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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Os Mulheres Negras - "Música e Ciência (1988)


“Um marco na ciência aplicada à música pop no terceiro mundo.”
 Maurício Pereira


Semana passada tive uma notícia que alegrou a mim e a um bocado de gente nas redes sociais: Os Mulheres Negras vão voltar. Esses paulistanos, que já vinham ensaiando um retorno desde 2009, agora se reúnem novamente para, provavelmente, lançar um novo disco – o provavelmente intitulado “Música, Guerrilha e Quitanda”. Esta incerteza toda é porque, quando se trata de Os Mulheres Negras, nada é lá muito confiável, pois tudo que sai deles carrega um quê de palhaçada. O provável nome do novo trabalho, por exemplo, segue a linha dos únicos outros dois lançados pela banda: “Música Serve Pra Isso” (1990) e “Música e Ciência” (1988), este último o grande disco de estreia da “terceira menor big band do mundo”, como se autointitulam (não me perguntem quem são as duas primeiras, pois acho que nem eles fazem ideia).
Banda totalmente atípica, já começa espirituosa tanto no nome como na formação e visual: Os Mulheres Negras é composta por apenas dois homens brancos, e a concordância errada se deve a uma esquisita homenagem às cantoras afrodescendentes. Versáteis e criativíssimos, o magro Maurício Pereira, vocal e sax, e o gordo André Abujamra, vocal e todos os outros instrumentos, se apresentam sempre de capa e com um chapéu que parece um xaxim. “Música e Ciência”, saborosamente eclético e artesanal, é experimental na medida certa, misturando diversos estilos ao toque cênico e cômico típico da Lira Paulistana (Maurício e Abujamra são também atores, constantemente vistos ou ouvidos em comerciais de TV, filmes, teatro, etc.). Seu título pode ser entendido como “Diversão e Técnica”, pois é evidente o quanto a dupla se diverte nas gravações, porém executando tudo com a técnica de ótimos músicos que são. Ou seja, no fundo, é um trabalho realmente sério e criterioso.
Inteligente e engraçado, o disco é delicioso de se ouvir de cabo a rabo. A primeira faixa já dá indício dessa mescla de musicalidade e humor. “Orelhão”, uma salsa eletrônica com cara de trilha de festinha infantil, chama-se assim porque sua letra é a reprodução de uma conversa telefônica entre Maurício e o pizzaiolo Seu Luciano, que se esqueceu de atender ao pedido deles. Na sequência, depois de alguns segundos ao som de uma gargalhada, aquele ritmo alegre e dançante da canção inicial dá lugar à enfurecida “Método”, um hardcore vociferado por Abujamra ao estilo João Gordo. Em seguida, o tom baixa de novo e vem o grande sucesso do grupo: “Sub”, uma versão swingada de “Yellow Submarine” dos The Beatles. Com um lindo solo de sax com os acordes de outra clássica dos Beatles, “While My Guitar Gently Weeps”, novamente traz o aspecto de música de criança ao reforçar o caráter lúdico da original – e superando-a em qualidade, inclusive.
A diversidade estilística está em todo o álbum. Tem bossa-nova (“Elza”), jazz (as belas instrumentais “Summertime”, “Mãoscolorida” e “19h30”), tango (“Feridas”, hilária), funk (a ótima “Eu vi”, outro sucesso) e rithim'n blues (“Gambá”, super bem cantada mas que não diz coisa com coisa). Mas não só o ecletismo prevalece, e sim o dueto de música e besteirol. “Milho”, com sentenças quase idiotas (uma mostra: “Atrás de um trilho reside um velho milho”), é minha preferida: um sertanejo caipira eletrificado com um incrível duelo de guitarra e acordeom. Matadora e hilariante. “Porquá Meciê”, num francês medonho, é outro destaque. Versos de pura bobagem do tipo: “Só hoje cedo eu já comi uns três tucanos” são musicados com maestria num pop swingado com uma batida bem marcada e uma gostosa levada de guitarra, além de detalhes brilhantes, como a variação timbrística e a afinação dos vocais da dupla e os solos de bateria (feitos com a boca!) de Abujamra.
