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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Quinteto Armorial - “Do Romance ao Galope Nordestino” (1974)

 

Doses Cavalares de Brasil


“Convencidos de que a criação é muito mais importante do que a execução, [os músicos do Quinteto Armorial] preferiram a tarefa mais dura, mais ingrata, mais difícil e mais séria: a procura de uma composição nordestina renovadora, de uma Música erudita brasileira de raízes populares, de um som brasileiro, criado para um conjunto de câmera, apto a tocar a Música europeia, é claro mas principalmente apto a expressar o que a Cultura brasileira tem de singular, de próprio e de não europeu.” 
Ariano Suassuna 

A história da arte no Brasil viu, em alguns momentos, a tentativa de se representar uma ideia de nação. Seja por motivos políticos, ideológicos ou simplesmente astuciosos, é fácil concluir que, para se chegar a uma identidade pretensamente simbólica de um povo, a produção artística é o melhor meio para se alcançar essa finalidade nacionalista. No século XIX, o Romantismo à brasileira buscava, num território recém emancipado da Coroa portuguesa, ressaltar as paisagens exóticas, a natureza, os povos primitivos e a miscigenação para suscitar o orgulho dos “novos” brasileiros. No Estado Novo, igual. Tanto o forte investimento na Rádio Nacional, impulsionadora de uma gama de célebres artistas, como no cinema, denotam o projeto de Estado de unificar em uma mensagem ufanista um espírito comum.

Afora a grande subjetividade de se materializar esse feito e da óbvia dificuldade de sintetizar em códigos simbólicos um país de dimensões continentais e em construção, é evidente que a estratégia não deu necessariamente certo em todas essas tentativas. A influência da Europa, seja como modelo, seja como contraposição, põe às claras a falta de elementos primitivos da cultura e da natureza de um país jovem historicamente como o Brasil – principalmente, em comparação à própria Europa, não à toa chamado de Velho Mundo. Residem nesse pensamento ocidentalizado as críticas a outro movimento que também tentou com suas ferramentas inventar uma arte puramente brasileira: o Movimento Armorial. Antes de “brasileira”, aliás, nordestina. Surgido em 1970 por iniciativa do escritor paraibano Ariano Suassuna quando atuou como Diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, essa vertente artístico-cultural, manifesta em literatura, música, dança, artes plásticas, arquitetura, cinema, etc., centrava-se na valorização das artes populares nordestinas e propunha como ideia central a criação de uma arte erudita a partir de elementos populares.

Há quem acuse o Movimento Armorial de ser, além de academicista, também elitista e cínico, pois, na prática, não se comunicava com o tal povo no qual tanto bebia, restringindo-se ao círculo de seus principais cabeças: Suassuna, o artista plástico Francisco Brennand, o gravurista Gilvan Samico e uma meia dúzia de afortunados homens das artes. O que é impossível criticar, no entanto, é a qualidade das obras produzidas, entre elas uma que completou 50 anos em 2024: o disco de estreia do Quinteto Armorial, “Do Romance ao Galope Nordestino”. Com uma obra que propõe um diálogo entre o cancioneiro folclórico medieval e as práticas criativas dos cantadores nordestinos e seus instrumentos musicais tradicionais, o Quinteto Armorial lançava, pelo selo Marcus Pereira, um trabalho revolucionário e inédito em forma e conceito, o qual mereceu Prêmio APCA como o Melhor Conjunto Instrumental de 1974.

Formado pelos então jovens músicos nordestinos Antônio José Madureira, Egildo Vieira do Nascimento, Antônio Nóbrega, Fernando Torres Barbosa e Edison Eulálio Cabral, o conjunto instrumental trazia um manancial de aparatos musicais condizente com sua proposta de síntese: rabeca, pífano, viola caipira, violão e zabumba perfilando-se com os eruditos violino, viola e flauta transversal. A junção do conceito armorial com a textura dos sons gerava uma sonoridade própria, a se ver por "Revoada", exemplo claro dessa junção de tempos históricos, culturas e apropriações. Sem percussão, traz o som metálico da viola caipira, que se harmoniza com as cordas – o violino clássico e a rabeca, retrazida da Idade Média para este novo contexto – e o sopro de pífaro e flauta. Uma forma bastante didática de começar o disco.

