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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

cotidianas #390 - Os Olhos de Mac


Forte, soturno, superior, mágico, misterioso, penetrante, místico, diabólico, poderoso, sedutor, letal. O título, de entrelinhas enigmáticas, poderia, num primeiro instante, fazer qualquer leitor mais sugestionável pensar em qualquer uma destas características atribuindo-a ao referido olhar. Mas perdoe-me o leitor derrubar o ar de mistério com o qual ele mesmo já começava a cobrir a história esperando talvez uma intrincada história policial de um policial sagaz e um vilão artimanhoso difícil de ser apanhado, um assustador conto de possessão demoníaca, uma tramam internacional de espionagem. Não é nada disso. Perdoem-me decepcioná-los, talvez, mas devo dizer-lhes que os olhos de Mac com os quais resolvi estampar o título desta crônica não passam de olhos de cachorro. Sim, olhos de um cão vira-lata. Um cachorro que minha mãe tivera na infância e que cujo olhar pedinte costumava ser tão condoído, tão sentido, tão compadecedor que minha avó consagrou-o em expressão para definir a cara dos próprios filhos quando dirigiam-se a elas para pedir alguma coisa. "Não me vem com esses olho de Mac!", dizia a Dona Isaura espantando qualquer eventual pedido antes mesmo que acontecesse, já adivinhando o desejo pela cara súplice de algum dos filhos, que normalmente, diante da prévia negativa, colocava o rabinho entre as pernas e dava meia volta, sem nem mesmo tentar levar  adiante a solicitação a que se propunha, muitas vezes depois de ter-se enchido de coragem por horas a fio. Algo do tipo, "não quero nem quero saber o que tu tá pensando em vir me pedir (ou até sei) mas nem quero ouvir e mesmo se eu ouvir, minha resposta será não". Um verdadeiro banho de água fria.
Não, olhos de Mac não funcionavam com a Dona Isaura.
Com a Dona Iara, minha mãe, até funcionava. Apesar de ter levado adiante a expressão criada por minha vó e utilizá-la muitas vezes lá em casa para mim ou para os meus irmãos, muitas vezes a fachada de durona derretia com um olho de Mac bem planejado e executado. Afinal, a técnica do olho de Mac tem que ser muito bem aplicada para que dê resultados e se for pode render ótimos frutos.
Vá, tente. Tente com sua mãe, namorada, esposa. Peça aquela coisa que elas normalmente negariam. Infelizmente eu não tenho uma foto do Mac aqui para demonstrar os zóio que aquele guaipeca faria. Mas acho que não é necessário. Acho que você entendeu a técnica.
Forte, soturno, superior, mágico, misterioso, penetrante, místico, diabólico, poderoso, sedutor, letal? Não¹. Apenas suplicante, manhoso, dengoso, cativante, choroso, apiedante. Nada mais que uma cara de cachorro pidão. Sim, isso sim são Olhos de Mac.



Cly Reis

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