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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

cotidianas #526 - Não Entre


O elevador desceu e parou no 5.
A porta automática se abriu e como era natural, a pessoa que esperava no andar, por sinal uma bela moça em traje executivo, precipitou-se para entrar.
- Não entre! - foi o que ouviu do único passageiro do elevador, um rapaz encostado na parede do fundo com uma postura encolhida mas com uma das mãos à frente com a intenção de impedi-la.
- Mas por que? - quis saber a moça intrigada.
- É que... vai subir de novo. - tentou explicar o rapaz.
- Como assim? A luzinha de descer tá acesa. - mostrou - Me dá licença.
Ela deteve com a mão o fechamento automático da porta, que já havia excedido seu tempo de abertura, e, tendo esta voltado a abrir, tentou novamente ingressar no interior do carro.
- Não entre, por favor, moça. - agora pondo as duas mãos à frente.
- Mas por que? O que é que tá acontecendo? - agora já um pouco impaciente.
- É que... na verdade... tá em manutenção.
- Que manutenção, que nada! Você por acaso é da empresa de elevadores?
- Eu, eu...
- Não é, nada! - ela mesmo respondeu - Já lhe vi aqui no prédio um montão de vezes.
E segurando de novo a porta que insistia em fechar avançou decidida
- Quer saber: eu tô atrasada e não posso ficar esperando. Me dá licença.
Adiantava-se com um passo quase já dentro do elevador quando ouviu:
- É que eu soltei um pum. - revelou o rapaz constrangido.
E completou:
- Não achei justo que uma moça tão bonita, tão elegante, tão fina tivesse que aguentar isso.
- Era por causa disso? - quis confirmar ela com um ar de riso no rosto posicionando-se ao lado dele no interior da máquina.
E tendo a silenciosa confirmação do rapaz, sorriu para ele e o surpreendeu:
- Quero ver soltar um desses então...
Assim que a garota conclui a frase, a porta automática se fechou.
O elevador desceu.


Cly Reis

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