Como bem coloca Suassuna em seu texto de apresentação na contracapa do disco, há a influência ibérica por meio dos instrumentos de origem hindu ou árabe, tão marcantes no Nordeste. Se "Revoada" é ritmada e lírica em seus toques ásperos e arcaicos, “acerados como gumes de faca-de-ponta”, tanto mais é "Repente". Esta evoca o Nordeste somente em sons e sem precisar articular uma palavra ou verso a tradição poético-musical dos repentistas de improvisarem estrofes criando-os no exato momento da apresentação. Desde 2021, o repente é considerado patrimônio cultural do Brasil pelo Iphan. 

Típica obra do Movimento Armorial: "Pe. Cícero Romão (Tríptico)”,
óleo sobre aglomerado de Gilvan Samico, do mesmo ano do disco
“Padrinhos” musicais do movimento Armorial, o maestro carioca César Guerra-Peixe e o compositor e folclorista pernambucano Capiba são reverenciados. Guerra-Peixe com a faixa “Mourão”, de sua autoria, um baião embalado que o Brasil inteiro passou a conhecer melhor na trilha sonora do filme “O Auto da Compadecida”, de 2000 (e que acaba de ganhar uma continuação), que se inspira em seus acordes. Nome do cavalo típico do sertão, Mourão, além da evidente referência aos mouros pela cor da pele/pelagem crioula, dignifica, ainda, uma das alusões presentes no título do disco, o “galope”, estilo musical base das festividades juninas da região. 

Já Capiba tem semelhante destaque. O inventor de frevos clássicos da cultura de Pernambuco e protagonista do tradicional bloco carnavalesco Galo da Madrugada, também é lembrado por uma de suas principais peças: "Toada e Desafio", esta também da trilha de “O Auto...” – aliás, a música central do filme –, aqui lindamente executada pelo Quinteto Armorial. Mais um leque de conhecimentos empíricos trazidos à luz da música erudita: além do popular galope, agora merecem releituras a “toada”, cantiga de melodia simples e monótona entoada pelos vaqueiros nordestinos, e o “desafio”, duelo de versos improvisados surgido na Grécia antiga entre os pastores, reinventado na Idade Média e que veio parar no Brasil justo no Nordeste brasileiro, onde, como diz Luz Câmara Cascudo, “o combate assumiu asperidades homéricas”.

A força cultural nordestina dá ainda mais elementos a Madureira, que compõe a renascentista "Toada e Dobrado de Cavalhada", claramente dividida em duas partes: um lento introdutória e, na sequência, um allegro que acompanha o trote ligeiro da dança. Flautim e pífaro dialogando. Misto da música rural dos berberos marroquinos e os mouros dos séculos 12 e 13, ambos ligados pela religião. Vanguarda que surpreenderia até mesmo gente como a Penguin Cafe Orchestra, como a “desafinada” “Toré”, absolutamente moderna. 

E quando idealizam uma Idade Média brasileira para além dos livros de História, como em "Romance da Bela Infanta"? Tema amoroso ibérico do séc. XVI recriado nas cores monocórdicas dos instrumentos rústicos. Mas Madureira faz ainda melhor quando resgata o romance do próprio Nordeste! "Romance de Minervina", canção provavelmente datada do séc. XIX, que recria uma atmosfera provençal ao modo dos trópicos. É possível enxergar uma procissão pelos campos mediterrâneos e, ao mesmo tempo, a tristeza árida do sertão. Igualmente medievas são "Excelência”, tema nordestino de canto fúnebre, e “Bendita”, cântico de Zacarias à maneira dos Salmos que os romeiros entoam pelo itinerário do enterro.

Antônio Nóbrega, dono de reconhecida carreira solo e o de maior proeminência entre todos os músicos do grupo, já a época não ficava para trás. É dele "Ponteio Acutilado", moda forjada na tradição dos violeiros. É praticamente 1 min de solo de viola caipira para, a partir de então, todos os outros instrumentos entrarem e se harmonizarem como se sempre tivessem pertencido ao mesmo território geográfico. A outra dele é "Rasga", dissonante e introspectiva na primeira metade, mas que se encerra (e ao disco) com um “rasga ponteio” festivo.

