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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Eu vou torcer pelo Dunga

Não sou dos mais fervorosos torcedores de Seleção Brasileira. É meio que natural de nós gaúchos que de certa forma temos “outra pátria”. Pra nós, mais do que pra qualquer outro torcedor no país, nossos clubes, Inter e Grêmio, estão acima da Seleção e nos orgulhamos muito por exemplo de nunca termos perdido pra seleção nacional quando houve enfrentamento com a Seleção Gaúcha. Tem o clássico episódio que já contei no blog, do 3x3 no Beira-Rio em 1972 que a gauchada queria matar um “brasileiro” que vibrara com um gol dos Canarinho.
Não fiquei indiferente aos títulos. Vibrei sim com os títulos de 94 e 2002, mas tenho que admitir que há bastante tempo não me empolgo com Seleção. Acho que nem no fracasso de 82, quando tinha 8 anos, não fiquei muito decepcionado porque na verdade não me dizia muita coisa o Brasil sair de uma Copa. Eu já sabia que tinha outros tantos participantes e podia ganhar ou perder, ué! Acontece! Desde aquele tempo fiquei com a sensação de que o povo e a imprensa acham que a Seleção Brasileira joga Copa sozinha e é só formalidade ir lá buscar a taça. E não é. Sem contar que, mesmo criança, aquele time não me inspirava muita confiança depois de ter ganho com as calças na mão da URSS, ter dado show nos galinhas–mortas da Nova Zelândia e só ter, até o jogo com a Itália, jogado bem mesmo UMA vez, contra a Argentina. Mas deixa isso pra lá.
O que acontece é que pra mim Copa do Mundo nos últimos tempos mais atrapalha do que me interessa. Estou muito mais interessado no que vai acontecer na semifinal da Libertadores, na seqüência do Brasileirão, nas finais da Copa do Brasil do que em Copa do Mundo. Adoro futebol e por isso vou assistir ao máximo de jogos (interessantes) que puder; mas é porque existe e está ali, no mais, se pudesse não ter ou quem sabe se não fosse agora, seria melhor.
Por conta deste desestímulo, estava com uma indiferença enorme em relação à Seleção Braileira. Estava na verdade torcendo mais pra Inglaterra, com quem simpatizo bastante e acho que está na hora de ganhar de novo aproveitando a melhor geração desde o título de 66; ou para a Holanda que duas vezes com times muito bons bateu na trave ou mesmo, quase inutilmente, para a Celeste Olímpica, que não tem a menor chance. Mas no fim das contas resolvi que vou torcer SIM para o Brasil. Ou melhor: vou torcer pro Dunga.
só me estimula mesmo torcer para o Brasil pra parar esta babaquice coletiva de pegar no pé do cara. E sem motivo! Talvez tenha sido a seleção brasileira que chega mais confiável, coesa, fechada e entrosada. Ganhou Copa América, Copa das Confederações, chegou em primeiro nas Eliminatórias classificando com antecipação e em todo o tempo desde que o cara assumiu desacreditado (a princípio até por mim) só perdeu 5 partidas, sendo que ganhou fácil da Itália, goleou a Argentina (duas vezes) e ainda ganhou na casa deles nas eliminatórias, destruiu Portugal com um 6x2, e deu um chocolate no Uruguai em Montevidéu como há muito não acontecia.
Agora porque não convocaram este fulaninho ou aquele, a IMPRENSA, principalmente de RJ-SP, põe na cabeça do povo, que é burro e influenciável, que a seleção é fraca, que tá tudo errado, que tem muitos volantes, que não tem talento, que é uma seleção sem técnica. Ah, peraí um pouquinho! Não tem técnica quem faz aquele gol de troca de passes contra a Itália na Copa das Confederações? E foi um dos "volantes". E aquele do Luís Fabiano contra a Argentina em Rosário não teve técnica. velocidade, conclusão, beleza? E o que falar dos gols contra Portugal? Todos trabalhados.É triste principalmente neste época de Copa quando muito mais mulheres, crianças e pessoas que não acompanham futebol o ano inteiro passam a se ligar na seleção, como a informação chega moldada pra estas cabeças e aí fica fácil formar opinião de quem não tem nenhuma e está ávido exatamente para que, os teoricamente entendidos e profissionais, lhes transmitam alguma coisa. O problema é que muitos não são entendidos, outros estão ultrapassados e muitos sequer são profissionais, permitindo que vaidades, interesses regionais ou pessoais influenciem em suas críticas.
