“Todos precisamos de alguém
para sangrar em cima
Se você quiser
pode sangrar em mim.”
Mick Jagger - letra de "Let It Bleed"
Independente da qualidade da contribuição musical dos Beatles ao mundo da música através dos tempos, inegável e fundamental, sempre tive para mim a impressão de que os Garotos de Liverpool eram os bons moços e os Rolling Stones os maus. Ainda que os Beatles também possuam polêmicas, episódios com mulheres e tal, a conduta de Mick Jagger e companhia sempre me pareceu muito mais roqueira. Até o jeito de cantar, de vestir, da postura do palco, tudo. Talvez por tudo isso sempre tenha gostado mais dos Stones.
E verdadeiramente o disco é TUDO ISSO. Uma obra admirável e grandiosa quase que sem igual na história do rock.
Pra começar, abre com “Gimme Shelter” que na minha opinião é a melhor canção de rock de todos os tempos. Jagger com um vocal impetuoso, quase agressivo; os vocais femininos de arrepiar, a guitarra precisa de Richards e aquele tom apocalítico da letra fazem de “Gimme Shelter” algo mágico e superior.
“Love in Vain” que vem na seqüência é demonstração evidente de uma das influências mais fundamentais da banda, o blues, e particularmente, Robert Johnson, que imortalizou a canção. A propósito, os chatos (mas bons) irmãos Reid do Jesus and Mary Chain, chegaram a afirmar que os Stones eram apenas “a melhor banda de blues do mundo”, e quando dizem APENAS de blues, quer dizer que não consideram uma banda de rock. Mas tirando essa antipatia dos Reid, eu compreendo a afirmação, pois no fim das contas os Rolling Stones incrementaram seu rock com muito blues e deram ao blues traços mais roqueiros e fizeram isso como ninguém.
O blues se faz presente em vários momentos no disco e outros bons exemplos no disco são a ótima “Midnight Rambler”, mais agitada, forte e vibrante, e a faixa título “Let It Bleed”, mais melancólica.
O álbum fecha com a grandiosa “You Can’t Always Get What You Want” pontuada por um belíssimo coral gospel, num crescendo mejestoso que confere um final digno a uma obra fantástica como esta. Se eu até posso não ter sempre o que quero, não sei, mas a sensação que se tem ao ouvir “Let It Bleed” é de que não se precisa de mais nada.
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- "Gimme Shelter" – 4:32
- "Love in Vain" (Robert Johnson) – 4:22
- "Country Honk" – 3:10
- "Live with Me" – 3:36
- "Let It Bleed" – 5:34
- "Midnight Rambler" – 6:57
- "You Got the Silver" – 2:54
- "Monkey Man" – 4:15
- "You Can't Always Get What You Want" – 7:30
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Ouça:
Lembro desta declaração dos Reid sobre os Stones. Na época, não entendi o que eles quiseram dizer minorizando tanto os Stones, mas pela tua forma de ler as entrelinhas compreendi melhor.
ResponderExcluirO "Let it Bleed" tem um outro fator que diferencia os Stones de qualquer outra banda e até deles mesmos depois disso: é o último disco com o Brian Jones antes do cara morrer. Baita arranjador, era ele o responsável pelas ideias de coral de "You can't...", pela guitarra wha-wha de "Gimme" ou a base de vibrafone de "Under my Tumb", do Aftermath, por exemplo. Mesmo as músicas sendo da dupla Jagger e Richards, era ele quem dava personalidade para as músicas. Coisa que, por mais que os Stones tenha continuado a ser bom e até espetacular em outros momentos posteriores, ss canções stonianas nunca mais tiveram tamanha personalidade e diferencial.
Abç,
Dã.