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segunda-feira, 30 de março de 2020

"A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Mel Stuart (1971) vs. "A Fantástica Fábrica de Chocolate", de Tim Buton (2005)



Sabe aqueles velhos que vem com aquele papo, "Bom mesmo era o futebol no meu tempo!"?  Pois é... É mais ou menos a sensação que tenho em relação a "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Embora reconheça todos os méritos da refilmagem de Tim Burton, de 2005, não consigo deixar de gostar mais da versão original de 1971. Acho que por uma espécie de Síndrome da Sessão da Tarde, uma vez que este foi um dos filmes que mais assisti, e tenho certeza que não somente eu, nas tardes globais dos anos oitenta, numa época em que a sessão vespertina do mais popular canal aberto era tudo o que se tinha e não havia toda essa avalanche de canais exibindo filmes 24 horas por dia, sem falar streaming, aplicativos , plataformas e todas essas coisas que essa meninada de hoje em dia gosta.
Com uma grade de filmes muito menos ampla que as que os canais possuem hoje em dia, volta e meia repetia o filme daquele excêntrico proprietário de uma famosa fábrica de chocolate que permitia que cinco crianças que encontrassem a etiqueta dourada na embalagem nas barras do seu produto, espalhadas ao redor do mundo, visitassem sua empresa e as instalações de produção. O filme revelava, através da personalidade e cada criança e seu respectivo caráter, bem como dos pais que os acompanhavam no tour, uma crítica não somente à sociedade consumista e de aparências, como também à criação e educação que muitos pais dão a seus filhos fazendo delas criaturas mimadas, glutonas, prepotentes e alienadas. Lá, só o humilde Charlie, um garoto pobre que conseguira seu ticket dourado por pura sorte, com míseros trocados que achara na rua, fugia a essas características e por isso mesmo, aos poucos, vai ganhando a simpatia do dono da fábrica.
Mas minha preferência pelo antigo não se limita a uma mera nostalgia infanto-juvenil. O filme original é, na minha opinião, superior a seu remake em diversos pontos, a começar pela atuação sóbria e precisa no equilíbrio entre o cômico e o perturbador de Gene Wilder como Willy Wonka, em contraste com as expressões caricaturais de Johnny Depp, quase sempre exibindo um sorriso maníaco forçado e aquele olhar abobalhadamente distante. Prova dessa competência de Wilder no papel, é que um dos memes mais conhecidos da internet tem ele, em uma cena do filme, com uma cara tão cínica, tão enfadada, que o quadro passou a ser utilizado nas mais diversas situações de sarcasmo, descrença e desprezo. Outro ponto a favor do antigo é a concisão. O novo filme se alonga demais em coisas desnecessárias, tem flashbacks que não acrescentam nada, e acrescenta uma historinha da infância do chocolateiro que, ainda que remeta a família, a união, a compreensão, ok!, é, no fim das contas, de pouca contribuição para o resultado final ou para formar uma "mensagem". Pra ser justo, a origem dos Oompa-Loompas, que revela a origem dos pequenos pigmeus que trabalham na fábrica, e faz velada menção à escravidão dos povos negros, é uma dessas cenas de recuperação que é válida, interessante e é um gol a favor do filme de Tim Burton. Por outro lado, os homenzinhos do filme original, anões com seu tamanho natural, são melhores, na minha opinião, que os da refilmagem, onde um também anão é infinitamente multiplicado para representar todos os funcionários da fábrica e digitalmente reduzido ainda mais que sua estatura original, sendo que em algumas cenas o efeito não fica lá muito convincente.
Apesar do efeito discutível dos minúsculos funcionários da fábrica, a parte técnica é um dos pontos a favor do novo filme. Os efeitos especiais e sonoros são na maior parte das vezes muito bons e prestam bom serviço às pretensões do diretor. A propósito, a direção de Burton também é bastante competente, com suas tradicionais cores, ordem, profundidade e atmosferas soturnas. Os cenários e a direção de arte são bem característicos com distorções, maquinários e bizarrices que são a cara do diretor.
"Mas como assim? Se o remake é tão bom nisso, naquilo e naquilo outro, como é que o original ganha?". Eu disse que o original ganhava, eu não disse que seria fácil!
Pois bem, vamos então lance a lance, decidir esse confronto:
E a garota Violet, digo..., a bola rola na grama comestível do Wonka Stadium...
Gene Wilder em relação a Johnny Depp, pelos motivos já listados lá no início, é gol para o time de 1971; em compensação Freddie Highmore, que viria a ser o Norman Bates de "Bates Motel" e o médico de "The Good Doctor", ainda pirralho, como o garoto Charlie, é um ganho do remake: 1x1 no placar. A cena do garoto encontrando o bilhete é melhor na primeira versão: 2x1; mas a cena da entrada na fábrica com a musiquinha dos bonecos mecânicos e os mesmo derretendo nas chamas, numa cena de um estranhamento macabro tipicamente timburtiano, garante novo empate para o remake: 2x2.
Com um ganho aqui, outro ali, os passeios de visitação se equivalem, mas os "acidentes" com as crianças fazem o placar se movimentar novamente: o do gordinho Augustus, que funciona melhor no primeiro filme e causa um grande impacto no espectador por ser o primeiro acidente e o da chicleteira chata Violet, exagerado demais na nova versão, garantem mais um tento para o time de Mel Stuart. Só que do outro lado tem treinador, quero dizer, diretor e o time de Tim Burton contra-ataca com a macabra cena dos esquilos atacando a pedichona mimada Veruca Salt e a levando para o buraco das nozes ruins. Cena de filme de terror perturbadoramente fantástica. 3x3 para o original. E o remake passa à frente do placar pela primeira vez por conta do número musical do incidente com o garoto Mike Teavee que depois de ser teletransportado para dentro de um televisor, invade programas de culinária, de esportes, de música e tudo mais. 3x4. Que jogo, senhoras e senhores!