Os ouvidos populares hoje são familiarizados com a sonoridade que o Quinteto Armorial ajudou a sintetizar. Basta notar a naturalização desses sons em produções populares inspiradas na obra de Suassuna e seus séquitos, como as incontáveis produções audiovisuais da TV Globo que emulam esse universo folclórico e onírico. Mal comparando, como fizeram os alemães da Kraftwerk ao “inventarem” os sons de computador que conhecemos hoje, criando uma espécie de “sonoplastia digital” que se tornou universal. Para com a sonoridade nordestina e, até por uma questão de proporção territorial bastante brasileira, no caso, o Quinteto Armorial cumpriu mais do que um papel esteticamente formal, mas, sim, musical e antropológico. 

O movimento ao qual o Quinteto Armorial muito bem representou não é um consenso entre as pessoas da cultura, mas é inegável a validade de sua proposta, reconhecida hoje nacionalmente, haja vista a rica exposição aos seus 50 anos, ocorrida em 2023, e também internacionalmente por artistas consagrados como o chinês Ai Weiwei. A ideia de valorização da cultura do Brasil que movimentos como este tentam suscitar de tempos em tempos, podem, mesmo com as controvérsias, serem vistas como potência. Uma potência policarpeana de tornar oficial a cultura ancestral. Como escreveu Lima Barreto em “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, personagem símbolo da luta por uma identidade brasileira: “O que o patriotismo o fez pensar foi num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois então apontar os remédios”. Se depender desse pessoal, nenhum brasileiro jamais adoeceria por causa de síndrome de vira-latas.

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FAIXAS:
1. "Revoada" (Antônio José Madureira) - 3:44
2. "Romance da Bela Infanta" (Romance ibérico do Séc. XVI, recriado por Madureira) - :53
3. "Mourão" (César Guerra Peixe) - 1:50
4. "Toada e Desafio" (Capiba) - 4:26
5. "Ponteio Acutilado" (Antônio Carlos Nóbrega) - 4:32
6. "Repente" (Madureira) - 4:36
7. "Toré" (Madureira) - 2:59
8. "Excelência" (Tema nordestino de canto fúnebre, recriado por Madureira) - 3:02
9. "Bendito" (Egildo Vieira do Nascimento) - 4:23
10. "Toada e Dobrado de Cavalhada" (Madureira) - 4:52
11. "Romance de Minervina" (Romance nordestino, provavelmente do Séc. XIX, recriado por Madureira) - 1:33
12. "Rasga" (Nóbrega) - 4:48

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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues
Texto publicado originalmente no site AmaJazz

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

"Anora", de Sean Baker (2024)

INDICADO A
MELHOR FILME
MELHOR ATRIZ
MELHOR DIREÇÃO
MELHOR ATOR COADJUVANTE
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
MELHOR EDIÇÃO

A campanha do Oscar está sendo a mais louca e acirrada dos últimos anos, o que tem favorecido alguns filmes e desfavorecido outros. Na categoria de Melhor Filme, muito se falou até então do favoritismo de “O Brutalista” e “Emilia Perez”, os dois de maiores nomeações da edição de 2025 da premiação (10 e 13 respectivamente). Porém, com a corrida maluca que se tornou o pré-Oscar deste ano (o que, inclusive, vem pondo o brasileiro “Ainda Estou Aqui” em boa posição nas categorias de Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz), tanto um quanto outro andaram, por motivos vários, perdendo musculatura nas últimas semanas desde que os indicados foram anunciados. Nisso, acabaram dando espaço para que um terceiro filme viesse na contramão e despontasse como um novo candidato: “Anora”.

O “O Brutalista”, filmão típico hollywoodiano, drama histórico, longo, filmado em Panavision, perdeu credibilidade desde a descoberta do uso de inteligência artificial em algumas cenas. Já “Emilia Perez”, queridinho do público e crítica, passou a sofrer uma campanha de difamação pela ausência de atores mexicanos em um filme que se passa no México e pela suposta superficialidade na abordagem da questão LGBTAPQN+. Esses dois aspectos se refletem direto noutra crítica: o desrespeito ao “lugar de fala”, uma vez que o diretor francês é um homem abordando uma questão trans e de um país que não é o seu.

