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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

cotidianas #536 - Tatuarambá



Descobrir as ancas da tradições
Para o ferro em brasa dos anúncios, oi, ai, oi
To expose the hips of the tradition
To the burning iron of ads

cena do filme "Raw" (2016)
Êê, tatuarambá
Ôô, pelar o corpo para no samba-ba-bá
Êê, sujar o corpo de samba
Segura o rabo do samba, taí, pintou, eô

Tuá, tuá uaru, guba, gudu gubagudê tuá

Êê, trazer o corpo para os pincéis da eletrônica, ôô
Tatuarambá
Ôô, vestir o poema-anúncio, ô
Pelar o corpo no samba-ba-bá

Êê, trazer o corpo para a tatuagem
Sujar o rabo do samba
Segura o rabo do samba, taí, pintou, ô!

Êê, para a tatuagem das antenas, das antenas

Corpo não é pecado
Corpo não é proibido
Corpo não é mentira
Flesh isn't lie
Flesh isn't sin
Flesh isn't forbidden, oi, oi, oi, ô ô forbidden

Êê, trazer o corpo para os pincéis, etc

Melar o corpo no Meu Limão, Meu Limoeiro
Lamber o corpo no Meu Pé de Jacarandá
Corpo não é mentira, corpo não é proibido
Corpo não é pecado

Tatuarambá

Descobrir as ancas das tradições
Para o ferro em brasa dos anúncios
To expose the hips of the tradition
To the burning iron of ads
Fazendo cócegas nas tradições
Itching, scrathing the tradition

******************
"Tatuarambá"
(Tom Zé)

Ouça a música:
Tom Zé - "Tatuarambá"

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Música da Cabeça - Programa #32


Uma das definições possíveis para “música” é a de que o músico traça notas em conjunto como que num desenho. Pois essa analogia entre música e figuração vamos ter no Música da Cabeça de hoje num bate-papo muito legal com o ilustrador Guilherme Tesch no quadro “Uma Palavra”. Além disso, claro, os sons que rodearam nossa mente na semana, como Marvin Gaye & Diana Ross, Stevie Wonder, Jamiroquai e Portishead. Pra finalizar, um “Palavra, Lê” com a poesia de Nei Lisboa. Motivos para você não perder não faltam, né? Então, escuta lá hoje, às 21h, na Rádio Elétrica. Produção, apresentação e rabiscos: Daniel Rodrigues.



Ouça: Programa #32

"Terra Selvagem", de Taylor Sheridan (2017)



Está em cartaz na cidade um filme muito interessante chamado “Terra Selvagem” ("Wind River"), dirigido pelo roteirista de “Sicário” e “A Qualquer Custo”, Taylor Sheridan. Nele, o caçador de predadores Cory Lambert (Jeremy Renner) se envolve numa investigação de assassinato de uma jovem descendente de índios na cidade de Wind River, no Wyoming, onde existe uma reserva em total decadência. Ao auxiliar o FBI, na figura da agente Jane Benner (Elizabeth Olsen), o caçador é confrontado com seu próprio desejo de vingança, pois sua filha, de mãe índia, foi assassinada e o crime ficou sem solução.

A trama se desenvolve nas montanhas gélidas do Wyoming, onde os corpos vão aparecendo em meio à neve. No filme, o diretor engendra uma espécie de mistura de western/policial usando a questão indígena como parâmetro para falar de perdas. Assim como em “A Qualquer Custo”, no qual os dois jovens assaltantes tentam conseguir dinheiro para não perder as terras da família, aqui já se perdeu tudo: as terras e, especialmente, a dignidade. Os índios vivem em completo abandono. A cena em que mostra a chegada à reserva é emblemática: a esfarrapada bandeira americana está de cabeça para baixo e os trailers onde vive a população indígena estão em estado de miséria.

Renner: muito bem em seu papel
O clima dos moradores também não ajuda. Os personagens não conseguiram deixar o frio e a terra natal e acabaram presos a uma realidade sem saída. Ali se desenvolve a ação, na qual o diretor e roteirista tiram tudo o que podem de seus protagonistas. Os personagens, mesmo os pequenos, são muito bem desenhados. Jeremy Renner encarna bem o homem que perdeu a filha e se conformou com isso. Seu personagem dá uma guinada do caçador de predadores animais para homens predadores. Já o xerife índio Ben, interpretado por Graham Greene (de “Dança com Lobos”) tem de se equilibrar entre sua comunidade e a população branca.

Como no roteiro de “A Qualquer Custo”, Sheridan manipula as perdas do indivíduo como mote para seu cinema. Aqui elas são muitas: as perdas do filhos pelas drogas, pela morte e pelos personagens que não estão em cena mas que foram embora. Tudo isso num cenário imaculadamente branco, onde o sangue vem manchar o cotidiano tedioso. A música de Nick Cave e Warren Ellis é sutil e conduz a narrativa sem se intrometer ou chamar demasiadamente a atenção para si. O jovem diretor de fotografia Ben Richardson, de “Adorável Sonhadora”, aproveita bem a luminosidade da neve e o contraste do céu, ora azul límpido, ora carregado de nuvens. Há pouco contraste, como a vida neste lugar. Sem correr o perigo de se tornar mais um filme sobre a justiça pelas próprias mãos, “Terra Selvagem” encontra um epílogo solucionando a trama, mas sem final feliz. Vale a pena conferir.


"Terra Selvagem" - trailer


por Paulo Moreira