Um disco memorável... lembrou?
"'Déjà Vu': expressão francesa que significa, literalmente, já visto.
Termo usado para indicar
um fenômeno de origem neurorítmica
que acontece no cérebro que faz com que tenhamos a impressão
de já termos visto, presenciado ou experimentado
uma sensação anteriormente."
Para recordar a origem deste déjà vu, o quarteto surgiu a partir de desmembramentos de bandas de sucesso. David Crosby e Graham Nash tiveram músicas negadas pelos componentes dos grupos que participavam: o The Byrds e o The Hollies, respectivamente. Estes conjuntos, por estarem consolidados perante o público, tinham um apelo nas composições cada vez mais puxando para o pop. Desta insatisfação e desvirtuação artística aliado ao fim do Buffalo Springfield, de Stephen Stills e Neil Young, o resultado foi essa química que culminou num excelente álbum que mistura rock, country, folk e blues: o Dèjà Vu.
Retrocedendo um pouco, em 1969, Crosby, Stills e Nash já haviam lançado um grande disco, com título homônimo. Já nessa ótima fase que entra Young. O quarteto havia realizado diversas apresentações marcantes, tendo como especial a do Woodstock, sendo aclamados pelo público presente como um dos melhores shows do festival.
Além de Déjà Vu, Neil Young só voltou a gravar com seus parceiros (conhecidos pela sigla CSNY) no álbum Looking Forward, de 1999. Segundo Nash, foram 800 horas de estúdio para conceber o Dèjà Vu. Um disco bem dividido nas participações e nas composições. Ou seja, duas músicas para cada um, com a exceção da última, parceira de Stills e Young. Apenas uma é versão da cantora canadense Joni Mitchell. O álbum também conta com as participações Dallas Taylor (bateria e percussão) e Greg Reeves (baixo). A importância dos dois é tão relevante que estão na capa com seus respectivos nomes creditados. Esse registro impressiona pela combinação das quatro vozes, numa sincronia perfeita muitas vezes, e pelas afinações dos violões, bem atípicas.
Já que foi referida a combinação de vocais, um exemplo é Carry on, a primeira faixa. A música é praticamente cantada pelo quarteto CSNY (uma espécie de ópera), com leve destaque para a voz de Nash. Em certa parte, a canção migra para um ritmo oriental, talvez uma influência de Sargent Pepper´s, dos Beatles. Além disso, conta com um baixo bem elaborado de Reeves. Teach your children é um dos grandes hits do álbum, com uma levada extremamente country. A letra também é interessante de se destacar: “Teach your children well, Their father's hell did slowly go by, and feed them on your dreams. The one they picked, the one you'll know by” (Ensine bem suas crianças, porque o inferno dos pais delas vai passando devagar. E alimente o sonho delas, o que elas escolherem, aquele que você ficará sabendo). Essa música tem a contribuição de Jerry Garcia, do Grateful Dead, que toca uma pedal steel guitar (aquela guitarra elétrica “deitada” que se usa um bastão de metal).
Em Almost Cult my hair, Crosby monopoliza o vocal, com um som mais rock. Tem dois solos de guitarra simultâneos, bem característico do The Byrds. Adiante, com muita melancolia e desespero, vem Helpless, primeira contribuição de Neil Young mais destacada. A música é bem ao seu estilo, que consolidou sua exitosa carreira solo.
Como já referido antes neste texto (lembram?), uma música não é de autoria do CSNY e é justamente Woodstook. De certa forma, tem um forte vinculo com o grupo. Isso porque a compositora Joni Mitchell era namorada de Nash durante o período do festival, que intitula a música. Stills apresenta um vocal agressivo, comparado com outras canções do disco, além de uma pegada rock, com guitarras mais estridentes. Já Déjà vu é a mais psicodélica, apesar dos instrumentos convencionais, principalmente os violões. No início, ocorre um erro proposital, com Crosby fazendo a contagem para retomar a canção. Esta começa em ritmo acelerado e logo tem uma grande quebra, para deixar numa atmosfera mais “viajante” a quem escuta. Quem sabe seja uma situação déjà visite, um estranho conhecimento de um novo lugar.
Num momento déjà vécu (já visto) tem Our house com Nash cantando e comandando o piano. De certa forma, recorda algumas composições de Paul McCartney como, Lady Madona, por exemplo, junto com Fixing a hole, de John Lennon, isso de forma mais lenta. É uma balada bem interessante do disco. Em 4+20 a conta fica por responsabilidade de Stills, somente ele e violões. Mas também, não precisaria de mais. É a música mais introspectiva, que basicamente fala da perda de uma mulher, tendo como destino cair “nos abraços do diabo”, isso por causa de pensamentos negativos.
Country girl tem a volta de Young ao vocal principal e é a música mais produzida do disco, que contêm diversos instrumentos de cordas e percussão, além de pianos para deixá-la mais “épica”. Já a faixa Everybody I love you fecha esse registro com aquela já escrita fusão de vozes nunca vista, um jamais vu. Stills solta a voz com os seus graves em alguns momentos. O álbum termina com todo vigor e energia.
Talvez no final deste texto, você já tenha esquecido algumas coisas que escrevi. Mas, no final das contas, esse disco vai ficar muito provavelmente armazenado na memória em longo prazo do seu cérebro. Se algum dia você tiver um ótimo déjà senti musical, pode ter certeza que este álbum pode ter proporcionado este sentimento.
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FAIXAS:
1 Carry On (Stills) 4:25
2 Teach Your Children (Nash) 2:53
3 Almost Cut My Hair (Crosby) 4:25
4 Helpless (Young) 3:30
5 Woodstock (Mitchell) 3:52
6 Déjà Vu (Crosby) 4:10
7 Our House (Nash) 2:59
8 4 + 20 (Stills) 1:55
9 Country Girl (Young) 5:05
10 Everybody I Love You (Stills, Young) 2:20
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Ouça:
Esse foi um disco que eu fui gostando aos poucos, mas hoje sou apaixonado por ele.
ResponderExcluirAcabei de comprar o LP, uma edição antiga importada.
Se tu não fosses falar sobre ele eu teria falado, Eduardo. Tava na pauta.
Valeu.