Curta no Facebook

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

"A Onda", de Dennis Gansel (2008)



Na onda d”A Fita Branca”, formação de fascismo, regimes totalitários, etc., por acaso acabou caindo na minha frente logo na seqüência, outro filme onde estes temas reaparecem.Trata-se de “A Onda”, produção alemã de 2008, dirigida por Dennis Gansel, que reproduz fatos reais ocorridos na Califórnia em 1967, mas que ambientado na Alemanha como é, ganha muito mais impacto por todo o histórico daquele país nos âmbitos político e militar.
Um simples exercício didático, uma demonstração prática como tentativa de despertar o interesse dos alunos para uma aula de autocracia, acaba se tornando o estopim para uma espécie de movimento coletivo, que aos poucos, sustentado inicialmente por interesses comuns baseados em igualdade, colaboracionismo, união, revela-se por fim um exemplo de núcleo autocrata tendo como figura central o professor. Os alunos, mesmo submetidos a uma rígida disciplina de sala de aula, acabam por se identificar com os princípios que norteiam a proposta pois vêem naquela possibilidade de formação de grupo vantagens diferentes conforme seus interesses, tais como, inclusão, segurança, identidade, atenção, incentivo, etc.
Em nome do grupo, da unidade, do que se pode fazer juntos, do que se pode conquistar, primeiro se sugere nome, depois uniforme, depois um símbolo, depois uma saudação e dali a pouco a coisa corre de uma maneira desenfreada e o impressionante é como o professor, inocentemente, não vê a proporção que a coisa vai tomando. A erva-daninha estava ali viva o tempo inteiro mas só estava esperando um pouco d’água.
Foi o que o professor deu. (Quase) Todos de certa forma estavam sequiosos por algo assim: interesses em comum demonstrados e conduzidos por um líder, e quando isso lhes foi dado A ONDA cresceu, cresceu e transformou-se em uma pequena unidade fascista mas com potencial perigosíssimo para crescimento. E o mais impressionante é como sempre tem aqueles cabeças fracas, os vidas-vazias, os sem-propósito que acabam adotando coisas como estas como os ideais de vida, pois, afinal de contas não tem nada mais para abraçar.
O filme trata do assunto em uma escola, mas poderia muito bem aplicar-se a outros contextos coletivos como as tais torcidas uniformizadas do Brasil, que vivem se matando, cantando hinos de guerra escondidos atrás de cores clubísticas, por exemplo; ou mesmo, num exemplo mais próximo, dos grupos neonazistas que existem por aí que saem nas ruas espancando os que julgam inferiores. Não é parecido? Símbolos, gestos, hinos, uniformes, cores?
Enquanto filme, vejo méritos na direção, nas cenas de sala de aula, explorando por vezes aquele ambiente como se fosse um palanque, enquadrando a classe como se fosse um exército; e considero este resultado da experiência de cinema com uma abordagem pedagógica d”A Onda” mais válido e completo que o obtido no recente e elogiado “Entre os Muros da Escola”, que na minha opinião foi bastante realista porém muito raso. Este, além de apresentar igualmente um ambiente escolar com suas diversidades, ainda proporciona este tipo de análise e reflexão de um elemento político-social absolutamente relevante e perigoso. Por outro lado vi o diretor Dennis Gansel ser meio apressado na condução do filme dispendendo menos tempo do que devia no convencimento da turma acerca da proposta, na caracterização de alguns alunos-chave, e na revelação do problema ao professor, que acordou muito abruptamente e de uma maneira muito simplista.
Acho que tem mais méritos que defeitos mas com um pouquinho mais de “estrada” do jovem diretor, tenho a impressão que o resultado teria sido melhor ainda.


Cly Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário