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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Aniversário do Show da HímenElástico

Há exatos 17 anos, numa sexta-feira 13, a HímenElástico fazia seu primeiro show na cidade de Alvorada, vizinha a Porto Alegre, num lugar chamado Woodstock Bar.
A HímenElástico fora o projeto musical-criativo de 4 primos malucos que costumavam passar madrugadas (sóbrios) falando e inventando doideiras de todo tipo; gráficas, verbais, musicais, ou de qualquer outra forma. Essa hemorragia criativa nos estimulou; a mim, meu irmão Daniel, e meus primos Lúcio e Lê; a tentarmos, mesmo sem tocar nada, a ter uma banda. Não era este afinal o espírito punk? Era! E era isso também que nos servia de base. O Lúcio estivera pouco tempo antes de cabeça no punk da periferia paulista Cólera, Garotos Podres, tinha também descoberto os Kennedy's, Exploited e havia levado a mim e meu irmão que fazíamos uma linha um pouco mais Rock-BR da época (Legião, Titãs, RPM). O Lúcio também tava numas de rap na época e a novidade pra mim era interessante. O tal do Public Enemy era bom pra caralho. Tínhamos também todos acabado de ouvir o "Cabeça Dinossauro" dos Titãs e talvez aquilo tenha sido a mola propulsora definitiva. Poucas notas, agrassividade, letras minimalistas. Dava pra fazer rock! Vamos ter uma banda? Mas e essa diferença toda? Eu gostava de Smiths, meu irmão de Caetano, o Lúcio de Ratos de Porão e o Lê de Thayde. Deu no que deu: uma mistura das mais interessantes, criativas e originais.
O nome era uma brincadeira entre o "Homem-Elástico" e algo bem malicioso, tanto que escreve-se originalmente o nome da banda com o Φ grego, deixando a palavra  hΦmem com uma possível dupla leitura.
Nosso som ficou muito próximo ao do nosso disco modelo, o "Cabeça Dinossauro". Lembrava um bocado Titãs, especialmente na minimalista "Nem uma, coisa nem outra" que parecia não fazer muito sentido mas (sinceramente) era extremamente questionadora, versando sobre o TER, o querer sempre mais, o não se dar por satisfeito. Era tão simplesmente-complexa que, em verdade, entre um ajuste e outro, um complemento, uma palavra aqui  outra ali, a letra demorou três anos pra ficar pronta; e depois musicalmente, acrescido som à letra, fôra uma de nossas melhores.
Não tínhamos muito compormisso exceto com nós mesmos e com a nossa diversão. Tanto que não temos grandes registros gravados. A maioria são em cassete e sem muita qualidade. Ensaiamos pra valer mesmo no dia do tal do show em Alvorada. Apresentação que o Lúcio conseguiu com alguns contatos e nos botou na jogada. Só que aí teríamos que estar mais preparados e então marcamos duas horas de estúdio no fim da tarde pra ficarmos afiados pro show à noite. Deu certo. Estávamos na ponta dos cascos. O problema foi que uma hora antes do show, com a voz desgastada, com o frio terrível que fazia e acho que um pouco pela ansiedade, a voz se foi. Só sei que estava apavorado numa mesa pouco antes de entrar no palco e veio um cara de uma outra banda e recomendou, "sabe o que que é bom pra isso? cachaça. toma uma cachaça pura que isso passa rapidinho". Segui a orientação e não deu outra.
Obra do destino ou sei lá o que, mas entramos no palco exatamente à meia-noite do dia 13 de agosto (o que na verdade já era dia 14, mas pra efeito poético-sinistro ainda seria sexta-feira 13 até raiar o sol). Em um ambiente especialmente decorado para a data tão especial, à penumbra e cheio de caveiras com velas, abrimos o show com a "Marcha-Fúnebre" emendando com nossa vinheta de abertura tradicional inspirada naqueles gritos de pelotões do exército que correm na rua: "Dá um beijo no cangote, Carolina/ Uh, Uh, Uh, Carolina...", e que já emendava com a matadora "Ex", uma das nossas preferidas, também muito minimalista que contava com uma incrível agrssividade intrínsca. A coisa seguiu na boa, acho que a galera gostou, tocamos tudo que tínhamos ensaiado até o grand-finale com "Nem Tudo Está Perdido" que com sua letra apocalíptica e executada de maneira tão catártica acabou configurar um final apoteótico da nossa apresentação.
No final fui cumprimentado sincera e entusiasticamente por um cara da Space Rave, banda de Porto Alegre que continua no circuito com algum êxito e ainda esnobei a loirinha que eu tinha dado em cima antes do show, mas que só depois da apresentação veio se querendo. Agora é tarde, baby.
Como disse, não tínhamos grande compromisso com a coisa, apesar de gostarmos muito. Eu tinha faculdade, éramos duros pra bancar estúdios, meus primos moravam longe e no fim das contas não levamos a coisa muito adiante. Mas até hoje, bem imodestamente, logo eu que sou extremamente chato para o que faço e para o que ouço, considero a HímenElástico uma das melhores coisas nacionais que já ouvi nos últimos tempos. Eu teria um CD daquela banda. Ouço bandas hoje e penso: "Cara, a Hímen já fazia isso naquele tempo e sem o menos recurso". Era criatividade pura.
Parabéns hermenêuticos pelo aniversário do showzinho de Alvorada.