Nesta linha, também há a vinheta “Samba do Avião”, clássico de Tom Jobim cantado à capela por Maurício. Até aí, tudo bem; se ele, além de pronunciar as palavras, não imitasse como a boca também o som da percussão! Outra, “Lobos para Crianças”, um jazz moderno que se transforma em rap, é exatamente o que seu título sugere: uma aula sobre Heitor Villa-Lobos para os pequenos. A letra diz: “Villa-Lobos, que cara legal/ Segura aí, moçada, vâmo sentá o pau/ Usou o charuto e escreveu a Bachiana/ E mais uma porrada de música bacana.” Como sempre, o negócio não fica só no gracejo: o solo de guitarra, reproduzindo “O Trenzinho Caipira”, é lírico e emocionante.
O desfecho tem a talvez mais engraçada do disco: “Xarope, a Levada”, cuja letra resume-se à genial frase: “Nosso objetivo é fazer música pop e, quem sabe, algum dia, ficar rico e xarope”. Um soul divertido ao estilo Motown pra mexer o esqueleto em clima de gravação caseira: falas ao fundo, risadas, palmas e chamamento para quem estiver ouvindo acompanhá-los naquela festa. Antes de tocarem este último número, porém, no espírito de improviso do disco, Abujamra chama o colega para dar um recado àqueles que escutaram “Música e Ciência” até o fim. É neste momento que ele diz a frase destacada no começo desta resenha e que, salvo o tom de autobrincadeira, é a mais pura verdade.
A banda é um daqueles casos da música brasileira que, sem grandes pretensões (tal como fora com o Tropicalismo, o “heavy-core” do Ratos de Porão ou a turma do Clube da Esquina, para ficar em apenas três exemplos), anteciparam tendências, tornando-se vanguarda na música mundial. Antes d’Os Mulheres Negras, não se tinha produzido em nenhum lugar do mundo algo que tivesse incorporado sem preconceito e com tamanha densidade, clareza de objetivo e leitura crítica a então recente ideia de “globalização” com tudo o que foi produzido em música pop até ali. Eles atualizaram o conceito de world music. Mostraram que, para ser moderno, não precisa ser high-tech; que para ser atualizado, não precisa viver no primeiro mundo; que para fazer um trabalho sério, não precisa ser sisudo. O segredo é enxergar as coisas com liberdade e rir um pouquinho delas.
Mesmo que “Música e Ciência” não tenha tido força comercial para chegar a ouvidos estrangeiros àquela época pré-Internet, Björk e Beck lançariam seus excelentes e avançados "Debut" e “Mellow Gold” apenas cinco e seis anos depois, respectivamente – aí, sim, revolucionando a música pop a partir de então. Talvez tenha sentido uma brisa dos ventos soprados pel’Os Mulheres Negras... Quem sabe? Porém o que “o gordo e o magro” sabiam muito bem era que não ficariam nem ricos e, muito menos, xaropes. Por isso sua retomada está sendo tão comemorada. A dupla retorna para mostrar o quanto continuam à frente de seu tempo e o quanto o terceiro mundo ainda é fonte de muita coisa nova que se faz por aí. Então: sejam benvindos de volta!
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FAIXAS:
1. Orelhão (Coruia, Maurício Pereira, André Abujamra)
2. Método
3. Sub [Yellow submarine] (Lennon, McCartney)
4. Summertime (Gershwin)
5. Feridas
6. 3 músicas coladas [Peter Gun](Henri Mancini, André Abujamra)
7. Purquá mecê
8. Eu vi
9. 19:30 (Agnaldo Valente Rocca, Maurício Pereira, André Abujamra)
10. Elza
11. Milho
12. Gambá
13. Lobos para crianças
14. Samba do avião (Tom Jobim)
15. Mãoscolorida
16. Xarope, a levada

todas de Maurício Pereira e André Abujamra, exceto indicadas


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Clipe de "Milho"


