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segunda-feira, 2 de julho de 2018

Tim Maia - "Tim Maia Disco Club" (1978)



“Jhony cresce/
Mas aqui não desaparece/
Na sua mente uma vontade de jogar um futebol/
Futebol."
da letra de "Jhony",
faixa de encerramento do disco


“Gênio Tim Maia! Tim, Tim Maia!”, anuncia Carlos Imperial no programa de auditório que comandava na TV Tupi em finais dos anos 70. As palavras elogiosas do antigo amigo e primeiro incentivador na carreira denotam a empolgação pela boa fase que vivia Tim Maia naqueles 1978. Nem sempre era assim, pois o mesmo talento que tinha para a arte tinha também para arrumar encrenca. Instável e suscetível aos exageros nas drogas, álcool e... comida, o autor de “Azul da Cor do Mar” e “Não Quero Dinheiro” vinha – afora os constantes perrengues com a polícia e os amores invariavelmente mal resolvidos – de recentes fracassos, como o “desencanto” da fase Racional e os desentendimentos com duas das principais gravadoras do país, PolyGram e Som Livre. Mas o que se via entrar no palco do programa de tevê era um Tim renovado, de semblante limpo, visual transado e consideravelmente mais magro para os padrões rechonchudos que tradicionalmente mantinha. O já consagrado maior símbolo da soul brasileira tinha assinado recentemente com outra grande da indústria fonográfica, a Warner, que apostara nele para o projeto “Tim Maia Disco Club”. Aposta certeira. O trabalho, que completa 40 anos em 2018, lhe rendeu uma das fases de maior sucesso na carreira, algo que sempre soube fazer apesar dos altos e baixos, mas talvez nunca com tamanho aparato técnico e comercial.

O álbum, repleto de hits, caiu nas graças do público. Entrando de cabeça na era da discoteque, febre em todo o mundo à época, “Tim Maia Disco Club” foi um passo consideravelmente fácil para um músico versátil como ele musicalmente falando. Assim como Stevie Wonder, Isaac Hayes e Barry White, Tim aderiu naturalmente àquele novo ritmo vindo das danceterias de pretos e gays nova-iorquinas e cujo estilo musical mesclava os sons latinos com a soul music norte-americana, coisa que Tim dominava com o pé nas costas. Que dificuldade teria de conciliar duas referências musicais tão afins alguém que mesclava naturalmente Luiz Gonzaga e samba de morro com James Brown desde os anos 60?

Para dar ainda mais impulso a essa boa onda, a Warner lhe pôs à disposição ninguém menos que Lincoln Olivetti, tarimbado arranjador capaz de fazer o som de qualquer taquara-rachada soar como o dos Jackson Five. Começava ali uma parceria que renderia frutos até o início dos anos 80. Somado a isso, ainda, as contribuições preciosas de Jamil Joanes, Hyldon, Paulo Braga, Robson Jorge, Pedro Aníbal, Gastão Lamounier e outros. Nunca Tim havia soado tão inteiro e com tamanha qualidade, nos padrões “gringos”.

“Disco Club” tem talvez a melhor quadra inicial de músicas da discografia nacional. Se não a melhor, com certeza a mais dançante. “A Fim de Voltar”, a primeira, dele e de Hyldon, é uma disco music padrão: ritmo embalado, banda afiada, naipe de metais, baixo marcado, coros femininos e masculinos entrecruzando a linha vocal principal e, claro, o vozeirão de Tim. Limpo, aveludado, possante. Além das cordas arregimentadas por Olivetti no tom alto peculiar do gênero, o conjunto de características faz da canção uma das mais bem produzidas e arranjadas da música pop brasileira de todos os tempos. Não à toa, festejada nas pistas de dança. Depois, sem deixar o embalo cair, outro sucesso: a suingada e melodiosa “Acenda o Farol”, o tema com que Tim aparece no programa de Carlos Imperial para promover o disco. Há a lenda de que a ideia da música veio após uma blitz em que músicos da banda de Tim foram abordados quando buscavam maconha para ele no seu Fusca velho, que estragou em plena via com a perigosa carga dentro.

