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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Peter Hook & The Light - Teatro Rival Petrobrás - Rio de Janeiro/RJ (01/12/2016)



Peter Hook e sua banda, a The Light, numa noite de New Order e Joy Division.
No dia em que o New Order se apresentava em uma cidade e seu litigante ex-baixista em outra, tocando, a propósito, inclusive repertório desta sua ex-banda, mesmo não tenha visto ao vivo o grupo oriundo do Joy Division, por questão óbvia de localização acabei, sem muita hesitação optando por acompanhar mais uma vez o show de Peter Hook sua banda The Light. Não sei se o do New Order foi bom, até vi alguns comentários positivos em uma manchete que outra na internet mas o que posso afirmar é que dificilmente tenha sido melhor do que o que presenciei no Teatro Rival aqui no Rio de Janeiro. Peter Hook and The Light contagiaram o público com mais de duas horas de show desfilando na íntegra os álbuns "Substance" do New Order e do Joy Division e mais alguns B-sides de cada um deles. Energia pura! Emoção total! Afiadíssimos os músicos executaram impecavelmente a célebre coletânea do New Order considerada um dos clássicos dos anos 80, que numa impressão mais apressada pode parecer mais fácil por conta dos recursos eletrônicos, mas que exatamente por conta disso torna a execução ao vivo mais complexa exigindo uma sincronia mais perfeita com os instrumentos convencionais e nas transições para as intervenções de baixo do próprio Hook.
E foi exatamente com o repertório neworderiano que abriram a apresentação começando com três faixas menos conhecidas, lados B de singles e integrantes da edição completa do disco "Substance",  mas não por isso menos respeitadas pelos fãs e naõ menos festejadas assim que eram ouvidos seu primeiros acordes. Saíram com "Lonesome Tonight" canção meio raggae, nem tão vibrante assim mas que, como eu disse, não por isso deixou de ser empolgante; seguiram de "Procession", essa sim, uma transição potente entre as linguagens das bandas das quais o baixista fez parte, e completaram este, por assim dizer, prólogo com outra na mesma linha "Cries and Whispers", pegada e intensa mas já com os sinais do que viria a ser o New Order.
Um quase coadjuvante que revelou
grande aptidão para o protagonismo.
Mas aí sim começava o "Substance" com a faixa que abre do disco e que qualquer fã que sabe de cor e salteado aquela ordem sabe qual é: trata-se da hínica "Ceremony", canção ainda tocada pelo Joy Division nos últimos tempos antes da morte de Ian Curtis e que, ali no teatro, envolveu-nos a todos numa espécie de aura mágica à qual não fiquei incólume sendo irremediavelmente levado às lágrimas. "Everything Is Gone Green" de extrema competência, atenuou um pouco a emoção mas botou de vez lenha na fogueira; e a belíssima "Temptation" com sua inquieta programação-base encarregou-se de novamente carregar o lugar de uma energia diferenciada. "Blue Monday" um dos melhores exemplos da competência da banda e da perfeita integração do eletrônico com os instrumentos mais tradicionais, deu aquele ar de Festa Ploc* ao show com sua batida contagiante e ritmo convidativo. Seguiram "Confusion" mantendo no alto o clima e "Thieves Like Us", perfeita, baixando um pouco a rotação.
Como não poderia deixar de ser, um dos melhores momentos do show como um todo, independente de New Order ou Joy Division, foi "Perfect Kiss", na minha opinião uma das melhores obras do New Order e um momento grandioso no show. Uma daquelas que mesmo bem calcada no eletrônico tem participação fundamental e destacada do baixo solista e agudo de Peter Hook. Enquanto o filho, o competente John segurava as pontas no baixo fazendo a base, Papa Hook esmerilhava em linhas agressivas daquelas que só ele sabe fazer, com direito ainda a uma boa esticada no já maravilhoso final da música.
A sequência "Perfect Kiss", "Shellshock" e "Subculture" já é matadora no disco, ao vivo então mostrou-se catártica! Que coisa!!! Um petardo atrás do outro e a banda, volto a dizer, muito bem azeitada, praticamente emendava uma na outra não deixando tempo pr'a gente respirar demonstrando muito ensaio e total domínio do que fazia.
