicais onde tudo à sua volta suscita sons e canções, desde as máquinas da metalúrgica onde trabalha ou mesmo passos, enquanto é levada pelos guardas na cadeia.
Filme do sempre controverso Lars Von Trier, com atuação brilhante da cantora Björk, no papel da protagonista, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.
Eis uma mãe que deu cada centavo de seu trabalho e fez tudo que estava a seu alcance pelo bem do filho. Até as últimas consequências.
"Dançando no Escuro", 107 passos
A maluca mãe de Carrie, disposta tudo para
que a filha continue pura.
7. "Carrie, A Estranha", de Brian De Palma (1976) -
Não tem como falar em mães no cinema e não lembrar da maluca, crente e
super-protetora mãe de Carrie White. Fanática religiosa, Margareth mantém a filha
afastada e alienada em relação ao mundo que a rodeia, expondo a jovem a constrangimentos diários como, por exemplo, o do início do filme em que se desespera
por ter menstruado e é ridicularizada pelas outras meninas no vestiário da
escola. Ah, mas não é uma boa ideia zoar com uma garota como Carrie com poderes
psicocinéticos que se manifestam especialmente quando ela se altera emocionalmente,
e essa galera que adora tocar um terror nos outros, vai entender isso da forma
mais dolorosa possível.
Uma das garotas do bullying no vestiário, verdadeiramente arrependida
e na boa intenção de se redimir com Carrie, convence o namorado, os gostosão da
escola, a convidá-la para o baile, de modo que a esquisitinha se enturme, socialize.
A mãe, brilhantemente vivida por Piper Laurie, tenta evitar de todas as maneiras
que a filha vá, utilizando-se de seus argumentos religiosos, chantagens
psicológicas e sua por fim de sua autoridade de mãe, mas Carrie, decidida a
viver pelo menos um dia de sua vida, começa a mostrar seus poderes em casa,
contra a própria mãe e termina de fazê-lo na festa, onde vítima de um trote de
muito mau gosto, do restante da turminha da pesada, proporciona um banho de
sangue em uma das cenas mais marcantes da história do cinema.
A velha podia ser louca, mas não dá pra dizer que ela não
avisou.
Sarah Connor não vai permitir que robô nenhum
se meta com seu filho.
8. "O Exterminador do Futuro II – O Julgamento Final", de James Cameron
(1991) - Tá certo que no início, lá no primeiro filme, por mais que tivesse
sido informada por um carinha do futuro que seria a mãe de um líder da
resistência humana numa guerra contra as máquinas, Sarah Connor estava mais
interessada era em salvar a própria pele do que de um bebê que, a bem da verdade,
ela nem tinha certeza se viria a existir mesmo. Mas a partir do momento que se
convenceu, da pior forma possível, depois de ter sido perseguida por um
ciborgue sanguinário e impiedoso, de que o papo de apocalipse das máquinas era
quente, foi determinada em ter a criança e, no pouco tempo em que teve com ele
antes de ser internada num hospital psiquiátrico, em treiná-lo e prepará-lo
para cumprir seu destino no front dos humanos contra as máquinas.
Durante todo o tempo em que esteve mantida no manicômio penitenciário por ter
destruído uma fábrica de eletrônicos e alegar que o fizera porque um robô
exterminador teria vindo do futuro para matá-la e a seu filho, Sarah (Linda Hamilton) sempre
ficou pensando numa maneira de sair dali para proteger o filho. A desconfiança que
o garoto tem, posteriormente no filme, quando a resgata do hospício, de que a
mãe está mais preocupada com a humanidade do que com ele, não demora para se
desfazer diante de toda o amor com que ela o protege.
Ela é fria é pragmática, objetiva, dura, durona, mas não poderia ser de outra
maneira quando se sabe que seu filho, além de já ser naturalmente importante
somente por ser seu filho, pode ser a salvação da humanidade.
9. "Leonera", de Pablo Trapero (2008) - Circunstância estranhas... Um
homem morto, outro ferido, uma mulher inconsciente. Um dos dois seria o
assassino? Teria sido uma quarta pessoa? Por que não ela não lembra de nada?
Teria sido drogada? Ou não quer lembrar? O fato é que nesse mistério todo, a
garota é quem vai parar na cadeia, só que grávida como se encontra, é enviada a
uma instituição onde é permitido que as internas tenham lá seus bebês e depois
permaneçam com as crianças no presídio, até os 4 anos de idade. Revoltada com a
gravidez, relutante e resistente em ter o filho, num primeiro instante, Julia
Zarate (Martina Gusmán), aos poucos vai sendo conquistada pelo seu pequeno rebento e seu
instinto e amor de mãe acabam prevalecendo, fazendo dela uma mãe atenciosa e
carinhosa, mesmo dentro daquele ambiente prisional.