Tim em 1978: semblante de uma boa fase
Aí então vem a verdadeira ogiva de “Disco Club”: o funk cheio de groove e malícia “Sossego”, hit capaz de mandar todo mundo para a pista assim que se ouvem seus primeiros acordes. Era essa explosão que acontecia nas discotecas do Brasil àquela época, quando Tim era o único artista brasileiro a rivalizar com os grandes da disco Earth Wind and Fire, Gloria Gaynor e Donna Summer. Um dos hinos do cancioneiro do “Síndico”, até hoje não há quem não conheça o seu riff puxado pelos metais. Ele já havia composto peças semelhantes, como “Idade”, de 1971, e “Feito para Dançar”, do ano anterior a “Disco Club”, mas nenhuma havia atingido a coesão exata entre ritmo, melodia e aquele “a mais” que fez “Sossego” se transformar num clássico imediatamente.

Mas o agito não termina aí! Sem o mesmo sucesso comercial, mas igualmente brilhante, “Vitória Régia Estou Contigo e não Abro” foi feita para a galera não arredar mesmo o pé da pista de dança. Tim manda ver num daqueles seus temas instrumentais, que geralmente incluía nos discos. Mas este aqui é um dos especiais. Contagiante, é outra disco fumegante dedicada à sua hoje famosa banda, a Vitória Régia, cuja formação Tim conseguira ao pescar os músicos que não debandaram após a viagem Racional. Ainda, conta com o luxuoso baixo de Joanes, a bateria ritmada de Paulo Braga e os metais comandados pelo maestro Miguel Cidrás.

Finalmente, tira-se o pé do acelerador para dar um descanso aos dançarinos. Porém, só para ir buscar uma água e sem deixar de chacoalhar o esqueleto. “All I Want”, dos temas com o inglês do Bronx que Tim aprendera lá mesmo, nos anos 60 – quando morou nos EUA até ser preso e deportado por latrocínio –, é um funk melodioso com muita influência de Isley Brothers e Four Tops.

O que corresponde ao lado B do vinil é meticulosamente planejado. Afinal, depois de tanto agito, era hora das lentas. Para isso, Tim recorre aos amigos: primeiro, Cassiano, com a romântica “Murmúrio”, com a característica melodia delicada do autor e a assinatura de Olivetti na sonoridade. Depois, Arnaud Rodrigues e Piau contribuem com a emocionante “Pais e Filhos”, uma declaração de amor de um pai sabedor de suas fraquezas, mas capaz de fazer o que for preciso pelo filho. Mesmo não sendo um tema romântico, dá tranquilamente para dançar agarradinho. O próprio Tim conclui a sequência com "Se me Lembro Faz Doer". Arranjo primoroso de Olivetti pra uma balada ao estilo Motown. O refrão é daqueles de cantar em coro: “Hoje resolvi mudar, vou deixar de lhe amar/ Hoje resolvi mudar, vou cantar/ Juro não ser mais um bobão/ Hoje resolvi mudar, vou cantar, vou cantar”.
A penúltima faixa não cumpre apenas a função de intermediação com o término da obra, pois é a gostosa “Juras”, soul suingada em que Tim engendra um duo com o coro feminino enquanto a orquestra de cordas desenha frases no clima dos mestres norte-americanos.