Veio a ótima "State of The Nation" de baixo marcante mas esta, na maior parte da música, mais por conta do filho John. A ela seguiu-se o clássico "Bizarre Love Triangle", talvez junto com "Blue Monday" a mais popular da banda. Redundância dizer que foi mais um show, não? Hook lacrou de novo! Música que, para muitos pode não parecer mas exige dele o tempo inteiro e na maior parte do tempo com aquela intensidade característica. "True Faith" despontou grandiosa para encerrar as faixas do álbum mas para minha grata surpresa ainda traria na carona mais uma "lado-B", a adorável "1963". E assim, saía o HookOrder e entrava o HookDivision. Ia começar o outro "Substance". Ia começar a festa punk.
Hook comandando a celebração dos "Substance".
Assim como na primeira parte, antecederam às faixas do disco algumas avulsas, na maioria músicas que não entraram em álbuns ou que só saíram em reedições do próprio "Substance". Mas em se tratando de Joy Division, banda de repertório relativamente curto dada a brevidade de sua existência e sendo tão cultuada como é, qualquer música é conhecida por seus fãs e tão respeitada quanto qualquer outra mais badalada. E não foi diferente com "No Love Lost" que abriu a segunda parte, recebida já nas primeiras notas do baixo com grande entusiasmo, estado de espírito que se traduziu para minha felicidade e, tenho certeza, para a satisfação de Peter Hook, que presenciou aquela grande cena punk inglesa dos final dos anos 70, numa selvagem e furiosa roda de pogo. Yeah!
"Shadowplay" que deu continuidade ao show foi juntamente com "Twenty Four Hours" que a seguiu exceções ao critério de músicas avulsas, tendo as duas aparecido nos dois únicos álbuns de carreira da banda, "Unknown Pleasures" e "Closer", respectivamente; mas "Komakino" e 'These Days" revalidaram o padrão de singles e completaram a sessão pré-substance.
Mas se o bicho já tava pegando, quando começou a "contagem" "3,5,0,1,2,5, Go!", o negócio veio abaixo! Era "Warsaw" a música que abre o "Substance" do Joy Division e um dos maiores símbolos da fase mais punk e crua do som da banda. Loucura era apelido!
E veio "Leaders of Men", outra paulada; e veio "Digital" com aquele "day in, day out" entoado em coro geral; veio "Autosuggestion" e nem nessa o pessoal da roda punk deu alívio aproveitando sua parte mais agitada pra mandar ver; e veio "Trasmission" também num coro selvagem para o famoso "dance, dance, dance, dance, dance to the radio".
"She's Lost Control", sempre ponto alto, parece ter uma entrega diferente de Hook tanto na performance instrumental quanto na vocal, destruindo no baixo e quase vociferando em alguns momentos. Espetacular!
"Incubation", punk instrumental originalmente pegado e cheio de energia, música da qual particularmente gosto muito, devo admitir que perdeu força funcionando quase apenas como uma música de transição, de preparação para o momento final. E, sim, e o momento final precisava mesmo de uma preparação, de alguns minutinhos pra respirar, pra pegar fôlego, pra preparar o coração. Seriam três atos finais de puro êxtase.
Conseguindo ainda transmitir toda aquela fúria angustiada de Ian Cutis, a perturbadora "Dead Souls" era apenas o primeiro desses três atos derradeiros que marcariam definitivamente aquela noite.
Sempre emocionante, a  elegíaca "Atmosphere" foi, muito apropriadamente, dedicada à Chapecoense, cujo acidente aéreo ocorrera havia uma semana, e como não podia deixar de ser comoveu a todos. E o ato final não poderia ser outro que não "Love Will Tear Us Apart", música que fecha o disco e que logicamente teria que dar ponto final `apresentação. Em termos de grande público certamente a mais conhecida e uma das que indicava uma linguagem que mais se aproximaria do que o New Order viria a assumir como identidade musical, "Love Will Tear Us Apart" teve seu refrão entoado entusiasticamente em coro pelo público e foi assim que tudo acabou: apenas com as vozes do publico. Depois que a banda já parara, se despedira e entrara para os camarins, lindamente as vozes continuaram "Love, love will tear us apart again/ love. love will tear us apart again...", até se desvanecerem aos poucos e morrerem na escuridão. Um final grandioso para um show grandioso.
Não sei como é que estava o show de lá mas não consigo imaginar que tenha sido melhor do que o daqui. Eu sempre digo (mentirosamente, eu sei, mas sempre digo) que não existe nada melhor do que New Order. Acho que esse show espetacular de Peter Hook, parte viva do Joy Division e integrante eterno do New Order, me fará ter que rever a minha afirmação ou, no mínimo, complementá-la. Talvez deva adaptá-la assim: Não existe nada melhor do que New Order... a não ser o próprio New Order.


"She's Lost Control" - Peter Hook and The Light
Teatro Rival - Rio de Janeiro -RJ



Cly Reis




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