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domingo, 4 de dezembro de 2016

Exposição "Mondrian e o Movimento De Stijl" - CCBB - Rio de Janeiro/RJ










A De Stijl é dos movimentos artísticos de que mais gosto. Sua aparente simplicidade e limitação pode esconder pra os mais apressados uma riqueza técnica, espacial e conceitual que vieram a ser da maior importância para a linguagem da arte contemporânea.  Minha simpatia e admiração pela De Stijl deve-se em grande parte ao fato de, entre os movimentos artísticos, ser o que mais se aproxima e aplica seus conceitos objetivamente à arquitetura, minha atividade profissional. Os planos, a profundidade, o cheio, o vazio, a cor, a ausência dela, toda a experimentação proposta nele para mim é fascinante. Assim, fiquei muito entusiasmado em ter aqui no Rio de Janeiro a exposição "Mondrian e o Movimento De Stijl" em cartaz no CCBB e a expectativa foi plenamente atendida. Muito bem organizada, distribuída e com um catálogo bastante amplo e completo, a mostra apresenta o movimento em todas as suas plataformas, artes plásticas, arquitetura, escultura, design, gráfico e editorial, trazendo os trabalhos realmente significativos do período e de seus principais nomes, em especial Piet Mondrian.
Fiquei verdadeiramente encantado em poder apreciar de perto sua transição do figurativo para o abstrato, sua geometrização, sua série de "Composições", os famosos quadros de linhas pretas e quadrados e retângulos em cores neutras e primárias, e sua técnica praticamente invisível nestas obras em detalhes mínimos entre uma linha e outra, na intensidade das cores e variações cromáticas mínimas, apenas confirmando que se trata de um dos maiores artistas da história da humanidade.
Tinha duas curiosidades em especial em relação a esta exposição: de que forma apresentariam a casa de Van Doesburg, obrigatória em se falando em De Stijl, que para minha agradável surpresa não somente foi destacada como teve exibidos seus projetos originais e suas maquetes; e se viria a cadeira original de Gerrit Rietveld, e para minha satisfação lá estava a icônica peça na qual pude repousar no final do circuito (em uma réplica mais confortável, é verdade, mas ainda assim uma Rietveld).
Quadros de outros pintores contemporâneos, esculturas, tipografias, publicações, mobiliários, fotografias, peças de design. Até já havia visto algumas obras de Mondrian em Paris mas desta vez tive a oportunidae de ver grande parte de seu catalogo e de seus contemporâneos em uma ótima exposição que, para minha condição de arquiteto e apreciador de arte, foi à altura do que a De Stijl representa no cenário artístico.
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"Exposição Mondrian e o Movimento De Stijl"
local: Centro Cultural Bancodo Brasil (CCBB)
endereço: Rua Primeiro de Março, 66 - Centro - RJ
período: até 09 de janeiro

horário: todos os dias, exceto terças-feiras, das 09h às 20h





Mondrian ainda na fase figurativa (1902).

Autorretrato do artista.


Sua pintura "perdendo" a forma.

Aproximação com os pós-expressionistas.

Em 1917, Modrian no início de seu geometrismo.

Na sua composição com oval e planos de cores
o abstracionismo prevalece definitivamente.

A árvore desconstruída na pintura de Mondrian.

Em "Retrato de uma senhora", o cubismo presente.

Ainda com figurativo mas já a caminho de uma nova linguagem.
("Campanário em Zeeland")

Paisagem na visão e conceito de Piet Mondrian.

As icônicas "composições" de Mondrian.
Aqui a "Composição com grande plano vermelho e amarelo"

"Composição com vermelho, azul, preto, amarelo e cinza"

Por trás de uma aparente simplicidade há
pequenos detalhes que revelam inúmeras possibilidades visuais.
("Composição de linhas e cor III")

Variações e reinterpretações formladas por seus seguidores.
Esta a "Composição Neoplástica" de Jean Albert Gorin, de 1931

Novos estudos e variações acerca do trabalhoda De Stijl.
"Relevo nº290" de Alberto Domela (1986)

A composição de Vilmos Huszár de 1923.