Para finalizar, então, Tim e Guti, os produtores, escolheram algo um pouco diferente, até surpreendente. Saindo da linha disco e funk de todo o álbum até então, retomam o samba-rock de canções como “Réu Confesso” e “Gostava Tanto de Você”, que tanto Tim consagrou e ajudou a criar. É “Jhony”, o último número em que, enfim, Tim traz o tema do futebol. E de maneira bastante original. Espécie de minibiografia de um garoto do subúrbio batalhador e muito talentoso com a bola nos pés, “Jhony” traz não apenas por isso, mas uma abordagem sintonizada com algo que começava a surgir naquele final de anos 70 no Brasil: a ascensão social das classes mais baixas. Um jovem como “Johny”, que “mete as ‘cabeça’ e passa à rente” no vestibular, estuda e vira doutor, começava a também a ter espaço no meio futebolístico profissional sem subvalorizar o esporte bretão como algo somente relegado aos trogloditas e sem estudo. Antecipa alguém como o “doutor” Sócrates, craque dos gramados na década seguinte à do disco, jogador que conciliou a paixão pela bola com os bancos da faculdade de Medicina.

O contrato com a Warner se manteve depois do estouro de “Tim Maia Disco Club”, certo? Em se tratando de Tim Maia, não. Os três discos seguintes serão todos por gravadoras diferentes até o artista voltar a gravar por seu próprio selo, o Seroma, o mesmo com que lançara independentemente os então famigerados (e, hoje, cultuados) volumes 1 e 2 do projeto Racional anos antes. Ao menos, o time de músicos e técnicos foi mantido por alguns anos ainda, o que garantiu o padrão de qualidade adotado em “Disco Club”, resultando em outros belos discos do folcloricamente inconstante e genial Tim Maia.


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FAIXAS:
1. "A Fim de Voltar" (Hyldon/Tim Maia) - 4:13 
2. "Acenda o Farol" - 3:20
3. "Sossego" - 3:47
4. "Vitória Régia Estou Contigo e não Abro" - 2:20
5. "All I Want" - 3:28
6. "Murmúrio" (Cassiano) - 3:27
7. "Pais e Filhos" (Piau/Arnaud Rodrigues) - 3:52
8. "Se me Lembro Faz Doer" - 3:55
9. "Juras" - 3:18
10. "Jhonny" - 2:23
Todas as composições de autoria de Tim Maia, exceto indicadas

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OUÇA:


Daniel Rodrigues

sábado, 3 de março de 2012

Neyde Zis e Tim Maia - "Neyde & Tim" - (1974)



