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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Código Penal - Abertura Show Ratos de Porão - Bar Opinião - Porto Alegre/RS (31/08/2024)


31 de agosto de 2024 seria um dia qualquer na vida de seis indivíduos. A não ser que, como num passado não tão distante, tenham recebido um convite que faria essa data ter outro significado.

 Não sei dizer se se trata de sonhos, objetivos ou simplesmente resultados, porque, afinal, existe uma trabalho realizado que, durante todos esses anos, possa estar sendo notado agora.

 Falo do convite feito lá em março pela Ablaze Produtora, que chamou nós da Código Penal para fazer a abertura do show dos Ratos de Porão!!

 RATOS DE PORÃO, cara!!!

 Naquele momento, tive um breve momento de tipo: “porra, está acontecendo...”, e de lá até o fatídico dia 31 foram meses de preparo, ensaios, planos. Por que, afinal, era a Ratos de Porão mano, e a Código Penal, carai!!

Lucio e o mitológico Jão, da formação
original da Ratos de Porão
com João Gordo
Nunca deixamos de acreditar no trabalho da banda, mas também nunca tivemos a pretensão de querer ser mais que ninguém. Só que chegou o dia! Frio na barriga, ansiedade, passagem de som, equipamento, equipe técnica, logística, tudo funcionando em sincronia para a noite…. 

Porém, durante a semana tivemos um probleminha: nosso baixista foi operado. E agora? Na sexta-feira que antecedia o show, dois dias antes, ele se negou a não fazer o show e, no dia, foi mesmo morrendo de dor. Numa adrenalina insana, subiu ao palco do Bar Opinião e deu o seu melhor.

 Começamos com “Terra de Ninguém’, que fez com que o público que estava chegando fosse encostando na grade, pois, afinal, quem é Código Penal?! A sequência foi de mais petardos e, junto disso, a interação com a galera e aquela sensação de ansiedade do início foi também se dissipando, transformando-se no maior espetáculo realizado por nós naqueles 40 minutos em que, acredito, 80% do público que assistiria a Ratos de Porão logo depois sem dúvida prestou atenção no que nós tínhamos pra mostrar e dizer.

 Enfim, Código Penal vive firme e forte! E que venham novos desafios, pois estamos prontos!!

Confira um pouco de como foi o show!

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Show da Código Penal no Bar Opinião na íntegra



🎵🎵🎵🎵🎵🎵


texto: Lucio Agace
fotos e vídeo: Jéssica Khune e arquivo pessoal

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Super Tramp Experience - Auditório Araújo Vianna - Porto Alegre/RS (22/08/24)


por Chico Izidro

Os fãs gaúchos do Supertramp nunca tiveram a oportunidade de ver a grande banda liderada por Rick Davies e Roger Hodgson ao vivo (Hodgson até se apresentou em carreira solo em Porto Alegre) ao vivo. Então quando surge a oportunidade de assistir a um grupo especializado em reproduzir o som do grupo inglês, que encantou o mundo nos anos 1970 e 1980, os aficionados correm direto para o espetáculo. E não se arrependem.

Foi o que aconteceu nesta quinta-feira, 22 de agosto, quando o público teve a oportunidade de ver, mais uma vez no Auditório Araújo Vianna, o show do Super Tramp Experience (que já havia se  apresentado no ano passado na Capital gaúcha), conjunto francês liderado pelo vocalista e tecladista Antoine Oheix. 

A banda tributo se dedica a recriar fielmente os sons e as performances ao vivo do Supertramp. E isso é o que agrada aos fãs, que sonharam em ver o grupo original, e nunca tiveram a chance. Aí os franceses se preocupam com isso, e reproduzem à perfeição os vários clássicos da banda. 

Além do criador Antoine Oheix, a Super Tramp Experience conta com Alice Vallee (guitarra, teclados, backing vocals),  Lucas Fleurance (baixo, backing vocals), David Martin (saxofone, teclado, backing vocals) e Stéphane Glory(bateria). 

