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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cinema Marginal #5 - "Meteorango Kid, Herói Intergalático", de André Luiz Oliveira (1969)



Uma obra extremamente provocativa, tanto para o final dos anos 60, época de lançamento do filme, como para os dias atuais. Seu objetivo é tirar os jovens da zona de conforto e mostrar a eles que as mudanças que eles desejam tem que partir deles.
"Meteorango Kid, Herói Intergalático" narra as aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, anárquica e irreverente, mostra sem rodeios o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita.
Lula (Antônio Luiz Martins),
o nosso "herói"
Vou ser sempre repetitivo nesta parte, não espere que as obras marginais sejam um primor técnico pois os filmes são feitos praticamente de forma amadora, a cortes bruscos, cenas onde o áudio some e mais uma vez você, amigo, vai ter que superar isso, ok?
Se não é um primor técnico o longa é no mínimo muito bem realizado. Temos ótimas escolhas de câmera, a iluminação muito boa na maior parte das vezes, e as atuações, muito reais, dão margem de comparação entre as personalidades dos personagens, sobretudo com o “Vampiro” de "A Mulher de Todos". Esse foi o primeiro longa dirigido por André Luiz Oliveira que por conta de seu ótimo trabalho acabou sendo muito bem recebido pela crítica e pelo público. Menos pela censura.
A "viagem" e o discurso.
Que cena, senhoras e senhores!
Se você analisar o filme vai ver que ele é bem direto, utiliza do seu humor estranho e exagerado para fazer suas críticas sendo a juventude um dos seus principais alvos uma vez que muitos jovens ainda se encontravam numa zona de conforto presos a sonhos utópicos, alienados à cultura de astros de cinema e música, e aí encontra-se a explicação para o título do filme. Uma obra feita no local certo no momento certo: na Bahia, no final turbulento da década de 60, repressão forte, surgimento da tropicália e um sentimento de rebeldia surgindo com força. O longa tem um momento onde podemos ouvir como "trilha" de fundo o famoso discurso de Caetano Veloso de revolta com a juventude em "É Proibido Proibir", no Festival de 1968. Muito bom! Uma das cenas mais impactantes é quando Lula e seus amigos se reúnem em pequeno apartamento para fumar maconha. É uma cena longa na qual acompanhamos toda a viagem dos rapazes desde o cigarro sendo feito até a completa loucura na qual um deles saca a arma e acaba atirando (ou não) em outro no meio da “noia”. Além da cena ser muito bem filmada, com corte perfeitos, temos uma câmera subjetiva nesta cena que dá todo o suspense necessário. É simplesmente perfeita, mostrando todo o recurso técnico do diretor. Um grande destaque para o diálogo desta cena com o fenomenal o discurso que um dos amigos faz que mesmo em meio a todo a loucura da cena e muito bom. Ao final de seu monólogo o que senti foi “Nossa!Esse maluco cheio de erva na cabeça, está certo”.
Uma sociedade totalmente presa a valores atrasados que vende falsa ideia de família tradicional brasileira, uma juventude passiva, que se recusa a se rebelar com medo da não aceitação. Não o longa não é deste ano, é de 1969, mas fala a nossa língua. É um filme do nosso tempo. Um filme forte, um manifesto pela luta que na época era fundamental que existisse. Não temos mais a ditadura, mas a repressão ainda está por aí e os falsos ídolos também. "Meterorango Kid" convida-nos, ainda hoje, a não nos conformarmos a nos revoltarmos. Aceite o convite. Assista o filme. Rebele-se.
O que seria de um filme destes se fosse feito nos dias de hoje?
Talvez não fosse proibido mas com certeza sofreria sérios problemas.