Tudo aconteceu numa escaldante e misteriosa madrugada carioca no estúdio Somil, em Botafogo. A data é imprecisa. Ninguém sabe ao certo; só se tem uma vaga lembrança de que foi num final de semana de fevereiro de 1974. Os técnicos do som Ary e Célio, depois de uma sessão com Belchior, que gravava seu primeiro disco, organizavam as últimas coisas antes de fecharem tudo e irem embora. Mas eis que, no final da noite, imbica enviesado na frente do estúdio o famoso Fusca 71 roxo e verde de  Neyde Zis . E quem ao volante a acompanhava? Ele:  Tim Maia . Os dois, “maleixos” de uísque e sabe-se lá do que mais, já desceram cantando em dueto “Brother”, o gospel maravilhoso do mano  Jorge Ben . Com seu barítono inconfundível, ele reforçava o agudo nos versos: “Prepare one more happy way for my Lord” como se tivesse tomado pelo espírito de um cantor de igreja norte-americano. Ela, por sua vez, usava seu timbre rouco capaz de atingir agudos impressionantes, destilando uma segunda voz cheia de swing e emoção. E quando chegava na parte: “Jesus Christ is my Lord, Jesus Christ is my friend” era um verdadeiro desbunde: os dois, em uníssono. De arrepiar. Soul music na mais pura acepção.
Ary e Célio se entreolharam, ao mesmo tempo com admiração por presenciarem aquele belo dueto, mas também segurando a gargalhada por acharem engraçadíssimo ver aqueles dois abraçados cambaleando com uma garrafa que passava de mão em mão. Mas o que não previam era que, naquela noite,  Neyde Zis  e  Tim Maia  não tinham enchido o saco para ficarem com as chaves do estúdio à toa. E o que os técnicos jamais imaginariam, depois de darem as costas e “lavarem as mãos”, era que, por exemplo, aquela versão de “Brother” que ouviram entre soluços embriagados seria, horas depois, registrada numa performance perfeita, com espontaneidade e técnica, desfechando a mais obscura e inspirada jam session já documentada na MPB: o clássico álbum “Neyde & Tim”.
O disco é o ápice da carreira da “Diva Black”, “A menina mulher da pele preta”, como a apelidara  Jorge Ben , que a homenageara com a música que dá título ao primeiro álbum dela, de 1969. Depois de várias participações em trabalhos de parceiros – leia-se Cassiano, Tony Tornado, Hyldon e Bebeto, ou seja, só a nata da soul music brasileira –, ela, influenciada pela guinada pós-tropicalista do amigo  Erasmo Carlos  e do próprio Ben, grava o já muito bem comentado neste blog por Eduardo Wolff"Dó-Ré-Mi-Fa-Sol-Lá-Zis" , considerado por Oberdan a principal influência da Banda Black Rio e o melhor disco brasileiro dos anos 70. E não só ele a idolatrava. Até artistas internacionais louvavam Neyde Zis, como declarou Isaac Hayes, em entrevista de 1997 a BBC, quando perguntado qual a melhor cantora black de todos os tempos: Aretha Franklin ou Billie Holiday. Negando ser nenhuma das duas, ele respondeu com seu vozeirão de Chef: “The best black woman singer lives in Brazil. She’s called Neyde Zis.”
“Neyde & Tim” não tem comparação, e pode ser considerado um capítulo à parte na carreira tanto dela quanto na do “Síndico”. A sessão foi quase ininterrupta, tudo ao vivo, apenas uma paradinha e outra para emborcar um gole de uísque, fumar unzinho e comer um pouco de goiabada – coisa que Tim sempre carregava consigo para a sobremesa. O disco abre com uma obra-prima composta por  Gilberto Gil  no exílio em Londres: “Nêga”, que não coincidentemente fez parte do repertório de uma outra jam que jamais existiria não fosse “Neyde & Tim”: o disco “Gil & Jorge Xangô Ogum”, confessa homenagem de Gil e do Babulina à dupla. Nessa versão, mais cadenciada e romântica que a original, o vocal fica por conta de Neyde, que carrega na sensualidade. Tim, responsável por toda a cozinha, entrecorta a linha melódica soltando versos que pareciam ter sido escritos por Gil para Neyde: “The tropical nêga” ou “This nêga is my”.
Hayes: "Neyde Zis é a melhor
cantora negra de todos os tempos."
“Zismaia”, na sequência, é um funk sincopado cujo título traz controvérsias. Primeiro, o significado mais evidente: a simbiose musical que havia entre os dois. Porém há quem credite esse título a uma tentativa de Tim, já totalmente bêbado, em pronunciar a palavra “desmaia” num momento em que Neyde teve um rápido apagão (alcoólico, claro). As más línguas dizem que, acabada a garrafa de uísque, os dois passaram a entornar uma caninha que encontraram escondida na cozinha. O que, de certa forma, explica a existência de outra faixa, “Kaxassa”, uma das oito compostas com tamanha fluidez por Tim só naquela madrugada. (Essa segunda versão até que é bem verossímil considerando a situação.)
Sabe-se lá como, mas o Paulo Ricardo, o Rubens e o Serginho Trombone, que na época tocavam tanto na banda de um quanto de outro, apareceram por lá e gravaram a guitarra, o baixo e os sopros, enquanto Tim cuidava da bateria, do violão e de uma caxeta que trouxeram de um show em Niterói ocorrido horas antes. Neyde só se incumbia de emprestar sua voz. E era o que bastava. No máximo, um chocalho ou uns acordes de violão. Foi com essa formação que gravaram “Psychoblack”, um funk lisérgico de dar inveja a qualquer Parliament-Funkadelic; “Farofa”, baião eletrificado com uma bateria pesada cheio de groove; e “Retorno”, um samba-rock que captou o momento em que Tim reclamava do técnico de som que era... humm, ele mesmo. Todos – àquela altura já envoltos na fumaceira que tomava todo o estúdio –, caíram na gargalhada, e a música ficou uma das mais espontâneas do disco.
Ao todo são apenas 10 faixas de várias que a dupla tocou até as 7 da manhã do dia seguinte. Pelo menos foi isso que veio parar na mão do produtor Mariozinho Rocha, que finalizou a mixagem. Os LP’s impressos na época hoje são raridade, e valem uma fortuna no mercado alternativo. Sabe-se de colecionador no Japão que não vende seu exemplar nem por dez castelos de Osaka. Mas agora esta versão remasterizada com capricho no Abbey Road pode fazer com que mais pessoas possam dar o devido valor a uma das obras mais importantes da nossa música e, enfim, fazer justiça a uma artista infelizmente esquecida neste Brasil sem memória. Salve o “Gênio” Tim, claro, mas, acima de tudo, salve a “Musa” Neyde Zis!
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O impacto da noite de orgia musical e lisérgica foi tanto que, logo depois desta fatídica madrugada, Tim caiu em uma forte abstenção e a uma crise existencial que lhe levou a ler um tal de livro chamado “Universo em Desencanto”. O resto da história todos sabem no que deu.
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Poucos sabem, mas “Acenda o Farol”, gravada por Tim em 1978 no disco “Tim Maia Disco Club”, foi criada naquela noite. Quando os dois tiveram a delirante ideia de se dirigir ao estúdio da Somil, ambos vinham juntos de Niterói no tal fusquinha, que aprontou de furar um pneu no caminho. Tim, puto com o ocorrido, ao invés de ralhar, inventou uma música. Enquanto trocava o estepe lá fora, gritava para Neyde lá dentro do carro: “Pneu furou/ Acenda o farol/ Acenda o farol...”. A música foi gravada para “Neyde & Tim”, mas, infelizmente, perderam o único take porque puseram outra por cima (coisa de gente grogue). Tim só foi redescobrir a música anos mais tarde porque a encontrou escrita num papel amarrotado no bolso de uma calça que tinha usado apenas uma vez, ou seja, na histórica noite da gravação de “Neyde &  Tim”.
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FAIXAS:
1. Nêga (Gilberto Gil)
2. Zismaia (Neyde e Tim)
3. Ogulabuiê (tradicional: ponto de umbanda)
4. Batuque (Neyde e Tim)
5. Farofa (Tim Maia)
6. Psychoblack (Tim Maia)
7. Kaxassa (Tim Maia)
8. Som (Ari, Célio e Tim Maia)
9. Retorno (Tim Maia)
10. Brother (Jorge Ben)


