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quinta-feira, 14 de setembro de 2023

"Robert Johnson - Pacto de Amor à Música", de J.M. Dupont e Mezzo - ed. Darkside / selo Macabra (2022)

 



"Se você é alucinado por blues,
vai adorar este livro.
Mas não é necessário amar o estilo
para apreciar este retrato do bluesman
mais famoso de todos os tempos.
Verdadeira obra-prima,
tanto pela qualidade das ilustrações
quanto pela narrativa,
esta história é mais do que 
uma simples graphic-novel
graças à poética de seu texto e 
à grandeza de seus quadros,
que são, por si só, verdadeiras obras de arte."
Lawrence Cohen, produtor musical do álbum


Algumas biografias, às vezes, podem ser melhores nos quadrinhos do que escritas. Embora tenha assistido a alguns documentários, nunca li, efetivamente, nenhuma biografia de Robert Johnson, mas o que posso afirmar é que a graphic-novel "Robert Johnson - Pacto de Amor à Música", cumpre muito bem seu papel em contar a trajetória do nome, possivelmente, mais importante da história do blues e, certamente, um dos mais importantes da história da música em todos os tempos. 

Nome sempre cercado por lendas, polêmicas e histórias mal contadas, Robert Johnson figura que mudou a forma de fazer, de tocar o blues e influenciou diversos nomes de expressão como Bob DylanRolling Stones, Led Zeppelin, Eric Clapton e outros, teve uma vida conturbada desde a infância, como era comum aos negros norte-americanos sulistas no pós-escravidão. Dotado, na juventude, de um "misterioso" talento, conquistou respeito e até uma certa inveja dentro do meio musical, ao mesmo tempo que causava a ira de produtores musicais por sua irresponsabilidade e tendência à bebida, e provocava o ódio de maridos por conta de sua reputação de mulherengo. Mas é claro, que o principal elemento que envolve o nome de Johnson é o suposto pacto com o Diabo, que teria proporcionado a ele todo aquele absurdo talento. 

Arte que remete ao impressionismo de Van Gogh
com a tradição dos negros sulistas das garrafas nas árvores
 para capturar os maus espíritos

O livro roteirizado pelo jornalista e escritor J.M. Dupont e pelo quadrinista Mezzo, como não podia deixar de ser, explora a lenda na própria narrativa, proporcionado uma condução interessante e constantemente instigante. Com as devidas liberdades artísticas e criativas diante da falta de informações precisas, com uma arte robusta e com um traço marcante, os autores nos entregam uma biografia gráfica convincente ao mesmo tempo poética e documental.

Mais uma biografia em quadrinhos que não fica devendo nada a outras em outros formatos e que comprova, mais uma vez, o valor das HQ's. Documento indispensável para amantes da música, aficcionados pelo blues, fãs de Robert Johnson e, até mesmo... adoradores do Diabo.

Arte maravilhosa de Mezzo!
O blues embalando a loucura durante a grande depressão norte-americana dos anos '30



por Cly Reis


quinta-feira, 8 de junho de 2023

"Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, adaptado para quadrinhos por Guazelli e Rodrigo Rosa - editora Quadrinhos na Cia. (2014)

 




"O diabo
no meio da rua
no meio do redemunho"


Belíssima adaptação para quadrinhos de um dos maiores clássicos da literatura brasileira. O roteirista Guazelli e o artista Rodrigo Rosa tiveram a desafiadora tarefa de transpôr para esta outra linguagem, ainda que também literária, porém muito mais visual, uma obra de estrutura difícil, de texto complexo e longa extensão, e no fim das contas, pesando acertos e erros, prós e contras, pode-se dizer que se saíram muito bem.
O romance gráfico consegue transmitir a atmosfera árida, o clima sufocante do sertão, a intensidade dos confrontos e a verdade do sertanejo, seja ela de ignorância ou de sabedoria.
"Grande Sertão: Veredas", obra original de Guimarães Rosa, um dos maiores gênios da literatura brasileira, narra, na voz de um sertanejo relatando a um visitante curioso, as sagas, aventuras e desventuras de um grupo de jagunços no interior de Minas Gerais, seus conflitos, traições, disputas de poder e batalhas, tudo sob um olhar de sabedoria do homem que aprendeu a conhecer os homens e a conhecer o mundo, e a partir disso formou juízos repletos de filosofia sobre tudo à sua volta.

