"Homem Dissolvido" - REIS, Cly acrílica aguada sobre cartolina (29,7x42cm) |
Essa era, costumeiramente, a justificativa da Dulce para suas ausências nos programas da turma das "meninas", o grupo de amigas, senhoras já na dita melhor idade, e que não raro, procuravam atividades ou programações para ocupar o tempo ou se entreter,
Em muitos programas, ela até gostaria de ir mas, realmente, qualquer pinguinho, qualquer gotinha, tinha a capacidade de causar um estrago tremendo, devastador, que as amigas não tinham a capacidade de compreender.
- Ah, deixa de ser boba, Dulce! Que mal uma aguinha pode fazer? - argumentava uma.
- É, parece que é feita de açúcar. - completava uma outra jocosamente, e todas caíam na gargalhada.
Certo dia, Dulce aceitou um convite para sair. O dia estava claro, bonito, parecia sem riscos e ela então concordou em encontrar-se com as amigas.
Riram, beberam, dançaram mas, lá pelas tantas nuvens começaram a aparecer no céu. Dulce se inquietou. Agitou-se, começou a recolher as coisas apressadamente sob os protestos das colegas.
- Ai, Dulce, larga isso aí. Nem vai chover, só ficou meio nublado, não é nada.
- Não, não. Não posso arriscar.
Mas era tarde demais. As primeiras gotas começaram a cair.
São só uns pinguinhos. O que que pode acontecer?
Assim que as gotas tocaram o corpo de Dulce, ela pareceu paralisar.
Primeiro as amigas riram mas, aos poucos, suas expressões de galhofa foram se desfazendo.
Dulce derretia. A água erosionava as partes onde tocava em seu corpo e aos poucos pedaços inteiros desabavam, tombando para o lado e caindo pesadamente, se espalhando como se desenhassem explosões estrelares no chão.
As amigas olhavam para o chão, um tanto incrédulas, num misto de estarrecimento e piedade.
Uma delas não pode deixar de exclamar:
- Coitada, era um doce de pessoa.
Cly Reis
Perseguidora e perseguido. A dupla de protagonistas de brilhantes atuações |
Ilustrações de gols de clubes brasileiros que já tiveram a honra de serem campeões da Libertadores da América, ou seja, de alcançarem A Glória Eterna.
ATLÉTICO MG - Gol de Leo Silva na final contra o Olímpia em 2013 no Mineirão, em Belo Horizonte Atlético MG 2 x Olímpia 0 (4x3) |
CORINTHIANS - Gol de Emerson Sheik na final contra o Boca Juniors, no Pacaembu em São Paulo, em 2012 Corinthians 2 x Boca Juniors 0 |
CRUZEIRO - Gol de Joãozinho no jogo-extra da final, contra o River Plate, em Santiago, no Chile, em 1976 River Plate 2 x Cruzeiro 3 |
FLAMENGO -P Gol de Gabriel Barbosa, o Gabigol, na final única contra o River Plate, em Lina, no Peru, em 2019 Flamengo 2 x River Plate 1 |
GRÊMIO - Gol de César na final contra o Peñarol, em Porto Alegre em 1983 Grêmio 2 x Peñarol 1 |
INTERNACIONAL - Gol de Rafael Sóbis, no primeiro jogo da final, contra o São Paulo, no Morumbie, em São Paulo, em 2006 São Paulo 1 x Internacional 2 |
PALMEIRAS- Gol de Brenno Lopes, na final em jogo único contra o Santos, no Maracanã, no Rio de Janeiro, em 2020 Palmeiras 1 x Santos 0 |
SANTOS - Gol de Neymar na final contra o Peñarol, em 2011, no estádio do Pacaembú em São Paulo Santos 2 x Peñarol 1 |
SÃO PAULO - Gol de Raí, na final contra o Newell's Old Boys, em 1992, em São Paulo São Paulo 1 x Newell's Old Boys 0 (3x2) |
VASCO DA GAMA - Gol de Juninho Pernambucano, na semifinal contra o River Plate, em Buenos Aires, na Argentina, em 1999 River Plate 1 x Vasco da Gama 1 (Vasco classificado para a final) |
Nessa data querida
Muitas felicidade
Muitos anos de vida!"
A máquina de costura ainda batia repetidamente a agulha quando a mãe ouviu a voz do filho às suas costas num parabéns entusiasmado.
"Crianças!..." Não havia ninguém de aniversário naquele dia.
O lume, refletido nos cromados da máquina que manejava, acusava que algo acontecia atrás de si. Voltou-se, curiosa pelo luzidio reflexo e por tamanho festejo do filho. Ao virar-se, o que viu a tomou de um instantâneo pavor.
Chamas subiam de sua cama.!
Chamas....
Chamas...
Por trás delas, ajoelhado diante da labareda, ao pé da cama, a criança, seu filho de 3 anos de idade, alegre e orgulhosamente celebrava a gigante "vela" de aniversário que produzira com uma caixa de fósforos.
Celebrava, entoando os versos da mais famosa canção de congratulações de anos completados, diante da chama viva e luminosa que criara.
"Parabéns pra você
Nessa data querida
Muitas felicidade
Muitos anos de vida!"
O susto e a perplexidade inicial da mãe tiveram que dar lugar, rapidamente, à urgência de abafar o fogo e tirar a criança dali.