sábado, 29 de janeiro de 2011

Tim Maia nas bancas - Coleção Abril Tim Maia

Pra quem já ficou animado com o lançamento da Universal Music da caixa  "Tim Universal Maia" , vai ficar entusiasmadíssimo como eu com a coleção que a Editora Abril coloca nas bancas a partir de amanhã com 15 álbuns do síndico com encarte bacana, fotos, textos e curiosidades a preços bem acessíveis.
É isso aí: toda a semana nas bancas uma obra diferente do mestre do soul brasileiro.
Detalhe é que num primeiro momento será vendido apenas em São Paulo e Região Sul, chegando aqui ao Rio apenas em abril. Mas vou dar um jeito de ter o meu antes disso, com certeza.
Começa com o excelente álbum Tim Maia de 1970 já a partir de amanhã. Confira abaixo os demais itens da coleção:

1. TIM MAIA 1970
2. TIM MAIA 1971
3. TIM MAIA 1973
4. RACIONAL 1
5. RACIONAL 2
6. TIM MAIA DISCO CLUB (1978)
7. TIM MAIA 1978
8. NUVENS (1982)
9. DANCE BEM (1990)
10. TIM MAIA INTERPRETA CLÁSSICOS DA BOSSA NOVA (1990)
11. TIM MAIA AO VIVO (1992)
12. SÓ VOCÊ (1997)
13. WHAT A WONDERFUL WORLD (1997)
14. TIM MAIA IN CONCERT (2007)
+ (especial) RACIONAL 3

*O primeiro volume custará R$7,90 (valor promocional de lançamento) e os demais R$14,90.