O lugar, mesmo com as características tradicionais de uma instituição carcerária, em
muitos momentos acaba parecendo uma creche e a presença das crianças acaba
iluminando um pouco o lugar e garantindo-lhe, de certa forma, sempre um rasgo
de alegria e esperança.
Só que em meio às situações corriqueiras de um presídio, envolvimentos íntimos,
desavenças com outras internas, visitas do advogado, audiências de apelação,
Julia vê-se às voltas com as investidas de sua mãe para levar o neto dali
daquele ambiente que considera pouco apropriado para a criação de uma criança.
Sob pretexto de tratar um resfriado do menino, a avó consegue convencer a mãe a
tirá-lo de lá, em princípio, apenas para uma consulta médica, com a promessa de
levá-lo de volta. Só que isso não acontece e aí Julia vai fazer de tudo para
ter seu filho de volta.
Filme de uma mãe que até hesita um pouco no ofício divino que lhe é concedido
mas que a partir do momento que se sente mãe, não vai deixar que ninguém tire
isso dela. Uma leoa que protege sua cria a qualquer custo.
10. Kill Bill – vol.2”, de Quentin Tarantino (2004) – No final
do volume 1 é revelado, apenas para o espectador, que a criança que a noiva
baleada na cabeça num massacre numa igrejinha de interior, sobrevivera à chacina. Recuperada
de um coma de quatro anos, a mãe, uma assassina treinada que não perdera seus
instintos mortais, depois de se vingar de parte do grupo
que tentara matá-la, vai agora em busca do líder e ex-amante, Bill. O tempo inteiro, a grande
motivação da vingança de Beatrix Kiddo (Uma Thurman), também conhecida como a Mamba Negra, é
o fato de terem-lhe tirado seu bebê, tanto que a primeira coisa que faz quanto
desperta do coma, sem noção de quanto tempo estivera ali, é levar a mão à
barriga e perceber que não tem mais ali a criança. Aquela é a vingança de uma mãe.
Cada um que sucumbe a ela paga pelo fato de terem lhe tirado a oportunidade de poder
ter um filho, estar perto da criança, curtir cada momento. Ah, todos terão que
pagar por isso! O que ela não contava é que, às portas de seu confronto final,
ao encontrar Bill, encontraria também uma graciosa menina, doce, dengosinha e com
carinha de anjo. Ah, amigos, ela desaba! A determinação com que ela adentra a
vila onde habita o algoz, de arma em punho, pronta para aniquilar o homem que
lhe causara tanto sofrimento e privação, é completamente desestruturada assim
que vê a menina.
Ele, cavelheiresco como é, apesar de seu ofício, permite a
elas algumas horas juntas antes do inevitável duelo final entre os dois, que
serão os momentos mais gostosos e bem aproveitados por aquela mãe. Horas que
valerão por anos, até porque, ela não sabe o que acontecerá assim que sair
daquele quarto e colocar sua espada Hatori Hanzo em ação contra a de seu oponente,
o tão perseguido, Bill.
11. “Volver”, de Pedro Almodóvar (2003) - Almodóvar gosta de destacar mulheres em seus filmes e não raro, trata especificamente de mães, como acontece, por exemplo em "Julieta" (2016), "A Flor do Meu Segredo" (1995) e, é claro, "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999). Mas não vamos cair na obviedade de destacar o filme que explicitamente dedica, já no título, sua temática às mães e sim um outro do qual gosto muito e que traz as questões das relações entre mães e filhas de uma maneira mais leve, mesmo contendo elementos dramáticos, polêmicos e sombrios. "Volver" é uma espécie de comédia surrealista onde uma mãe, Irene, brilhantemente interpretada por Carmen Maura, "retorna dos mortos" para alguns acertos, alguns ajustes, uma reconciliação com suas filhas, especialmente com Raimunda, vivida por Penélope Cruz, com quem nunca tivera, em vida, uma relação muito boa. Raimunda, diante da novidade da misteriosa volta da mãe, ainda vê-se às voltas com o assassinato cometido por sua filha adolescente Paula,que matara o padrasto que tentara abusar sexualmente dela. A não ser pelos relatos de Raimunda, não sabemos como era a mãe quando viva, mas o que sabemos é que a Irene "fantasma" é um personagem adorável que dá um brilho todo especial ao filme de Almodóvar. Um filme delicioso com uma mãe que vai nos mostrando, e às filhas, que tudo o que sempre fez, foi protegê-las, assim como a filha Raimunda faz agora em relação à sua pequena Paula. Aquele instinto que passa de mãe para filha.
