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quinta-feira, 9 de março de 2023

"Como Se Mede Um Ano?", de Jay Rosenblatt (2022)

 



Quem é pai sabe bem como é aquela coisa de ficar relembrando com o próprio filho momentos, hábitos e curiosidades da infância: "Quando você era pequeninho falava tal coisa errado...", "Quando você tinha cinco aninhos disse que queria ser jogador de futebol", "Você era tão tagarela quando tinha sete, oito anos...". Pois é. Muitas coisas a gente tem em foto, outras tem em vídeo e muitas só na memória. Pois um pai resolveu registrar a passagem do tempo com sua filha desde os três anos de idade, numa espécie de ritual de aniversário, até os dezoito anos de idade, verificando a evolução da filha, em todos os sentidos, o físico, o emocional, o intelectual, o humano... 

Em "Como Se Mede Um Ano?", filme que concorre ao Oscar de melhor documentário em curta-metragem, o cineasta Jay Rosenblatt, grava pequenas entrevistas com a filha Ella, fazendo perguntas bastante simples mas extremamente reveladoras e que, com o passar do tempo e o amadurecimento da garota, passam a ser ainda mais significativas. Apesar da simplicidade da proposta cinematográfica, o enfoque intimista, com a câmera quase sempre fechada no rosto da filha, os cortes precisos para cada passagem de ano, com deixas oportuníssimas encaminhando para a etapa seguinte e um próximo ano, fazem de "Como Se Mede Um Ano?", um documentário diferenciado e de enormes virtudes e méritos.

Por mais óbvio que seja que a criança que começa o filme seja diferente da moça do final, é interessantíssimo notar essas mudanças ao longo daquele período na menina. O acréscimo de vocabulário,  a aquisição de conhecimento, a formação de opiniões, a maturidade, a imaturidade, a consolidação de uma personalidade. É curioso, por exemplo, quando aos 4 anos o pai pergunta para a menininha sobre o que ela acha que significa a palavra "poder" e ela diz que não faz a menor ideia, e somente aos 12 consegue, efetivamente dar uma resposta mais clara, equilibrada e ponderada; também quando, ainda pequena, deixa escapar, numa resposta intuitiva, sem pensar, que tem medo dele, do pai (o que o surpreende muito); notar a transformação da queridinha do papai, para a "aborrecente" que admite que o relacionamento entre eles não vai bem por conta das constantes discussões; até chegar à mulher, de dezoito anos, inteligente, amorosa, prestes a ir para a faculdade, com ideias bastante claras sobre quase tudo e ciente de que tudo que passou até ali fez parte de um processo, como acontece com todo mundo. 

Filme lindo para qualquer um, creio eu, mas ainda mais bonito para quem é pai, como  eu e tem uma relação muito próxima com a filha. Não registrei o momentos, como fez o diretor, mas já fico lembrando de algumas coisas e, como revelei para minha filha, mesmo, já tenho saudades do bebezinho que falava errado, que fazia festas de aniversário com os bichinhos de pelúcia, que parava na pracinha para andar de balanço... É, o tempo passa.

cena "Como se mede um ano?" filme Oscar 2023
A cena final, belíssima e emocionante, quando às vésperas
da ida da filha para a faculdade, eles, de certa forma, se despedem do convívio diário.



Cly Reis 


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