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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

cotidianas #402 - Clichês



Aquele pequeno chalé não tinha nada de luxuoso, no entanto, sua localização, encravado entre as montanhas do norte, cercado por uma mata selvagem, somados à sua aparência rústica conferiam-lhe um ar convidativo e até, por que não dizer, aconchegante. Naquela noite, enquanto os amigos Bob e Sarah haviam saído para dar uma volta e tomar um pouco de ar puro, Bruce e sua namorada Jessica preferiram permanecer na casa  recolhidos ao calor da lareira.
- O que foi, você está tão agitada? Vamos aproveitar que o Bob e a Sarah saíram e vamos lá pro quarto curtir um pouquinho. - sugeriu o Bruce já enfiado a mão por baixo da blusa da garota.
- Não sei, não sei.- disse retirando a mão do namorado e logo empertigando-se desconfiada - Tem alguma coisa errada com isso tudo, esse lugar.
- Não tem nada de errado, amor.- tentou tranquilizá-la já procurando seus seios novamente com a mão.
- Para, Bruce, para! Eu estou dizendo que não gosto nada disso tudo: essa casa no meio do nada, do mato, você disse que alugou de uma mulher desconhecida, não foi?
- É, não exatamente desconhecida. A mulher disse que conhecia minha mãe, de muito tempo atrás, que tinha me visto nascer e tal. Falou da casa e perguntou se eu não gostaria de passar uns dias no campo. Eu achei que seria bom pr'a gente dar uma namoradinha longe dos chatos dos seus pais e de tudo mais - completou já tentando novamente agir com a mão boba.
Ela retirando a mão com veemência então prosseguiu:
- Viu? Isso, e mais o fato da casa ser tão retirada, tão sinistra, nós dois sozinhos na casa, o Bob e a Sarah saírem assim de noite pra passear no mato, aquele alçapão ali, um sótão... Você nunca viu filmes de terror? "A Morte do Demônio", "Anticristo", "O Segredo da Cabana", "Sexta-Feira 13"...?
- Deixe de bobagem, Jess! Não tem nada de errado por aqui.- e começou a ordenar a situação com o máximo de paciênca possível de modo a se fazer entender e tranquilizá-la - A casa foi uma sorte, uma oportunidade pr'a gente ficar juntinhos, ela é afastada exatamente pra ninguém nos incomodar.
- Não sei não. - exclamou cada vez mais nervosa - É sempre assim, algum psicopata, alguma entidade maligna... E o Bob e a Sarah? Viu, eles estão demorando. Alguma deve ter acontecido com eles.
- O Bob e a Sarah devem estar é "se divertindo"  muito, se você quer saber... - sugeriu maliciosamente.
- E se a essas alturas um serial-killer tiver enfiado uma faca enorme no Bob, se um zumbi ou lgo assim tiver arrancado um pedaço da Sarah a dentadas e ela tiver se transformado em um deles?
- Baby, realmente você assiste a filmes demais. Eu já disse não tem nada de errado aqui. Daqui a pouco os dois vão entrar bem felizes por aquela porta com a roupa cheia de grama de terem rolado no chão.
- E naquele sótão? - disse agora apontando para a tampa de visita no teto - E se tiver um amuleto, um livro, uma caixa, um demônio que quando libertado fizer algum de nós sair matando os outros brutalmente como se nunca tivéssemos nos conhecido.
- Agora você está exagerando, Jessie.
- Vamos sair daqui, Bruce, Vamos, por favor - insistia agora quase histérica.
-Calma, calma, amorzinho. Eu vou abrir e provar para você que não tem nada ali.
- Não, Bruce, não faça isso.
- Fique calma, nada vai acontecer. - acalmou-a já dando passos em direção ao sótão.
Assim que puxou a cordinha suspensa presa à tampa do alçapão e a escada embutida nela se armou, a ponta do atiçador da lareira entrou por sua nuca, atravessou-lhe o crânio e saiu pela fronte, entre os olhos.

*********

- Um verdadeiro açougue.
Assim o detetive Mark Travis respondeu à pergunta de seu colega James Bradley sobre o que havia se passado ali. E caminhando ao lado deste último, percorrendo a cena do crime foi descrevendo o que, pelas evidências, aprecia ter acontecido:
- Parece que aquela moça ali, Jessica Rollins, - começou a relatar apontando para a garota algemada, paralisada, com um olhar frio fixado no nada - pirou de vez e enfiou um atiçador nos miolos do namorado, depois quando os amigos, deixe ver... Bob Molton e Sarah Leigh, que, provavelmente, não estavam na casa na hora da primeira morte, entraram ela enfiou o machado da lenha no meio do peito do cara, arrancou parte do rosto da garota com uma mordida e depois a decapitou com o mesmo machado.
- Como sabem que aconteceu nessa ordem? - quis certificar-se o detetive.
- Numa primeira análise o legista afirma que a morte do casal ocorreu pelo menos uma hora depois da do namorado, e tem o detalhe da posição dos corpos, o do homem próximo à soleira da porta como se tivesse sido recebido com a machadada, tem os sinais de luta das duas, cabelos de Jessica nas mãos da vítima... tudo dá a entender que tenha acontecido assim. - resumiu o outro.
- Sim, acredito que não haja dúvida. - confirmou passando os olhos pela cena do crime - Em todo caso, mande darem uma busca na área, na casa, verem se encontram alguma coisa relevante.
- Já mandei, Jim. Não encontramos nada demais: os objetos pessoais da nossa matadora, das vitimas, os objetos da lareira usados como armas, algumas quinquilharias no sótão, alguns retratos antigos, ah, e... essa papelada esquisita. Parece, tipo, pergaminhos... Tem uns desenhos esquisitos e estão numa escrita que eu nunca vi. Olha só.
Bradley examinou rapidamente o material, fez cara de estranheza, de indiferença e por fim ordenou:
- Deixem isso onde encontraram. Não deve ter nenhuma relação com o que aconteceu aqui.


Cly Reis



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