A sensação do calor e a intensidade dos tiroteios
nas ilustrações impressionantes de Rodrigo Rosa

As ilustrações de Rodrigo Rosa são impressionantes! O leitor quase sente o calor, o sol castigando, a tensão entre os homens, a coragem, o medo, o clima dos tiroteios. O roteiro que peca um pouco nas transições, de situações, de lugar, de tempo, mas não  desvaloriza o grande trabalho de adaptação dessa obra, por um lado fácil de ser colocada em imagens, dada a riqueza narrativa de Guimarães Rosa, mas, por outro, difícil pelo formato, pelo texto corrido, pela linguagem sertaneja, etc.
Enfim, mais méritos que críticas ao trabalho dos autores da HQ. Parabéns a eles. Mais uma obra fundamental da nossa literatura que ganha traço e cores artísticas com muita qualidade. 

A beleza e a força da cena de Riobaldo invocando o demônio.





Cly Reis


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"Grande Sertão: Veredas"
romance gráfico adaptado a partir da obra "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa
roteiro: Guazelli
arte: Rodrigo Rosa
editora: Quadrinhos da Cia.



quarta-feira, 3 de maio de 2023

Os Mutantes e o Caso do Relógio de 22 Rubis

 




"Os Mutantes e o Caso do Relógio de 22 Rubis"- REIS, Cly -
fan art estilo HQ inspirada nos quadrinhos dos X-Men e
na banda Os Mutantes
com referência às canções "Senhor F", "O Relógio", "Fuga nº1", "Trem Fantasma" e "Jardim Elétrico"
ilustração digital (GIMP)





"Os Mutantes e o Caso do Relógio de 22 Rubis"
Cly Reis

domingo, 12 de março de 2023

"Dead-End: Na Velocidade dos Anos Solitários", de Seyer (1990)


"Um olhar mais atento se dá conta
que o noir de Seyer é ainda mais noir
que os policiais do anos 40 -
ele é menos aveludado do que seus inspiradores,
tem menos glamour.
É rigorosamente gráfico.
Os rostos conhecidos, reconhecidos, convenientes,
próprios a esse repertório, são mais signos do que símbolos."
Jean Luc-Cochet,
quadrinista e escritor



Cinema e quadrinhos têm uma relação muito próxima de longa data. Além dos story-boards, guias organizacionais de diretores para o andamento de uma história, as adaptações de obras pensadas originalmente para papel são parceiras da telona há bastante tempo, e, mais recentemente, ganharam uma força enorme com a ascensão dos estúdios da Marvel e da DC. Já o caminho inverso não costuma ser tão exitoso, uma vez que, grande parte das vezes, quando quadrinistas resolvem passar para o papel uma obra cinematográfica de sucesso, se limitam a reproduzir os quadros da película.
"Dead-End, Na Velocidade dos Anos Solitários" é diferente dessa mera transposição de cenas para as HQ's. A graphic-novel é inspirada e ao mesmo tempo é uma reverência ao cinema. Seyer, o artista responsável pelo trabalho, se utiliza de cenas clássicas, de imagens consagradas de ícones de Hollywood como Humphrey Bogart, Lauren Bacall, James Cagney, Orson Welles, entre outros, para compor sua obra, mas fora do contexto em que elas apareciam originalmente, criando algo totalmente diferente e original. Na história de Sayer Bogart não é o detetive Sam Spade, de "O Falcão Maltês", e sim um cara encrencado tentando arranjar alguma grana e sobreviver como puder; Welles não é o corrupto capitão Hank Quinlan de "A Marca da Maldade", e sim um dono de uma espelunca muito mal frequentada; e a bela Lauren Bacall passa longe de ser a blonde fatal de "À Beira do Abismo" para encarnar um prostituta vulgar de última categoria. O universo de Seyer é esse: a tônica dos filmes noir norte-americanos americanos, só que tudo ainda mais sujo e podre.
A trama é bastante simples: na Nova York dos anos '30, dois caras, ferrados, endividados, jurados de morte pelo gângster do pedaço, sem ter nada a perder, vão para uma cartada final praticamente suicida, roubando um malote e tentando dar o fora da cidade. Só que as coisas não saem exatamente como eles imaginavam e a dupla de perdedores acaba se complicando cada vez mais.
Homenagem ao cinema noir dos anos 40, "Dead-End...", publicada em 1990, hoje é considerada praticamente um cult das HQ's, e tornou-se um verdadeiro item de colecionador. Um exercício de reimaginação do universo do cinema, praticamente recriando personagens que conhecemos com uma visão muito original. Um clássico das HQ's que honra os clássicos do cinema.

