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Chegou, para mim, na semana passada uma encomenda que fiz do selo Baratos Afins de São Paulo que é o CD da banda Fellini com os álbuns "O Adeus de Fellini" e o "Fellini só vive duas vezes" juntos num 2 em 1.
Pra quem não sabe a Baratos Afins é uma gravadora independente que atuou mais intensamente nos anos 80 tendo em seu cast bandas como Mercenárias, Smack, Akira S e o próprio Fellini, além de outros nomes do underground do rock brasileiro.
O Fellini nunca foi conhecido do grande público, nunca estourou vendagens nem emplacou hits, mas gozava de um grande respeito de críticos, músicos e do pessoal alternativo desde o seu aparecimento. Lembro que a Bizz, que na época era a maior revista do segmento musical no Brasil, costumava eleger todos os anos os melhores em diversas categorias e na escolha do público dava, Titãs, Legião, Paralamas e para crítica, Fellini. Eu ficava curioso pra saber do que se tratava. Por que esta banda tinha tal simpatia dos especialistas? Só fui conhecer algum tempo depois, num especial na TVE de Porto Alegre, com trechos de um show, acho que realizado na Reitoria da UFRGS. Conheci ali gostei e fiz o processo retroativo, fui buscar os tais dos discos que a Bizz tanto elogiava e relamente não me decepcionaram.
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"Fellini só vive duas vezes", o segundo disco, gravado num mini-estúdio de 4 canais, apenas pelo núcleo da banda, o volcalista Cadão e pelo guitarrista Thomas Pappon, ainda traz esse rock inglês incorporado mas já apresenta alguma queda para o samba e para a bossa-nova, além de muitos experimentalismos, que se dão muito, em parte, por conta da limitação técnica de serem apenas os dois e uma bateria eletrônica, que ainda soa muito crua e pouco trabalhada neste disco.
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O resultado destas duas experiências anteriores chega preciso e afinado no terceiro álbum, "3 lugares diferentes", no qual o rock, o pop, o samba, a bassa-nova e os experimentalismos estão todos juntos mas com um produto final muito mais maduro.
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Depois destes o Fellini trocou de gravadora, saiu da Baratos e foi para a Wop-Bop e lá lançou o bom disco "Amor Louco" no qual esta linguagem samba já estava bem consolidada. A ótima faixa título é doce e delicada, "Cidade Irmã" traz uma poesia urbana cheia de imagens e "Kandinsky Song" é arrebatadora.
Soube que o Fellini tentou ainda mais uma experiência posterior, com o álbum "Amanhã é Tarde", mas que não teria sido muito bem sucedida. Este eu não ouvi e não posso opinar, mas dos que conheço posso dizer que entendo perfeitamente porque a crítica tomava aquele rumo diferente da opinião geral, mesmo diante de álbuns como o "Dois" do Legião e o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs, dos quais o ótimo "3 lugares diferentes", por exemplo, é contemporâneo.
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Ouça:
O Adeus de Fellini
Três Lugares Diferentes
Eu ouvi o Amanhã É Tarde e achei ele legalzinho
ResponderExcluirEu até hoje não ouvi, Matheus. Não me passou pela frente e também não procurei. Mas imagino que mesmo não se igualando ao3 Lugares, deva ser melhor que a maioria das coisas que se ouve por aí.
ExcluirObrigado pelo comentário e apareça sempre.