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sábado, 5 de novembro de 2016

Cinema Marginal #7 - "Bang Bang", de Andrea Tonacci (1971)


Embarque neste táxi, e prepare-se para uma viagem muito louca. Vamos a um filme que desconstrói nossas noções de cinema, e espero que você esteja preparado.
Um homem, que durante a realização de um filme se vê envolvido em várias situações como o romance com uma bailarina espanhola, perseguições, discussões com um motorista de táxi e o enfrentamento com um bizarro trio de bandidos Este é um resumo rápido do que podemos pegar de "Bang Bang".
Seriam estes os personagens do filme?
Lá vou eu mais uma vez: não é um filme comercial, nele não há uma “narrativa”, não parece nem ter uma sequência lógica, às vezes fica a impressão que ele não passou pela fase de montagem, então se você quer um filme linear e com uma história para contar fuja deste filme.
Essa “falta” de “narrativa” dá uma liberdade para alguns experimentos, como colocar os telespectadores praticamente dentro do filme. em grande parte do filme a câmera está bem grudada aos personagens e em alguns momentos até parece ser um deles. Essa ferramenta nos prporciona ótimas cenas como na que um homem utilizando uma máscara de macaco faz sua higiene bucal em frente ao espelho e, ao fundo, através do reflexo do espelho, vemos uma câmera registrando tudo. Um filme realmente de cinema, onde o cinema literalmente está dentro dele. Há outras cenas, como, por exemplo, a do elevador na qual o homem que é sequestrado tenta fugir e é empurrado de volta para dentro não ficando claro se foi a câmera ou algum outro personagem que o empurrou.
É mais um mergulho no cinema experimental e inovador. Sem fórmulas, sem o maneirismo do cinema, mas sem deixar de ser cinema, ter romance, perseguições, tiros e mágica. História? Sim, tem... Se você desvendar toda a trama, por favor, me conte, se possível antes de levar uma tortada na cara.
Ainda tentando entender esses três patetas.




Vagner Rodrigues

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

10+1 Filmes de Terror Para Curtir no Halloween



Halloween pede um bom filmezinho de terror, não? É só ver por aí, hoje, as programações dos canais recheadas de títulos do gênero em todas as suas variações possíveis. Tem de demônios, de casa assombrada, de serial-killer, de zumbis, de mutilações e podreiras e assim por diante. O ClyBlog pediu para que alguns amigos listassem seus favoritos do gênero e reuniu os mais mencionados numa super lista de filmes altamente recomendáveis para os amantes do lado sinistro do cinema. Na verdade, a maioria deles já são conhecidos, batidos, alguns já são clássicos mas exatamente por conta dessa imortalidade, dessa aura mítica que os envolve é que merecem sempre serem assistidos de novo e de novo e de novo.
Então vamos a eles:


As perspectivas de Kubrick ficam mais sufocantes.
1. "O Iluminado", de Stanley Kubrick (1980)
Frequentemente apontado como o melhor terror de todos os tempos, o clássico de Stanley Kubrick não foi esquecido pelos votantes. Um escritor, Jack Torrance, se candidata a trabalhar como zelador num hotel nas montanhas na época de baixa temporada quando o mesmo fica completamente vazio e leva para lá sua esposa e seu filho pequeno. Só que lá ele começa a ser influenciado por "alguma coisa" e seu comportamento vai mudando chegando ao ponto de ameaçar a integridade física de sua própria família. Ao mesmo tempo o garoto começa a ter visões para o espectador vai ficando claro que alguma coisa de não muito bom andou acontecendo naquele lugar. A câmera em movimento e as perspectivas de Kubrick, sempre muito marcantes, talvez nunca tenham sido mais adequadas e perfeitas do que neste filme, causando uma sensação de opressão, claustrofobia e inquietude, especialmente nos momentos em que perambula pelos corredores quietos e vazios do hotel. E as meninas no corredor, e a mulher na banheira, e a cascata de sangue no elevador, e o REDRUM... Ah, cara, que filmaço!




2. "O Exorcista", de William Friedkin (1973)
Passa o tempo, surgem filmes e mais filmes de terror, aperfeiçoam-se as técnicas, surgem novos recursos, mas "O Exorcista'continua lá, sempre sendo lembrado como um dos grandes filmes de sua categoria. Não é para menos, o drama da menina Regan possuída por um demônio é impactante visualmente ainda hoje mesmo com o avanço dos efeitos especiais. Como não lembrar da cena em que a garota vira completamente o pescoço?