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Ouça o Disco:
Os Mulheres Negras Música e Ciência




quinta-feira, 15 de abril de 2021

cotidianas #714 - "Um Dia Útil"



de manhã eu
levantei, fiz xixi
li o jornal
sem escovar o dente

tomei café com leite (como sempre correndo)
me arrumei, fui trabalhar
nem lembrei de dizer tchau pro povo lá de casa

fui tocar música com meus amigos músicos
aí eu canto (o dia inteiro eu canto)
e canto, e canto, e canto, e canto

às vezes pra ninguém porque é ensaio
às vezes pra ninguém mesmo não sendo ensaio
mas sempre junto com meus amigos músicos

e quando vai a multidão
parece que eu sou tão importante
depois acaba tudo
e eu volto quieto pra casa

e quando eu chego lá em casa
tá todo mundo dormindo
tá tudo escuro
escuro pra burro

eu fico olhando a rua pela janela de casa
é madrugada
eu sozinho com eles dormindo

desligo
a última luz da casa
vou dando trombada
até o quarto dos moleques

beijo eles, um por um
cubro eles, um por um
tropeço um bocado
pra chegar na minha cama

eu dou
um beijo leve e demorado
nos cabelos
da minha mulher que dorme

eu tiro a roupa
eu deito acordado
eu tô nu
eu me cubro
olhos arregalados numa fresta de luz no teto

e eu sonho sozinho
com meu coração pequenininho
minha compreensão também pequenininha
do conjunto das coisas todas

eu, com medo da morte, e tudo mais
sonhando sozinho, eu me pergunto
se quando a gente canta alguém presta atenção na letra

mas eu tento tentar dormir
aí vem aquele monte de dúvidas
que a gente tem quando trabalha como artista

e vem fé e vem tristeza e vem alegria
e tesão e neura e fantasia
e dionísio e ditadura

e eu não sei, não sei, não sei, não sei...
eu pego no sono
eu preciso dormir um pouco
e sonhar muito

porque se o cara não descansa ele não canta direito
e não leva sustança
pro coração do cidadão comum

e amanhã é mais um grande dia
um dia comum de muito trabalho
um dia grande
que nem um diamante

um longo dia belo
um baita dia duro e lindo
eu ganho pra estar brilhante
num dia útil

um dia útil
um dia útil
um dia útil

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"Um Dia Útil"
Maurício Pereira

Ouça:
Um dia útil - Maurício Pereira

domingo, 5 de julho de 2020

Teaser entrevista Maurício Pereira - Música da Cabeça #170


O Música da Cabeça especial de nº 170 traz uma entrevista com Mauricio Pereira. Confira o teaser do programa, que é na próxima quarta-feira, às 21h, na Rádio Elétrica.



quinta-feira, 11 de abril de 2019

cotidianas #626 - Eu Vi



Existem mil estórias de carro e racismo e essa é uma delas.
Eu vi,
Socorro!
Eu vi.
Era um sábado à noite (era um sábado à noite),
Rua Augusta, um Passat (Rua Augusta, um Passat),
No Passat dos negões (no Passat dos negões),
Eu vi! eu vi!
O som rolar de dentro do Passat.

E a polícia vem descendo (e a polícia vem descendo)
Camburão mandou o Passat, ele parar.
Mão no pescoço, todo mundo fora do Passat.
Revistando os negros, parece que eles tavam limpos.
E eu vi!
Eles tavam limpos eu vi!
Um motoqueiro...
Parou bem do meu lado
E ele disse assim:
"é duro ser preto!
É duro ser preto!
É duro ser preto!
É duro ser preto!"
É duro ser preto!
Disse o motoqueiro branco
pra mim.
É duro ser preto!
Disse o motoqueiro branco pra mim.

