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sábado, 30 de junho de 2018

"Oldboy", de Park Chan-Wook (2003) vs. "Oldboy, Dias de Vingança", de Spike Lee (2013)



Tipo da refilmagem que... pra que? Pra dar características mais ocidentais, pra redimensionar o protagonista, pra fazer muito dinheiro? Pode ser, embora ache que não tenha alcançado sucesso em nenhum dos objetivos. Mas só pode ter sido algo assim, porque se era pra fazer melhorar, fracassaram estrondosamente. 'Oldboy", filme coreano de Park Chan-wok, de 2003, sensação no festival de Cannes do ano seguinte quando venceu o prêmio de Grande Prêmio do Júri, é uma daquelas pequenas novas obras de arte do cinema. Ainda que tenha alguns problemas de amarração, uma certa confusão na primeira parte, o longa não deixa de ser intrigante e sedutor em momento algum. O drama de um homem, Dae-Su, aprisionado misteriosamente por quinze anos tomando conhecimento lá, de dentro de seu cativeiro, que sua esposa fora assassinada e que ele, incrivelmente, é acusado do crime, e que sua filha, que tinha três anos quando fora preso, está viva, aproxima-nos do protagonista e faz com que nos solidarizemos com ele. Mas os mistérios vão se abrindo, se descortinando e começa a vir à tona que Dae-Su teria cometido um ato muito grave. Mas o que teria sido tão sério para tamanha vingança? Não vou revelar porque para quem não assistiu, seria um spoiler imperdoável, mas o fato é que Park Chan-wok nos mantém envolvidos e interessados o tempo inteiro com uma direção ágil, dinâmica, cheia de ousadias, sacadas de edição e uma fotografia notável, muito próxima à linguagem de quadrinhos que, a propósito é a inspiração de "Oldboy", originado de um mangá japonês.
Aí, dez anos depois, aparece uma refilmagem pelas mãos de Spike Lee e a gente pensa que ele vai fazer a coisa certa mas, não, pelo contrário, não só ele não dá nenhuma contribuição, como consegue piorar tudo. Diante de uma obra praticamente irretocável, Lee, possivelmente na intenção de dotar sua versão de alguma originalidade e autoralidade, faz algumas escolhas bem discutíveis. Nada que comprometesse a trama em si, que permanece basicamente a mesma, mas mexe com alguns elementos que, se não eram chave, faziam parte de todo um charme da história original. Novamente sem dar spoiler, mas a forma como seu protagonista, no caso Joe Ducett (Josh Brolin), conhece a garota; o personagem central do motivo de sua punição, a reação de Joe quando descobre a verdade; a mudança do final; todas são, opções de roteiro,e por consequência de direção, no meu ponto de vista, extremamente equivocadas e que só contribuíram para desvalorizar a mal-sucedida tentativa norte-americana de refilmar este novo clássico do cinema.

Cena da luta - Oldboy (2003)



Cena da Luta - Oldboy, Dias de Vingança (2013)

Diretor por diretor, embora não conheça a fundo a obra do coreano, Spike Lee tem uma filmografia  mais badalada com alguns títulos de indiscutível importância no cinema moderno, mas aqui, no seu Oldboy, parece aquele técnico que pensou mal o jogo, entrou com um esquema estapafúrdio e, não deu três minutos, já saiu tomando gol. E aí, amigo, com um adversário cheio de graça, cheio de molecagens, não deu mais pra buscar.
Oldboy 2013 leva outro pelo fato de tomar a liberdade de fazer as pequenas alterações mencionadas anteriormente; outro por conta da fotografia do original que com seus quadros estáticos, parecendo quadrinhos, causam uma sensação, ao mesmo tempo de admiração e inquietação no espectador; toma mais um na comparação da famosa cena da luta, um plano sequência de tirar o fôlego que, na refilmagem parece artificial, excessivamente americana, diante da naturalidade, da maestria, da técnica, da gana com a qual é feita na coreana. Já tá 4x0!
Oldboy de Spike Lee parece não entender o que está se passando em campo e leva outro só por causa daquele vilão inexpressivo e excessivamente afetado vivido por Sharlto Copley. Nesse caso, não que original fosse muito melhor, mas é que o da segunda versão é inqualificável.
Completamente perdido em campo, o novo Oldboy leva mais um pelo fato de ter mexido com um elemento, que se não era fundamental, era muito significativo no final e que quem viu o filme sabe do que se trata, mas que eu corto a língua de quem revelar. E no finalzinho, o bom diretor norte-americano numa jornada infeliz, ainda vai buscar mais uma no fundo da rede por ter se metido de pato a ganso em tentar refazer, imitar, superar, igualar a pequena joia de Park Chan-wook. A violência gráfica com cenas chocantes, explícitas, ainda que não representem ganho em relação ao original, garantem, no entanto, um golzinho de honra, uma vez que caracteriza um diferencial válido na refilmagem. Mas ficamos por aí... Parecia um pesadelo. Parecia a Alemanha em 2014. Um estrondoso 7x1 do Velho Oldboy sobre o Novo. Muito justo o placar. Um banho de bola... ou melhor, de cinema.
Dae-su e Ducett, em busca de vingança com martelo em punho.


Park Chan-wook, técnico dos Garotos de 2003, apesar da esmagadora vitória é expulso pelo juiz da partida por sair da área técnica e reclamar demais da arbitragem.
Fala demais, fala demais...





Cly Reis

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