As cenas mais impactantes de "O Exorcista"



3. "O Bebê de Rosemary", de Roman Polanski (1968)
Outro dos mais lembrados nas listas dos votantes e outro da "veterano" do terror. Clássico de Roman Polanski em que  um casal se muda para um novo apartamento e lá, Rosemary grávida, começa a suspeitar de um plano maligno dos vizinhos, um casal de idosos, com o próprio marido para fazer de seu bebê o Filho das Trevas. Filme muito mais inquietante, angustiante do que aterrorizante. Não é de dar medo mas mantém o espectador em um estado de tensão constante. Brilhante roteiro e excepcionais atuações, especialmente de Mia Farrow no papel principal. De um modo geral, o impacto visual é bem brando, mas, mesmo muito sutilmente e sem forçação nenhuma, a parte em que aparecem os olhinhos da criança é bem perturbadora.






4. "Evil Dead - A Morte do Demônio", de Sam Raimi (1981)
Como se faz um clássico? Com um sítio no meio da floresta, um grupo de amigos, pouca grana e uma câmera na mão. Exagerando é mais ou menos isso. Com baixíssimo orçamento, com alguns amigos, uma boa ideia, criatividade e muito talento, o então novato Sam Raimi, criava um dos filmes mais cultuados do gênero de terror. Um livro misterioso encontrado no porão de uma cabana onde um grupo de jovens vai passar um final de semana grupo de amigos que vai passar um final de semana dá início a uma demoníaca e sangrenta jornada de terror. Um espírito é libertado e cada um deles começam a ser possuídos pela entidade maligna. A cenas da câmera correndo rapidamente rente ao chão no meio da floresta com um efeito sonoro agoniante são muito legais e a da árvore estuprando a garota, uma das mais marcantes de todos os filmes de terror.


Tralier de "Evil Dead", A Morte do Demônio"




O Freddy vai te pegar...
5. "A Hora do Pedsadelo" de Wes Craven (1984)
O filme de Wes Craven consegue ter um dos personagem mias carismaticamente sinistros ou sinistramente carismáticos do cinema. Sabemos que Freddy Krugger, pedófilo, sequestrados e matador de criancinhas é um filha da puta mas aquele jeitão desleixado e seu humor negro fazem com que inevitavelmente mantenhamos alguma simpatia por ele. O fato do assassino se materializar no sonho dos adolescentes da cidade, filhos das pessoas que o queimaram vivo é um grande achado do filme e seu grande diferencial. Além de lhe conferir um charmoso toque surrealista, também lhe atribui características de desenho animado uma vez que o mundo dos sonhos possibilita de forma ilimitada variações de forma, espaço, dimensões, estado físico, etc. com uma justificativa muito mais natural do que teria em outra situação no mundo real.





Quem é aquela mulher?
6. "Psicose", de Alfred Hitchcock (1968)
"Ah, mas não é filme de terror!". Não é? Uma mulher é morta brutalmente a facadas no chuveiro por outra "mulher"... Como assim? Não havia mais ninguém no motel além do dono e gerente Norman Bates. Mas poderia ser sua mãe... Não! Ela e falecida. Mas então com quem ele conversa? De quem é aquela voz de mulher? O espírito da velha? Será? Não! Antes fosse. é algo pior. "Psicose" tem o grande mérito de ir mudando de gênero ao longo de seu desenvolvimento e ir moldando a expectativa do espectador: começa como um filme policial, um roubo; passa a ser um terror sobrenatural talvez, uma vez descartado a assombração, passa a ser um suspense e por fim descobrimos que é um filme de serial-killer. Ora, se um filme de assassino em série não é terror então que me desculpem Leatherface, Michael Myers e cia.






Samara, dos personagem mais marcantes
do mundo do terro nos últimos tempos.
7. "O Chamado", de Gore Verbinski (2002)
Uma das várias refilmagens americanas de originais japoneses e, neste caso, assim como em "O Grito" com competência e êxito. Pode-se  até discutir quanto a qual das versões é melhor mas é fato que a ocidental já um clássico do gênero. O filme da fita de vídeo matadora, à qual quem a assiste acaba morrendo em uma semana, mantém a tensão no alto o tempo inteiro por conta da expectativa de saber se a mãe, a jornalista Rachel, conseguirá em tempo hábil salvar o filho que assistiu à fita. A edição, muito videoclípica, nas cenas do tal VHS maldito é simplesmente agoniante, e Samara com sua cabeleira sobre o rosto e seus movimentos quebrados ao sair da tela e atacar as vítimas já é uma referência entre os personagens de horror.






