"Mamã kudilė ngö"
"Na vida do rei da música angolana encontrei o percurso de todos nós, angolanos. Elias fala por todos os Elias, todos os mais velhos de Angola".
Marta Santos
“O lamento transmitido na canção do povo de Luanda, que enfrentava o colono, e que o Elias espalhou por Angola inteira através da sua voz, constituiu uma forma de clamar o socorro para a liberdade do seu povo do jugo colonial”.
Marta Santos
O homem que recebeu na era colonial, pela mão do Luís Montez, o título de “rei da música angolana” quando o negro não era considerado gente, era menos que uma coisa. Ficou em terceiro lugar num festival de ex-colônias, em Santarém, Portugal. Foi chamado de fadista africano, porque diziam que: "Quando ele canta, minha alma encanta!" Santarém chorou e aplaudiu, mesmo não entendendo a letra e o dialecto. Sentiu o sentimento que a música carregava.
Em 1983, foi ao Brasil a convite do seu amigo Martinho da Vila para gravar com ele e Chico Buarque no grande projeto "Canto Livre de Angola".
Elias, hoje com 82 anos: voz e o percurso do povo angolano |
Elias Dya Kimuezu é bangāo, cheio de classe. Faz lembrar os clássicos americanos. Podemos facilmente perceber a humildade dele e a sua sensibilidade. A sua música, ou melhor, a essência das suas músicas, as suas canções são de lamento de quem lamenta a morte de alguém. Naquela altura, quando ainda eram colonizados, não se lamentava, só isso se lamentava, o sofrimento do povo, e até hoje o cantor não sai da sua canção, do seu ritmo. Porque a sua canção é invocação. Invoca a mãe, a dor invoca toda uma sociedade.
Elias Dya Kimuezu traz-nós a lembrança dos ancestrais, o mesmo lamento, a mesma dor.
Ele faz a transição do tradicional ao moderno.
Um breve retrato do homem, o músico, rei da música angolana que retrata, nas suas músicas factos quotidianos, da vida nos bairros suburbanos de Luanda.
Aprendi com meu pai a respeitá-lo e a apreciá-lo.
A mensagem de conforto do filho para a mãe angustiada que
vê, o filho partir a fim de se juntar aos combatentes da libertação, ou
deportado (“transportado”, no dizer do povo) para o trabalho forçado nas
roças de São Tomé e Príncipe.
Essa mensagem de esperança, na qual o filho acredita na
canção, “Mamã kudilė ngö”, do disco "Elias". É uma canção que acalma e limpa a lágrima da mamã
negra que vê o filho partir para não mais voltar. Elias lembra as mamãs negras
de Angola que “não chores mais, tu também sou teu filho...”
50 anos se passaram e eu tive o prazer de escrever o
livro-biografia de Elias Dya Kymuezu: "A Voz e o Percurso de um Povo".
E continuo a emocionar-me com as canções do rei da música
angolana.
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(NOTA DO EDITOR) Não há registro oficial quanto ao ano de lançamento do disco "Elias". Conforme a autora, também biógrafa do músico, a produção não ultrapassa o ano de 1970. Somando-se à informação de que o encontro de Elias Dya Kymuezo com o produtor angolano Valentim De Carvalho, produtor deste disco, ocorreu em 1969, creditou-se o lançamento para este ano.
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(NOTA DO EDITOR) Não há registro oficial quanto ao ano de lançamento do disco "Elias". Conforme a autora, também biógrafa do músico, a produção não ultrapassa o ano de 1970. Somando-se à informação de que o encontro de Elias Dya Kymuezo com o produtor angolano Valentim De Carvalho, produtor deste disco, ocorreu em 1969, creditou-se o lançamento para este ano.
Vídeo de "Zé Salambinga" para a TV francesa, 1989
por M A R T A S A N T O S
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FAIXAS:
01. Watiaña - Instrumental
02. Uá Ué Muxima - Ai Meu Coração
03 Monami, Uá Muxima - Meu Filho Do Coração
04. Samba
05. Ressurreição
06. Ku Iéku - Não Vás
07. Entrudo
08. Nhajinga - Waya - Instrumental
09. Zom - Zom
10. Muénho Uá Mutu - Vida Humana
11. Zé Salambinga
12. Mama Kudile Ngó - Minha Mãe Não Chores
Todas as faixas de autoria de Elias Dya Kymuezu
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Marta da Silva Santos nasceu em Luanda, Angola, em julho de 1963. Com 15 anos foi para Portugal, onde decidiu viver e estudar Direito. Escritora infantil, valoriza em sua obra a oralidade e a ancestralidade do povo africano. É a primeira angolana pertencente à Academia de Letras e Artes Luso-Suíça e Membro da Associação Portuguesa de Poetas. Além da biografia "Elias Dya Kimuezo: a voz e o percurso de um povo" (2012), é autora também dos livros "Gita e Outros Contos" (2006), "Contos de Cá, Pedaços de Mim" (2013), "A Fada Clodi" (2015) e "Tão Perto e Tão Longe: satisfação residencial e participação cívica nos bairros municipais de Lisboa" (2015).
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