12. "Indochina", de Régis Wargnier (1992) - Eliane (Catherine Deneuve), dona de uma vasta extensão de seringais na Indochina francesa e mãe adotiva de uma garota indochinesa, se apaixona e tem um romance com um oficial francês da Marinha, Jean-Baptiste, mas o rapaz também cai nas graças da filha Camille em um incidente na rua onde o militar salva sua vida. Em parte por ciúmes, em parte para protegê-la do cenário efervescente pela libertação da colônia, Eliane, rica e influente consegue fazer com que transfiram o oficial para os quintos-dos-infernos, numa ilha, literalmente, lá na cochinchina, de modo que fique longe da filha, imaginando assim que a jovem desista dele e, por fim, o esqueça. Só que aquela mãe não contava que o amor da menina pelo oficial fosse muito maior do que ela imaginava. A menina atravessa o país atrás do seu amor e, agora sem a proteção de sua posição social, como uma indochinesa comum e misturada a seu povo, conhece a relidade local, se afeiçoa à sua gente ele e se solidariza com sua luta pela independência.
A busca e Camille por Jean-Baptiste é comovente e tem momentos verdadeiramente lindos, mas em paralelo a isso, a mãe, verdadeiramente amorosa apesar do ato egoísta, desesperada, não mede esforços para encontrar a menina e move mundos e fundos para tê-la de volta. Mas aí já é tarde, a pequena e frágil Camille já virou uma revolucionária procurada e praticamente uma lenda em seu país.
O fato de ter afastado a filha da pessoa que ela amava pode parecer desqualificar Eliane no quadro das grandes mães. É verdade, ela foi um tanto egoísta, autoritária, até insensível. Mas não se engane, leitor. É o tipo do caso da mãe que acha que está fazendo o melhor para o filho, mesmo que isso tenha que custar algum sacrifício o qual, neste caso específico, era para ambas. A gente até fica com uma raivinha dela durante o filme mas na cena do reencontro das duas é de morrer de pena daquela mãe.
mostrando que mãe adotiva é tão mãe quanto qualquer outra.
"Indochina" - trailer
Uma das mortes clássicas de "Sexta-Feira 13".
Jason aprendeu direitinho com a mamãe.
13. “Sexta-Feira 13”, de Sean S. Cunnigham (1980) – Quando pensamos em “Sexta-Feira 13”, a primeira lembrança que nos vem à mente é o assassino psicopata da máscara de hóquei, Jason Voorhees, mas pouca gente lembra que quem mata no primeiro filme da franquia (* alerta de spoiler) é a mãe de Jason. Sim! Pamela Voorhees traumatizada e perturbada pela morte do filho, afogado por negligência dos monitores do acampamento de Crystal Lake, responsabiliza, de um modo geral, a todos os jovens cheios de vida e resolve que deve se vingar de todos aqueles que venham a acampar no lugar onde o filho morreu. E a mamãe capricha! É um banho de sangue com algumas cenas das mais clássicas do terror slasher como, por exemplo, a que Kevin Bacon, estreando, novinho ainda, tem a garganta atravessada por uma faca, deitado na cama. Caso em que o filho aprendeu direitinho os ensinamentos da mãe pois, dali em diante, nas sequências da franquia, é Jason quem assume o facão e mostra-se extremamente competente em sua tarefa.
Quem assistiu a “Sexta-Feira 13 – parte 1”, jamais vai esquecer a frase, dita com aquela vozinha fininha, imitando a de uma criança, sempre antecedendo mais uma atrocidade: “Mata ele, mamãe!”.
14. "A Troca", de Clint Eastwood (2009) - Agora, imagina se seu filho desaparece, você denuncia o fato às autoridades e depois de algum tempo eles vem pra você com uma outra criança e querem que você engula e aceite aquilo. Cara, é exatamente o que acontece em "A Troca", filme dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Angelina Jolie, e o pior é que a coisa toda é baseada num fato real ocorrido em Los Angeles na década de 20.
Aquela mãe insiste, Christine Collins, reafirma que não é o mesmo menino que sumira, tenta provar de todas as maneiras, com os professores, com exames médicos, com fotos, mas a polícia não só tenta lhe impor que é o garoto que ela procura como a acusa de insanidade mental por não reconhecer o próprio filho.
Uma história angustiante em que ficamos cada vez mais envolvidos e torcendo por aquela mãe. Mas infelizmente, amigos, tenho que revelar que a situação só piora.
Caso de uma mulher que não desiste do filho, não desiste da verdade, mas que, mãe solteira, vê-se impotente e cada vez mais sufocada pelas autoridades, pelo machismo e pela conjuntura social de sua época.