Não dá pra perder!

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Mais informações no site: http://www.colecaotim.com.br/index.php


OBS.: Provavelmente a editora mudou sua estratégia regional de vendas e a coleção já está sendo vendida aqui no Rio de Janeiro
postagem editada em 24/02/2011

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Banda Black Rio - Blues Bossa Jam Session POA - Teatro do Bourbon Country - Porto Alegre/RS (1º/10/2025)

 

Sonho realizado. Ao longo dos anos, ver a Banda Black Rio, desde que a banda voltou, no final dos anos 90, e passou a se apresentar mais, tornou-se mais do que um desejo, mas um desafio. Isso porque, das várias vezes que viajamos ao Rio de Janeiro, nunca coincidia de pegarmos um show deles. Ou tinham se apresentado antes ou se apresentariam depois de retornarmos a Porto Alegre, onde, aliás, nunca tinham vindo. Essa realidade mudou com a primeira descida da Black Rio à capital gaúcha, dentro do projeto Blues Bossa Jam Session POA, quando pudemos Leocádia e eu conferi-los numa concorrida e feliz noite no Teatro do Bourbon Country. E foi uma festa.

Com uma considerável presença de um público preto – coisa meio rara em Porto Alegre, ainda mais de pessoas pretas de bom nível social – e bastante aguardados pelos gaúchos - que, como nós, queriam muito vê-los há muito tempo - a Black Rio subiu ao palco comandada por seu cabeça, o tecladista William Magalhães, responsável pela retomada do mítico grupo fundado por seu pai, o precocemente falecido Oberdan Magalhães, este, um dos maiores músicos que o Brasil já teve. 

Cumprindo muito bem a missão de prosseguir com a arte maior da Black Rio, com o groove inconfundível da grande banda da história da soul brasileira, William e seus competentes companheiros músicos começaram com alguns números do seu clássico álbum, “Maria Fumaça”, de 1977. Este marco na história da música brasileira conquistou, mesmo sem vocal ou letra, crítica e público, chegando a ser trilha de abertura de novela da Globo (“Locomotivas”, aliás, a primeira a conseguir esse feito). Foi a música que dá título ao cultuado primeiro disco da Black Rio, inclusive, que iniciou a apresentação. Um desbunde total de musicalidade, mas um pouco atrapalhado pelas as falhas técnicas no som tanto do teclado, que mal se ouvia no início, mas principalmente da guitarra. Não dava para ouvir direito justamente o marcante riff com som ecoado da guitarra. Uma pena.

Depois desse número inicial, o som melhorou, mas ainda apresentava algumas falhas, com William tendo que chamar o roadie algumas vezes para resolver problemas. Imagino que seja um pouco difícil equalizar satisfatoriamente todos os instrumentos para uma banda como a Black Rio, em que cada mínimo som é importante para o contexto sonoro. Porém, é inexplicável que não se tenha testado e ajustado isso tudo antes. Mas, tudo bem. A festa prosseguiu com outras três de “Maria Fumaça”: a estonteante “Mr. Funky Samba”, bem como as não menos impressionantes “Leblon Via Vaz Lobo” e “Casa Forte”.