Vou torcer pelo Dunga para que ele prove que o que está tendo é coerência. Palavra tão cobrada de outros treinadores e seguida profissionalmente por Dunga, mas que desta vez curiosamente está sendo desdenhada e ridicularizada pela crônica esportiva. Vou torcer para o Dunga para que ele mostre que convocou quem convocou porque fazia parte de um projeto, de um interesse comum, de um compromisso coletivo, ao contrário do que acontecera, principalmente na Alemanha em 2006 quando se sobrepunham os interesses individuais deste atingir tantos gols, do outro atingir tantos jogos, daquele bater tal recorde, e incrivelmente, alguns daqueles jogadores não só foram perdoados como tiveram seus nomes reclamados no atual grupo. Poucas vezes, desde que os calendários ficaram mais apertados, que os jogadores brasileiros em sua maioria passaram a atuar fora, que a Seleção Brasileira conseguiu montar um TIME. Dunga mesmo encontrando seus jogadores a cada 3 ou 4 meses tem o grupo como se os visse todos os dias e isso é um mérito ao contrário do que querem fazer parecer. Não se pode num grupo assim colocar elementos “estranhos” sem que tenham comprovada uma integração, por mais que seja comprovada sua qualidade, mas que, por outro lado, não tenham provado sua estabilidade. E aí falo dos tais “Meninos da Vila” que não poderiam sem mais nem menos figurar numa lista de Copa do Mundo por terem jogado bem durante 3 meses. É fantasioso, amigos. É fácil para um comentarista falar mas ele não o faria. Você não faria na sua empresa, no seu grupo de trabalho. Pense nisso.
A impressão que tenho é que como a coisa chegou muito tranqüila, muito favorável, estão botando”pêlo em ovo’. Estão preparando a explicação para um eventual fracasso já com uma defensiva que é ofensiva, tipo, “eu não disse?”, “nós avisamos”, quando era hora de louvar esta estabilidade do grupo, dos resultados, e deixar trabalhar com tranqüilidade. É lógico que a relação Dunga-imprensa fica agravada na medida em que o técnico não oferece as facilidades que os jornalistas estão acostumados, não fala o que os eles querem ouvir e demonstra uma convicção poucas vezes vista mesmo em treinadores mais calejados o que não dá margem a especulações nem palpites. Definitivamente não era o que a imprensa queria.
Depois de servir de ‘bode expiatório” do equivocado sistema do Lazaroni servindo de apelido pejorativo para uma ERA de futebol dito ruim, e, incrivelmente, não convencendo mesmo ganhando em 94 por causa da babaquice do tal de futebol arte, que eu não sei do que se trata (o lançamento de 3 dedos do Dunga pro gol do Romário contra Camarões não conta, o golaço com “passo de balé” do Romário contra a Holanda não conta, o gol do Bebeto deixando o goleiro no chão e quase entrando com bola e tudo não conta), Dunga vê-se, de novo tendo que brigar contra tudo e contra todos pra provar que está fazendo a coisa certa, que futebol é coletivo, que Seleção é coisa séria, que tem hora pra jogar sério e hora de dar de calcanhar, e etc., etc., etc. E por que que está tendo que provar essas coisas é que, sinceramente, eu não sei.
Não tem nada a ver com ser colorado ou gaúcho, mas por toda essa pegação de pé injustificada eu vou torcer mais pro Dunga ganhar a Copa do que propriamente a Seleção Brasileira. Espero que este, sim, vocês tenham que engolir.