Um dos símbolos do movimento De Stijl, a casa de Theo Van Doesburg.
Seus estudos isométricos e cromáticos e sua maquete.

Perspectiva interna de outro dos marcos do movimento,
a Casa Rietveld/Shröder

Theo Van Doesburg e Cornelis Van Eesteren
e o saguão da Uiversidade de Amsterdã.

Estudo de cores em edificação de Piet Zweit

Estudo de mobiliário e espaço interno de Piet Zweit

Estudo para dormitório inspirado n"O Quarto" de Van Gogh.
(Vilmos Huszár e Piet Klarhamer, 1920)

Projeto da famosa cadeira Rietveld.
Icone do design, a lendária cadeira Rietveld.


O design da poltrona de Thijs Rimsema.

O mobiliário de linhas arrojadas da De Stijl.

Figura mecânica dançante de Vilmos Huszár (1920).
Fotografias e fotomontagens também integram a exposição.


Todos os seguimentos integrados.
A parte gráfica em sintonia com todas as demais linguagens
("Cartaz para exposição" de Bert Van der Leck)

Uma das capas da revista que funcionou como
centro catalisador do movimento.

Até utensílios domésticos e peças cotidianas podiam traduzir a identidade da De Stijl.

A enorme "composição" tridimensional montada no saguão do CCBB.

Este blogueiro "dentro" de um dos quadros de Mondrian.

E repousando na réplica gigante da cadeira Rietveld.