Nessa briga entre favoritos, o cult “Anora”, belo drama com toques de comédia dirigido pelo jovem cineasta norte-americano Sean Baker, aparece como um novo possível vencedor. Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2024, o filme conta a história da jovem Anora (Mikey Madison), uma trabalhadora do sexo da região do Brooklyn, nos Estados Unidos, que descobre, numa noite de trabalho aparentemente normal, que pode ter surgido a oportunidade de mudar seu destino quando conhece e se casa impulsivamente com o filho de um oligarca russo, Ivan (Mark Eidelshtein). Em pouco tempo a notícia chega à Rússia e o conto de fadas termina quando os pais de Ivan entram em cena, desaprovando totalmente o casamento. 

O ótimo Yura Borisov no papel de Ygor com a inocente Ani
Afora a ágil edição e as seguras atuações, em especial de Yura Borisov (concorrente ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por seu papel como capanga Ygor), “Anora” se sobressai mesmo pelo roteiro, fio condutor para uma história inventiva e crítica ao mesmo tempo. Os desdobramentos da situação inicial, o romance entre o mimado ricaço russo e a protagonista, leva o espectador a caminhos surpreendentes, pois é escrito de modo a desfazer expectativas daquilo que geralmente quem assiste espera que ocorra. Afinal, todos são condicionados, por influência justamente do cinema feito nos Estados Unidos, que as coisas descambem para a violência explícita. Mas não. Baker, também roteirista (e que concorre na categoria de Melhor Original), quebra as expectativas mais óbvias, amplificando outra violência: a psicológica. A protagonista, dotada da ingenuidade daqueles que jamais conviveram com quem detém o poder, é sujeita a uma série de brutalidades inerentes à sua condição de mera ”prostituta”, tal como imputam a ela, com exceção do consciente Ygor. Por trás da terrível cosmologia dos personagens, está uma crítica ao que a antiga União Soviética legou de ruim desde sua dissolução: uma sociedade ora pobre e impelida à migração, ora rica por vias impróprias. O solo norte-americano, a ilusão da América, é o lugar perfeito para a existência destas duas “classes” de migrantes, bem como para o desvelamento de seus conflitos.

Mesmo com sua pegada de humor às vezes um pouco a mais do que precisava, “Anora” é profundo e bastante revelador da natureza humana em suas relações de poder, a qual envolve aquilo que move o mundo capitalista: sexo e dinheiro. Não há lugar para meninas sonhadoras e despreparadas como Anora, e isso fica muito claro na forma como é construída a personagem de Mikey, uma pessoa à mercê do sistema opressor em suas diversas esferas, seja econômico-social, seja pela misoginia ou pelo machismo imperantes. Perto de “Emilia Perez”, inconsistente na construção de seus personagens (entre outras fraquezas que apresenta), “Anora” é uma aula de como abordar sentimentos humanos em uma narrativa de um filme para grande público. 

Enquanto outros enfraquecem em sua caminhada para o Oscar, “Anora”, recentemente vencedor dos prêmios de filme no Writers Guild Awards e Producers Guild of America, se robustece. “Emilia Perez” ganhou o Bafta a poucos dias, mas na categoria de Filme em idioma não-inglês, desbancando “Ainda Estou Aqui”, inclusive. Porém, esse reconhecimento tem muito mais a ver com a disputa entre estes dois no Oscar pelo Filme Internacional. Em Filme, “Anora” pode, sim, surpreender. E convenhamos: nunca duvidem de um Palma de Ouro. O exemplo de “Parasita” está aí para provar que isso é possível.

