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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

"Love", de Gaspar Noé (2015)



Queria ter visto no cinema, em 3D, mas por alguma dessas coisas da vida, datas, filha, obrigações, saúde, etc., acabei não conseguindo e só agora, no TV fechada pude assistir ao polêmico "Love" do cineasta argentino Gaspar Noé que já havia causado algum alvoroço com o bom "Irreversível" de 2002, especialmente pela cena de estupro com quase 10 minutos sem corte.
"Love" repetiu o estardalhaço, já desde o Festival de Cannes, onde foi exibido fora de competição e , como não poderia deixar de ser, dividiu muito as opiniões. Com forte ênfase no sexo para conduzir a história, "Love" se assemelha muito a "Nove Canções" do diretor inglês Michael Winterbottom, mas é bem mais interessante estética e estruturalmente. Enquanto o filme do britânico de 2004 era meio aquela coisa "música-sexo-show-trepada-som-chupada..." e por aí vai, este, "Love", tem toda uma construção e é muito mais bem pensado em todos os aspectos. O filme centra as atenções em Murphy, um jovem cineasta que, como ele mesmo diz, só sabe fazer uma coisa "FODER", e é isso mesmo que ele faz, na prática e na própria vida. Ele fode com tudo. Mas Murphy não pode levar a culpa sozinho, embora seja um porra louca irresponsável, ele não é o único culpado do caos que sua relação com a namorada Electra se torna. Se ela é viciada, se ele a trai, se ele trepa coma vizinha e tem um filho com ela, nisso tudo a parceira, muito confusa e desnorteada, tem grande parte de responsabilidade também.
O caso é que certo dia Murphy recebe uma ligação da mãe de Electra contando que a garota está sumida e, perturbado, a partir daí, começa a repassar os as origens, as dificuldades, os momentos felizes e infelizes da relação.
Cenas de sexo sem pudor nem frescura.
Por conta dos excessos dos personagens, das brigas e especialmente das cenas de sexo o filme pode acabar tirando o foco do espectador para uma coisa importante: é um filme sobre amar. Sim! O jeito de Murphy e Electra de se amarem, louco, irresponsável, inseguro só retrata mais uma forma de amor entre tantas maneiras como ele se manifesta nas mais diversas relações. O sumiço da ex-namorada é apenas o gatilho para que o inconstante Murphy perceba o quanto a ama e todas as situações repassadas, nos bem montados flashback que constituem o corpo principal do filme, sejam elas de drogas, violência ou se sensualidade, apenas reforçam o sentimento.
É bem verdade que, voltando a comparar com o "Nove Canções", aquele, não tendo muito o que apresentar, tem o bom senso de ser mais curto, ao passo que o miolo deste, "Love", poderia ser mais enxuto sem prejuízo ao produto final.
Não há como deixar de falar das cenas de sexo uma vez que elas aprecem com grande frequência e com muita explicitez em alguns momentos. Elas são diretas, expostas, sem frescura mas não são apelativas e, por sinal, são de qualidade estética e artística elogiáveis pecando um pouco apenas na de interpretação expressiva do protagonista, bastante limitado, o que não prejudica, no entanto, sua atuação física nas cenas em questão.
Filme muito bem montado, bem conduzido e muito bem concebido esteticamente. Fotografia muito dinâmica e bem executada, cores fortes nos figurinos, objetos e cenários e frases e créditos estampados rudemente na tela lembrando um pouco o que Godard costuma fazer (sem comparações entre os diretores, por favor) especialmente na passagem da "Lei de Murphy" e na cena final.
Para mim que achava que o filme seria uma sequência interminável de cenas de sexo sem critérios, fui surpreendido com um filme mais interessante, mais profundo, com uma proposta narrativa e visual. e sobretudo por um filme de... Ora, o nome do filme já me avisava, não sei por que duvidei dele.



Cly Reis



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