Cly Reis

3 comentários:

  1. Clayton,
    venho pensando nisso direto e concordo muito com várias coisas que tu disseste. E tu levantaste uma questão que tenho me deparando particularmente, mas que nem tinha notado: a de que a mídia confunde e atrapalha aqueles que não "vivem" futebol igual a nós durante o ano mesmo sem Copa. Digo isso porque a Sandra, como a maioria dos brasileiros, adora a época de Copa, e passa, automaticamente, a ficar mais ligada às questões futebolísticas. Mas, como boa parte das mulheres, não entende tanto de futebol, embora seja bem esforçada. E ela tem escutando muitas dessas críticas furiosas minhas bem dentro disso que tu colocaste.
    Na verdade, filosofando sobre o assunto, acho que tudo isso ainda é consequência do Maracanaço de 50. Parece que o consciente coletivo do brasileiro não se desvencilhou daquele trauma, transformado em vexame o que poderia ser uma derrota normal, tudo por causa da falta de humildade de um povo mentalmente infantil. O Brasil fez igual ao que os americanos fazem na maioria de suas coisas: entram já dando a vitória como certa. Poucas seleções conseguiram o feito de chegarem a uma final e serem vice - e, na grande maioria, são apenas os que já se sagraram campeãs em outras edições, deixando poucas outras como Suécia e Holanda nesta lista. Mas para uma nação em formação como o Brasil ganhar 50 representava mostrar para o papai que a criança já era gente grande. Quando não era. Precisou 8 anos mais para, daí sim, estar mais madura e responsável (e sem empáfia) para vencer. Só que essa vitória foi tão marcante que a falta de maturidade brasileira, ao invés de incentivar para se aperfeiçoar taticamente, criou a tal da "arte" do futebol, e aí fodeu tudo. Ainda por cima, veio 62 e 70 para confirmar que o Brasil é realmente diferenciado quando o assunto é técnica.
    Então, nunca mais nos livramos dessa não-assimilação coletiva criada na cabeça do brasileiro. Essa pressão pra cima do Dunga não é de hoje. Foi assim com o Zagalo em 98, com o Parreira em 2006 e bastante com outro gaúcho, Felipão, em 2006, só para citar os da fase pós-Tetra.
    No fim das contas, sabe o que eu acho? Que a maioria dos brasileiros, por não ter se resolvido disso, NÃO torce pela Seleção. A primeira vontade do brasileiro é ver seu ego inflar com o mundo dizendo o quanto somos bons. E dar razão àquela ilusão de 50, de que basta entrar em campo para vencer. Mas, como todo caso psicológico mal resolvido, isso entra em conflito quando esse futebol arte joga mas não ganha. Igual a 82. Cheguei a ouvir a asneira do Sócrates de dizer que vitória não interessa: o importante é ser feliz vendo a Seleção dar “espetáculo”. Pode?! Outra bobagem que ouvi foi o deboche de que o Dunga fala tanto em "futebol de resultado", mas que qualquer jogo termina com um resultado. Ah, é? Dá vontade de perguntar se ele gostou do resultado da final de 98 ou da eliminação para a Argentina em 90. Foram "resultados" tanto quanto, né? (CONTINUA)