Oompa-Loompa -
número musical para Mike Teavee



Mas por falar em musical, voltando aos Oompa-Lumpa, embora o filme de 2005 tenha praticamente um videoclipe ultra-produzido para cada intervenção dos nanicos, mesmo sem todo o aparato técnico da nova produção, as performances musicais dos baixinhos do filme de 1971 são, no âmbito geral, mais marcantes e sua canção é daquelas que não sai da memória de quem já assistiu ao longa. 4x4 para os baixinhos de Gene Wilder. E a galera canta "Oompa Loompa, doompadee doo..."!

Oompa-Loompa - 
número musical para Augustus Gloop

Finalzinho do jogo e a cena do elevador define a partida: a do filme original é muuuito mais impactante. A primeira vez que vi aquilo, lá pelos meus 8 ou 9 anos fiquei surpreso, fascinado e emocionado. Charlie ganhado o prêmio final, aquele elevador rompendo o teto da fábrica e sobrevoando triunfalmente a cidade. Golaço para o antigo, até porque no novo a ideia do elevador é muito mal utilizada fazendo com que a inusitada máquina apareça antes do final levando os visitantes restantes à sala de TV e, depois, torne-se praticamente um elemento ordinário, perdendo um tanto de seu caráter extraordinário por servir como uma espécie de transporte particular comum para Willy Wonka, estacionado numa esquina à sua espera para ir pra lá e pra cá.
A essas alturas o treinador Mel Stuart já está no banco gritando, "Acabou, acabou!!!", pois o filme dele acabou, mesmo ali no voo do elevador, mas o time de Tim Burton quer jogo e tenta alguma coisa nos acréscimos com aquela história toda de família é bom, é ruim, de dou a fábrica, não dou a fábrica, olha meu dentinhos, perdão papai e tudo mais. Willy Wonka ainda tentou tirar alguma coisa da cartola apostando na experiência do craque Christopher Lee nos minutos finais, mas não foi o suficiente para empatar o jogo. E o placar ficou assim mesmo: 5x4 para o filme original, para o antigo, para o filme de '71. Aquilo é que era futebol, digo..., aquilo é que era filme!