Após estas, entrou no palco o ótimo cantor Marquinho Osócio, integrante oficial desde o começo dessa segunda fase, marcada pelo lançamento do álbum “Movimento”, de 2001. Embora muito competente, o show seguiu praticamente só com as músicas “novas”, o que poderia ter sido um pouco diferente em se tratando de uma estreia em solo gaúcho. O público, maior parte formada por fãs dos tempos antigos da Black Rio, esperavam, se não mais músicas de “Maria Fumaça”, como “Na Baixa do Sapateiro” e “Baião”, pelo menos coisas dos outros dois discos da fase clássica, “Gafieira Universal”, de 1978 (“Chega Mais”, “Samboreando”, “Expresso Madureira”, quem sabe) e “Saci Pererê”, de 1980, em que podiam ter resgatado o lindo reggae que lhe dá título feito por Gilberto Gil especialmente para o conjunto, ou “De Onde Vem” e “Amor Natural”, todas em que o vocal de Osócio se encaixaria bem ao formato atual.

O sentimento de que podiam ter maior trato no set list, no entanto, não tirou o brilho do show. Do repertório recente, eles tocaram números como “Nova Guanabara”, “Carrossel”, “Sexta Feira Carioca” e “América do Sul”, sempre contagiando a plateia. Ainda teve maravilhosas interpretações de "Boa Noite", de Djavan, e de “Tomorrow”, de Cassiano, música responsável pela volta da banda em 1999, quando o célebre compositor de “A Lua e Eu” chamou a então inoperante Black Rio para tocar com ele na TV. 

Banda Black Rio tocando o mestre Djavan


Sonoramente falando, não se escuta mais tanto o baixo imponente como era o de Jamil Joanes antigamente. E há de se entender, haja visto que nada se compara ao som tirado por aquele baixista, cheio e ondulante. No arranjo atual, então, William e sua turma decidem equilibrar mais os teclados, a percussão e os metais, além de dar maior peso à melodia de voz. E tudo bem, uma vez que a formação atual é esta – e também porque, convenhamos, é impossível reproduzir o estelar time Oberdan, Jamil, Cristóvão Bastos, Cláudio Stevenson, Luiz Carlos e Barrosinho tocando juntos novamente. Nessa configuração do grupo, além de William, um fera, destaque para o trio dos sopros – Feldeman (trombone), LG (trompete) e Marlon Cordeiro (sax) – e para o excelente percussionista Marcos César. 

Mais para o fim, rolou uma lindíssima versão de “Mistério da Raça”, de Luiz Melodia, tocada por uma Black Rio com a autoridade de quem formava originalmente a banda de Melodia no álbum “Nós”, de 1980. No encerramento, outra obra a qual somente eles mesmos poderiam tocar com a dignidade de quem também escreveu aquela história: o hit “Sossego”, de Tim Maia, gravada pelo “Síndico” com eles no delirante “Tim Maia Disco Club”, de 1978.

Sim: sonho realizado de ver a Black Rio! Esses verdadeiros criadores do brazillian jazz, os caras que representam no nome mais do que uma banda, mas um movimento! Uma instituição da música brasileira. A Black Rio não é sé esse patrimônio cultural, mas uma prova viva da resistência negra e de sua cultura. Em uma entrevista tempo atrás, William disse ter orgulho de seguir a profissão e a própria banda fundada pelo pai. “Me sinto um herói da música preta”, disse ele. Concordamos plenamente. 

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A brilhante e resistente Black Rio entre no palco


Tocando clássicos instrumentais do disco "Maria Fumaça"


Um trechinho de "“Leblon Via Vaz Lobo”, 
do repertório antigo


William Magalhães comanda seu timaço de músicos


Marquinho Osócio entra para animar ainda mais a festa


Muito groove samba-soul no Bourbon Country


A contagiante "Sossego", hit de Tim Maia, 
que encerrou o espetáculo


Momento de agradecer a acolhida
- e nós, o belo show da lendária Black Rio



texto: Daniel Rodrigues
fotos e vídeos: Daniel Rodrigues e Leocádia Costa