A Super Tramp Experience empolgando a plateia 
com o hit “It’s Raining Again”

E em quase duas horas de apresentação, com uma grande interação de Antoine com a galera, foram desfilados hits do porte de “Crime of The Century”, “Breakfast in America”, “The Logical Song”, “Dreamer”, “Fool’s Overture”, “Bloody Well Right”, “Give a Little Bit”, "Don't Leave Me Now" e “School”, entre outros.  

E fechando o show, aquela música que certamente apresentou o Supertramp para a grande parte do público presente no Araújo Vianna: “It’s Raining Again”, talvez o maior hit, presente no disco “...Famous Last Words...”, de 1982. Com direito a muitos fãs abrindo seus guarda-chuvas dentro do auditório. Foi uma viagem à adolescência de muita gente presente no show. E fica aquela máxima: “se não tem o original, se contente com a cópia. Cópia bem feita”.


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texto: Chico Izidro
fotos: Luciana Espíndola

segunda-feira, 3 de junho de 2024

Djavan - Tim Music Rio - Praia de Copacabana - Rio de Janeiro / RJ (02/06/2024)

 


Djavan e sua enorme presença de palco
foto: Karine Reis
Teve Tim Music no Rio neste final de semana e a grande atração do final de semana de encerramento foi Djavan. O cara foi espetacular desfilando toda sua elegância, simpatia e energia, mesmo aos 75 anos, muita energia.

Ao longo de aproximadamente uma hora e meia, Djavan desfilou sucessos de sua carreira como "Se", "Oceano", "Amor Puro", "Samurai", "Flor de Lis", "Eu Te Devoro", entre outras, até encerrar festivamente com as animadas "Sina" e "Lilás" que empolgaram o grande público à beira do mar de Copacabana.

Visivelmente emocionado, o artista manifestou sua satisfação e seu desejo de que aquele show, um dos momentos mais felizes do ano para ele, como afirmou, estivesse sendo tão bom e importante para nós  espectadores também.

Sim, Djavan. Pode ficar tranquilo. Pode ter certeza que foi.


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Fiquei um pouco longe mas aqui vão alguns registros visuais dos evento.

Com hits e muita simpatia, Djavan hipnotizou
a público na areia de Copacabana


Djavan - "Eu te devoro"
Pequeno trecho de "Eu te devoro"



Cly Reis 

domingo, 5 de maio de 2024

Madonna - The Celebration Tour in Rio - Praia de Copacabana - Rio de Janeiro / RJ (05/05/2024)

 


Madonna em vários momentos do show que celebrou
seus 40 anos de carreira.
De tempos em tempos parece que Madonna tem que vir com alguma para lembrar ao mundo quem manda no pedaço. Não devie ter que precisar, mas precisa.
Surge fulana com turnê mirabolante, cicrana com recorde de acessos em tal plataforma, beltrana com lançamento mundial do videoclipe badalado, e o burburinho, a forçação da mídia, as redes sociais, faz muita gente acreditar que aquilo seja algo espetacular, incomum, extraordinário. Aí a verdadeira e única Rainha da Coisa Toda resolve, para coroar sua turnê e 40 anos de carreira, fazer um megashow num dos cartões-postais do mundo, para 1,5 milhões de pessoas, e não só apresenta um espetáculo inesquecível, como esfrega na cara de quem quiser ver, como chegou até o topo desse reinado.

Um espetáculo em que toda a carreira da artista é repassado, passado a limpo, dentro de uma concepção artística, estética, visual, musical, absolutamente mágica, hipnotizante, embasbacante.

Embora esteja entre aqueles que entendem que um show dessa natureza, de um artista pop, com a dinâmica de teatralidade, troca de figurinos, cenários, etc., permita playbacks, devo admitir que fiquei um pouco incomodado e desconfiado quando soube que a apresentação não contaria com uma banda ao vivo. No entanto, ali, assistindo ao show, mostrou-se totalmente justificável a opção. "The Celebration Tour in Rio", antes de ser um concerto musical é um espetáculo artístico que envolve uma série de elementos que, para funcionarem bem, com um resultado impactante para o espectador (seja no local ou na TV), exigia tal 'sacrifício'. As performances, a ocupação de palco, a mecânica, os números musicais, a iluminação, a concepção visual, tudo me convenceu que, nós, público, só ganhamos com essa ideia de show.