Ih, tá na hora.
8. "O Exorcismo de Emily Rose", de Scott Derrickson (2005)
Outro dos novos clássicos este é um filme daqueles constantemente apontado como extremamente assustador, de não deixar dormir. Um dos motivos desta inquietação de provoca no espectador é o fato de ser baseado numa história real, o que inapelavelmente esfrega na nossa cara que TUDO AQUILO ACONTECEU DE VERDADE. Outro é a grande atuação da triz Jennifer Carpenter garantindo um incrível realismo às possessões. E outro ainda, possivelmente seja a tal da "hora do demônio" que tanto atormenta a jovem e depois as noites da advogada. Eu mesmo, quando vi, pensei duas vezes quanto a deixar o relógio ao lado da cama e quis dormir tão profundamente pra não correr o risco de acordar às 3 da manhã. Curiosamente é um filme de tribunal com flashbacks no referido exorcismo o que mais méritos lhe dá quanto ao fato de ser considerado tão assustador.






O vampiro repugnante de Murnau.
9. "Nosferatu", de F.W. Murnau (1922)
É incrível como muitos dráculas depois nenhum tenha conseguido superar esse. Baseado no "Drácula" de Bram Stoker, o filme do genial alemão F.W. Murnau traz um vampiro completamente fora dos padrões que depois nos acostumamos a ver no cinema,  o tipo bonitão e sedutor. Seu Conde Orlock é feio, bizarro, estranho e aterrorizante. Em 1922, mudo, com recursos primaríssimos de efeitos especiais, "Nosferatu" não é responsável apenas pela formação da linguagem do terror mas pela consolidação da linguagem cinematográfica como um todo. Obra-prima. Não é à toa que seu subtítulo é "uma sinfonia do horror".





O menino com seu "brinquedinho".
10. "Cemitério Maldito", de Mary Lambert (1989)
Filme que é cult desde que nasceu por conta da trilha sonora dos Ramones mas que, pode ter certeza, não fica só nisso. Depois de em um antigo cemitério indígena, revelado por um vizinho, ressuscitar o gato atropelado numa movimentada rodovia, o pai da família Creed desesperado pelo fato do filho ter tomado o mesmo destino que o mascote, resolve utilizar o mesmo recurso para reanimar o menino já sabedor que, assim como acontecera com o bichano, quem é enterrado naquele solo sagrado não volta como era antes. O filme tem cenas fortes de violência, de brutalidades, de mutilação especialmente as do menino com o bisturi na mão mas poucas coisas são mais aterrorizantes que a risadinha do garoto antes de aprontar "alguma das suas".






"Parece que tem alguém ali. Ih, tem alguém ali!"
10+1. "Os Inocentes", de Jack Clayton (1961)
Esse pra falar a verdade não foi tão votado mas é escolha da redação uma vez que eu e o Daniel, editores deste blog, adoramos esse filme e ambos os consideramos um dos grandes de todos os tempos. "Os Inocentes" conta a história de uma moça que vai trabalhar como governanta numa propriedade afastada para cuidar de duas crianças orfãs cujo tio, dono da casa, prefere se eximir da tarefa. O problema é que naquela casa enorme, naquela propriedade imensa, no jardim, no lago, a governanta começa a ver fantasmas. Só que os fantasmas não passam rápido, não "parece" que vimos alguma coisa. Eles realmente estão ali! E este é o grande mérito do terror do filme. É assustador pela sobriedade, pela leveza, pelo silêncio, pela fotografia primorosa e pela grande atuação de Deborah Kerr no papel da governata, Srta. Giddens. Na minha opinião tem um final um tanto exagerado, excessivamente teatral que contrasta com toda a sobriedade do restante do filme, mas o filme é taõ bom, tão bom o tempo todo que a gente até releva algum excessozinho que possa ter sido cometido no final. Mas nada demais! Não se deixe influenciar por essa última impressão. é obra de arte.



Agradecimentos a Claudia Melo; Vagner Rodrigues; Jowilton da Costa; Lisiane Möller; Thamy Lopes; Marcelo Silva; Roberta Motta; Roberta Miranda, José Júnior; Carolina Costa, Daniel Rodrigues, Valeska, Jamal e Lúcio Agacê que colaboraram nesta enquete.

Cly Reis


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

"Love", de Gaspar Noé (2015)



