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A direção é impecável, com uma contraste de imagem quase sempre esbranquiçado, fazendo com que o espectador participe, em parte, da cegueira dos personagens. Até como uma provocação, o diretor trabalha muito, em boa parte do filme, com imagens obtidas de maneira indireta (sombras, reflexos e às vezes imagem direta interagindo com reflexo no mesmo enquadramento,) como quem pergunta se realmente estamos vendo o que estamos olhando.
O filme tem uma série de outras questões intrínsecas, mas se sobressai principalmente, me parece, a da convivência humana em um estado limite. Como as pessoas começam a reagir em uma situação crítica comum dentro de um grupo em um espaço restrito. Aí, se não prevalece o espírito de solidariedade, ordem, princípios, a coisa desanda e fatores como ganância, vaidade, anarquia, passam a imperar. É o como se um Caos se aproveitasse de uma inquietude coletiva, de uma insatisfação, um cansaço geral, somado ao isolamento, divergências, desesperança e à fome, para fazer seu ninho.
É o que acontece em determinado momento quando pessoas acometidas por uma cegueira epidêmica desconhecida que repentinamante começa a se alastrar, são levadas para um isolamento e lá ao longo de alguns dias, com a população de doentes crescendo e os problemas de higiene, comida, comunicação, aumentando alguns internos de uma das alas resolvem tomar o poder pela força e aí então é que estas mazelas humanas explodem. O caso é que apenas uma pessoa pode enxergar e esta resolve permanecer naquele sanatório por amor e solidariedade ao marido, só que para ela, nesta condição, tudo é mais torturante apesar de sua grande força interior.
Filmaço!
Vale a pena dar uma olhada.
Um barato também as cenas externas com locações em uma São Paulo abandonada e suja, como se fosse o fim do mundo.
(deve ter sido difícil em uma cidade como SP isolar trechos grandes, como os que vemos, e filmar sem nenhuma viva-alma na rua ou mesmo aparecendo nas janelas dos prédios)
Belos trabalhos de cenografia e fotografia.
Cly Reis
Cly Reis
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