Abertura do show com trecho de "Nothing Really Matters"


Dito isso, vamos ao que interessa: QUE SHOW DA PORRA!!!

Repertório bem planejado, blocos de músicas e atos divididos em uma estrutura muito precisa, mixagens e transições sempre interessantes, ótimas coreografias, iluminação incrível, e, é claro, uma estrela ousada, destemido, provocativa e de um talento que transcende a música.

O que foi aquela "Like a Prayer"??? Em uma das melhores músicas da cantora, uma atmosfera eclesiástica ritual, repleta de cruzes, sacerdotes, corpos pendurados, punições, culpa, inquisição... A hipocrisia e a opressão do catolicismo, numa dramática performance de arrepiar. Se teve gente que perguntou por que não projetaram o nome de Madonna no Cristo Redentor, como aconteceu com Taylor Swift, isso bastaria para responder perfeitamente.

Festa à brasileira em "Music".
("Music makes the people come together...")

"Erotica", com uma performance de luta de boxe, foi outra que passou seu recado: um direto no queixo dos moralistas. "Bad Girl" com a filha da cantora, Mercy James, ao piano foi lindíssima, "Burning Up" punkzona foi simplesmente afudê, as homenagens a Prince e Michael Jackson foram especiais, "Hung Up" latinizada ficou bem interessante, "Music", surpreendentemente para mim que a adoro na versão original, ficou incrível naquela releitura batucada brasileira, com uma participação 'apimentada' de Pabblo Vittar, e a espetacular "Vogue" com um desfile de moda ímpar, inigualável, julgado com a participação de Anitta foi uma festa incrível, uma espécie de nova versão do antigo Gala Gay do Copacabana Palace, em versão século XXI.

Madonna fez história de novo!

O Brasil nunca esquecerá esse show.

O mundo sempre lembrará.

Tenho medo de passar hoje por Copacabana e não encontrar o bairro lá  ou encontrá-lo em ruínas, porque, cara... Madonna colocou tudo abaixo. Tudo mesmo! Dúvidas, conceitos, preceitos, preconceitos, resistências, padrões, limites, barreiras... Enfim. ., Ave, Madonna! Estamos todos a teus pés, ó Rainha!

Uma multidão em Copacabana para ver de perto a Rainha do Pop.
(No meu caso, nem tão de perto)



Cly Reis 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Jards Macalé - Show "Jards Macalé 72" - Espaço Cultural BNDES - Rio de Janeiro/RJ (25/04/24)

 

Quase encerrando uma temporada de alguns dias no Rio de Janeiro, Leocádia e eu, que já havíamos tido a mágica experiência de uma roda de samba na Portela, em Madureira (que, aliás, é mais do que uma experiência apenas musical, pois antropológica), pudemos fechá-la com chave de ouro assistindo a um show (gratuito!) do mestre Jards Macalé. Comemorando os mais de 50 (52 precisamente) anos de lançamento do seu primeiro LP, Macau e sua excelente banda entregaram um show como só um dos maiores da música brasileira (e latina, e mundial) pode entregar.

A juventude de Gulherme Heldt (guitarra) e Pedro Dantas (baixo) se unem à experiência do próprio Jards e de ninguém menos que Tutty, Moreno, lendário baterista da MPB integrante da banda original que gravou com Jards seu marcante álbum de estreia. A química é visível, com Jards comandando as ações com seu violão desconcertante e sua voz/canto rasgado e eles se integrando à atmosfera do genial maldito numa sonoridade híbrido de jazz fusion, samba e rock. Aliás, Jards é muito rock 'n roll! Absolutamente claro isso nas execuções de "Farinha do Desprezo", "Revendo Amigos", "Mal Secreto", "Pacto de Morte" e "78 Rotações", todas clássicas. Muito interessante de se notar o quanto se acertou na sonoridade jazzistica prevalecente naquele período na música brasileira do início dos anos 70 (a qual, inclusive, Jards é o principal artífice ao captar essa atmosfera cosmopolita no exílio em Londres) na arquitetura dessa nova banda, que soube renovar esse estilo e, principalmente, não fazê-lo datar.