Rostos conhecidos, Bogart, Welles, cenas familiares, mas com outra roupagem,
em outra história, diferente (mas nem tanto) das originais em que costumamos vê-los.


 


Cly Reis

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Nelson Cavaquinho: Palhaço

 



"Palhaço" - REIS, Cly
fan-art inspirada na obra de Nelson Cavaquinho
(ilustração digital - GIMP)



"Nelson Cavaquinho: Palhaço"
Cly Reis

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

“Adão Negro”, de Jaume Collet-Serra (2022)

 
Semanas atrás Leocádia e eu fomos a uma sessão de pré-estreia no GNC Cinemas do Praia de Belas Shopping do novo sucesso de bilheteria da DC Films, “Adão Negro”, com o astro Dwayne "The Rock" Johnson. Legal? Impossível dizer que não. Cenas de aventura empolgantes, efeitos visuais de alto nível, desenho de som impecável, roteiro eficiente, astros consagrados, trilhas com músicas pop... Tudo embalado para que a coisa funcione. Mas será que "funciona" mesmo? Talvez sim, e talvez seja exatamente este o termo mais adequado: cumprimento de função.

Spin-off de "Shazam!" (2019) e "Shazam!: Fúria dos Deuses" (2022), o filme conta a história se passa após quase cinco mil anos de prisão de Adão Negro, um anti-herói da antiga cidade de Kahndaq, no que seria o Oriente Médio, que é libertado nos tempos modernos. Suas táticas brutais e seu modo de justiça atraem a atenção da Sociedade da Justiça da América (JSA), que tenta impedir sua fúria e ensiná-lo a ser mais um herói. Além disso, Senhor Destino (Pierce Brosnan), Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo) e Cyclone (Quintessa Swindell) se unem para impedir uma força maligna mais poderosa que a do próprio Adão.

Filmes de super-heróis são uma verdadeira galinha dos ovos de ouro para o cinema comercial do século XXI. Após mais uma crise da indústria cinematográfica nos anos 90, quando o envelhecimento dos realizadores consagrados do cinema comercial como Spielberg, Lucas e Zemeckis se deparou com a falta de agentes capazes de trazer um novo produto para a permanente necessidade de novidade da sociedade de consumo, o avanço técnico da era digital permitiu que o cinema pudesse concretizar algo que vinha ensaiando há décadas: a transposição dos quadrinhos de heróis para as telas. E a considerar a riqueza temático-simbólica dos HQs, bem como a amazônica quantidade de histórias e personagens a serem explorados, este se tornou o caminho certo para a construção do novo blockbuster.

O Adão Negro do
HQ original da DC
Pujante, a lógica de oferta e procura se estabeleceu. A produção é tamanha que, após duas décadas de produções milionárias e geralmente exitosas em bilheteria, Hollywood criou, claro, um padrão. “Adão Negro”, com todos os seus elementos inerentes à obra original da DC Comics, não foge à regra. Tem as características da história original, mas, de resto é tudo o mesmo formato repetido em novas condições narrativas. E isso é escalonado de forma exemplar, que vai do conceitual - como a prevalência do maniqueísmo e as simplificações morais - aos arranjos narrativos, como as piadas, o impacto de uma música retrô e até o tempo de duração das falas. Pois há, claramente, por mais que a dinâmica do filme amortize essa constatação racional com tantos tiros, estrondos, movimentos rápidos, edição agilíssima e luzes, muitas luzes, percentuais para a quantidade de falas e de não-falas. Por melhor que seja, por mais que funcione, que empolgue o público e cumpra a função de entreter, impossível não sair com a impressão de que não se está vendo imagens, mas estatísticas. 

Nada contra a ideia de blockbusters e nem de exploração do filão graphic novel em audiovisual. O que questiono é: será que esta fórmula funciona de verdade a ponto de se sustentar por mais anos sem desagaste? Continuarão avançando na tática de, igual a Globo aplicava ao humorístico Zorra Total, misturar personagens incansável e indistintamente até nem se saber mais de onde cada um veio? Quentin Tarantino recentemente disse que jamais rodaria para a Marvel, pois considera que filmes deste tipo sejam fruto de uma prática de mercado produtivista a qual ele, ligado ao cinema de autor, não se enquadra. Martin Scorsese, tempo atrás também se manifestou contrário ao declarar que o universo cinematográfico da Marvel está "mais próximo dos parques de diversão do que do cinema". Vindo de dois autores que revolucionaram e mudaram a história do cinema é, no mínimo, de considerar a interrogação quanto ao que se esperar no futuro do “grande cinema”.

