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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

COTIDIANAS nº 262 Especial Natal - "Natal: Uma Crônica Para Pessoas Não Apressadas"

"Natal: Uma Crônica Para Pessoas Não Apressadas"


por Armindo Trevisan


Uma das observações mais profundas que li sobre o Natal foi a de um célebre paleontologista e teólogo jesuíta, Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), que cito de memória, parafraseando-a:
            O Verbo de Deus, Filho de Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo, entrou no mundo sem rumor, formando-se no seio de uma virgem que vivia em Nazaré.
            Sem rumor, também, nasceu o Menino, que Manuel Bandeira chamou “o nosso Menino”, numa gruta, em Belém, a pequenina cidade donde era originário o Rei David - do qual a Virgem descendia.
            O Menino foi colocado numa mangedoura, na qual sua mãe o aqueceu com os panos de que dispunha, e pelo bafo de dois animais, que representavam os animais saídos da Arca de Noé: um boi e um burro. O burro seria, talvez, o ancestral de outro burro, o que carregaria Jesus na sua entrada triunfal em Jerusalém, quando o Rabi foi aclamado pelos habitantes de Jerusalém, inclusive pelas crianças.
            O silêncio, com que o mundo acolheu a vinda do Criador à terra, foi acompanhado de outro silêncio, o dos campos da Judéia onde pastores apascentavam seus rebanhos.
            Os únicos a terem falado foram os Anjos. Falaram e cantaram, anunciando aos homens, amados por Deus, que o Salvador tinha vindo à terra para trazer a paz.
            Num poema da Divina Comédia, Dante celebrizou essa paz num incomparável verso:
            -A sua vontade é a nossa paz.
            É verdade que, no contexto poético de Dante, a paz era uma espécie de tradução do termo hebraico shalom, que significa a felicidade.
            As estrelas permaneciam silenciosas no firmamento. Elas costumam transmitir umas às outras suas mensagens misteriosas, sem nunca apelarem para as palavras.
             O Salmo 19 adverte:
            -Não há palavras para os dias que comunicam uns a outros seu discurso. Deles não se ouve som algum, embora suas vozes se façam ouvir por toda a terra”...
            Apesar de silenciosas, as estrelas do Oriente não permitiram que passasse inobservado o fenômeno divino da Encarnação do Verbo, que se inseriu na conturbada História da Humanidade. Uma das estrelas tomou a si a iniciativa de guiar três Reis Magos, vindos do Irã, ao humilde Presépio, que se situava numa cidade que ainda  hoje existe, já agora num território dilacerado por tensões étnico-religiosas.
            Que maravilhoso seria se, na comemoração do Natal, as nações cristãs, concordassem em instituir um minuto de silêncio em homenagem a tão grande Mistério!
            Seria preciso que não se ouvisse som algum em nosso mundo!
Seria preciso que a paz, silenciosa como as estrelas (ao contrário de nossos ícones que, para serem ovacionados, inflamam as multidões) entrasse nos corações na ponta dos pés, e aí fizesse adormecer as almas ao som da Noite Feliz, traduzida para o português por um frei franciscano de Petrópolis, o qual preferiu o adjetivo feliz ao adjetivo original alemão stille: Noite Silenciosa!
            Não seria tão complicado fazer rimar Noite Silenciosa com Solitária Rosa!
            Existe, em toda a parte uma, ou várias rosas solitárias. Aqui e acolá, descobre-se uma mulher silenciosa, um homem silencioso, um cachorro silencioso, uma coisa silenciosa.
            A alegria tende a exceder seus limites. As dores e as tristezas são, por temperamento, introvertidas. Profundamente silenciosas.  
            Podemos, pois, orar:
            Noite Silenciosa,
            Noite Feliz:
            ajuda-nos a encontrar a Deus,
            ou antes,
            a sermos encontrados por Ele!




Escritor, teólogo, filósofo, ensaísta, crítico de arte, poeta e cronista gaúcho, Armindo Trevisan nasceu em Santa Maria, em 1933. Doutor em Filosofia pela Universidade de Fribourg, Suíça. Bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian em 1969 e 1974. Professor de História da Arte e Estética na UFRGS, de 1973 a 1986. Lecionou no Curso de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS até 1999. Vencedor do Prêmio Nacional de Poesia Gonçalves Dias (1964), pela União Brasileira de Escritores, com “A Surpresa de Ser” (comissão julgadora composta por Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cassiano Ricardo). Em 1972, ganhou o Prêmio Nacional de Brasília para Poesia Inédita, por “O Abajur de Píndaro”. Em 1997, venceu o Prêmio APLUB de Literatura pelo livro “A Dança do Fogo”. Em 2001, foi Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Já em 2004, recebeu o Prêmio Fato Literário, dado a personalidade ou instituições que mais contribuíram com as letras gaúchas. Tem poemas e ensaios traduzidos em alemão, italiano, espanhol e inglês.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

cotidianas #178 - Nota social


O poeta chega na estação.
O poeta desembarca.
O poeta toma um auto.
O poeta vai para o hotel.
E enquanto ele faz isso
como qualquer homem da terra,
uma ovação o persegue
feito vaia.
Bandeirolas
abrem alas.
Bandas de música. Foguetes.
Discursos. Povo de chapéu de palha.
Máquinas fotográficas assestadas.
Automóveis imóveis.
Bravos...
O poeta está melancólico.

Numa árvore do passeio público
(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.

O poeta entra no elevador
o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.

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"Nota Social"
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 31 de dezembro de 2011

cotidianas #125 - "Cortar o Tempo"



Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente

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Cortar o Tempo
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

cotidianas #113 - "Cota Zero"

 No dia dedicado ao poeta Carlos Drummond de Andrade, denominado Dia D, mais uma dele aqui nas COTIDIANAS:

COTA ZERO


STOP.
A vida parou
ou foi o automóvel?


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Carlos Drummond de Andrade

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

cotidianas #64 - Quadrilha



QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

cotidianas #52



"Tomou três chopes duplos, comeu queijo picado pensando: viver é tão simples e eu não sabia: tomar chope e comer queijo é viver; viu uma moça de verde: ver uma moça de minissaia verde é viver e ver as pessoas atravessando a rua de noite também é viver. 
Tudo tão simples e eu não sabia. 
Lembrou do pé-de-moleque que a mãe fazia - comer pé-de-moleque que a mãe da gente faz também é viver, mas eu não sabia."

trecho do conto "A outra margem"
de Roberto Drummond


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