15. "Mãe!", de Darren Aronofsky (2017) - Essa é a mãe de todos nós. Salvo outras possíveis interpretações, a Mãe, interpretada por Jennifer Lawrence no filme de Darren Aronofsky, representa mãe natureza, a vida. E tudo o que aquela mãe mais quer é viver em paz e preservar sua casa, que é, na verdade, a nossa casa. A casa em questão, uma propriedade retirada em reformas, é onde ela vive com Ele, um escritor em crise criativa, vivido por Javier Barden, que, vaidoso e inconsequente, permite visitas inconvenientes que cada vez mais vão tumultuando a vida e o lar dos dois. Primeiro são um homem e uma mulher, convidados por Ele (Adão e Eva); depois uma multidão mal-educada que chega para o funeral de um dos filhos do homem e da mulher, morto pelo irmão (Caim e Abel), e com seu mau comportamento, mesmo diante de todas as advertências, acabam causando um enorme vazamento (Dilúvio) e a ira da dona da casa; e por fim, quando ela já está grávida, os convidados que chegam para celebrar a nova obra do escritor que finalmente rompera seu bloqueio criativo e que assim que ela tem o bebê, em meio à sua noite de consagração, exibido, faz questão de levar e entregar seu filho, recém nascido à turba de insensatos que..., (* alerta de spoiler) literalmente, o devoram (Jesus Cristo).
Um filme complexo, para o qual cabem diversas outras interpretações ou variações, mas que não deixa dúvida quanto a uma coisa: o zelo que uma mãe tem pelo seu lar e pelos seus.
À parte as reflexões religiosas, com "Mãe!" você vai entender melhor o desespero da sua mãe quando chegava em casa e via aquele lugar de cabeça pra baixo.
Alguns outros filmes com mães marcantes que merecem destaque e poderiam perfeitamente estar na nossa lista:"O Óleo de Lorenzo", de George Miller (1992); "Mamãe Faz Cem Anos", de Carlos Saura (1979); "Mommy", de Xavier Dolan (2014); "Minha Mãe é Uma Peça", de André Pellenz (2013); "Tudo Sobre Minha Mãe", de Pedro Almodóvar (1999); "Mom", de Ravi Udyawar (2017); "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert (2015); "O Quarto de Jack", de Lenny Abrahamson (2016); "Precisamos Falar Sobre Kevin", de Lynne Ramsay (2012), "Juno", de Jason Reitman (2008); "Zuzu Angel", de Sérgio Rezende (2006)
Um olhar feminino sobre questões como adolescência, sexualidade, relação mãe e filha talvez justificasse o fato da diretora Kimberly Peirce tentar refilmar o cultuado "Carrie, a estranha", dirigido originalmente por Brian de Palma, a partir da obra de Stephen King, porém, como nenhum destes aspectos levantados tem relevância suficiente na nova versão, o filme da diretora norte-americana torna-se completamente dispensável. E olha que nem vou me dar o trabalho de falar inexpressiva da refilmagem de 2002 ou da infame "sequência de 1999.
Mais interessado em provocar sustos, jorrar sangue e exibir efeitos visuais, o remake na ânsia de rejuvenescer o contexto acaba tornando-se apenas mais um terror tem cheio de clichês. Se essa atualização tem alguma vantagem em relação ao antigo é no que diz respeito à difusão da imagem da pobre Carrie em redes sociais por meio dos celulares. Esse, sim, considero uma bola dentro da nova versão, amplificando o alcance da exposição e agravando ainda mais a humilhação sofrida pela garota. De resto, a refilmagem erra em uma série de escolhas e não apresenta, no fim das contas, quase nenhum mérito.
Do outro lado temos a versão original, de 1976, na qual a condução de Brian de Palma, que sabendo exatamente o que quer de cada cena, cada segmento, cada enquadramento, lhes dá tratamentos diferenciados de acordo com a tensão que pretende imprimir. Desde quebras de ritmo e inversões de expectativa como na cena inicial em que um momento de ternura entre adolescentes, filmado em câmera lenta e emoldurado por uma música suave, é interrompido pela surpresa de um misterioso sangue, numa espécie de recriação da cena do chuveiro de Hitchcock mas desta vez com o sangue do florescer da puberdade de uma menina. Ou quando da escolha do casal Carrie e Tommy como reis do baile, quando a cena, sob uma trilha triunfante, toda conduzida em câmera lenta, como se a protagonista quisesse que aquele momento durasse para sempre, tem quebrado seu encanto com a queda do balde de sangue sobre a nossa protagonista, desencadeando todos os acontecimentos trágicos do baile. Sequência esta, por sinal, na qual se dá o maior show da direção de De Palma no filme, com a manifestação dos poderes da garota sob uma edição alucinante, divisões de tela que deixam o espectador aturdido, closes rápidos, aceleração de movimentos, variações de iluminação que ajudam a induzir as sensações do público e toda uma maestria na execução que fazem está cena uma das grandes passagens da história do cinema.