The Rock e os atores que fazem os super-heróis da JSA

Ao final, se sai do cinema cativado, pois se fez tudo psicosinestesicamente para que isso aconteça, mas muito mais amortecido do que outra coisa. É tanta superexposição a estímulos sensoriais, que não há como absorver. O script não tem erro, e isso é um defeito: não há espaço para apreciação e nem elaboração. O filme é tão consumível e embalado quanto a pipoca e o refrigerante que se come assistindo.

Não digo que tudo isso seja ruim, e nem que filmes da DC ou Marvel devessem parecer uma obra de Bergman constituída basicamente em diálogos. Mas para poder dizer com segurança que filmes assim como "Adão Negro" convencem, ainda falta algo mais do que simplesmente cumprir uma função. Por mais que a intenção seja ao de tentar me alegrar.

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"Adão Negro" - trailer



Daniel Rodrigues

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

"Hera, A Glória de Uma Deusa", de George O'Connor - Coleção Deuses do Olimpo - ed. Paz e Terra (2012)





"Hera é minha deusa favorita.
Em parte, porque é o único ser que Zeus realmente teme (...)"

"(...) Hera é uma megera.
Talvez isso seja verdade me relação a Hera, mas só porque Zeus é um péssimo marido.
Caramba, ele devorou a primeira esposa,
 teve dezenas de filhos com dezenas de namoradas e
levou algumas para morar a seu lado no Olimpo... com Hera.
Quando Hera fica com ciúmes, dá para culpá-la?"
George O'Connor



Novamente, minha filha me possibilitou ler mais um número da coleção Deuses do Olimpo, adaptações para quadrinhos das lendas dos deuses da mitologia grega. Desta vez, trouxe da biblioteca da escola "Hera, A Glória de Uma Deusa", edição dedicada à mulher que teria feito o "galinha" e infiel Zeus, andar miudinho. Hera não conseguiu colocá-lo na totalmente na linha, é verdade, mas exigiu ser respeitada como nenhuma outra das conquistas, terrestres ou celestes, do deus máximo do Olimpo, havia ousado reivindicar.

Cortejada por Zeus, Hera colocou como condição para se entregar a ele que o mesmo a reconhecesse como sua legítima esposa e renegados seus, não poucos, filhos bastardos. Ele aceitou, escondendo, no entanto, um pelo qual nutria um carinho especial, Hércules, semideus conhecido por sua incomensurável força. Hera sabendo da existência daquele bastardo e, uma vez falhando em tentar matá-lo ainda na origem, pequeno, se fez de desentendida, agindo na surdina, de modo que o filho ilegítimo de seu marido fosse submetido pelo nobre Eristeu, a seu serviço, às mais duras provações, tarefas que ficaram conhecidas como Os Doze Trabalhos de Hércules. 

Nesse ponto da história, o protagonismo se desvia de Hera e é direcionado para Hércules, acompanhando seus desafios e dando à história características de HQ de super-herói com todas as demonstrações de força do semideus em combates como o enfrentamento com o leão da Nemeia, criatura gigantesca à qual o herói não somente derrota como ainda tira o pelo passando a usá-lo como manto; a captura de Cérbero, o cão do inferno; a batalha com a Hidra de Lerna, mostro de oito cabeças, que teve todas elas decepadas pela espada de Hércules; e a caça às aves de Estínfale, usando flechas embebidas, por sinal, no sangue venenoso da Hidra. Coisas de super-homem com superpoderes!

Mas apesar do destaque do fortão, todos os episódios se passam à sombra da verdadeira poderosa: Hera é a mulher que se impõe, se faz respeitar, utiliza seu poder para colocar ordem na casa, e o autor da HQ, George O'Connor, faz questão de salientar essa justiça com a personagem, frequentemente mencionada de forma muito superficial apenas sempre à margem dos feitos e estrepolias de seu marido Zeus.

Interpretação interessante do autor que utiliza uma graphic-novel e a mitologia grega como um canal para salientar o valor da mulher e destacar sua importância, seja na sociedade grega, no Olimpo, ou nos dias de hoje. Seja ela deusa ou mera mortal.
Hércules, o super-herói da mitologia grega, em dois momentos:
enfrentando a temível Hidra (à esq.) e, à direita, capturando o feroz Cérbero.