Queria ter visto no cinema, em 3D, mas por alguma dessas coisas da vida, datas, filha, obrigações, saúde, etc., acabei não conseguindo e só agora, no TV fechada pude assistir ao polêmico "Love" do cineasta argentino Gaspar Noé que já havia causado algum alvoroço com o bom "Irreversível" de 2002, especialmente pela cena de estupro com quase 10 minutos sem corte.
"Love" repetiu o estardalhaço, já desde o Festival de Cannes, onde foi exibido fora de competição e , como não poderia deixar de ser, dividiu muito as opiniões. Com forte ênfase no sexo para conduzir a história, "Love" se assemelha muito a "Nove Canções" do diretor inglês Michael Winterbottom, mas é bem mais interessante estética e estruturalmente. Enquanto o filme do britânico de 2004 era meio aquela coisa "música-sexo-show-trepada-som-chupada..." e por aí vai, este, "Love", tem toda uma construção e é muito mais bem pensado em todos os aspectos. O filme centra as atenções em Murphy, um jovem cineasta que, como ele mesmo diz, só sabe fazer uma coisa "FODER", e é isso mesmo que ele faz, na prática e na própria vida. Ele fode com tudo. Mas Murphy não pode levar a culpa sozinho, embora seja um porra louca irresponsável, ele não é o único culpado do caos que sua relação com a namorada Electra se torna. Se ela é viciada, se ele a trai, se ele trepa coma vizinha e tem um filho com ela, nisso tudo a parceira, muito confusa e desnorteada, tem grande parte de responsabilidade também.
O caso é que certo dia Murphy recebe uma ligação da mãe de Electra contando que a garota está sumida e, perturbado, a partir daí, começa a repassar os as origens, as dificuldades, os momentos felizes e infelizes da relação.
Cenas de sexo sem pudor nem frescura.
Por conta dos excessos dos personagens, das brigas e especialmente das cenas de sexo o filme pode acabar tirando o foco do espectador para uma coisa importante: é um filme sobre amar. Sim! O jeito de Murphy e Electra de se amarem, louco, irresponsável, inseguro só retrata mais uma forma de amor entre tantas maneiras como ele se manifesta nas mais diversas relações. O sumiço da ex-namorada é apenas o gatilho para que o inconstante Murphy perceba o quanto a ama e todas as situações repassadas, nos bem montados flashback que constituem o corpo principal do filme, sejam elas de drogas, violência ou se sensualidade, apenas reforçam o sentimento.
É bem verdade que, voltando a comparar com o "Nove Canções", aquele, não tendo muito o que apresentar, tem o bom senso de ser mais curto, ao passo que o miolo deste, "Love", poderia ser mais enxuto sem prejuízo ao produto final.
Não há como deixar de falar das cenas de sexo uma vez que elas aprecem com grande frequência e com muita explicitez em alguns momentos. Elas são diretas, expostas, sem frescura mas não são apelativas e, por sinal, são de qualidade estética e artística elogiáveis pecando um pouco apenas na de interpretação expressiva do protagonista, bastante limitado, o que não prejudica, no entanto, sua atuação física nas cenas em questão.
Filme muito bem montado, bem conduzido e muito bem concebido esteticamente. Fotografia muito dinâmica e bem executada, cores fortes nos figurinos, objetos e cenários e frases e créditos estampados rudemente na tela lembrando um pouco o que Godard costuma fazer (sem comparações entre os diretores, por favor) especialmente na passagem da "Lei de Murphy" e na cena final.
Para mim que achava que o filme seria uma sequência interminável de cenas de sexo sem critérios, fui surpreendido com um filme mais interessante, mais profundo, com uma proposta narrativa e visual. e sobretudo por um filme de... Ora, o nome do filme já me avisava, não sei por que duvidei dele.



Cly Reis



segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Cinema Marginal #6 - "Copacabana Mon Amour", de Rogério Sganzerla (1970)



Vamos lá, isso mesmo, mais uma vez Sganzerla e mais uma vez uma grande obra. Atenção, família tradicional brasileira, tome muito cuidado ao assistir a "Copacabana Mon Amour".
Sônia Silk (Helena Ignez) circula por Copacabana, no Rio de Janeiro, com o grande sonho de ser cantora da Rádio Nacional. Silk é irmã de Vidimar, empregado apaixonado pelo patrão, o Dr. Grilo.
Se chegamos desavisados, o filme é  uma grande bagunça, uma história difícil de entender, muitos gritos, mas muitos mesmo, na verdade a obra e praticamente toda gritada. Agora já temos cores, a qualidade da imagem melhora bastante em relação a alguns filmes anteriores de Sganzerla mas o som continua sendo um problema. Devido ao fato de muitas cenas terem sido filmadas na rua e os microfones da produção não serem grande coisa, nem a técnica de som da época era tão avançada, o diretor mais uma vez escolhe dublar todas as falas do longa e elas dessincronizam em todo o filme (falas dubladas pelos próprios atores).
O estranho relacionamento entre os dois irmãos.
Os diálogos das obras desse diretor são sempre um destaque assim como a maneira que ele pega coisas totalmente deixadas de lado ou muitas vezes vistas com olhar preconceituoso e coloca como grande destaque dos seus filmes. Helena Ignez, sempre muito sensual, (Nossa, essa mulher era a sensualidade em pessoa!), tem atuação hipnotizante. Logo na primeira cena temos uma narração em off relatando quem são os “deuses”, divindades, orixás, da cultura do candomblé, e a partir daí o candomblé segue fazendo parte do enredo até o final do filme. Temos até uma cena onde um dos personagens está fazendo um “trabalho”, temos cenas de “possessão”, e batuques de tambor também são bem frequentes. A trilha sonora foi composta por Gilberto Gil e tem um destaque bastante grande dentro do filme entrando sempre em momentos oportunos, isso sem falar na sua incrível originalidade, conseguindo ser uma daquelas obras que une com perfeição a tropicália e o cinema.
As cenas deste filme são de uma força, de um impacto fortíssimo. Como disse ele é gritado, mas é GRITADO em todos os sentidos: as cenas de violência física são constantes por parte do patrão com seu empregado, mas as falas, sempre duras, chegam muitas vezes a serem mais fortes que agressões fisicas. Uma dominação completa. As cenas de sexo também têm sua selvageria e misturam-se com o candomblé, numa combinação que Rogério Sganzerla faz como ninguém.
Mais um achado do cinema nacional, "Copacabana, Mon Amour" pode parecer confuso, pode parecer meramente provocador, e pra falar a verdade realmente é, mas também é um pouco mais que isso: pega a cultura que foi jogada lá em baixo, crenças que foram jogadas lá em baixo e pessoas que são jogadas completamente à margem, e as colocas no ponto alto, as valorizando e humanizando. Parabéns, Mister Sganzerla.
Um pouco do muito de candomblé que o filme tem.