Era um sábado à noite (era um sábado à noite),
Rua Augusta, um Passat (Rua Augusta, um Passat),
No Passat dos negões (no Passat dos negões),
Eu vi! eu vi!
Juro que eu vi!
Eu nunca me esqueci!
Era um sábado à noite...

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"Eu Vi"
Os Mulheres Negras
(letra e música de Maurício Pereira e André Abujamra)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Exposição "Castelo Rá-Tim-Bum” - Praia de Belas Shopping - Porto Alegre/RS


A exposição já passou, mas o sentimento ficou. Aliás, mantém-se presente há 25 anos desde que “Castelo Rá-Tim-Bum”, da TV Cultura, uma das séries infanto-juvenis mais famosas da televisão brasileira, foi ao ar. Leocádia e eu estivemos na exposição em homenagem à esta querida série televisiva, que esteve por aproximadamente de dois meses no Praia de Belas Shopping, em Porto Alegre, mas que só no finalzinho deu pra vermos com a atenção que merecia. No meu caso, até a tinha percorrido no dia da estreia, em junho, mas a trabalho, o que atrapalha uma apreciação mais pormenorizada. Por isso, mesmo a alguns dias de fechar, foi super válido temos visitado.

A exposição – que está partindo para outras cidades brasileiras, aliás – reproduz o ambiente e os espaços da premiada série, que esteve no ar entre 1994 e 1997. Criada pelo dramaturgo Flavio de Souza e pelo diretor Cao Hamburguer, “Castelo Rá-Tim-Bum” marcou uma geração inteira com cenografias bem trabalhadas, música de qualidade e roteiros inteligente e educativos, que ensinavam desde práticas de higiene até detalhes sobre acontecimentos históricos. Tudo com humor, sagacidade, ludicidade e, principalmente, aquilo que gosto de destacar quando se trata de obras voltadas para o público infantil: sem fazer pouco da inteligência dos pequenos..

Croqui do figurino de Nino com as anotações do próprio autor
Organizada pela Acervo 21 em parceria com o Praia de Belas e a TV Cultura, a atração contou com uma estrutura enxuta da mesma, que já recebeu aproximadamente 1,5 milhão de visitas em São Paulo e Distrito Federal. Mas nem por isso ficou devendo, visto que, com o que foi montado, todo o universo da série pode ser captado muito bem. Com recursos interativos, figurinos e peças do acervo original da TV Cultura, a mostra reconstrói os ambientes do Castelo, onde Nino (Cássio Scapin), Morgana (Rosi Campos), Dr. Victor (Sérgio Mamberti) e outros personagens viviam.

Já na entrada, o simpático Nino dá as boas-vindas através de uma projeção muito bem realizada, gravada pelo próprio ator Cássio Scapin, que interpretava o personagem. O passeio segue por outros ambientes do castelo, como o saguão com a árvore da cobra Celeste, a Biblioteca do Gato Pintado e o esgoto dos monstrinhos Mau e Godofredo.

Os figurinos originais, assinados por Carlos Alberto Gardin, também fazem parte da exposição, assim como alguns bonecos e objetos utilizados na gravação da série. Destaque para os croquis, alguns com as indicações escritas a mão por Gardin, e figurinos ricos como o de Morgana e do índio Caipora, quase um punk pós-moderno.

A cobra Celeste foi substituída por um boneco mecânico, mas conversa com as crianças na voz original do personagem, além da banheira do Ratinho, que ganhou uma sala especial. Em todos os ambientes há também televisões exibindo trechos do programa, com destaque para o vídeo da gostosa (e didática) “Lavar as Mãos”, composta por Arnaldo Antunes especialmente para a série. Por falar em música, esse era outro trunfo do programa, uma vez que sua trilha reunia, além de Arnaldo, um pessoal muito talentoso e afim com o conceito lúdico do "Castelo", como André Abujamra, Maurício Pereira, Hélio Ziskind, Ed Motta, Fernando Salem, Paulinho Moska e outros.