Cly Reis 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

"Hades, O Senhor dos Mortos", de George O'Connor - Coleção Deuses do Olimpo - ed. Paz e Terra (2012)




Leitura interessantíssima e vinda de uma fonte um tanto inusitada foi a HQ "Hades, O Senhor dos Mortos", que acabou chegando a mim, por intermédio da minha filha Luna, que pegou o livro na biblioteca da escola. Eu, já um fascinado por mitologia grega, quando vi aquele visual muito Sandman que o artista George O'Connor deu à divindade grega da morte, me interessei imediatamente.

A semelhança com o personagem sombrio de Neil Gaiman, o Mestre dos Sonhos, não é mera impressão incial do leitor, tampouco se limita ao visual do protagonista. Todo o ambiente de profundezas, submundo, escuridão, expiação, lembra bastante as aventuras de Sandman.
Aqui, o mestre dos mundos inferiores sequestra, de forma intempestiva e, num primeiro instante, injustificadamente, Core, a filha da deusa Deméter. Desesperada, ela recorre a vários outros deuses a fim de descobrir onde está e quem teria levado a jovem. Juntando pistas e informações Deméter, a deusa das plantações, da agricultura, descobre que Zeus, seu irmão e Deus máximo do Olimpo, prometera a jovem a seu também irmão Hades, e que aquele, simplesmente, fora buscar o que lhe seria de direito pelo acordo. Como de costume, entre as entidades gregas, intrigas, traições, disputas de poder e vaidades se estabelecem, e a solução para o impasse precisará de muito bom senso, negociações e concessões nessa titânica queda de braço.
A condução de George O'Connor, num primeiro momento, na história, parece um tanto didática demais, apresentando cada área, cada elemento, cada personagem dos mundos inferiores quase que como numa aula de mitologia grega, mas logo o andamento se desprende, flui melhor, e toda a trama se desenvolve capturando o interesse do leitor com um roteiro dinâmico e bem construído, que, curiosamente, mesmo tendo Hades como elemento central, confere todo um destaque especial à deusa Perséfone que, segundo o próprio autor, costuma ser citada de forma secundária, desproporcional a todo seu poder e importância.
Excelente achado!
Com a filha que tenho, pai babão que sou, estou certo de que sempre valerá a pena dar uma olhada no que ela trouxer da biblioteca da escola.



Cly Reis

segunda-feira, 6 de junho de 2022

The Material Girl

 



'Madonna: The Material Girl' - REIS Cly
ilustração digital fan-art HQ - GIMP




"Madona is 'The Material Girl' "
Cly Reis



domingo, 31 de outubro de 2021

"Salomão Ventura, O Caçador de Lendas nº1 - A Maldição do Saci", de Giorgio Galli - Gico Mix (2011)


"A premissa da HQ é mostrar as lendas do nosso folclore
do jeito que a tradição oral as apresenta,
capturadas pelo mestre Luís da Câmara Cascudo em sua bibliografia.
Em resumo: são histórias de terror feitas para assustar."

"E minha escolha para essa primeira edição 
não poderia ser outra:
quem foi mais descaracterizado e infantilizado
do que o diabrete Saci Pererê?
Que em sua origem, conforme relatado pelo mestre Cascudo,
foi vítima de assassinato, tornou-se alma penada
e tem como objetivo causar morte e dor?
Não é para crianças..."

Giorgio Galli,
prefácio de "A Maldição do Saci"