quarta-feira, 31 de agosto de 2016

" Batman: A Piada Mortal", de Sam Liu (2016)



Uma piada de mau gosto. Foi o que eu pensei, a princípio, assistindo à primeira  meia-hora de "Batman: A Piada Mortal", aventura do Homem-Morcego baseada no clássico dos quadrinhos adaptada como animação para as telas e aguardada com grande entusiasmo e ansiedade pelos fãs. O início é dispensável, descontextualizado, desconectado e decepcionante. Com uma historinha toda cheia de romancezinho entre a Batgirl e nosso guardião de Gotham, presta-se praticamente apenas para introduzir a personagem feminina, filha do comissário Gordon, ao contexto do que virá na segunda metade na qual, aí sim, ela é peça importantíssima, em um dos momentos mais marcantes e polêmicos da história dos quadrinhos.
Na segunda parte, por assim dizer, que é o que interessa, aí sim a adaptação do brilhante trabalho de Alan Moore, Brian Bolland e John Higgins, ganha alguma qualidade e real interesse, embora não consiga efetivamente empolgar pra valer. Se a animação de Sam Liu tem o mérito da fidelidade ao roteiro, inclusive aproveitando literalmente algumas imagens do original, não consegue, no entanto, obter a mesma intensidade, mesmo, incrivelmente, com a vantagem do movimento, da profundidade e da ação real, que obviamente o quadrinho não tem. A graphic-novel uma das mais clássicas entre as publicações do Cavaleiro das Trevas apresenta um Coringa, recém foragido mais uma vez do Asilo Arkhan, ainda mais insano e cruel do que em outras oportunidades deixando um rastro de sangue que respinga no comissário Gordon e em sua filha Barbara, a Batgirl, de uma maneira chocante e repulsiva.
Batman então, movido por uma sede de vingança pelo ocorrido com essas pessoas próximas a ele, vai atrás do Coringa e o encontro dos dois e seu desfecho é um daqueles momentos históricos das HQ's. Mas nesse momento poderia ser o da consagração do filme ele derrapa novamente. Falta a chegada do carro da polícia, o reflexo dos faróis na poça d'água como aparece nos quadrinhos e, a meu ver, a reação do herói deveria ser um pouco mais "histérica" como fica evidente no original com uma risada insistentemente nervosa. Parece que não mas acho que faz alguma diferença. Sei que ao que parece a opção do diretor por excluir os elementos visuais mencionados e a brevidade da risada do Coringa e depois a do Batman tem a intenção de reforçar uma possibilidade que nos quadrinhos é mais sutil, mas creio que sacrifica visulamente uma cena antológica por muito pouco.
De um modo geral, devo-lhes dizer, amigos, fiquei um tanto frustrado com o longa, talvez por ter guardado uma expectativa muito grande em elação a ele desde que soube de seu lançamento. Esperava uma animação "afudezona" ele foi apenas razoável. A primeira parte podia não existir mas existindo poderia ser um pouco menor ainda que admita que encurtaria muito o produto final já curto pelo roteiro da HQ, mas acredito que com outros meios mais criativos pudesse ser feito algo mais interessante. Destaques positivo para as cenas do parque de diversões, a perturbadora cena de tortura de Gordon e as "intervenções" visuais originais da HQ no filme. No mais, "A Piada Mortal" está mais pra uma piadinha re riso chocho do que uma daquelas de morrer de rir.
A cena clássica: o Coringa faz o Batman rir.
Mas quem será que ri por último?