cena da fúria de Carrie (1976)
Além de tudo isso, a escolha da protagonista, no mais recente, a bonita e graciosa Chlöe Grace Moretz, "normal" demais, do ponto de vista físico, parece-me pouco apropriada, ao passo que o antigo contava com a esmilinguida Sissi Spacek, um verdadeiro bichinho-da-goiaba que chegava a dar pena só de ver, muito mais pertinente à situação de bullying que, no atual, praticamente só pode se apegar à condição religiosa da garota, uma vez que, no mais, ela não difere muito das outras. Julianne Moore até se sai bem como a mãe fanática religiosa na nova versão, mas nada consegue superar aquela interpretação, em alguns momentos quase obscena, de Piper Laurie no original. Se na original, Sue, a garota arrependida do bullying com Carrie, a que pede para que o namorado leve a esquisita à festa, é discreta e adequada ao papel (Amy Irving), no remake é uma Barbie chamativa e destalentosa; enquanto o garotão, Tony Ross que até está simpático no novo, mas é tão insignificante que durante boa parte do filme a gente fica procurando por ele, no velho filme é marcante na figura de William Katt, praticamente um rock star (lembra Robert Plant em seu melhor momento), um anjo loiro, tão impressionante e imponente que não teria como não olhar para ele e não saber que aquele rapaz é "o cara" da escola. E a nossa vilã? O que dizer dela? Ai, a garota que implica mais incisivamente com a nossa heroína é simplesmente sofrível!!! Uma atriz inexpressiva que abusa das caras e bocas com clichês de atuação constrangedores, que não dá nem para comparar com a clássica atriz de Brian De Palma, Nancy Allen, que, embora também um tanto teatral demais, serve perfeitamente dentro do tipo de proposta dramática das cenas do diretor.
O original faz quatro ao natural. Aquele jogo que até poderia ter sido mais, mas o time grande tira o pé porque não tem mais o que provar. Um, por que tem mais recurso técnico, time bom que toca quando tem que tocar e parte pra cima na hora que tem quer definir a jogada (ou seja, conduz com sabedoria as cenas de drama, dá o ritmo certo o tempo todo e deixa o espectador sem respirar nas cenas de terror). Dois, pela escalação. Um time muito mais bem escolhido com o jogador certo em cada posição (a mãe, impecável; a vilã, perfeita; o galã, muito adequado e a 'matadora', não poderia ter sido melhor escolha), enquanto o adversário além de escalar jogadores fracos, colocou alguns fora da função onde poderiam render mais. Três, pelo pequeno plano-sequência que sai da mesa do casal, denuncia a troca dos votos, passa por baixo da escada, acompanha a corda do balde, chega até ele em cima do palco e reencontra frontalmente Tommy e Carrie na mesa prestes a se consagrarem rei e rainha do baile. Golaço! E mais um pela cena final. Lenta, "despretensiosa"... Quando parece que não vai acontecer mais nada, dá um cagaço no espectador mais despreparado. Foi o caso comigo. O timezinho remake até faz um por conta da boa inserção dos celulares e mídias sociais na história, mas fica por aí mesmo. Saiu barato!
À esquerda a Carrie de Brian De Palma e à direita, a de Kimberly Peirce.
Sissy Spacek, a Carrie, de Brian de Palma, literalmente, incendeia a torcida e dá um banho de água fria nas pretensões do filme de Kimberly Peirce de se igualar ao original.
Não é por acaso que, em Hollywood, roteiristas sejam figuras míticas. Filmes clássicos e
cultuados abordaram isso: "Crepúsculo dos Deuses" (1950), “Barthon Fink” (1991) e "O Jogador" (1992) são exemplos. São esses autores das letras que dão a primeira e essencial forma a qualquer produto que venha a se tornar audiovisual. Por trás de um efeito especial há sempre alguma linha escrita. Porém, também não é novidade que, de tempos para cá, com o avanço abissal dos recursos de tecnologia, o cinemão norte-americano vem privilegiando cada vez mais a técnica e seu impacto sensorial no espectador do que o sentimento emocional ou a subjetividade da interpretação linguística. E o que acontece quando se supervaloriza o aparato técnico em detrimento do roteiro? Empobrecimento. Caso típico de “Missão Impossível: Efeito Fallout”, de Christopher McQuarrie.