Na data mais conhecida pela comemoração norte-americana do Halloween, mas que por aqui, simbolizando toda a riqueza de nosso folclore, é simbolizada no Saci, nosso destaque vai para um dos projetos mais legais da cena independente de quadrinhos nacional. É o projeto do artista Giorgio Galli, que, com sua série Salomão Ventura, explora as tradições folclóricas brasileiras, lançando sobre elas um olhar mais sombrio e aterrorizante, transformando lendas e personagens de tradição popular em temíveis criaturas sinistras. Assim, o Curupira e o Saci, por exemplo, têm recuperadas características estudadas por historiadores e folcloristas, e passam a ser, na visão artística de Galli, criaturas sobrenaturais e ameaçadoras que, por mais que tenham justificativas para existirem e demandas legítimas, devem voltar para seus lugares, no mundo do além, longe dos humanos. Para isso, o caçador de assombrações, Salomão Ventura, um misto de Constantine e Van Helsing, sai em busca das aberrações sobrenaturais e, com seus métodos, nada gentis (e nem podia ser diferente) mas muito "convincentes", as captura e manda de volta para o lugar de onde nunca deviam ter saído.
O primeiro número da série do Caçador de Lendas, criado por Galli, é exatamente "A Maldição do Saci", personagem de origem sinistra cujas características foram humanizadas e suavizadas para ficar mais palatável e poder fazer parte dos sítios-dos-pica-paus-amarelos da vida, mas que a bem da verdade, não é nada menos que uma alma-penada vingativa e odiosa, fruto de um brutal assassinato. O moleque tem seus motivos para voltar das trevas para alimentar sua sede de vingança, punir pais e fazer justiça em lares onde crianças são maltratadas como ele foi, só que Salomão Ventura, por mais que compreenda isso, não pode deixá-lo à solta por aí e vai atrás do pretinho endiabrado se valendo da única maneira possível de pegá-lo... (você sabe qual é, não sabe?).
Um projeto que, ao contrário do que muitos pensam, que demoniza personagens da cultura popular, na verdade a resgata e valoriza, levando ao encontro de muitos mergulhados na cultura norte- americana, um pouquinho mais das raízes brasileiras.
Trabalho de muito talento desenvolvido, como o autor mesmo revela no prefácio, ao som de The Cure, The Smiths, Jesus & Mary Chain, Titãs, Cartola, PixiesStone Roses, Kraftwerk e outras coisas mais. Com inspirações dessas, só poderia sai coisa boa, mesmo.

Página da HQ. O início da sina vingativa do Saci.


por Cly Reis



O projeto Salomão Ventura infelizmente, num primeiro momento, não foi muito adiante e ficou só em quatro números, Saci, Curupira, Lobisomem e De Volta Pra Casa, mas ao que parece, o artista resolveu pôr a mão na massa e parece estar produzindo novos episódios do caçador das trevas. Não é tão fácil de se encontrar exemplares mas volta e meia se acha em feiras de quadrinhos e eventos do tipo, além do próprio site do artista (salomaoventura.com.br).

domingo, 30 de agosto de 2020

Wakanda Forever! A representatividade negra nas HQ’s, séries de streaming e blockbusters norte-americanos



