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domingo, 8 de outubro de 2023

"Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea", de Luiz Antônio Simas - ed. Mórula (2017)

 




"Os textos deste livro (...) foram escritos
com a duvidosa categoria de um peladeiro
que mais tomou frangos do que fez golaços.
A irrelevância do futebol das várzeas,
a comovente ruindade dos perebas,
a epopeia silenciosa dos derrotados,
dos fracassados, dos frangueiros,
dos frequentadores das arquibancadas de madeira e cimento,
traçam certo painel afetuoso
sobre um Brasil que me interessa."

"A minha pátria é um gole de cerveja
para comemorar um gol sem importância,
coisa capaz de aconchegar um homem na sua aldeia
quando tudo mais lhe parece 
vertigem de um mundo desencantado."
Luiz Antônio Simas


Que coisa maravilhosa o livro de Luiz Antônio Simas! Um deleite para os apaixonados por futebol. Quem já jogou bola num terreno baldio, quem teve um timezinho de bairro, quem conhece uma daquelas figuras folclóricas dos campos, quem frequentou estádio antes dos padrões FIFA, vai se identificar e até se emocionar com as pequenas histórias de "Ode a Mauro Shampoo e outras histórias da várzea", relatadas por essa figura incrível que é Luiz Antônio Simas, um romântico desse esporte que, segundo ele, foi reinventado pelo brasileiro.

Luiz Antônio Simas, professor de história e pesquisador de culturas populares, nos apresenta diversas histórias que resgatam a raiz do futebol, a essência, o improviso, a espontaneidade, a molecagem, o prazer pelo jogo. Times de várzea, pequenos clubes profissionais, suas origens e fundações muitas vezes inusitadas, episódios pitorescos, suas lendárias formações, nomes e apelidos hilários de seus craques, seus goleiros frangueiros, zagueiros mal-encarados, hinos inspirados e cores de uniformes... tudo é objeto para as divertidas e muitíssimo bem escritas crônicas do autor.

A epopeica excursão do Santa Cruz de Recife ao Amazonas, nos anos 40, que teve de tudo, de caganeira a assassinato; a escalação clássica do Vila da Cava, de Nova Iguaçu; o juiz que declaradamente beneficiava seu clube do coração; a curiosa origem do nome do Treze de Campina Grande, da Paraíba; o zagueiro que não escovava os dentes pra espantar os atacantes; o centroavante conhecido como Abecedário exatamente por ser um completo analfabeto, são apenas alguns dos episódios narrados de forma descontraída pelo autor. Simas é um romântico, um nostálgico do futebol, inconformado com os novos tempos de clubes empresa, modernas arenas, namming-rights, gramas sintéticas, pedantismos futebolísticos e mimadinhos jogadores "táticos" com seus pomposos nomes, com sobrenomes, RG e o escambau.

Livro com o sabor de um bom papo sobre futebol, regado a cerveja na birosca da esquina.


Cly Reis 

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