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quinta-feira, 23 de junho de 2016

"Essa Loucura Roubada Que Não Desejo A Ninguém A Não Ser A Mim Mesmo Amém", de Charles Bukowski - ed. 7Letras (2015)


"Não tenho a intenção de glorificar a poesia.
Mas ela é a #1.
Não se brinca muito com ela...
Há um pouco mais de intensidade no poema
porque tenho que dizê-lo num espaço menor."
Charles Bukowski



Sou um grande fã de Charles Bukowski mas que curiosamente só fui conhecer sua poesia por último. Primeiramente tive contato com seus contos com "Crônica de um Amor Louco","Numa Fria"; conheci seus romances com "Pulp" e "Hollywood"; suas crônicas em "O Capitão Saiu Para o Almoço e Os Marinheiros Tomaram Conta do Navio"; mas seu segmento literário mais numeroso e que ele mesmo considerava sua maior expressão só chegou a mim nos últimos tempos com "O Amor é Um Cão Dos Diabos" e não à toa, desde então, impressionou-me sobremaneira e conquistou-me definitivamente.
"Essa Loucura Roubada Que Não Desejo A Ninguém A Não Ser A Mim Mesmo Amém" é absolutamente fascinante. Poesia certeira. Poesia intensa. Poesia total. É Bukowski total. Toda seu universo está presente naquelas poesias de formas diferentes, ora com melancolia, ora com agressividade, ora com ternura, ora com sua brutal sinceridade, mas sempre com aquela imensa sensibilidade que muitas vezes parece improvável pra um "mero beberrão pessimista". Não, quem pensar assim é porque não penetrou a fundo na obra deste artista que retrata a alma humana e o cotidiano de forma tão honesta e realista. E quando eu digo a fundo não exijo que um leitor passe toda a bibliografia do autor em revista, sugiro é que no mais simples parágrafo, na frase mais sutil, no menor poema, consiga mergulhar de cabeça e entender a essência.
A competentíssima coletânea organizada por Fernando Koproski, apanhando especialmente poemas da fase inicial do autor, tem o grande mérito de preservar essa honestidade artística de Bukowski por conta de uma tradução extremamente fiel e pela distribuição dentro da publicação, dividindo as "facetas" do autor em segmentos, conferindo identidade a cada trecho, estreitando a relação da obra com o leitor e fazendo com que cada parte soe com um livro independente sem perder, contudo, sua unidade. O primeiro segmento, "Há Um Lugar No Coração" vai ao encontro de seus temas mais voltados a situações amorosas e dissabores. Relacionamentos, brigas, mulheres, sexo, solidão e, no fundo, toda a magia que se esconde atrás de situações muitas vezes até desagradáveis, estão contidos neste capítulo. O segundo é "Este é o Meu Piano" onde Bukowski fala sobre a sua arte, sua escrita, sua máquina de escrever, sua arte. Muitas vezes de forma terna, belíssima, carinhosa, mas em algumas sobrando estilhaços para todos os lados. Bem característico dele, não? O último, "Como Uma Lua Alta Sobre a Impossibilidade" talvez seja o que carregue aquela aura um pouco mais pessimista pois fala da existência de um modo geral e muitas vezes para falar disso não há como não ser... realista. Mas Bukowski é tão notável em sua poesia que mesmo não nos poupando de toda a crueza dos fatos e do mundo consegue, sem apelações ou afetações, deixar no ar uma ponta de esperança e essa era grande parte de sua magia.
Como disse no início, tenho ainda pouca bagagem especificamente a respeito da poesia de Charles Bukowski mas creio que seja daqueles que, como disse anteriormente, tenha conseguido sentir sua escrita desde muito, independente do formato, assim, no que diz respeito a poemas, posso afirmar, desde já, sem medo de estar sendo precipitado, que, dos que li, "Esta Loucura..." já tem para mim um lugar no coração.


Cly Reis

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