O trono de Wakanda está vazio e, com ele,
também o da representatividade negra de heróis no cinema.
Quando fiquei sabendo da morte precoce de Chadwick Boseman, ator que entre outros trabalhos interpretou o Pantera Negra, fiquei triste e preocupado. Essa preocupação se dá, pois essa perda se deu no decorrer de mais uma semana de intensos conflitos raciais nos EUA, impulsionados pela violência histórica e estrutural da polícia norte-americana contra os negros. Parei um momento para fazer uma pequena reflexão, sobre como a questão racial e de representatividade de heróis e heroínas negros nas histórias em quadrinhos (HQ’s), pode ser explorado de forma pedagógica e ligada diretamente ao Ensino de História.
Na década de 1960 os Estados Unidos da América encontravam-se ainda segregados racialmente, resquício da Guerra de Secessão (1861-1865) de cem anos antes. De forma resumida, podemos compreender que foi a luta dos estados do norte industrializado, que defendiam o fim da escravidão, a fim de que os antigos escravizados se tornassem trabalhadores assalariados, impulsionando assim o capitalismo emergente do período. Do outro lado tínhamos os estados do sul escravagista, que defendiam a manutenção da mão de obra escrava, pois consideravam que perderiam muito capital com a emancipação dos escravizados.
A importância então das HQ’s e, mais tarde, dos filmes que colocavam em evidência protagonistas negros possibilitou a ruptura de estereótipos, que ainda hoje são presentes em nossa sociedade. Estereótipos estes, que colocam ainda os pretos e pardos como subalternos, ligados a uma subcultura, ligados à criminalidade ou dependentes de figuras brancas, símbolos da colonização europeia.
Como não pensar, por exemplo, em Tarzan quando se fala em heróis africanos. Ainda que o Tarzan tenha sido um nobre europeu branco, que sofreu um naufrágio na costa africana, foi criado por macacos e quando enfrentava tribos negras, essas tribos eram retratadas como vilãs em algumas de suas aventuras.
Da mesma forma, pensar em Allan Quatermain, o explorador branco inglês, símbolo da colonização europeia da região. Ou no Fantasma, que começa sua trajetória nas selvas asiáticas, mas depois é deslocado para o continente africano. Ao pensar em heróis africanos no início do século XX, pensava-se em brancos que representavam o colonialismo branco europeu.
O Pantera Negra foi, de certa forma, responsável pela redescoberta
de outros heróis negros, como, por exemplo, Misty Knight e Luke Cage.
Quando o escritor Stan Lee e o ilustrador Jack Kirby se uniram para criar o Pantera Negra em 1966, ainda que por diversas vezes tenham alegado que não havia ligação com o movimento político Black Panthers, o herói acabou sendo símbolo justamente dessa quebra de paradigmas e estereótipos ligados aos negros de forma geral, pois era um rei, gênio cientifico, líder de uma nação tecnologicamente superior a qualquer outra no planeta. Lembrando novamente que isso ocorreu justamente durante a luta pelos direitos civis dos negros americanos, que até então não podiam frequentar bares, comércios, igrejas e até mesmo escolas públicas que eram destinadas aos brancos. Nos ônibus, trens e metros, os espaços destinados aos negros eram os do fundo desses transportes.
Ainda que de forma ficcional, o Pantera Negra serviu e serve ainda hoje, como símbolo dessa quebra de padrões e imposições, além é claro de personificação imagética do antirracismo. Quando o Marvel Studios lançou em 2017 o filme "Pantera Negra" nos cinemas, a repercussão política e social do Blockbusters foi tanta, que gerou uma das maiores bilheterias da franquia de heróis até hoje. O mais importante, no entanto, foi o empoderamento de várias crianças e adolescentes negros em todo o mundo, que passaram a se sentir representadas na figura do herói. Lembro que falamos por semanas nas minhas aulas sobre o filme e ainda falamos muito sobre ele até hoje.
Outros heróis negros, que eu já conhecia como aficionado desde a adolescência em HQ’s, passaram a ser redescobertos, como Luck Cage e Misty Knight, vistos na série da Netflix Luke Cage. Adaptações foram feitas em séries para canais de streaming, como a segunda temporada de Watchmen da HBO, que coloca a questão racial no centro da trama, sendo que a protagonista da série é uma heroína negra. Podemos citar também outros personagens negros da DC como Ícone, Vixen, Super Choque, Raio Negro, entre tantos outros, que servem para reflexão sobre essa temática.
Será que Pierre Bourdieu, pensador que desenvolveu também o conceito de representatividade, conseguiria imaginar um aprofundamento desta questão sob esta ótica?
Espero, de coração, que o trono, da nação fictícia de Wakanda não fique vazio por muito tempo nas novas produções da Marvel. Que a morte do excelente ator Chadwick Boseman, protagonista de outros trabalhos que merecem reconhecimento também, possibilite uma reflexão sobre a importância da representatividade, sobe os mais diferentes aspectos, assegurando o empoderamento e a visibilidade daqueles que não se sentem representados de forma equânime. Wakanda Forever!

por  C L E B E R     T E I X E I R A     L E Ã O



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Cleber Teixeira Leão é professor da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, onde atua há 10 anos. Também é músico e pesquisador de Ensino de História.
Em seu Mestrado Profissional de Ensino de História pela UFRGS, desenvolveu uma pesquisa no campo das relações étnico-raciais, com foco no conceito do estudo crítico da branquitude, sobre a qual apresenta os dados produzidos a partir dela, para professores, pesquisadores e o público em geral, em webinarios, debates e podcasts.
Cleber é morador do bairro Restinga, zona periférica da capital gaúcha, local de movimentos culturais negros de grande expressão no cenário porto-alegrense, do qual ativamente faz parte.


Referências:
BOURDIEU, Pierre. “Esboço de uma teoria da prática”. In: ORTIZ, Renato (org.) Pierre Bourdieu. São Paulo, Ática, 1994.
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo, Brasiliense, 1988.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
MUNANGA, Kabengele (org.) Superando o racismo na escola. 2. ed. Brasília: MEC/SECAD, 2005. Disponível em: https://bit.ly/2v374Ty. Acesso em: 14 maio 2018.
https://www.huffpostbrasil.com/2018/02/15/pantera-negra-entenda-a-origem-e-a-importancia-do-1o-super-heroi-negro-mainstream_a_23362850/

quinta-feira, 2 de julho de 2020

"Duas Vidas" ("Les Deux viés de Baudouin"), graphic novel de Fabien Toulmé - ed. Nemo (2018)



"Duas Vidas", do mesmo autor de “Não era você que eu esperava”, Fabie Toulmé, narra a história de dois irmãos, Baudouin e Luc, o primeiro um funcionário de escritório de advocacia que se rasteja pela monotonia, enquanto o outro é médico bem sucedido e aventureiro.