O sexto longa da franquia produzida e interpretada pelo astro Tom Cruise é mais um enlatado muito bem desenhado e trucado que pode dar-se ao luxo de desmerecer a inteligência do espectador. Na história, repleta de reviravoltas e referências a filmes anteriores da série, o agente secreto Ethan Hunt (Cruise), obrigado a unir forças com outro agente da CIA, August Walker (Henry Cavill) para mais uma missão impossível, vê-se novamente cara a cara com Solomon Lane (Sean Harris) e preso numa teia que envolve velhos conhecidos movidos por interesses misteriosos e contatos de moral duvidosa. Atormentado por decisões do passado que retornam para assombrá-lo, Hunt precisa impedir que uma catastrófica explosão ocorra, no que conta com a ajuda dos parceiros de IMF.
Como sempre, seguindo o modelo narrativo do programa televisivo dos anos 60 – que o diretor Brian De Palma magistralmente versou para o cinema no primeiro da franquia, de 1996, abrindo caminho para os subsequentes –, o diretor Christopher McQuarrie (“Missão Impossível: Nação Secreta”, 2015; “Jack Reacher: O Último Tiro”, 2013, “A Sangue Frio”, 2000) não consegue dar um equilíbrio ao filme enquanto obra, perdendo-se principalmente do meio para o final. Não por acaso, a coisa começa a descambar a partir do ponto em que o espectador, já amortecido pela avalanche de imagens, sons, luzes e movimentos em profusão, está devidamente receptivo a qualquer coisa que lhe apresentarem (e o quanto mais ralo, melhor). A proposta do argumento funciona até determinado ponto, mas, justamente pelo proposital desleixo com o roteiro, passa a precisar apelar para exageros, lugares-comuns e superficialidades.
Isso fica evidente quando comparadas as sequências em Paris e em Londres. A mais empolgante delas, haja vista que ainda na primeira metade do filme, é a da perseguição pelas ruas da Cidade-Luz. Ágil mas sabendo aproveitar a paisagem e as ruas parisienses como cenário, a fuga de Hunt da polícia e dos gângsters é ótima. A resolução da cena, melhor ainda, quando ele some em uma espécie de claraboia no meio da avenida, a qual vai dar justamente nas águas do subterrâneo da cidade, onde é resgatado pelos companheiros de IMF num barco. Tirada típica de “M:I”. O tiroteio nas docas e o uso das supermáscaras, também elemento tradicional da série, funcionam, igualmente, muito bem.
A perseguição em Paris,
um dos melhores momentos do filme.
Em compensação, no que se progride mais na trama, o roteiro mostra que fraqueja. A corrida de Hunt pelas ruas londrinas para alcançar o agente Walker – então revelado vilão – sendo mal guiado remotamente pelo GPS do parceiro Benji Dunn (Simon Pegg) é embaraçosa. Jamais qualquer agente obrigatoriamente qualificado como Dunn cometeria tantos equívocos com tecnologia (o forte do próprio personagem, aliás) como se fosse uma vovó de 90 anos que nunca viu um computador. É a obrigação do elemento “gag”, da “comédia” em filmes de “não-comédia”, fator narrativo interessante, mas vulgarizado e, não raro, muito mal utilizado não só no cinema norte-americano. E o desfecho da sequência, então? Se na primeira parte o ápice da cena mantinha relação com as ideias originais de “M:I”, aqui, sucumbe-se ao clichê de qualquer filmeco de Domingo Maior da Globo: o bandido, com uma arma apontada para o mocinho, não apenas hesita em atirar como ainda desata a expor suas frustrações pueris – as quais só servem para que, mais adiante, ele, bandido, fique com aquela raiva incontida por não ter matado quando deveria.
Diferentemente do primeiro da saga ou de “Missão Impossível: Protocolo Fantasma” (Brad Bird, 2011), ambos bem escritos, o roteiro de “Fallout” o faz ser mais um entre milhares de filmes norte-americanos de alto orçamento e grande estrutura de marketing a serviço de uma obra fraca. Não é de se estranhar, pois não é para ser diferente, uma vez que o filme funciona para aquilo que se propõe, ou seja, reafirmar o status quo belicista e intransigente dos Estados Unidos. Para isso, as repetições ideológicas de sempre: idolatria à figura do mocinho macho, intrépido e sedutor, reafirmação do capitalismo e da supremacia yankee e alerta para a ameaça daquilo que difere desse sistema e ideologia.
Isso tudo, claro, apresentado de forma competente tecnicamente e em cenas altamente ágeis, tanto no que se refere a movimentos de câmera, edição ou efeitos. Neste sentido, McQuarrie mostra-se muito hábil. Tudo muito bonito, mas vazio, vazio. Os diálogos vão caindo à medida que a história avança. E o aproveitamento excessivo dos elementos peculiares da série acaba por desgastá-los. Afinal, como acreditar em um filme em que dois helicópteros colidem no ar, não explodem e, ainda por cima, os tripulantes não morrem? E pior: mal se machucam?! Não se trata de missão impossível: é missão improvável.
Afora isso, até Cruise, embora ainda bonito mas em irreversível fase de “embofamento”, parece ter perdido a naturalidade. Nada que comprometa o filme (afinal, não é a profundidade expressiva dos atores que mais conta aqui), mas ele, grande ator, mantém agora o rosto praticamente sem expressões, bem diferente do que normalmente fora enquanto tinha uma feição jovem e do próprio personagem Ethan Hunt, afeito a caras e bocas. Parece não querer desmanchar a figura do galã dos tempos áureos de “Top Gun” ou “Jerry Maguire” – o que, obviamente, já não o mais é.
Chega a ser maldoso comparar o resultado de McQuarrie com o de um mestre do cinema como Brian de Palma. Porém, o “M:I” do diretor de “Dublê de Corpo” e "Scarface", em seu roteiro, além de privilegiar os artifícios da investigação, vai até o limite do aceitável nos arroubos. Como no primeiro "Duro de Matar" – outro bom exemplo de aventura em que se valoriza o “realismo” das ações de maneira a tornar a obra mais atraente e dialogável com o público –, o longa de De Palma também “estica a corda” do cabível tal como se usa em qualquer aventura hollywoodiana. Entretanto, nunca a ponto de perder a credibilidade pela tentação do efeito mimético que o absurdo gera ao valer-se da absorção do espectador para, justamente, mascarar-se por detrás do choque sensorial que a sétima arte é capaz de provocar com tanta eficiência.
Filmes como "Efeito Fallout" parecem dar vida ao que o célebre roteirista Jean-Claude Carrière sarcasticamente chamou de "filme-monstrengo", ou seja, um "filme bem dirigido, mas mal escrito".
Vale assistir “Efeito Fallout”? Despindo-se de entendimentos mais profundos e abstraindo-se as barbaridades que se irá presenciar, será divertido, principalmente numa sala de cinema. Mas que dá vontade de voltar pra casa e ver Ethan Hunt pendurado por um cabo em uma sala de sensores de movimento para roubar um simples disquete, ah, dá.
Haja fôlego por Vágner Rodrigues
Vou ser sincero, eu gostei desse tiro.
Não sei dizer se a franquia continua com a mesma força, mas assim como Tom Cruise correndo, uma coisa é certa: ela não perdeu o fôlego.
Quando uma importante missão não sai como o planejado, Ethan Hunt (Tom Cruise) e o time do IMF unem forças em ação numa corrida contra o tempo para acertar as contas com os erros do passados.
Como a maioria dos filmes de ação modernos, "Missão: Impossível - Efeito Fallout" é uma bagunça no roteiro. Cheio de viradas e mudanças de lado entre os personagens, e vai e volta, não se sabe quem é amigo ou inimigo... É uma confusão! Devo confessar que cheguei mesmo a ficar perdido em determinado momento. O que compensa é a ação.
Tecnicamente o filme tem grandes acertos. O direto Christopher McQuarrie tem um ótimo controle de câmera, sabe filmar ação, suas sequências de perseguição seja de carro, moto ou helicóptero, são simplesmente espetaculares. A trilha também é algo que chama muito atenção no modo como dialoga bem com as cenas, fazendo realmente parte delas, o que é espetacular ainda mais que o tema da franquia aparece tocado várias vezes em ritmos diferentes.
Que Tom Cruise é louco não é nenhuma novidade, mas que é uma ótima loucura, isso é! O fato de ele fazer todas suas cenas de ação, sem dublês, faz com que o filme use menos efeitos e jogos de câmera nas seqüências de luta, tornando a ação mais frenética e também mais real. Fora Tom, que esta sempre bem nos filmes da franquia, o restante do elenco cumpre bem seus papeis, com destaque para Henry Cavill que achei que não fosse gostar de seu personagem, mas até que acabou entregando algo; e Rebecca Ferguson, que consegue desenvolver um bom papel feminino de bastante força.
"M:I 6" é cheio de homenagens e referências aos filmes anteriores da franquia repetindo, por exemplo, a cena da escalada na montanha. Se a historia está cada vez mais um fiapo, o que resta é se agarrar à ação e à adrenalina de “Missão Impossível” e às loucuras de Tom Cruise. Você não só não vai se arrepender, como ainda vai sair cansado de tanta ação.
Tem coisa mais linda e estranha que o Tom correndo?
"Scarface, A vergonha de uma nação" (1932), sem sombra de dúvidas é além de um clássico filme de gangsters, uma forte critica social para época. Na Chicago dos anos 20, um gângster Tony Camonte (Paul Muni) mata um rival do seu chefe e rapidamente ganha destaque dentro da quadrilha. Tony espera o momento exato para assassinar seu chefe e se tornar o novo líder do bando, mas o fato de sua irmã Cesca Camonte (Ann Dvorak), por quem ele sente uma paixão incestuosa, estar envolvida com seu homem de confiança Guino Rinaldo (George Raft) o deixa totalmente abalado.