"Então você é do ramo de doces...
Conte-me então como é o sabor da derrota."

Não foi um nenhum chocolate,
mas o time de Gene Wilder e companhia pode saborear 
o doce gosto da vitória.







por Cly Reis


segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Alice No País das Maravilhas", de Tim Burton (2010)




O final de semana foi cinematográfico: sábado foi “Iron Man 2”, mas antes disso, na sexta-feira teve “Alice no País das Maravilhas”. Guardava grandes e boas expectativas acerca do filme pelo fato de adorar as histórias de Alice do Lewis Carrol (País das Maravilhas e Reino do Espelho) e por ser fã do trabalho de Tim Burton, suas atmosferas soturnas e suas criaturas fantásticas. Além disso tinha o fato de que um mundo concebido já tão fantasticamente quanto o que a garota Alice visita, receberia pelas mãos do diretor, um tratamento visual em 3 dimensões, o que é sempre uma sensação a mais em obras com tamanha sugestão visual ainda que só se justifique plenamente MESMO em uma cena ou outra.
Enquanto filme, entretenimento, adaptação, proposta para um público abrangente, “Alice no País das Maravilhas” atende plenamente ao que se propõe. É um barato! Tim Burton dá vida a personagens bizarros e estranhos do autor, confere cores e formas a ambientes surreais e dá ritmo a uma história que não é, na sua origem, exatamente uma aventura de ação ou algo parecido. No entanto, o preço de ter-se algo tão visual e tão frenético foi a TOTAL perda literária. Não restou nada da qualidade de texto de Lewis Carrol. A sutileza, o sarcasmo, a acidez, a inteligência do texto desaparecem por completo. Tudo o que é sugerido sobre crescimento, maturidade, personalidade, com genialidade nas entrelinhas de diálogos aparentemente banais nos dois livros do autor inglês, se perde ou fica diluído em conversas inexpressivas ou lições de moral que soam como clichês.
Pode parecer que dizendo tudo isso a respeito do filme não tenha gostado. Não! Incrivelmente achei bem legal. É que no cinema, vendo já num primeiro instante que o que havia de rico no texto tinha sido deixado à parte, me desapeguei disso e curti a proposta cinematográfica, e neste aspecto o resultado foi legal.
Tim Burton consegue dar cara de Tim Burton ao País das Maravilhas com aqueles seus galhos retorcidos, ambientes sombrios, muitas cores e ordem nas cenas. Recria os personagens de Carrol de uma maneira muito particular e simpática, como o adorável coelho de casaca, a sábia lagarta azul, os confusos gêmeos gorduchos e o impagável Gato com aquele constante e quase sinistro sorriso, aberto de um lado a outro da cara, sempre com um ar sonolento e viajante. Restrição à concepção de Alice que ele faz no filme uma moça prestes a casar e não uma menininha, o que tira um pouco da inocência da obra e do valor de algumas sacadas do livro que se palicariam mais a uma criança do que a uma adolescente. Eu que não gosto das atuações de Johnny Depp, xodó do diretor, tenho que tirar meu chapéu (com o perdão da redundância) para o Chapeleiro Maluco que ele interpreta. Muito divertido e expressivo. Mas como eu sempre digo a respeito deste ator: pra estes personagens cheios de caras e bocas, olhos arregalados, artificialismos e caricaturices, ele até que funciona bem. Um barato a "Futterwacken" que ele dança no final do filme, com ajuda da tecnologia é claro, uma vez que segundo a colega de set, Helena Bonham Carter (excelente como a cruel e divertida Rainha Vermelha), o cara não dança nada!



C.R.