A descoberta de um tumor em Baudouin faz com que Luc encoraje seu irmão a aproveitar sua vida, indo atrás de todos os seus desejos, antes deixados para trás por causa de seu emprego sufocante.

O HQ nos leva a alguns questionamentos sobre nós mesmos: devemos esperar a vida passar e ficar procrastinando, sempre colocando em dúvida nossa capacidade de alcançar nossos objetivos? É necessário acontecer algo radical em nossas vidas para mudarmos e evoluirmos?

"Duas Vidas" é uma reflexão sobre o conflito que nos é enraizado e não nos deixa mudar e uma crítica às escolhas que fazemos por serem mais convenientes.

Fabien Toulmé mais uma vez consegue abordar um tema tão humano nesse HQ, favorecendo novas pessoas a buscarem e conhecerem esse tipo de literatura. A editora Nemo, por sua vez, está no caminho certo, investindo cada vez mais em ótimas histórias, que nos tocam e nos transformam.



                                                                                                             
texto: Diego Almeida
revisão: Camila Almeida *



* Camila Almeida é carioca, estudante do curso de letras, cinéfila, leitora compulsiva e aspirante a revisora.


sábado, 11 de novembro de 2017

1ª ExpoArte Feirão das HQ´s – Le Cód Coffee Beer – Porto Alegre/RS


Está acontecendo, até dia 19 de novembro, a 1ª ExpoArte Feirão das HQ´s, no Le Cód Coffee Beer, no Centro Histórico de Porto Alegre. Encabeçada pelo meu amigo e colaborador deste blog, o historiador Christian Ordoque, um fã de quadrinhos, a pequena mas rica mostra faz parte de um projeto já maduro, o Feirão das HQ’s, que está indo para sua 27ª edição, a qual ocorre dia 25, na Disco Bar, do também amigo (e xará!) Daniel Santos (R. Lopo Gonçalves, 204, Cidade Baixa).

A exposição, entretanto, reúne artes originais e prints para venda dos talentosos artistas Mariana Couto, José Weingartner Jr., Paulo Daniel Santos e Guilherme Tesch, este último, a quem entrevistei no meu programa Música da Cabeça, pela Rádio Elétreica, do dia 8 de novembro. Tanto o trabalho de Tesch quanto dos outros artistas valem muito a pena de serem conferidos. Vejam aí algumas fotos do dia da inauguração, quando estive lá:


Christian com os quatro artistas da mostra

Trabalhos de Guilherme e Mariana expostos
Paulo fala sobre suas obras aos presentes
Guilherme observando suas obras expostas
Trabalhos de Pedro: inspirados na sua própria vida
Mitologia e cores nas obras de José Weingartner Jr.


Uma das artes de Mariana Couto: ares orientais
Referência a cinema na obra de Guilherme Tesch
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serviço
1ª ExpoArte Feirão das HQ´s
onde: Le Cód Coffee Beer (R. Caldas Júnior, 24 - Centro Histórico, Porto Alegre/RS)
quando: até 19 de novembro
entrada: gratuita
horário: das 8h às 18h30

Daniel Rodrigues

terça-feira, 14 de março de 2017

"O Estrangeiro", adaptação para HQ de Jaques Ferrandez para a obra de Albert Camus - ed. Quadrinhos na Cia. (2013)


Na onda de transposições de clássicos da literatura para os quadrinhos, mais um dos que encontramos nas prateleiras das livrarias é "O Estrangeiro", adaptado da obra de Albert Camus. A versão HQ, embora possua méritos, não consegue transmitir através de sua arte, num primeiro instante, a indiferença e vazio do personagem principal, Mersault, e por fim sua angústia e revolta, não servindo, enfim, enquanto adaptação visual, a seu fim. "O Estrangeiro" em HQ presta-se a contar a dar imagens ao romance de Camus apenas. Não consegue capturar da novela original sua profundidade nem seu teor filosófico assim, passa a ser simplesmente uma ilustração da história. A seu favor deve-se destacar a excelente qualidade da arte, os nanquins e suas aquarelas de  Jaques Ferrandez, sua ótima ambientação da história e, é claro, para efeito de iniciação literária para jovens que ainda não têm contato ou paciência com grandes clássicos, a oportunidade de conhecê-los de maneira objetiva e simplificada.




Cly Reis