Cly Reis

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Cinema Marginal #5 - "Meteorango Kid, Herói Intergalático", de André Luiz Oliveira (1969)



Uma obra extremamente provocativa, tanto para o final dos anos 60, época de lançamento do filme, como para os dias atuais. Seu objetivo é tirar os jovens da zona de conforto e mostrar a eles que as mudanças que eles desejam tem que partir deles.
"Meteorango Kid, Herói Intergalático" narra as aventuras de Lula, um estudante universitário, no dia do seu aniversário. De forma absolutamente despojada, anárquica e irreverente, mostra sem rodeios o perfil de um jovem desesperado, representante de uma geração oprimida pela ditadura militar e pela moral retrógrada de uma sociedade passiva e hipócrita.
Lula (Antônio Luiz Martins),
o nosso "herói"
Vou ser sempre repetitivo nesta parte, não espere que as obras marginais sejam um primor técnico pois os filmes são feitos praticamente de forma amadora, a cortes bruscos, cenas onde o áudio some e mais uma vez você, amigo, vai ter que superar isso, ok?
Se não é um primor técnico o longa é no mínimo muito bem realizado. Temos ótimas escolhas de câmera, a iluminação muito boa na maior parte das vezes, e as atuações, muito reais, dão margem de comparação entre as personalidades dos personagens, sobretudo com o “Vampiro” de "A Mulher de Todos". Esse foi o primeiro longa dirigido por André Luiz Oliveira que por conta de seu ótimo trabalho acabou sendo muito bem recebido pela crítica e pelo público. Menos pela censura.
A "viagem" e o discurso.
Que cena, senhoras e senhores!
Se você analisar o filme vai ver que ele é bem direto, utiliza do seu humor estranho e exagerado para fazer suas críticas sendo a juventude um dos seus principais alvos uma vez que muitos jovens ainda se encontravam numa zona de conforto presos a sonhos utópicos, alienados à cultura de astros de cinema e música, e aí encontra-se a explicação para o título do filme. Uma obra feita no local certo no momento certo: na Bahia, no final turbulento da década de 60, repressão forte, surgimento da tropicália e um sentimento de rebeldia surgindo com força. O longa tem um momento onde podemos ouvir como "trilha" de fundo o famoso discurso de Caetano Veloso de revolta com a juventude em "É Proibido Proibir", no Festival de 1968. Muito bom! Uma das cenas mais impactantes é quando Lula e seus amigos se reúnem em pequeno apartamento para fumar maconha. É uma cena longa na qual acompanhamos toda a viagem dos rapazes desde o cigarro sendo feito até a completa loucura na qual um deles saca a arma e acaba atirando (ou não) em outro no meio da “noia”. Além da cena ser muito bem filmada, com corte perfeitos, temos uma câmera subjetiva nesta cena que dá todo o suspense necessário. É simplesmente perfeita, mostrando todo o recurso técnico do diretor. Um grande destaque para o diálogo desta cena com o fenomenal o discurso que um dos amigos faz que mesmo em meio a todo a loucura da cena e muito bom. Ao final de seu monólogo o que senti foi “Nossa!Esse maluco cheio de erva na cabeça, está certo”.
Uma sociedade totalmente presa a valores atrasados que vende falsa ideia de família tradicional brasileira, uma juventude passiva, que se recusa a se rebelar com medo da não aceitação. Não o longa não é deste ano, é de 1969, mas fala a nossa língua. É um filme do nosso tempo. Um filme forte, um manifesto pela luta que na época era fundamental que existisse. Não temos mais a ditadura, mas a repressão ainda está por aí e os falsos ídolos também. "Meterorango Kid" convida-nos, ainda hoje, a não nos conformarmos a nos revoltarmos. Aceite o convite. Assista o filme. Rebele-se.
O que seria de um filme destes se fosse feito nos dias de hoje?
Talvez não fosse proibido mas com certeza sofreria sérios problemas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

"À Procura", de Atom Egoyam (2015)
