O clássico "Lavar as Mãos", de Arnaldo Antunes


Mesmo sendo de uma época em que já era adolescente, e, por isso, não diretamente ligado à programação infantil, lembro sempre com carinho do “Castelo Rá-Tim-Bum” na tevê, que conquistava pessoas de qualquer idade com a qualidade que tinha. Ver a exposição, dessa forma, foi bastante prazeroso de algo que sempre valorizei. Confira algumas fotos e vídeos que fizemos durante nossa vista à exposição:

Leo, Nino e eu
A Biblioteca do Gato, espaço mais impressionantemente real da exposição

O boneco original do Gato
Leocádia confere o rico espaço da personagem Morgana

O suntuoso figurino usado pela atriz Rosi Campos, assinado por Carlos Alberto Gardin

Detalhes da cenografia
O típico chapéu de bruxa de Morgana

O livro falante de Morgana, também original da série
A árvore da cobra Celeste, que conversa com a visitante que foi fazer uma foto
Outro lindo ambiente da mostra
Detalhe super artístico da cenografia da série
O traje original de Nino usado pelo ator Cássio Scapin
Maquete original do circo usado na Sala de Música da série
A roupa do intelectual Pedro, vivido por Luciano Amaral na série

Mais beolos croquis de Gardin

O índio Caipora: figura de um punk pós-moderno

Rico em detalhes o desenho para formar o personagem do Caipora

Godofredo e Mau: mais divertidos, impossível
Crianças se divertindo na banheira do Ratinho
O Ratinho original feito em massinha
A letra da famosa música "Ratinho Tomando Banho" de Hélio Ziskind

Aí este que vos escreve também aproveito pra tomar uma ducha
com o Ratinho, afinal, "Banho é Bom" como diz a música

E ninguém melhor que ele pra terminar


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Música da Cabeça - Programa #278

 

Que mistério guarda a cratera aberta no meio do Atacama? Nós desvendamos o mistério! Sem mistério, contudo, é a nossa playlist, que vai ter Tribalistas, Bauhaus, Tânia Maria, Sly & Family Stone e mais. Também tem "Cabeça dos Outros" com um ilustre convidado: Maurício Pereira. Ecoando lá do fundo, o MDC de hoje vai ao ar às 21h, na desértica Rádio Elétrica. A produção e a apresentação são Daniel Rodrigues.



quinta-feira, 30 de junho de 2022

Gil 80 Anos - As 80 músicas preferidas pelos fãs


E ele chegou aos 80. Tomado de significados, o aniversário de Gilberto Gil está sendo uma celebração nacional. Por vários motivos: ele é a nossa arte maior, o nosso orgulho enquanto povo, a representação da nossa raça, da nossa sapiência espiritual, da nossa resistência política e cidadã. O Brasil que deu (que pode dar) certo. No Clyblog, basta fazer uma breve pesquisa pelo nome deste artista que se encontrarão diversas referências, talvez a de maior volume nestes quase 14 anos de blog.

Tanto é que nós, como se parentes ou súditos muito próximos, haja vista que sua arte perfaz nossas vidas desde crianças, aqui estamos reunidos para celebrar os 80 anos deste baiano que quis falar com Deus e conseguiu. Gentes de diferentes idades, estados, profissões, mas impregnados da mesma admiração pela vasta, vastíssima obra de Gil, um autor, assim como o mano Caetano Veloso – o próximo oitentão da turma – capaz de produzir misteriosamente com uma qualidade superior por décadas a fio praticamente sem quebras neste alto padrão artístico.

O “nós” a quem me refiro, claro, inclui-me, mas vai além disso. Somos oito seguidores da egrégora Gil das áreas do jornalismo, da arquitetura, da biblioteconomia, da arquitetura, da produção cultural e outros e, claro, da própria música. O talentoso músico paulista Mauricio Pereira, que já versou Gil n’Os Mulheres Negras, é um dos que generosamente colaboram conosco elencando suas preferidas. Como ele, tivemos a árdua tarefa de escolher cada um 10 músicas, chegando, devota e festivamente, à soma de 80, igual a suas primaveras completas no último 26 de junho.