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trailer de "Anora"


"Anora"
Título Original: "Anora"
Direção: Sean Baker 
Gênero: Drama/Comédia
Duração: 2h18min
Ano: 2024
País: EUA
Onde encontrar: Amazon Prime Vídeo

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Daniel Rodrigues

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Exposição "Baixa Colateral Distópica”, de Rondinelli Linhares - Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho - Caxias do Sul/RS (29/01/2025)

 

Numa rápida viagem a Caxias do Sul por conta de uma atividade da Accirs, pude conferir uma exposição da qual já havia ouvido falar - e bota ouvir falar nisso! Trata-se da exposição "Baixa Colateral Distópica”, do artista visual goiano Rondinelli Linhares, que esteve em exibição no belo prédio histórico do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás até o último dia 2.

Até aí, tudo normal. Só que a tal exposição foi motivo de uma enorme polêmica em razão de seu conteúdo, digamos, contestatório. E numa cidade conservadora, direitista (tendendo à linha da extrema) e bolsonarista em sua maioria, contestação é sinônimo de ameaça. O que comunidade e vereadores fizeram? Tentaram censurar a exposição sob o descabido pretexto de que suas mensagens não estavam de acordo com a moral da sociedade caxiense, principalmente às crianças.

O belo prédio do Centro Municipal
de Cultura  de Caxias
Acontece que, além de, como mencionado, integrar um edital totalmente lícito e condizente, a desculpa é absurda. Devidamente sinalizada com classificação indicativa(ou seja, não oferece nenhum perigo para as pobre criancinhas da família brasileira), o trabalho de Linhares traz, sim, signos desafiadores para criticar temas como o culto ao sagrado, gênero, sexualidade e a exploração do corpo. Nisso, conjugam-se imagens cristãs, como crucifixos e terços, a outras mundanas, como giletes, búzios e consolos. Provocações que a arte pode e deve promover, seja com o tema ou ambiente que for, em uma sociedade democrática. A arte tem esse pressuposto desafiado pelas mentes autoritárias que se dizem, ironicamente, bastiões da democracia.

Mas a queda de braço liberdade X fascismo foi vencida, ao menos desta vez, pela primeira. Mais uma batalha na guerra contra a intolerância, e como já acontecerá noutras vezes - como na polêmica exposição Queermuseu, em Porto Alegre, em 2017 -, envolvendo a arte.

O principal, que é a liberdade de expressão e de apreciação do trabalho em si, foi preservada. Embora rápida e dividindo a atenção com minha outra atividade, deu para dar aquela conferida na tão falada "Baixa Colateral Distópica”. Interessante, mas, mais que isso, o suficiente para "desafinar o coro dos contentes", como diz a velha canção combativa.

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"Veadinhos" se unem a símbolos católicos e do candomblé


Série de fotos altamente provocaticas e evocativas


Detalhes da série: vários símbolos dialogando e convidando o visitante à reflexão


Uma das imagens: reza com terço e guias


O veado novamente, aqui acorrentando pelo dogma católico do crucifixo


Público conferindo os últimos dias da polêmica exposição


De TikTok à pornografia: as religiões dos tempos atuais


Mais uma das obras de Rondinelli expostas


Lembram da tal "mamadeira de piroca" que a extrema-direita espalhou
fake news Brasil afora? Rondinelli lembrou e transformou numa das peças mais interessantes da mostra


Dá pra entender porque os seguidores do "mito" se incomodaram com "Baixa Colateral Distópica”... 



Daniel Rodrigues

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Música da Cabeça - Programa #396

 

Será que a estatueta dourada vem desta vez, Fernandinha? O que a gente tem certeza é que o MDC, este sim, está reluzindo como ouro. Tem Ryuichi Sakamoto, Iggy Pop, Television, Erasmo Carlos e um Cabeção celebrando os 80 anos de Robert Wyatt. É ou não é ouro em pó?! Totalmente indicado, o programa é anunciado às 21h na oscarizável Rádio Elétrica. Produção, apresentação e clima de Copa do Mundo: Daniel Rodrigues



www.radioeletrica.com


Tesla

 


Tesla I


Tesla II



RODRIGUES, Daniel
"Tesla"
Foto com manipulação digital/ nov 2017- jan 2025

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

A Arte do Clyblog em 2024





Demorou um pouquinho mas saiu aquela tradicional retrospectiva da arte do Clyblog do ano que passou.