Em homenagem à amiga Gal Costa, de quem tanto gostava, dedicou "Hotel das Estrelas", mas indiretamente também celebrou a memória de "Gracinha", como carinhosamente a chama, com "Vapor Barato" acompanhado só da guitarra, para trazer sua mais conhecida parceria com o poeta e agitador Wally Salomão. Ainda, tocou ao violão uma sentida "Movimento dos Barcos", num dos melhores momentos do show, e, recuperou as ainda mais antigas "Soluções" e "Só Morto", que compõem seu EP de 1970.

Além das faixas do repertório do disco, houve espaço também para as recentes "Trevas" e "Meu Amor é Meu Cansaço", parceria com a rapaziada Kiko Dinucci, Rômulo Fróes e Thomas Harres, do seu excelente "Besta Fera", de 2019. Teve também a linda e inédita bossa-nova "Um Abraço do João", motivada por uma inspiração "espiritual" no amigo e ídolo João Gilberto. A música, embora tenha ganhado letra da magnífica Joyce, foi tocada de forma instrumental, uma vez que, gracejador e simpático, Jards admitiu para o público e para a própria artista, que também prestigiava o show, não ter adicionado a letra à melodia ainda. Se no violão já ficou perfeita, imagine-se com letra de Joyce!

"Let's Play That", com Torquato Neto, foi mais uma de arrepiar com sua anarquia sonora implacável. Pra fechar, outra deferência a outro saudoso craque da MPB assim como João, Wally, Torquato e Gal: Luiz Melodia, na blueseira "Farrapo Humano". Para quem nunca o havia visto ao vivo como Leocádia e a mim, que o vira nos idos dos anos 90 num show especial em Porto Alegre dedicado a Noel Rosa, a oportunidade de assisti-lo no excelente palco do Teatro BNDES foi um presente. Presenciamos uma das obras mais grandiosas e sui generis da música brasileira, capaz de fazer pontes sem distinção entre o samba do morro, a vanguarda, o tropicalismo, a bossa-nova, o jazz e o rock. E ainda tivemos tudo isso sem precisar de muito dinheiro. Graças a Deus.

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Ao centro, Jards comanda sua banda tocando o repertorio de 1972


Trecho de "Farinha do Desprezo", número que abriu o show 


Sob o olhar do craque Tutty Moreno, remanescente do disco
de estreia de Jards, há 52 anos


Com a banda ao final e sob aplausos


fotos e vídeo: Leocádia Costa, Camila Santos e Gustavo Moita
texto: Daniel Rodrigues



segunda-feira, 15 de abril de 2024

Ian Ramil - Show "Tetein" - Teatro Sicredi - Pelotas/RS (15/03/24)

 

A deriva de uma viagem talvez seja a melhor parte dela. Essa coisa de andar pelas ruas com os olhos atentos. Quando encarada com ânimo e receptividade, a deriva é capaz de trazer gratas surpresas. Foi assim quando, numa viagem a Curitiba, em 2014, durante um passeio de ônibus pela manhã, nos deparamos Leocádia e eu com o anúncio de um ótimo show na noite daquele mesmo dia. Em pleno Teatro Guairinha, assistirmos a uma homenagem a“O Grande Circo Místico”, a inesquecível obra de Edu Lobo e Chico Buarque. Foi quase sem querer que soubemos da programação. Só que não.