Creio que, daqui a 2 anos, quando Chico Buarque completar esta mesma idade (o que todos esperamos), talvez haja comoção parecida. Mas somente parecida. Gil guarda particularidades junto ao coração das pessoas que somente ele é capaz de provocar. Tanto que não foi assim quando Roberto chegou ao time dos oitentões, nem com ErasmoTom Zé, FloraHermeto, Donato e nenhum outro da música brasileira que já tenha rompido a barreira das oito décadas. Além de recentemente sentar-se na cadeira da eternidade da Academia Brasileira de Letras, ratificando o que construiu ao longo de 60 anos de carreira, a própria imortalidade, este aniversário de Gil é um aniversário de todos: dos fãs, dos brasileiros, da América preta e mestiça, da África diáspora, da cultura latino-americana, da arte universal. De nós.

*********

Kaká Reis

produtora cultural
(Rio de Janeiro/RJ)

"Gil sempre fez parte da minha vida. Meus dois irmãos (autores desse blog), mais especificamente Daniel, sempre trouxeram suas melodias e letras para perto e realmente conquistaram meus ouvidos a ponto de 'Tropicália 2' ser, com ainda uns 7 anos de idade, meu disco favorito. Um ancestral vivo, ativo, criativo, que eu posso ver com meus olhos, ouvir com os ouvidos e sentir com a alma… assim é Gil. Um griot da sabedoria!”

1. "Super-homem, a Canção" ("Realce", 1979)
2. "Haiti" (com Caetano Veloso, "Tropicália 2", com Caetano Veloso, 1993)
3. "Domingo no Parque" ("Gilberto Gil", 1968)
4. "Abre o Olho" ("Gilbert0 Gil Ao Vivo" ou "Ao Vivo no Tuca", 1974)
5. "Refazenda" ("Refazenda", 1975)
6. "Sarará Miolo" ("Realce", 1979)
7. "Quanta" ("Quanta", 1997)
8. "Parabolicamara" ("Parabolicamará", 1992)
9. "Nos Barracos da Cidade" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
10. "Drão" ("Um Banda Um", 1982)


Leocádia Costa

publicitária, produtora cultural e locutora
(Porto Alegre/RS)

"Escolher 10 canções na imensa e maravilhosa discografia de Gilberto Gil, Ave, é desesperador. Quando recebi o convite de participar dessa homenagem por ser uma fã dele e da sua expressão, precisei estabelecer algum critério para escolher 10 canções. Gostar, gosto de praticamente tudo o que ele canta, então esse não seria um critério adequado. Depois, pensei naquelas canções que me tiram do chão, me fazem vibrar em espirais que só ele produz. A missão de escolher ficou ainda mais complexa, porque algumas canções de Gil dizem o que meu coração gostaria de dizer, ou aquilo que minha cabeça pensaria, ainda coloca na minha boca a indignação ou a descoberta mais sensível dos inúmeros graus da Espiritualidade que ele percorre. Então, descartei esse critério também. Daí me dei conta que boa parte das iniciais 33 canções que eu havia escolhido se dividiam entre canções que estão eternizadas na voz do Gil e outras que eu escuto na voz dos seus intérpretes sendo praticamente deles (Cássia Eller, "Queremos Saber"; Rita Lee, "Panis et Circenses", João Donato, "Bananeira"; Dominguinhos, "Só quero um xodó"; Elis Regina, "Rebento"; e Cazuza, "Um trem pras estrelas", só para citar algumas, sendo impossível nominar as composições de Gil e Caetano que me nutrem a alma). Então, cheguei ao critério que me fez melhorar um pouco a seleção para chegar nas 10 escolhidas: destacaria somente aquelas canções que, para mim, são ouvidas na voz do compositor e que me marcaram profundamente e aí estão elas!"