Como rescaldo do incidente, não houve vítimas, com exceção é claro do próprio pequeno incendiário que levou algumas boas lambadas de chineladas pelo aniversário macabro que proporcionara (o que não fora nada se comparado ao poderia ter acontecido). Também, pode-se dizer que não houve danos materiais com exceção de um belíssimo cobertor argentino de pelos, que para sempre carregaria a marca chamuscada da capetice daquele pirralho.
O que poderia ter-se transformado numa grande tragédia, felizmente virou uma lendária história para contar e que rimos até hoje.
O menino arteiro que, por sinal, hoje completa 45 anos, foi deixando de ser peralta aos poucos, cresceu, tornou-se um homem, depois um grande homem, um jornalista de alto nível, um escritor brilhante e felizmente tenho prazer de tê-lo como, além de irmão, parceiro deste nosso espaço de dedicação e exercício de criatividade.
Parabéns, Daniel querido!
Que, no teu dia, as únicas chamas que continuem acesas sejam as do teu caráter, do teu brilho interior e da tua inspiração. E que a da tua vida, que como qualquer outra, sabemos, não é eterna, ao menos, demore muito muito muito a se apagar.
Parabéns, parabéns!
Talvez até queime um coberto em tua homenagem.
Tu mereces, tu mereces.
Caixa de fósforos na mão e...
Parabéns pra você...
Cly Reis
A via nos corredores do colégio e ficava admirando aquele jeito dela andar. A Claudine se movia de uma maneira única, ímpar, singular.
Ela não caminhava, ela flutuava, pairava, deslizava. Parecia andar nas pontas dos pés, pisar com cuidado para não ferir o chão. Um andar ao mesmo tempo determinado e sensual. Lânguida como uma garça e determinada como uma tigresa. Aquele cabelo avermelhado vivido como uma crina de fogo de um cavalo de raça, daqueles de trote elegante e seguro.
Pensava comigo mesmo que, se um dia tivesse a Claudine para mim, não lhe pediria mais nada - carícias, sexo, prazeres vulgares - só pediria que andasse para mim. "Anda, Claudine, anda".
Seria mais como um bichinho de estimação do wue uma mulher. Um hamster naquele extraordinário corpo feminino.
Eu sonhava com a Claudine... Sonhava que um dia estaríamos em nossa casa e eu a conduziria a uma dependência qualquer de nosso lar, cobrindo-lhe os olhos com as mãos e, chegando a esta sala, descortinaria-lhe a surpresa à sua frente, para a qual ela sorriria com entusiasmo e me agradeceria dependurando-se em meu pescoço e tascando-me um beijo. Perto da janela, com ampla vista para a cidade inteira, na nossa cobertura, iluminada pela luz diáfana da manhã, estaria posicionada uma vistosa e reluzente esteira, moderníssima de última geração. "Anda, Claudine, anda", eu diria para ela.
Ela, com um brilho de alegria nos olhos, subiria, ligaria o aparelho que lentamente entrava em funcionamento e ela era então obrigada a sincronizar seu movimento com o da máquina. E eis que ela estava caminhando. Só para mim.
Ela então lembraria, como que num susto, "Ih, tenho que buscar as crianças na escola."
Ao que eu a acalmaria, "Não se preocupa, Claudine, só caminha, só caminha."
Ela então falava alguma coisa... mas eu não ouvia.
...
Sua voz saía muda.
O que ela tentava me dizer?
...
De repente eu entendia:
"Oi, você que é o Carlos?"
Ahn?
Acordo de meu delírio e me deparo com alguém tocando meu ombro.
"Oi, desculpa incomodar. Tudo bem? Me falaram que você é bom de física... eu queria saber se você me daria uma ajuda...?"
Hesitei, gaguejei, meio abestalhado fiquei olhando para ela por um instante...
"Meu nome é Claudine, eu sou da outra turma. A gente nunca se falou...", explicou ela um tanto constrangida. "É essa parte aqui...", mostrou o conteúdo de física, sacando o caderno. "Se você puder me ajudar...", sugeriu de forma graciosamente suplicante, esperando meu parecer.
"Claro, claro", respondi quase automaticamente.
"Então tá. Obrigada. Tenho que ir agora que a professora já tá entrando. A gente combina depois. Valeu mesmo". E saiu, desta vez, numa corridinha desajeitada, para sua sala de aula.
Eu também tinha que me apressar antes que o professor me barrasse a entrada. Peguei a mochila, botei nas costas, suspirei fundo e segui em direção à sala de aula. Eu flanava pelo corredor.
Cly Reis
Se vou hoje, amanhã, segunda...
Segunda vai estar cheio. O dindim de geral já pingou na conta e geral vai fazer compras...
Em compensação, sexta tem o pessoal do churrasco. Quem já compra as coisas pro domingão, quem faz aquelas reservas pro finde...
Acho que vou amanhã de manhã.
Mas pela manhã tem tanto velho!
(Mal se mexem, mal conseguem empurrar o carrinho)
O que que tanto velho faz no supermercado de manhã?
Pensando bem, acho que não vou pela manhã, não.
Ah, na real, o armário nem tá tão vazio assim. Dá pra esperar mais um pouco.
Semana que vem eu vejo isso.
Cly Reis