ESCLARECIAMENTO AOS NÃO-HERMENÊUTICOS: Hermenêutico nesse caso não tem a menor relação com seu significado original que é de interpretação de livros sagrados ou de leis, blá, blá, blá. Adotamos a palavra para designar tudo aquilo que fosse relativo à HímenElástico.

Assim sendo, faz 17 anos do primeiro show Hermenêutico!

6 comentários:

  1. Caralho! Esse post eu já tava lendo antes mesmo de tu me mandar o aviso pelo e-mail. Clatyon, que lembrança afudê! E com riqueza de detalhes, que me remeteram direto para aquele dia, há 17 anos. Foi naquela noite fria pra caramba que surgiu, inclusive, outra música nossa, a "Cachaça Poltergeist", lembra? Foi quando a gente encontrou um garrafa de cana numa encruzilhada indo pro show e o nosso baterista Pereba - sem ligar pras batuque ou mandinga - não se fez de rogado. Nossa cachaçada já começou ali! (hehehe) Aliás, homenagem ao Pereba também, grande baterista que segurava todas nas baquetas (certamente o melhor instrumentista de nós). Eu digo pra todo mundo que, sem medo de errar, se a gente tivesse insistido com a Hímen (o que não fizemos de forma mais ou menos consciente) certamente hoje estaríamos num nível de sucesso de um Rappa, Jota Quest ou Skank. Mas acho que não era pra ser mesmo; era, sim, pra ficar na nossa memória. Como tu disseste, nosso compromisso era com a nossa própria diversão.
    Ah! Este eu quero ver um comentário do Lúcio! Boa sexta-feira 13 pra todos os hermenêuticos!
    Dã.

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  2. Não posso deixar de me manifestar. Pois esta noite meus filhos me fizeram perder o sono.Eram adolescentes que pouco saiam à noite, mas resolveram tocar, juntamente com os primos Lucia-no e Leandro,em Alvorada, município que registra-va alto indice de criminalidade, em plena sexta-feira l3 e naquela semana, no mesmo município,ban
    didos, colocaram a cabeça deum homem,na escadaria da Igreja, fato bastante comentado pela
    imprensa, mas que meus filhos e sobrinhos, músicos, não tomaram conhecimento,devido a empolgação. Fiquei sabendo,ainda que eles se apre
    sentariam à meia noite.Que coisa mais sinistra.Fi
    quei com o coração na mão e eles felizes da vida.
    Iara.

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  3. Eu nem soube dessa história de cabeça na frente da igreja. Mas não deixa de ser um barato. Bem a calhar com a data. Se eu soubesse teria feito uma letra sobre isso. HEHEHE!!!