Além da nossa produção pessoal, Cly Reis e Daniel Rodrigues, em diversos formatos, do lápis ao vídeo, trazemos também as artes produzidas para os anúncios do blog nas mídias sociais, as variações do logo da casa muitas vezes se adaptando a eventos importantes que ocorrem ao longo do ano, e ainda ilustrações da seção Cotidianas, para contos, crônicas ou poemas.

Vamos então dar aquela rememorada no que tivemos de arte e trabalhos visuais por aqui no último ano:


Daniel Rodrigues mais uma vez produzindo artes em vídeo,
desta vez com o misterioso e atmosférico "Marte Azul"

Do vídeo para o lápis em folha de caderno:
"O Homem Pautado"


Fan-art homenageando o projeto "Clube da Esquina", de Milton Nascimento e Lô Borges,
cruzando com o filme "Clube da Luta".
O Clube da Luta na Esquina ou o Clube dos Lutadores da Esquina...


Nas comemorações pelos 80 anos de Chico Buarque,
uma ilustração digital, ao estilo cartaz de cinema, em alusão à sua canção "Passaredo",
e com referência ao filme "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock


Na seção Cotidianas, ilustração para o conto popular
"Quem cai na dança não se 'alembra' de mais nada"


Também nas Cotidianas, ilustração para o conto "Todo Errado"

Ainda pelos 80 anos de Chico Buarque, criamos um logo comemorativo
que se uniu aos logos das seções nas publicações relacionadas a ele.



2024 foi ano de Olimpíadas e os logos das seções do ClyBlog
também se adaptaram para os posts especiais que rolaram durante o período dos Jogos.



Também para no período das Olimpíadas de Paris, destacamos 
uma série de músicas cantadas em francês compostas por autores não-franceses
e para este post também demos uma cara.

Manonna esteve no Brasil em maio e abraçou o Clyblog!
Tivemos diversos destaques da Rainha por aqui.

O logo do Clyblog como sempre se transformou muitas vezes durante o ano:
virou uma pista de dança com Madonna, explodiu com Oppenheimer e 
foi para os terraços da cidade para bilhar lá de cima.



Pra fechar, um dos muitos vídeos que lançamos nas redes sociais
durante o ano de 2024.




CR e DR

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

A arte do MDC em 2024

Mais um ano de Música da Cabeça, queridos radioelétricos! Porém, não apenas um simples ano, mas sim um desafiador 2024. A catástrofe natural das enchentes de maio que afetaram o Rio Grande do Sul, de onde mandamos o programa para o mundo, afetou também a Rádio Elétrica e a nossa produção, e tivemos mais de dois meses parados em razão disso. 

Contudo, música boa nunca morre. E como nos alimentamos disso, também aproveitamos esse poder de Fênix para exibirmos 41 programas, a grande maioria inéditos, entre janeiro e dezembro, mesmo com a devida parada forçada entre maio e julho e a boa atrapalhada que isso gerou para o restante dos meses. Igualmente às música que preenchem o programa, os temas que os motivam também tiveram aquelas artes que anunciam cada programa semanalmente. Baseadas em temas do cotidiano, fatos do Brasil ou do mundo, curiosidades ou até mesmo uma imagem interessante, essas artes formam uma espécie de vitrine cronológica do MDC ao longo do período. Reuni-las, assim, em retrospectiva, dá essa dimensão de crônica visual daquilo que formos expressando no ano.

Como já dito nos últimos anos desde que começamos a fazer esse resgate tal qual o blog já propunha há mais tempo com, essas sim, consideráveis artes de A Arte do Clyblog (feitas com a devida habilidade por meu irmão e coeditor Cly Reis), as produções artísticas do MDC não são lá essas coisas tecnicamente. Mas se se peca por perícia, compensa-se com criatividade e olhar, digamos, jornalístico para a escolha dos temas. Aí, sim, o MDC se acha. E rolou bastante coisa pra gente se inspirar em 2024! Teve de show da Madonna em Copacabana a prenúncio apocalíptico de Baby do Brasil, passando ainda por cadeirada do Datena, tiro na orelha do Trump, reverência a Rebeca Andrade nas Olimpíadas e Cate Blanchet confessando seu amor por Clarisse Lispector... e pelo MDC!

