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terça-feira, 5 de junho de 2018

"Vingadores: Guerra Infinita", de Anthony e Joe Russo (2018)



Sabe que eu não gostei de "Vingadores: Guerra Infinita"? Indo na contramão de quase todos os comentários que li e ouvi, achei um dos piores filmes da Marvel. Parte técnica perfeita. Ok!, Mantida a coerência e a continuidade dos filmes anteriores. Beleza! Mas "Guerra Infinita" me pareceu o mais vazio dentre todos os filmes que levaram a este ponto do enredo. O roteiro não tem profundidade em nada. Só ação, ação, ação... É o filme mais 'super-herói' de todos os do MCU (Marvel Cinematic Universe), no pior sentido que isso possa representar. É tiro, porrada e bomba o tempo inteiro! Aí dá um tempo, um papinho qualquer, uma piadinha e, de novo, tiro, porrada e bomba...
Por já ter construído os personagens e encaminhado o enredo ao longo de todos os filmes de origens e suas sequências, este vê-se descompromissado disso autorizando-se a somente se fixar na aquisição das Joias do Infinito por parte do tirano Thanos, e mais nada. Há um pequeno reforço na construção do vilão, fragilíssima até então, limitada a flashes e cenas pós-crédito nos longas dos heróis; e uma certa humanização do personagem que nos faz ter até uma certa simpatia por ele, mesmo sabendo da grandeza trágica de suas intenções; mas, enquanto desenvolvimento, ficamos por aí.
Thanos tentando preencher sua manopla com as Joias
que lhe darão poder supremo no universo.
Personagens são subutilizados, outros são inúteis, outros são ridículos e, Bruce Banner, por sua vez, consegue ser as três coisas, num conflito interno patético não conseguindo se transformar na fera verde durante todo o filme e não justificando sua presença na trama, senão por uma piadinha aqui outra ali.
Pra completar, o final que fez muita gente vibrar pelo componente dramático, trágico e que promete sequência(s) foi mais um elemento que me deixou desgostoso e insatisfeito, uma vez que, mesmo com toda a amarração entre filmes e heróis, a Marvel nunca fez um filme tão dependente de outro deixando tudo completamente em aberto. Quando se vai assistir a "Kill Bill, volume 1" está claro que o complemento depende um volume 2, mas quando se vai ver um filme de uma linha que, de uma forma ou de outra, sempre se revolveu dentro de cada episódio, o espectador está esperando ao menos que aquela história se complete. Mas não foi o caso desta vez. Me senti quase da mesma forma de quando fui assistir "Matrix Realoaded" e, mesmo sabendo que a trilogia seria finalizada somente no "Revolutions", fiquei completamente decepcionado por ter permanecido mais de duas horas dentro do cinema para  que durante todo aquele tempo, depois de inúmeras lutas infindáveis e improdutivas, nada tivesse acontecido. Nada aconteceu neste? Não. Alguma coisa aconteceu. Mas, na minha opinião, foi muito barulho pra pouca coisa.



Cly Reis

domingo, 18 de março de 2018

"Pantera Negra", de Ryan Coogler (2018)



Não faz muito tempo, a atriz e diretora Jodie Foster declarou que os filmes de super-heróis estariam acabando com o cinema, declaração com a qual, mesmo sendo um colecionador de quadrinhos e apreciador de filmes do tipo, não posso deixar de concordar em parte uma vez que os filmes do gênero, feitos nos últimos tempos em espantosa agilidade e quantidade na maioria das vezes, com exceção da parte técnica, são obras bastante pobres, rasas, de personagens superficiais e andamentos previsíveis, completamente dispensáveis do ponto de vista artístico ou reflexivo. O público, cada vez menos exigente no que diz respeito a conteúdo, roteiro, diálogos, atuações, se satisfaz com meia dúzia de efeitos especiais em 3D e fisgado pela sanha consumista induzida pela indústria do cinema, mal sai de uma sala de projeção onde curtiu a aventura de um herói e já espera pela sequência que, por sinal já tem até data marcada para estrear.
No entanto, mais ou menos na mesma época da entrevista de Jodie Foster, um filme desta linha veio a contrariar a declaração da atriz. "Pantera Negra", filme sensação mundial que tem batido sucessivos recordes de bilheteria é um filme de super-herói necessário e o fato de ser de super-herói, neste caso, é um aspecto importante. Um herói negro destemido, carismático, líder em uma nação negra orgulhosa, autossuficiente, desenvolvida tecnologicamente mas que não deixa de lado suas mais remotas tradições, e onde as mulheres atuam em todas as áreas com a naturalidade que qualquer sociedade deveria zelar, faz com que, como poucas vezes na história da sétima arte, segmentos menos favorecidos na sociedade, em especial é claro, negros e mulheres, vejam-se representados no cinema de uma forma digna e honrosa e identifiquem-se com o que estão vendo na tela.
Mulheres guerreiras, políticas, espiãs, cientistas,
além da questão racial, o filme toca também
na questão do feminismo.
Vi, li, ouvi algumas críticas e contestações, até de negros mesmo, sobre o fato de que teria sido necessário um filme deste porte para despertar o orgulho que o negro sempre deveria carregar consigo. Na verdade, realmente, não deveria precisar de "tão pouco", mas visto que o negro é constantemente relegado, caricaturado, estereotipado todos os dias em todos os segmentos, o fato de nos se ver numa situação de protagonismo e com a respeitabilidade que sempre ambicionou faz, sim, com que a identificação seja inevitável e que seja acesa aquela chama de orgulho que sempre esteve ali presente mas que parecia adormecida.
"Pantera Negra" é muito mais um filme válido e importante do que propriamente um grande filme. Embora tenha uma trama meio shakesperiana no que diz respeito à sucessão real e seus envolvimentos tais como traições, fratricídio, exílio, vingança, o filme do diretor Ryan Coogler traz muitos daqueles defeitos que enumerei anteriormente, como tratamento superficial de personagens (como no caso do bom vilão Killmonger), roteiro deficiente, soluções apressadas e dramatizações excessivas, todos problemas comuns a filmes de heróis que exigem uma certa agilidade e absorção rápida do público, mas no seu caso todos estes defeitos, além de não o tornarem menor do que qualquer outro do gênero, são secundários em relação a todo o simbolismo que ele carrega em si. "Pantera Negra" é um clássico imediato e tem desde já seu lugar garantido na história do cinema como o filme que fez o negro ver a si mesmo como alguém capaz e poderoso; lembrar que seus antepassados tinham tradições belas e ricas; enxergar seu continente de origem, historicamente saqueado e frequentemente desvalorizado, como uma terra de belezas, riquezas e histórias; e sobretudo, a partir destes elementos, propôr uma reflexão e um revalorização do próprio negro em relação a suas origens, seu passado e seu futuro. A fictícia Wakanda, do Rei T'Challa, de contrastes entre disputas tribais e roupas típicas com sua riqueza mineral e tecnologia, de certa forma nos fez imaginar como, talvez, teria sido a África se não tivesse sido saqueada, se seu povo não tivesse sido escravizado e enfraquecido, e se tivéssemos tido a oportunidade de construir uma sociedade dentro do nosso continente de origem. "Pantera Negra" é um grande convite à reflexão histórica e social e, se na sua maioria os filmes de personagens de HQ são descartáveis, neste caso específico, nunca um filme de super-herói foi tão relevante.


trailer "Pantera Negra"



Cly Reis