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  4. Porra!!!!!tem coisas que acontecem e a gente deixa passar ou simplesmente esquece,
    mas esse dia se não acontecesse certamente nós iria dar um jeito de fazer algo do mesmo nível,até por que vejo como um divisor de águas pra gente, tivemos meio que uma certa resposta de nossas "loucuras",frente aquele público híbrido (por que era uma raça estranha)...
    faziamos coisas de vanguarda sem a mínima noção de que estávamos fazendo,lembro que o clayton mostrava as letras e eu com o violãozinho de plástico da karine fazia algum ritimo que me parecia bom, enquanto o Dã batucava frenéticamente uma almofada no quarto onde tudo começava, ae vinha o lê pra somar com uns backings muitas vezes fora do rítimo mas era assim mesmo que a gente queria "tinha que ser estranho mesmo" a HΦMEN ELÁSTICO,tem nos poucos registros que temos e nas capas dos discos "os caras","os cabeças",na O-T-A-N-M...NA CLASSICA E ETERNA HOMENAGEM A "FICTICIA JANAINA...O SEU JOÃO que destrói o nosso lar...ali tem um final de infancia e inicio de uma das últimas gerações de adolecentes inocentes que passaram por esse planeta, por isso digo e repito:
    Tudo que eu queria era tudo!!!
    Tudo que eu queria era nada!!!
    tudo que eu queria era nada ou tudo!!!
    tudo que eu queria era tudo ou nada!!!
    mas não se pode ter tudo,
    mas não se pode ter nada...
    Ah e falando de sexta feira 13 tenho certeza que a cachaça pltergeist e a ismalia labraskówisky a skin head dependente de heroina só vieram para abrir os caminhos onde voavam os "elefantes aposentados"e andavam o s hirmeneuticos noturnos e afortunados por aquele dia frio e inesquecivel.....tenho dito!!!!
    LUCIOAGACE....BJS NO CANGOTE DE CAROLINA HU!HU!HU!CAROLINA...HU!!!!

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  5. Pô, Lúcio, tu tens toda a razão. Aquilo foi nosso "divisor de águas" das loucuras. Era o momento, ao menos, que alguém teria que sentir, ouvir, ver, aquilo que fazíamos e foi ali. Pode parecer pouco, pequeno, mas não foi não. Nem que de maneira breve aquelas coisas tinham que ser mostradas, apresentadas em algum momento. Mas, como disse o Daniel também, acho até que de maneira meio que consciente, sabíamos que não tínhamos que ultrapassar aquela linha, seguir adiante dali. dExaríamos pra lenda, pra nossa memória, pro nosso culto e para os que conheceram e (por incrível que possa parecer, apreciam). Poi tu mesmo, Lúcio, não ouviste um cara cantarolando na rua "One More Motherfucker"; um cara do Parobé não cantarolava na minha frente "ela tinha um pau entre as pernas" sem nem saber de quem era? E a dona dop Bagdá Café, onde tivemos nossa 2° apresentação, com o time incompleto, não delirava com "Grandes Lábios"? Cara, a Hímen era boa pra caralho, mesmo!

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  6. Nossa! Nunca pensei que, antes do Lúcio, a mãe iria se manifestar, e com uma história bizarra e tudo a ver com aquela noite, com o show! Demais! E por falar no Lúcio, não é que o cara deu a parcela (aliás, o heito) de contribuição dele! Velho, a gente tem que digitalizar essas nossas maluquices, por que senão vai virar só lembrança mesmo! Me dá essas fitas que eu faço o serviço! (hehehehe) E uma que acho que vocês não sabem: em 1994, no meu 1° ano do 2° Grau, o professor de Filosofia fez a besteira de levar um violão para a aula e largar na mão dos alunos. Imagina quem pegou o coitado do violão? Eu saí lascando "Incapaz", e a galera toda, em pleno pátio do São Judas, enlouqueceu. Foi uma espécie de acústico de uma música só, com plateia e tudo! (hehehe) Dias depois, vira e mexe alguém me chamava atenção nos corredores cantarolando "você é um miserável/ Você não existe mais...". Isso porque essa era a única música que eu sabia tocar e cantar sozinho... Êta ruindade! (hehehe)
    Abç,
    Dã.

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