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  2. Clayton,
    venho pensando nisso direto e concordo muito com várias coisas que tu disseste. E tu levantaste uma questão que tenho me deparando particularmente, mas que nem tinha notado: a de que a mídia confunde e atrapalha aqueles que não "vivem" futebol igual a nós durante o ano mesmo sem Copa. Digo isso porque a Sandra, como a maioria dos brasileiros, adora a época de Copa, e passa, automaticamente, a ficar mais ligada às questões futebolísticas. Mas, como boa parte das mulheres, não entende tanto de futebol, embora seja bem esforçada. E ela tem escutando muitas dessas críticas furiosas minhas bem dentro disso que tu colocaste.
    Na verdade, filosofando sobre o assunto, acho que tudo isso ainda é consequência do Maracanaço de 50. Parece que o consciente coletivo do brasileiro não se desvencilhou daquele trauma, transformado em vexame o que poderia ser uma derrota normal, tudo por causa da falta de humildade de um povo mentalmente infantil. O Brasil fez igual ao que os americanos fazem na maioria de suas coisas: entram já dando a vitória como certa. Poucas seleções conseguiram o feito de chegarem a uma final e serem vice - e, na grande maioria, são apenas os que já se sagraram campeãs em outras edições, deixando poucas outras como Suécia e Holanda nesta lista. Mas para uma nação em formação como o Brasil ganhar 50 representava mostrar para o papai que a criança já era gente grande. Quando não era. Precisou 8 anos mais para, daí sim, estar mais madura e responsável (e sem empáfia) para vencer. Só que essa vitória foi tão marcante que a falta de maturidade brasileira, ao invés de incentivar para se aperfeiçoar taticamente, criou a tal da "arte" do futebol, e aí fodeu tudo. Ainda por cima, veio 62 e 70 para confirmar que o Brasil é realmente diferenciado quando o assunto é técnica.
    Então, nunca mais nos livramos dessa não-assimilação coletiva criada na cabeça do brasileiro. Essa pressão pra cima do Dunga não é de hoje. Foi assim com o Zagalo em 98, com o Parreira em 2006 e bastante com outro gaúcho, Felipão, em 2006, só para citar os da fase pós-Tetra.
    No fim das contas, sabe o que eu acho? Que a maioria dos brasileiros, por não ter se resolvido disso, NÃO torce pela Seleção. A primeira vontade do brasileiro é ver seu ego inflar com o mundo dizendo o quanto somos bons. E dar razão àquela ilusão de 50, de que basta entrar em campo para vencer. Mas, como todo caso psicológico mal resolvido, isso entra em conflito quando esse futebol arte joga mas não ganha. Igual a 82. Cheguei a ouvir a asneira do Sócrates de dizer que vitória não interessa: o importante é ser feliz vendo a Seleção dar “espetáculo”. Pode?! Outra bobagem que ouvi foi o deboche de que o Dunga fala tanto em "futebol de resultado", mas que qualquer jogo termina com um resultado. Ah, é? Dá vontade de perguntar se ele gostou do resultado da final de 98 ou da eliminação para a Argentina em 90. Foram "resultados" tanto quanto, né? (CONTINUA)

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  3. Então, Clayton, não se iluda: a maioria torce contra o Brasil sem saber porque está fazendo isso, pois precaveem-se para não serem pegos de surpresa como em 50. Com medo do fracasso, melhor achar um culpado antes para se sentirem com razão caso as coisas não deem certo depois. E se derem, mesmo assim, vão vibrar com um grito de gol entre os dentes, como em 94, pois não têm a humildade de admitirem que sabiam que estavam errados desde o início. A necessidade de achar justificativa para essa injustificável implicância com o Dunga chega a ponto de se ouvir falar que a Seleção de 2002 é que era boa, pois jogava o tal futebol arte. Tu te lembras que a cada jogo que o Brasil ganhava TODO mundo sentava o pau, e que disseram ter sido esta uma Copa fácil? É óbvio porque pareceu fácil: o Felipão preparou o time para ganhar. No fundo, eu, tu e mais uma meia-dúzia de bem resolvidos é vamos vibrar quando a Seleção ganhar, que eu acho que vai. E se perder, o mais irritante vai ser ouvir que se tivesse levado o Neymar, que no semestre passado, quando podia ser convocado ainda, não acertava uma bola em gol, salvaria a pátria. Haja saco! Dã.

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