1. "Lamento Sertanejo" ("Refazenda", 1975, com Dominguinhos)
2. "Sitio do Pica-Pau Amarelo" (Trilha sonora "Sítio do Pica-Pau Amarelo", 1977)
3. "Filhos de Gandhi" ("Gil & Jorge" ou "Xangô/Ogum", 1974, com Jorge Ben)
4. "Drão"
5. "Tempo Rei" ("Raça Humana", 1984)
6. "Vamos Fugir" ("Raça Humana", 1984, com Liminha)
7. "Domingo no Parque"
8. "Zumbi (A Felicidade Guerreira)" (Trilha sonora "Quilombo", 1985, com Wally Salomão)
9. "Aquele Abraço" ("Gilberto Gil", 1969)
10. "São João, Xangô Menino" ("Gilberto Gil ao vivo em Montreux", 1978, com Caetano Veloso)




Tatiana Viana

assessora de planejamento da Secretaria da Cultura de Viamão
(Viamão/RS)

"Acho que ele tem lugar garantido no coração, em algum lugar da memória afetiva de todo brasileiro, uma obra ampla, maravilhosa, que fala dos dilemas humanos, de amores e sofrimentos da vida de um modo geral, a desigualdade social, cultura. Gil é um pouco de cada um de nós e nós carregamos um pouco dele em nossas vidas."

1. "Emoriô" (por João Donato, "Lugar Comum", 1975, com Donato)
2. "Extra" ("Extra", 1983)
3. "Nos Barracos da Cidade"
4. "Tempo Rei" 
5. "Esotérico" ("Um Banda Um", 1982)
6. "Drão"
7. "Andar com Fé" ("Um Banda Um", 1982)
8. "Parabolicamará"
9. "Buda Nagô" ("Parabolicamará", 1992)
10. "Metáfora" ("Um Banda Um", 1982)




Maria Joana Lessa

jornalista
(Rio de Janeiro/RJ)

“Eu acho que Gil é um orixá vivo”.

1. "Extra"
2. "Afoxé É" ("Um Banda Um", 1982)
3. "Abre o Olho"
4. "Sarará Miolo"
5. "Refazenda"
6. "Back in Bahia" ("Expresso 2222", 1972)
7. "Domingo no Parque"
8. "Filhos de Gandhi" 
9. "Babá Alapalá" ("Refavela", 1977)
10. "São João, Xangô Menino"




Clayton Reis

arquiteto, cartunista e blogueiro
(Rio de Janeiro/RJ)

"Tarefa dificílima! Sempre me ocupei meramente em apreciar e nunca em elencar minhas preferidas. Numa obra tão linda, nunca me preocupei em saber se eu gostava mais dessa ou daquela. Enfim, aí estão as 'do momento'. Talvez depois me arrependa e pense em alguma injustiçada que não entrou. Mas por agora,  minhas 10 são  essas aí..."

1. "Drão"
2. "Febril" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
3. "Domingo no Parque"
4. "Refazenda"
5. "Roque Santeiro (O Rock)" ("Dia Dorim Noite Neon", 1985)
6. "Raça Humana" ("Raça Humana", 1984)
7. "Ela" ("Refazenda", 1975)
8. "Back in Bahia"
9. "Parabolicamará"
10. "Lamento Sertanejo" 




Luciana Danielli

bibliotecária
(Niterói/RJ)

"Gil, baluarte da música brasileira e o maior ministro da cultura que o Brasil já teve! Grande artista!!!! Parabéns Gil! Feliz 80!"