Desta feita, a quase coincidência foi em Pelotas, que por si só já traz sentimentos bons a nós dois visto a ligação que temos com a cidade. Numa despretensiosa visita ao Mercado Público, observamos colado em uma pilastra o cartaz de um show. Olhando com atenção, vimos que se tratava de um show de Ian Ramil, músico consagrado e que carrega nas veias o sangue de um dos clãs mais talentosos da música do Rio Grande do Sul. Seria a apresentação de lançamento de seu novo álbum, “Tetein”, e ainda por cima contaria com a participação de seu pai, o célebre Vitor Ramil. E vendo com ainda mais atenção: o show era na noite daquele mesmo dia – igual aconteceu conosco em Curitiba anos atrás.

Providenciamos os ingressos no Sesc de Pelotas, promotor do show, ali mesmo no Centro, e fomos. Além de conhecer o belo e moderno Teatro Sicredi, novo na cidade, o que mais nos interessava era, de fato, a música. Há aí um porém: mesmo com todas as coincidências boas da fluidez das coisas, não era necessariamente uma certeza para nós que fôssemos gostar. Explico, mas para isso preciso voltar a 2018, quando, em Porto Alegre, assistimos a uma breve – e desastrosa – apresentação do mesmo Ian. Fosse por inexperiência, má fase ou vaidade, o fato é que aquilo que vimos foi um artista desleixado, tocando mal e sem sintonia nenhuma com o público. Parecia que, pressionado com o peso do sobrenome, ele se revoltava com a condição e jogava esse desconforto de volta na plateia. Saímos com a pior das impressões.

Mas ainda bem que, como disse Claudinho para Buchecha, “todo mundo merece uma segunda chance, ‘fassa’”. Haviam se passado 6 anos, Ian vencera um Grammy Latino de melhor álbum de rock em português em 2016, esteve diretamente envolvido no projeto do supergrupo Casa Ramil e, no mais, a tendência era que aquele jovem de mal com a vida pudesse ter amadurecido. E valeu a pena reconsiderarmos, pois presenciamos um belo show. Com a sala praticamente lotada de conterrâneos, familiares e amigos, estávamos lá, Leocádia e eu, tornando-se mais pelotenses do que nunca. Às minhas costas, na fileira de trás, por exemplo, o padrinho de Ian, a quem Vitor, na sessão de autógrafos do seu “A Primavera da Pontuação”, na Feira do Livro de 2014, me disse ao me observar com aquele seu olhar penetrante: “Tu te parece com o meu compadre, padrinho do meu filho Ian”. Vejam só a especialidade e a simbologia desta ocasião.

Ian: revertendo qualquer
impressão negativa
A música de Ian tornou-se uma certeza para nós desde o primeiro número, com a linda faixa-título da turnê. A sonoridade de Ian, bastante influenciada pelo cancioneiro infantil desta feita – visto que sua pequena filha, Nina, foi a inspiração para o trabalho –, carrega elementos do rock, do jazz, do gauchesco, do pop, da música eletrônica e, claro, da Estética do Frio, cunhada pela genialidade de seu pai. Exemplo ele tem em casa, e soube aproveitar. Igualmente destaques a intensa “Macho-Rey”, a jazzística “Palavras-Vão”, a versão de “Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina”, de Nei Lisboa, e “Cantiga de Nina”, o samba-canção-de-nina(r) feito, óbvia e especialmente, para a filha.

Dono de uma musicalidade muito requintada, Ian e sua pequena banda (Bruno Vargas, no baixo, e Lauro Maia, programação e teclados) trouxeram ainda as excelentes “Lego Efeito Manada”, um chamamé moderno (e com lances de canto gregoriano), que faz remeter à música de Milton Nascimento, Tiganá Santana e, claro, Vitor Ramil. O timbre de voz, aliás, não deixa mentir que se trata de um Ramil, visto que, em vários lances, é possível ouvir a voz de seu pai e seus tios, Kleiton e Kledir. O artista trouxe ainda coisas mais antigas de sua carreira, como músicas do primeiro disco, de 2014, “Nescafé” e “Seis Patinhos” (visivelmente as mais fracas do set-list), e a potente “Artigo 5º”, um dos hinos da era “Fora Temer”, do seu premiado e combativo disco "Derivacivilização", a qual convidou seu pai para dividir os microfones num dos momentos altos do show.