Fiquem com a seleção de algumas dessas artes em imagem e vídeo. Não deu pra ser tão rico como 2022 e 2023, certamente. Perdoem-nos. Mas não invalida nossa retrospectiva, que se saiu bem com o que foi possível fazer. Confiram.

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Lá do início de 2024, o segundo MDC do ano e há exatos 365 dias dos atos golpistas de 2023. Sem anistia!


O começo do ano também teve coisa boa, como os 80 anos de
Angela Davis, celebrado no programa 355, de 31 de janeiro


E o Carnaval? Ah, a festa do Momo sempre nos guarda momentos insuspeitos, como este envolvendo
Ivete Sangalo e Baby do Brasil em Salvador. Não podíamos deixar de aproveitar essa deixa


2024 teve ano bissexto em fevereiro. Então, aproveitamos para trazer esse mapa astral - que, na verdade, não quer dizer nada, apenas um subterfúgio pra inventarmos a arte da edição 359, que reprisou a de nº 350


Na edição fechada de 360, demos, literalmente, um 360 graus em quadrinhos, cinema, história e muito
mais na entrevista especial com o amigo Christian Ordoque. Foi muito legal.



Ninguém gosta de perder um amigo, que foi o que sentimos quando Ziraldo
nos deixou e lhe fizemos a devida homenagem na edição de 10 de abril


Deu tempo de tirar um sarro da Madonna às vésperas dela fazer seu show histórico em Copacabana.
Mal sabíamos que este seria o último programa antes da parada por causa das enchentes no RS...


Mas se voltamos, voltamos com munição! Calhou do retorno ser na semana do atentado contra Donald Trump
no comício na Pensilvânia. Com a criatividade represada há mais de 2 meses, esta arte ficou legal


E, em junho, chegaram as Olimpíadas de Paris! Não tinha como não fazer meme com essa
cara de inveja da Simone Billes vendo a Rebeca Andrade se apresentar


Na semana seguinte, deu elas de novo: Simone, junto com Jordan Chiles, e Rebeca de protagonista sendo reverenciada como uma santa vitoriosa. Arte pura, que merecia estar no Louvre. A gente providenciou para a ed. 371 do MDC

    

O MDC ganhou o primeiro vídeo do ano somente em outubro, na ed. 378 Também pudera com essa memorável cadeirada do Datena no Marçal, né?



Cate: nós também amamos Clarice. Em retrospectiva, hoje se vê que ela já prenunciava o prestígio que o Brasil
passaria a ter no cenário artístico mundial com "Ainda Estou Aqui". Arte da ed. 379, do final setembro



O MDC especial 380 contou com vídeo de chamada e um inédito superquadro Cabeça dos Outros, com as participações dos brothers radioelétricos Rodrigo Dutra, Cláudio Mattos, Clayton Reis e Marcos dos Santos


O polêmico e necessário tema da escala 6x1 veio à tona e motivou nosso MDC 386, de 13 de novembro,
que contou com essa sagaz arte da amiga designer Mariluce Veiga


Na edição 388, mais uma vez inspirados pela arte, mas desta pela falta de criatividade
do italiano Maurizio Cattelan. Só achando graça mesmo - e viva Andy Warhol!


Ludmila inventou de usar o boi folclórico sem permissão e se deu mal.
Nossa arte - que ficou joinha - em cima deste fato ocorrido na semana de 23 de outubro


Só se falava em Vini Jr. pelas ruas e redes sociais. Claro, a gente falou também do
melhor do mundo, inegavelmente. Edição de 30 de outubro


Queda de ditador? Tivemos também em 2024. Bashar Al-Assad caiu, e o MDC tascou lá em uma
de suas últimas edições do ano, já em dezembro, para o programa especial de 390


Não só na Síria: aqui mesmo no Brasil os intocáveis começaram a cair também. Que confortante
(e pedagógico) ver Braga Neto, um general, recebendo voz de prisão. 2025 promete...


E Papai "Luloel" fechou nosso ano difícil, mas sempre com bom humor
- e, claro, sempre vale lembrar: é sem anistia, porraaaaa!



Daniel Rodrigues