Nem é um esporte que faz parte dos tradicionais jogos olímpicos mas já que estamos em um momento esportivo tão importante, queria destacar um filme que tem na sua ação um esporte que costuma aparecer com alguma frequência no cinema, muitas vezes em cenas isoladas, às vezes como um hobby de algum personagem,  como gran finale , mas poucas vezes como elemento central ou decisivo. Em "À Procura" (2014) do diretor egípcio naturalizado canadense Atom Egoyam, a patinação no gelo não é o tema principal mas ela é importante na origem da situação e é crucial para o desfecho da trama. Uma menina, uma jovem e talentosa patinadora, é sequestrada no carro do pai enquanto este havia descido rapidamente para comprar um bolo. A partir de então o desespero toma conta dele, da mãe, são feitas buscas, investigações e nem sinal da garota. Passam-se oito anos sem notícias da garota, o casal feliz antes do fato vê sua relação deteriorando-se pela depressão, culpa, acusações. Mas objetos pessoais da filha começam a aparecer no local onde a mãe trabalha como faxineira indicando que ela ainda estaria viva. Se durante todo esse tempo o pai, interpretado por Ryan Reynolds , que era visto até como suspeito, não perdia a esperança, agora com as novas evidências ele não descansará enquanto houver alguma chance de reencontrar a filha. A essas alturas, o espectador sabe que a garota, oito anos mais velha, já uma adolescente, está em poder de um homem que a utiliza em um site como isca para atrair outras crianças para uma rede de pedofilia.
Os pais, orgulhosos, assistindo a filha no ringue de patinação
antes do sequestro.
Bom diretor, tema relevante, válido, boa tensão, mas o filme é um tanto perdido. Além de uma série de pequenos defeitos e personagens mal resolvidos, mal caracterizados, caricatos, parece que o diretor teve algum receio ou limitação de levar o assunto que ele mesmo levantou um pouco adiante, o que poderia ter colaborado muito na qualidade final de sua obra. Neste momento olímpico que vivemos, esse vale mais por lembrar mais um esporte no cinema, que por sinal é modalidade apenas das Olimpíadas de inverno, mas cuja ligação da menina com ele e o papel importante que acaba desempenhando na solução do caso, de maneira muito sutil e inteligente, o torna minimamente interessante. No mais, filme fraco. Atom Egoyan já teve momentos melhores.





Cly Reis

sábado, 6 de agosto de 2016

Cinema e Esporte - As Modalidades Olímpicas na Telona


Começaram os jogos olímpicos!
As Olimpíadas estão oficialmente abertas e pra entrar no clima, o Claquete selecionou filmes que destacam esportes. Alguns são obras-primas, outros nem tanto, outros valem a pena serem vistos por alguma cena específica ou por alguma curiosidade mas o caso é que aqui juntaremos a Sétima Arte ao esporte e o resultado é uma lista bastante interessante. A lista foi feita assim de memória, sem buscar muito, sem grande pesquisa, então pode ter ficado faltando alguma coisa relevante que o leitor possa dar falta e que eu mesmo venha a morrer de remorso por não ter mencionado, assim como, logicamente, a lista não pretende contemplar todas as modalidades olímpicas, mas assim, de lembrança, sem pensar muito e destacando alguns esportes, eis aí:




No que diz respeito a cinema certamente não ha nada mais olímpico do que o clássico "Carruagens de Fogo" (1981). É impossível pensar num filme de atletismo sem pensar nele. Ambientado às vésperas das Olimpíadas de Paris, em 1924, "Carruagens de Fogo" centra as atenções em dois corredores da equipe inglesa, um judeu e outro cristão, que buscam classificação para os jogos evidenciando ao longo do drama suas diferenças de estilo, crenças e convicções. Filme que imortalizou a famosa trilha sonora do grupo Vangelis sobretudo pela cena de abertura com os atletas correndo em câmera lenta pela praia, Que criança nos anos oitenta não correu como se estivesse em câmera lenta imitando com a boca o som da canção tema do filme? Atire a primeira pedra.


Sequência inicial de "Carruagens de Fogo"

*****






Rúgbi não é um esporte muito popular no Brasil mas na África do Sul, apesar de todos os conflitos sociais e raciais pós-apartheid era um esporte que atraía a atenção do povo, o problema era que não conseguia unir brancos e negros uma vez que a população negra, apesar de apreciar o jogo, via o esporte como símbolo do regime segregacionista. Às vésperas da Copa do Mundo de Rugbi, em 1995, Nelson Mandela, recém eleito presidente do país e ainda sofrendo da desconfiança dos próprios negros e da resistência dos brancos, vê no esporte a oportunidade de unir o país como um todo em torno de um ideal e reforçar com isso o patriotismo e a autoestima de seu povo.
"Invictus" (2009) não é um filme espetacular mas é mais um dos bons filmes de Clint Eastwood e conta com a boa performance de Matt Damon como o capitão da equipe nacional sul-africana e uma atuação extraordinária e marcante de Morgan Freeman como Nelson Mandela, pelo qual foi indicado ao prêmio de melhor ator.