Cly Reis

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

10ª Bienal do Mercosul – Memorial do Rio Grande do Sul








A genial instalação "Ocio", 
que te joga no fundo do poço.
Minha primeira parada da 10° Bienal do Mercosul foi o Memorial do Rio Grande do Sul. E já começamos bem! Com cuidado curatorial refinado, o espaço abriga as obras relativas ao subtema “Biografia da Vida Urbana”. Certeiro na abrangência do tema e na investigação que propõe, seja no que se refere ao espaço físico, psicológico e ideológico do ser urbano da América Latina. Criminalidade, direitos humanos, mídia, arquitetura, política, civilização. Aspectos que se depreendem naturalmente ao se apreciar e traduzir as obras expostas.
A crítica e a provocação, formas de expressão intrínsecas da arte, evidenciam-se de forma contundente quanto aos contrassensos do Estado de Direito numa trinca especial: díptico de quadros da goiana Shirley Paes Leme, compostos por fuligem de poluição sobre filtro de ar condicionado de carro; fotografia do colombiano Andres Ojuela de um homem sendo agredido pela polícia por ter tentado resgatar algo que lhe havia sido roubado; e a simbólica bandeira “parodiando” o “verde-louro” da flâmula brasileira, que ostenta não os ditos “Ordem e Progresso”, mas “Complexo do Alemão”, numa clara referência à controversa ocupação das favelas do Rio de Janeiro.
O sarcasmo de Cildo Meireles
com a icônica marca.
Na mesma linha, porém consideravelmente mais sarcástica, outro trio de obras critica um dos símbolos do capitalismo e da midiatização: a Coca-Cola. O craque Cildo Meireles é um deles, compondo em três garrafas contour de vidro elementos de sua percepção – numa delas, explica didaticamente como fazer um coquetel Molotóv. Junto, uma impactante impressão sobre lâmina do colombiano Antonio Caro, igualmente parafraseando, ao reescrever-lhe sobre a logotipia icônica da marca o nome de seu país. Completando, um pequeno mas altamente expressivo quadro de outra mente privilegiada da arte moderna brasileira, Paulo Bruscky: “Fax Performance”, autorretrato de 1985 em que se coloca na pele de um super-herói urbano meio homem-bomba (atualíssimo, infelizmente).
A ótima “Multidão”, do paulista Cláudio Tozzi (acrílica sobre compensado, de 1968), traz o frescor da arte pop com o uso discursivo da publicidade e do cinema. Igualmente impressionante, principalmente em termos de concepção/concisão, é a instalação-quadro de Waldemar Cordeiro “Subdesenvolvido”, de 1964, em que uma constituição em madeira aglutina em si todos os móveis de um imaginário cômodo, como uma versão 3D mas subdesenvolvida e reprimida (não esqueçamos que, naquele ano, se marcava a entrada da Ditadura Militar no Brasil) de “Quarto em Arles”, de Van Gogh – sem prescindir, claro, da expressiva distorção das formas.
Arte-pop e denúncia
na obra de Cláudio Tozzi.
Também incisiva e denunciadora é a instalação “Stelar”, do peruano Giancarlo Scaglia, a qual cumpre aquele que é um dos fundamentos da arte: a ressignificação. Isso porque resgata um dos momentos mais tristes e sangrentos da história peruana recente ao perscrutar as ruínas da de uma antiga cadeia de presos políticos, palco de sangrentos massacres de presos do grupo separatista Sendero Luminoso pela força militar do governo, hoje desativada. O artista apronta enormes telas feitas a partir dos furos das balas dos fuzilamentos nas paredes de concreto do presídio (somando a isso os próprios resquícios de pedras do complexo) e, como um simbólico negativo, pinta de preto ao redor, formando uma imagem que remete a uma constelação, mas também apontando para o vazio da memória e dos desaparecidos políticos. Em texto, os curadores anotam: ”Frente ao trauma, o artista articula um potente registro visual das ruínas da tragédia que une representação, presença e ausência”. Pungente pra caramba.
"Declaration" do norte-americano
naturalizado hondurenho, Jonas.
Há uma sequência relativa ao espaço urbano, apontando para várias ideias e leituras no que se refere à sociabilidade, controle e emancipação. Primeiro, uma série de fotos P&B exaltando a arquitetura modernista de várias cidades como a São Paulo e Montevidéu dos anos 70, as quais dialogam com e estética da cidade-sede da Bienal, gerando uma identidade urbana através de um do legado artístico-funcional da Arquitetura. Noutra, a que abre o nicho, o deboche de “Declaration”, do norte-americano residente de Honduras Paul Ramirez Jonas, feito com trompete e bandeira de algodão escrito “Open”. Também, o interessante paralelo entre o que se conquista enquanto território, no óleo do catarinense Victor Meirelles “Visão de Desterro – atual Florianópolis”, de 1851 (e mais antiga obra dali) e aquilo que configura – ou se perde – como espaço concreto na tela de Eduardo Haesbert (pastel seco sobre tela e papel): fria, tecnicamente arquitetônica e quase apenas um esboço.
Traz também uma das obras em metal de Lygia Clark, das artistas plásticas celebradas dessa Bienal. Mas impressionante mesmo (não só a mim: a maioria dos que veem saem com tal impressão) pela criatividade, originalidade e expressividade, a instalação “Ocio”, do chileno Ivan Navarro. Composta de tijolos, espelho, energia elétrica e a palavra-título escrita em neon, a qual se reproduz ao infinito para baixo, como num poço sem fim. Genial.
Faltou apenas um pedacinho do Memorial para visitar, o que rapidamente complemento depois. Enfim, um começo de visitas à Bienal bem positivo. Expectativas pelas próximas exposições.

Díptico de Shirley Paes Leme usa poluição da cidade
como instrumento de discurso.

Composição que evidencia os contrassensos da sociedade.

Coca-Cola no âmago da crítica ao capitalismo.

A arte via aérea de Paulo Brusky.

O Van Gogh subdesenvolvido de Cordeiro.

A arquitetura como meio de identidade.

A cidade conquistada e acidade possível.

"Bicho", uma das peças de Lygia Clark na Bienal


À esquerda, a impressionante instalação de Scaglia que remonta a guerra civil no Peru
e à direita o detalhe da obra mostrando os furos de bala.