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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Kraftwerk - "Radio-Activity" (1975)



"O Kraftwerk é tão influente quanto os Beatles na música popular na segunda metade do século XX."



Eles são uma espécie de últimos herdeiros da tradição musical alemã. Filhos indiretos de Schubert, Bach e Beethoven. Representam ainda hoje um patamar elevado de vanguarda, experimentação, originalidade e ousadia no que diz respeito a método e técnica, e de concretismo e minimalismo no tocante à linguagem; sem renegar, contudo, sua evidente influência da música clássica, na qual sempre mantém um pezinho mesmo quando levam sua sonoridade industrial aos limites.
O Kraftwerk, especialmente nos anos 70, tratou de 'humanizar" sons mecânicos, industriais, tecnológicos e dar vida ao que não tinha som até então. E que ironia, logo eles com seu aspecto, comportamento e sonoridade quase mecânicos.
Foi assim com "Radio-Activity", álbum conceitual, todo concebido a partir do tema básico ENERGIA. Ela e seus usos, resultados, reflexos e consequências, sendo explorados em todas as suas formas e meios de emissão, propagação, produção, etc. "Radio-Activity" vai de ondas de rádio a materiais radioativos; de simples sinais sonoros a energia nuclear. A genial abertura, por exemplo, é um contador geiger que aproximando-se da fonte de radiação, acelera seu sinal e por fim incorpora-se à percussão da faixa-título, "Radioactivity".
As composições minimalistas e mais ritmadas que nos álbuns anteriores, inserem perfeitamente o disco no contexto pré-punk da metade dos anos 70. "Airwaves", uma das melhores, é exemplo evidente da proposta e daquele panorama musical. Acelerada, palpitante, com um ritmo mais agressivo e constante.
Já "Radioland", antecipa a tendência dark do início dos anos 80 com uma batida marcada e ôca; soturna e sombria.
Faixas como "News" e "Radio Stars", podem ser subestimadas numa primeira audição, parecer meros ruídos ou repetições cansativas, mas se bem ouvidas e analisadas com a devida atenção, revelam uma musicalidade muito peculiar, só que nós, meros mortais (excessivamente humanos) não teríamos descoberto isso sozinhos até que alguém resolvesse chamar de música.
Ainda a se destacar a ótima "Antenna" com sua levada mais elétrica, também já influenciada pelos punks precoces, e a derradeira "Ohm Sweet Ohm", mais uma homenagem ao rádio, numa melodia que cresce de um ritmo melancólico a um final grandioso.
A capa é outro elemento interessante: além do nome dúbio (rádio + atividade), a arte é de uma simplicidade e de uma genialidade admiráveis. Uma frente de rádio antigo na capa, e na contra, a parte de trás do aparelho. Só isso. E precisava mais? Tecnologia, energia, evolução, modernidade, comunicação, música... tudo ali. Imagens que valem por muitas palavras e suscitam inúmeros sons.
O mais incrível é, hoje, a gente ouvir qualquer coisa, não apenas da cena eletrônica mas mesmo do universo pop e rock e ver que ali tem Kraftwerk; desde um conceito, um ruído, uma base, um sampler, uma ideia. Talvez só encontremos tamanha evidente influência no universo pop-rock com os Beatles.
Kraftwerk está em tudo!
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FAIXAS:
  1. "Geiger Counter" – 1:07
  2. "Radioactivity" – 6:42
  3. "Radioland"– 5:50
  4. "Airwaves" – 4:40
  5. "Intermission"– 0:39
  6. "News"– 1:17
  7. "The Voice of Energy" – 0:55
  8. "Antenna" – 3:43
  9. "Radio Stars"– 3:35
  10. "Uranium"– 1:26
  11. "Transistor" – 2:15
  12. "Ohm sweet Ohm" – 5:39
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Ouça:
Kraftwerk Radio-Activity


Cly Reis

Um comentário:

  1. Bá, é incrível o impacto que Radio-Activity causou em mim. Pirmeiro por causa da capa daquela primeira versão em vinil que tivemos (lembra? Era uma reedição de 1980, se não me engando, bem velha). As dimensões da mídia vinil, aquele formato quadrado e grande, impressiona muito depedendo da capa, e os artistas mais ligados sabiam muito bem se valer deste aspecto visual quando a indústria do vinil estava a pleno como naquela época. Depois, além da capa, esses elementos que tu pincelaste muito bem na resenha: ruídos que se musicalizaram na minha cabeça, silêncios que precisavam existir, a interação do homem com a tecnologia, a identificação de várias tendências do pop de antes e que viriam depois, etc. E a sonoridade! O que dizer da sonoridade? Mecânica, digital, que o Kratrock alemão do final dos 60 (movimento do qual o próprio Kraftwerk integrava junto com Neu!, Faust, Klaus Schulze e outros) já havia criado, mas é em Radio-Activity que parecem ter tomado a forma definitiva. Tão definitiva que, a partir deste disco, nunca mais a música pop ficou sem um "quê" de Kraftwerk, do rap a drum n' bass, do pós-punk ao axé, da disco ao reggae.
    Além disso, particuolarmente, este disco e outros do Kraftwerk, mas principalmente Radio-Activity, "treinaram" meu ouvido para coisas que eu viria a descobrir anos depois, como os caras da vanguarda erudita. Sem a intenção e nem compromisso de serem pop como o Kraftwerk, caras como Stockenhausen, John Cage, Milton Babitt, Paul Verése e outros já anos 50, através da música eletroacústica, souberam entender que esses sons e ruídos podiam ser música. Mas certamente ninguém soube "organizar" esses sons de forma tâo agradável ao ouvido como o Kraftwerk.
    Abç,
    Dã.

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