1. "Marginália II" ("Gilberto Gil", 1968, com Torquato Neto)
2. "Refazenda"
3. "Tempo Rei"
4. "Aquele Abraço" 
5. "Toda Menina Baiana" ("Realce", 1979)
6. "Domingo no Parque"
7. "Expresso 2222" ("Expresso 2222", 1972)
8. "Lamento Sertanejo"
9. "Refavela" ("Refavela", 1977)
10. "Pela Internet"  ("Quanta", 1997)




Daniel Rodrigues

jornalista, escritor, radialista e blogueiro
(Porto Alegre/RS)

"'Gil engendra em Gil rouxinol', cantou Caetano usando as palavras do poeta Souzândrade para falar de Gilberto Gil. A obra de Gil é gigante em vários sentidos, por isso, misteriosa. Inclusive no assombroso volume de canções da primeira linha da música mundial. E quantas que eu adoro tiveram que ficar de fora da minha lista! 'Aqui e Agora', 'O Oco do Mundo', 'Haiti', 'Febril', 'Rock Santeiro (O Rock)', 'Beira-Mar', 'A Balada do Lado sem Luz'... Apenas 10 é pouco para representá-la e representá-lo, mas creio que, sim, muito bem representadas quando junto às 10 de todos nós. Viva Gil!! Axé!"

1. "Filhos de Gandhi"
2. "Lamento Sertanejo"
3. "Back in Bahia" 
4. "Drão" 
5. "Cores Vivas" ("A Gente Precisa Ver o Luar", 1981) 
6. "Domingo no Parque"
7. "Palco" ("A Gente Precisa Ver o Luar", 1981)
8. "Queremos Saber" (por Erasmo Carlos, "A Banda dos Contentes", 1976)
9. "Cinema Novo" ("Tropicália 2", com Caetano Veloso, 1993)
10. "Lamento de Carnaval" ("Quanta Gente Veio Ver", 1998, com Lulu Santos)




Maurício Pereira

músico e jornalista
(São Paulo/SP)

Difícil demais escolher 10 músicas do Gil pra passar pra vocês, o repertório dele tem coisas fundamentais, de cara eu já pensei numas 30… E não tou falando não como o Maurício músico ou compositor, não. Falo como ouvinte, como um brasileiro comum que se serviu da poesia, da sensibilidade, da inquietude filosófica, da visão de mundo desse artista, pra poder tentar entender e viver o mundo (e o Brasil) dum modo mais profundo e mais misterioso. Salve o Gil! .”

1. "Retiros Espirituais" ("Refazenda", 1975)
2. "Jeca Total" ("Refazenda", 1975)
3. "Vitrines" ("Gilberto Gil", 1969)
4. "Aquele Abraço"
5. "Louvação" ("Louvação", 1966)
6. "Raça Humana"
7. "Domingo no Parque"
8. "Batmacumba" (por Os Mutantes, "Tropicália" ou "Panis et Circensis", 1968, com Caetano Veloso)
9. "Meio de Campo" (por Elis Regina, "Elis", 1973)
10. "Tradição" ("Realce", 1979)



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As mais votadas

- "Domingo no Parque" - 7 votos
- "Drão" - 5 votos
-"Lamento Sertanejo", "Refazenda" e "Tempo Rei" - 4 votos
- "Back in Bahia" , "Parabolicamará", "Aquele Abraço" e "Filhos de Gandhi" - 3 votos
- "Abre o Olho", "Raça Humana", "Extra", "Sarará Miolo", "Nos Barracos da Cidade" e "São João, Xangô Menino" - 2 votos
"Super-homem, a Canção", "Haiti", "Quanta", "Sitio do Pica-Pau Amarelo", "Vamos Fugir", "Zumbi (A Felicidade Guerreira)", "Emoriô", "Esotérico", "Andar com Fé", "Buda Nagô", "Metáfora", "Afoxé É", "Babá Alapalá", "Febril", "Roque Santeiro (O Rock)", "Ela", "Marginália II", "Toda Menina Baiana", "Expresso 2222", "Pela Internet", "Cores Vivas", "Palco", "Queremos Saber", "Cinema Novo", "Retiros Espirituais", "Jeca Total", Vitrines", "Tradição", "Meio de Campo", "Batmacumba" e "Louvação" - 1 voto



Daniel Rodrigues