Na história, Sofia (Celia Rowlson-Hall), em torno de 30 anos, revê vídeos em VHS das férias que ela passou com seu pai (Paul Mescal, indicado a melhor ator no Oscar desse ano), quando ela tinha 11 anos, num hotel na Turquia. Seus pais eram separados e essas férias tinham a missão de reconectar pai e filha, distantes na convivência. O começo frio e constrangedor entre ambos vai dando lugar ao convívio, às conexões, aos laços, às identificações, às brigas, às críticas, ao amor que sempre esteve ali, mas que estava desligado.
Não esperem muitas peripécias ou surpresas ao longo do filme. O valor dessa pérola está na singeleza da relação, nas nuances das atuações. Destaco a pequena Frankie Corio, que faz Sofia com 11 anos. Estreia brilhante dessa atriz nas telonas. Ela doa uma maturidade pra personagem, tão necessária para o enredo. A maturidade da visão de Sofia adulta, percebendo a melancolia, uma possível depressão e a humanidade de seu pai através daqueles vídeos. Ao mesmo tempo, essa percepção fica enevoada pelas falhas na memória. A direção de Charlotte nessa questão é perfeita ao nos bombardear com visões estroboscópicas do pai nas festas rave que Sofia adulta frequenta.
Pai e filha numa tocante história de reconhecimentos |
A sintonia entre os atores é perfeita. A transformação dos dois personagens no filme é de uma beleza tocante. A rapidez do tempo que convive com todos avassala e nos conforta. Avassala pelo sentimento de arrependimentos e não realizações. Conforta pelo amor daqueles que nos cercam, incondicionalmente. Talvez, daqui a 20 anos, quando Malu estiver revendo vídeos em 4K de nosso convívio, ela sinta saudade e nostalgia, me idealizando de alguma forma, para o bem ou para o mal. Nesse caso, espero estar ao lado dela, dando risadas de nossas conversas, nossas brigas, nossas aventuras e nosso companheirismo. Estamos aqui pra isso.
trailer de "Aftersun", de Charlotte Wells
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