Mas não cessou por aí. Ian realmente amadureceu como artista, como performer e, a que se vê, como pessoa, visto que se mostrou genuinamente simpático e acolhedor. Ainda tiveram a magnífica “O Mundo é Meu País”, a questionadora “Quiproquó” e, principalmente, “Mil Pares”, um manifesto distópico-utópico em que Ian imagina um cenário apocalíptico para o fim do capitalismo. Nesta, além de sopros e percussões adicionadas, ainda houve a repentina aparição de Davi Batuka com um atabaque africano, que fez o público vir abaixo. Na Pelotas das charqueadas, que tanto sangue negro viu escorrer pelas águas do Rio Pelotas há séculos, nada mais apropriado que, na mistura consciente e resistente de Ian, invocar essa ancestralidade para o palco.

Mais do que admirar o espetáculo, o mesmo nos serviu para revermos e revertermos a imagem de um artista que provou valer a pena ser escutado. Mas ainda mais significativo foi ver Ian e Vitor cantando a clássica “Joquin”, a versão de 1987 de Vitor para a música de Bob Dylan (“Joey”, de 1976), em que transpõe para a nem tão fictícia Satolep a história do genial, incompreendido e perseguido gênio inventor. Dadas as devidas proporções, a música de Vitor se tornou maior que a original, visto que, em terras gaúchas e brasileiras é um clássico e, no vasto e importante cancioneiro dylanesco, não passa de uma canção menor. Fato é que os versos iniciais do tema:“Satolep, noite”, ainda sem o acompanhamento dos instrumentos e ditos na voz de Vitor, traduziram a beleza daquele acontecimento. Estávamos ali, em nossa Satolep, dita assim mesmo, ao contrário, provocando essa inversão de percepções que Pelotas nos proporciona e numa noite muito especial. Tudo soube fazer sentido. Um acontecimento tão inesperado para nós, mas ao mesmo tempo tão significativo, que parecia estar previsto, como um presente da própria Pelotas para quando aqueles dois filhos desagarrados voltassem à deriva por suas ruas de pedras antigas.

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o clássico de Vitor Ramil "Joquin" cantado por ele 
e o filho-anfitrião Ian

Ian ao centro em trio com Bruno Vargas e Lauro Maia

Novamente com a excelente e versátil banda

"Ares de Milonga": canto e musicalidade de Ian típica dos Ramil

Número final, no bis, com a banda e convidados, entre eles o pai Vitor


fotos e vídeos: Leocádia Costa e Daniel Rodrigues
texto: Daniel Rodrigues

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Drops Ratos de Porão e Código Penal - Bar Opinião - Porto Alegre (RS) - 31/08/24


Esse show está previsto lá para agosto, mas entra já como drops do Cly_live por um bom motivo. E não é somente a próprio Ratos de Porão, a quem já assisti em mais de uma ocasião, inclusive, no mesmo Bar Opinião, em 2013 e 2015. Mas, sim, por que a banda Código Penal, do meu primo-brother Lucio Agacê, vai fazer o show de abertura!

A excelente apresentação que a banda fez no Preto no Metal Festival, em dezembro do ano passado, que registramos aqui, não haveria de passar – com o perdão da aparente contradição – em branco. Como, de fato, não passou. A produtora, na busca por uma banda local legal que pudesse introduzir os veteranos do hardcore brasileiro, chegou na Código em virtude daquela participação também ocorrida no Opinião. Não deu outra.

Felicíssimo com essa conquista da Código e de Lucio, há tento tempo na estrada e cavando oportunidades neste meio. Parabéns, CP! Vocês merecem, e tenho certeza de que irão fazer um show ainda mais matador que aquele primeiro em que pisaram o palco sagrado do Opinião. Estarei lá, certamente – e, com todo respeito, menos pela Ratos do que pela Código.