Um acerto na narrativa é a forma como ele envolve a imprensa, mostrando o trabalho da redação em apurações das noticias dos crimes e destacando suas manchetes, evidenciando o medo da sociedade da época com a “guerra de Gangues”. Outro momento fantástico é a relação que filme faz do letreiro que fica na frente da janela da casa de Tony, com a personalidade e objetivos do criminoso.
Muito bem filmado, com atuações bem a destacadas e uma violência fora do comum para época, o filme se torna grandioso mesmo que em alguns momentos sua narrativa fique repetitiva e tenha saltos temporais que deixam o espectador um tanto perdido. O longa ganha muita força em sua maneira crua e cruel de construir o personagem e assim acompanhamos boa parte da ascensão de Tony em sua busca por conquistar o mundo. "Scarface" de 1983 consegue ser tão real e tão violento quanto sua primeira versão. Meu Deus, um filme completo! Década de 80. Centenas de imigrantes cubanos aportam na costa da Flórida durante uma breve abertura da ilha por Fidel Castro, em uma manobra para se livrar do excesso de presos nas cadeias cubanas. Em meio à massa de miseráveis, chega Tony Montana (Al Pacino), bandido de pouco nome e muita marra, disposto a conquistar o mundo do tráfico.
Essa versão definitivamente é um clássico. A direção, figurinos, atuações, tudo está perfeito. Brian De Palma tem um ótimo controle de cena, ótimas escolhas de ângulos, trabalha maravilhosamente sua narrativa nos colocando ao lado de Tony. O tempo todo acompanhamos a vida do nosso herói...ops...vilão, em todos o detalhes.
Scarface(1983) e mais uma obra bem crua e extremamente violenta, não só visual mas também em diálogos e criticas sociais. Uma obra de arte, uma inspiração para todo um gênero de filmes futuros. É difícil descrever esse filme sem ficar o elogiando efusivamente. Por mais longo que o filme seja, com suas quase três horas de filme, ele não cansa pois a narrativa é tão boa que você só quer ver as conseqüências de cada passo de Tony.
Um dos momentos grandiosos do filme, que mostra bem quem é o personagem, com todo o talento assombroso do diretor, é, logo no inicio, quando Tony, vai roubar a cocaína de um grupo de colombianos e um plano seqüência espetacular, mostra toda a frieza e como nada vai abalar nem impedir Tony de ir atrás de seus objetivos. Essa cena “vende” o filme, além é claro, da seqüência final que dispensa apresentações e comentários, sendo uma das mais famosas do cinema.
Cena final - "Scarface" (1983)
Mas então vamos ao jogo: apita o arbitro, mexe na bola. Scarface de 1932 começa vindo para o ataque com tudo dando vários disparos ao gol. Essa seqüência de tiros à meta do adversário resulta em um belo gol logo no inicio. (1932) 1 X 0 (1983).
Recomeça a partida. Tony Montana tabela com seus amigos ao sair da cadeia, entram cena e na área com tudo. Ali eles são mortais, partida empatada. (1932) 1 X 1 (1983).
Tony Camonte mostra sua cara, começa e conquistar mais e mais poder e confiança e assim é GOOOL. Tony Montana, não fica para trás, roubando a bola e tudo que vê pela frente, e GOOOOOL. Howard Hawks da show de comando, mostrando classe e leva seu comandados a fazer mais um gol. De Palma, mostra total controle com seu elenco também. Apesar de violento, nos momentos que ele coloca a bola no chão, aí vira futebol-arte, lindo de se ver. (1932) 3 x 3 (1983).
Então jogo o termina empatado 3 x 3 e vamos a prorrogação. Scarface de 1983, mostra toda sua energia, sobra fôlego, vem com força nessa parte final. Seu roteiro mais recheado, um elenco de apoio que cresce, como no caso de Mary Elizabeth Mastrantonio como Gina Montana, que sai jogando e tabelando no final, para que o astro principal que mostra todo seu brilho nos últimos minutos, disparando loucamente em direção ao gol, faça mais dois tentos naquele final simplesmente espetacular. (1932) 3 x 5 (1983).
"O mundo é seu".
O final de 1932 e o de 1983.
Não foi uma partida fácil. Jogo equilibrado, bem jogado, mas ao mesmo tempo violento e disputado. Tivemos expulsões, brigas, duas equipes malandras, em alguns momentos até desleais, porém o jogo terminou, mesmo com tudo isso. Quem viu, tenho certeza que não vai esquecer o espetáculo proporcionado por Scarface (1932) e Scarface (1983).