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sábado, 4 de setembro de 2021

"Aniversário Macabro", de Wes Craven (1972) vs. "A Última Casa", de Dennis Iliadis (2009)

 



É aquele jogo que, num primeiro momento, quando a gente olha os dois times, não tem muita dúvida em apontar o mais estruturado como favorito. "Aniversário Macabro" (1972), o original, de Wes Craven é como se fosse um time de terceira divisão, aquele clube com poucos recursos, que contrata os jogadores que dá pra arranjar e que treina num campinho qualquer, num terreno emprestado, com umas traves improvisadas com uns pedaços de pau. Já "A Última Casa" (2009), ainda que não seja um Barcelona, é aquele time de segundona que têm ambições de ir pra Série A e tem, lá, sua boa estrutura, um orçamento razoável e até mesmo alguns jogadores conhecidos daqueles que já passaram por times grandes.
Mas jogo se decide dentro de campo e, mesmo com seu time limitado, seu jogo simples, sem frescura, o time de 1972 consegue competir de igual pra igual com seu remake. É um jogo objetivo e pragmático que não se acanha em apelar para faltas mais ríspidas quando necessário (ou mesmo quando desnecessário).
Em ambos os filmes, uma jovem, Mari, resolve sair com uma amiga para comemorar seu aniversário nos arredores de sua cidadezinha (na antiga, onde vive, e na nova versão, onde passa férias), e ambas acabam sendo feitas reféns por um grupo de perigosos criminosos que violentam as garotas e atiram nelas. Só que, depois de todas as brutalidades cometidas, por ironia do destino, por um problema com o carro, os bandidos acabam pedindo abrigo exatamente na casa da aniversariante, onde explode uma nova onda de violência quando os gentis anfitriões, os pais da garota, percebem a índole dos visitantes e descobrem o que fizeram com sua filha. Uma das diferenças entre os roteiros é que, se no original os criminosos executam brutalmente a garota a tiros,  no remake ela sobrevive e, ferida, retorna à casa onde se junta aos pais para tentar vencer os criminosos. E essa impiedade do filme original é uma de suas vantagens em relação à sua refilmagem. O filme é cru, é direto, não tem frescura, mostra o que quer mostrar e é exatamente essa crueza um de seus melhores trunfos. A gangue do filme de Wes Craven é brutal, é fria, é cruel. Algo do tipo, se é pra fazer um filme sobre maníacos malvados, então que seja pra valer! Krug, o líder dos bandidos, é sádico, é degenerado, desprezível e, por isso mesmo, um dos vilões mais fascinantes do cinema de terror. No novo filme, o chefe do grupo, o novo Krug, até é odioso, é cruel também, mas o jeito frio e desumano do primeiro é um diferencial.

"Aniversário Macabro" (1972) - trailer



"A Última Casa" (2009) - trailer


Pois é. E é exatamente essa boa construção e caracterização dos personagens, especialmente dos vilões, que dá o primeiro gol do time de 1972. A ousadia, a subversão de ser tão inconsequentemente impactante, mesmo para um filme de maníacos garante o segundo. A cena sádico-escatológica em que Krug obriga a garota a se mijar na frente deles para não torturar a amiga é mais um. E a cena em que ele, cara a cara com a vítima, fuzila, à queima roupa, é mais um pra artilharia. Gol de Krug! 4x0. Mas engana-se quem achava que o adversário estava morto. A produção mais caprichada e a boa qualidade técnica fazem o time de 2009 descontar o placar; a estrela do time, Sara Paxton, de "Super-Herói, O Filme" e "Hotel da Morte", mesmo sem suas melhores condições físicas, depois do que sofrera na mão dos bandidos, marca o segundo; e quando parecia que o placar já estava definido, a dupla de policiais engraçadinhos e atrapalhados do primeiro filme, se atrapalha toda, marca contra e dá um verdadeiro presente de aniversário para o time de 2009, quase pondo tudo a perder para "Aniversário Macabro". Percebendo o bom momento no jogo e a possibilidade de empatar, o remake parte pra um jogo mais agressivo e apela para a chocante cena do micro-ondas. Brutalidade ao extremo! 4x4 no placar. Que jogo!

Vai, Krug! Assina que o gol é teu.

Mas se é pra falar de violência, o time antigo tem a cena em que uma das garotas é, simplesmente, estripada pelos maníacos sádicos, só pelo prazer do ato, a que o líder do grupo assina sua obra de arte na pele da garota... Pode ter coisa mais brutal que isso? Pode! Quando os pais descobrem quem está na casa deles, viram bicho e aí a coisa vai pra ôtopatamar de violência. Tem uma castração oral, que nem aparece mas imaginamos a dor do sujeito; tem a sangrenta briga da serra elétrica do pai com o líder da gangue; e tem ainda a sequência do "dentista", que nem é real, é um sonho, mas que talvez seja a mais chocante e perturbadora do filme.
Brutalidade por brutalidade, por mais que o novo seja mais gráfico em muitos momentos, e também não alivie em nada, o antigo é muito mais inquietante até pela sensação de realismo das cenas, propositadamente "mal filmadas", parecendo, por vezes, quase um documentário.
Mais um pela violência sem limites, outro pelo realismo quase amadorístico e o time de 1978 chega ao sexto gol e mata o jogo.
Time limitado, subestimado, time que ninguém dava nada por ele mas que surpreendeu um adversário que tinha mais qualidade, mas que, por outro lado, tinha muitos pontos fracos.
Vitória  na raça. No jogo feio, jogo bruto, violento, mas que é o tipo de enfrentamento preferido dos times que conhecem suas limitações.

Acima, algumas comparações entre os dois times, digo, filmes:
De cima para baixo, da esquerda, para direita,
os pais da garota na versão original e no remake;
a aniversariante Mari, nas duas versões;
o maníaco Krug Stillo, no filme de '72 e no de 2009;
a morte do vilão, com motosserra, no original, e no micro-ondas, na refilmagem;
e, ainda, a chocante cena do estupro, à esquerda no primeiro filme e,
à direita, na nova versão.


Quem tem matador tem tudo!
Os dois têm, na verdade, mas o do original é que é o verdadeiro malvadão.





por Cly Reis

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