Daniel Rodrigues


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Código Penal - Preto no Metal Festival - Bar Opinião - Porto Alegre/RS (17/12/2023)

 

Fazia tempo que queria ver a Código Penal, uma das bandas do meu primo-irmão-parceiro Lucio Agace. Digo uma das bandas, porque Lucio enfileira, desde os anos 80, algumas das bandas mais legais da cena alternativa gaúcha. A começar pela HímenElástico, projeto que tínhamos em conjunto com meu outro irmão e coeditor deste blog, Cly Reis, e meu outro primo e irmão do Lúcio, , com o adicional de nosso baterista oficial César “Pereba”. Mas a Hímen, há de se dizer, por mais legal que fosse nosso som (considero-a a grande banda gaúcha dos anos 90 que não aconteceu), foi talvez o projeto mais incipiente de Lucio. Vômitos & Náuseas, Causa Mortis e Câmbio Negro, pelo contrário, são alguns desses seus projetos mais consistentes. Mas também há de se dizer: a Código Penal é especial. O som, misto de hardcore, hip hop, funk e uma veia social e urbana muito evidente (em vários aspectos, parecida com a da Hímen) fazem da Código uma banda muito foda de se ouvir. Faltava vê-los no palco.

Pois o Festival Preto no Metal, ocorrido no célebre bar Opinião, trouxe esta oportunidade. A Código se apresentou na sequência de outras bandas muito legais com essa mesma vertente e ativismo, mas confesso que fomos mesmo lá para vê-los. E a expectativa foi totalmente atendida, numa apresentação enérgica, potente, dançante e... foda. A “arquitetura” da banda é apreciável, desde a visual até a sonora, com Lucio e Black to Face dividindo-se nos vocais como verdadeiros vocalistas MCs, dois guitarristas, Marcio Zuza e Eduardo Jack, um fazendo base e outro complementando o arranjo com efeitos e solos, o baixo poderoso de Luciano Tatu, a bateria pegada de Pereba e uma mesa eletrônica comandada pelo próprio Lucio. 

O tempo de show de festival, como de costume, curto. Então, o negócio é subir no palco e mostrar serviço, como a Código fez. Aí, foi só paulada, uma atrás da outra. “Terra de Ninguém” pra começar. “Os Dois Lados do Imoral”, na sequência, fez o ambiente pra ótima parceria da banda com Tonho Crocco em “Apologia”, que levantou a galera. “Marginalizado”,  “Justiça Injusta” e “Chove Bala”, idem. Pra finalizar, “Sexo nas Ruas” e a ótima “Gangs”, que já rodei no meu programa, o Música da Cabeça, mas que ao vivo ganha uma potência maior, tanto pela reação da galera quanto pela sonoridade própria, com seus samples da trilha de “Sexta-Feira 13”. Aliás, por falar no filme, mais uma das coisas legais da performance da banda e de Lucio, em especial, que é quando ele se ausenta um tempo do palco para voltar travestido de Jason Voorhees, com a máscara característica do personagem, um casaco com capuz preto e um temível taco de beisebol. Fez lembrar outro punk performático chamado John Cale.

Enfim, showzasso da Código, que Leocádia e eu vencemos os 48 graus de sensação de Porto Alegre àquele dia para estar no Opinião, mas que valeu totalmente a pena. Confere aí um pouco de como foi:

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A Código sobe ao palco do Opinião 

Lucio, performático, com a máscara do Jason junto com Black to Face

Black to Face mandando ver nas rimas

Um pedacinho de como foi o show 
da Código Penal no Opinião

Visão da mesa de som

Código in da house, motherfucker!

Mais rimas

Lucio ao centro do palco com a baita banda na "cozinha"

Preto no Metal olhando o Preto no Metal

A galera comemorando o baita show ao final:
Jamal, Val, Lucio, Leo e eu
 


Site da Código Penal: www.bandacodigopenal.com.br  


texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeos: Leocádia Costa e Daniel Rodrigues