*****






"Fuga Para a Vitória", referência em filmes  de futebol.
Se o rúgbi não tem lá todo esse público por aqui, vamos falar então do esporte mais popular do país olímpico, o futebol. Sim, porque mesmo num momento desfavorável por conta da corrupção, desmandos, escândalos, desorganização, ausência de craques, resultados vexatórios, ainda é a bola redonda que manda por essas bandas. Mas o fato é que é difícil se fazer filmes de futebol. As dimensões do campo e a própria dinâmica do jogo não são facilitadores pra quem pretende fazer um longa dentro das quatro linhas. Talvez por isso, alguns dos melhores exemplos de bons filmes sobre futebol se passem fora de campo. O bom "Linha de Passe", de Walter Salles (2008) onde o sonho de um garoto pobre em alcançar o sucesso no esporte é pano de fundo para os problemas sociais na periferia de São Paulo, e o ótimo "Boleiros" de Ugo Giorgetti (1998), em que m grupo de amigos de alguma forma ligados ao futebol no passado, jogam conversa fora em um bar relembrando fatos engraçados, curiosos, tristes de suas vidas, seja na arquibancada, com um apito na ão, na casamata ou dentro do campo.
Mas dentro do campo, o filme que provavelmente conseguiu o melhor resultado prático na telona, transformando-se em um clássico do cinema, é o sempre lembrado "Fuga Para a Vitória" (1982), filme que narra a história de prisioneiros aliados na Segunda Guerra Mundial que terão uma partida contra os alemães e vêem nela a oportunidade de escapar. Apesar da falta de traquejo com a redondinha de atores como Sylvester Stallone e Michael Caine, o mestre John Huston consegue cenas de grande emoção e alta plasticidade como por exemplo a do gol de bicicleta. Sabe de quem? Vou dar uma pista: sabe o filme do Pelé que o Chaves queria tanto ver?



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Curiosamente, apesar de altamente popular nos Estados Unidos e de uma plasticidade  e dramaticidade favoráveis, o basquete, que até tem grande número de produções, não apresenta filmes de qualidade destacada. Talvez possa-se destacar o bom "He Got the Game - Jogada Decisiva", de Spike Lee com Denzel Washington (1998), o subestimado mas interessante e bem dirigido "Homens Brancos Não Sabem Enterrar", cujo título infeliz em português que parece mais de um filme pornô deve ter afugentado muita gente dos cinemas e repelido espectadores até hoje. Mas por incrível que pareça um dos mais lembrados quando se fala de bola no cesto e certamente o mais olímpico dos filmes deste esporte é "Space Jam - O Jogo do Século", que mistura personagens dos desenhos animados da Looney Tunes com astros da NBA. Tentando se libertar de alienígenas que os aprisionaram, Pernalonga e sua turma convocam ninguém menos que o astro Michael Jordan para jogar em seu time e conquistar a liberdade. Um grande barato.



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O tenso jogo de tênis de "Pacto Sinistro".
O tênis também rende bons filmes para a telona. Apesar de sua dinâmica para muitos um tanto monótona, o vai-e-vem da bolinha por si só já gera uma tensão toda particular que somente mestres conseguem explorar com verdadeira competência. É o caso, por exemplo, de Woody Allen no seu excelente "Match Point" (2005) no qual partidas de tênis mesmo aparecem em poucos momentos, e para falar a verdade, nem partidas são, são apenas treinos. Mas, a partir da genial cena de introdução que coloca o destino de uma bola que bate na rede e pode cair para qualquer dos lados na conta meramente da sorte, o filme passa a ser um jogo. Bola lá e bola cá. Quem vai matar o ponto e fechar  partida?
Mas ainda mais notável que o suspense policial de Allen, é o do mestre do gênero, Alfred Hitchcock. "Pacto Sinistro", filme de 1951, trata de dois homens que se conhecem casualmente em um trem sendo que um deles reconhece o outro como um tenista famoso, Guy Haynes, que pelo que se sabe pelos tabloides e jornais de fofoca, teria uma amante e estaria insatisfeito com seu casamento. O estranho do trem, Bruno Anthony, então propõe ao tenista uma troca de "favores", ele se livraria da esposa do tenista que insiste em não ceder o divórcio, e Haynes mataria seu pai. Ok? Claro que não! Só que mesmo sem concordância do tenista o doido dá o acordo por selado e cumpre sua parte. Só que aí ele vai cobrar a parte do outro e é aí que o negócio esquenta.
Absolutamente genial! A cena da morte da esposa de Guy, a cena do carrossel e logicamente a tensa cena do jogo de tênis são daquelas coisas de assistir de joelhos. No jogo da bolinha pequena, o mestre Hitch mais uma vez bate um bolão.



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Filmes de capa e espada sempre foram comuns e muito populares no cinema. Duelos mortais, filmes de pirata, de cavaleiros, guardas reais, e até de ficção científica como as lutas de sabre de luz na série "Star Wars", mas a esgrima propriamente dita, como esporte também parece em alguns momentos interessantes na história da sétima arte. "O Último Duelo " de F. Murray Abrahams (1993); o filme estoniano "O Esgrimista" de 2015; na parte de Louis Malle, adaptação do conto "William Wilson" de Allan Poe no coletivo "Histórias Extraordinárias" de 1968; no bom mistério juvenil "O Enigma da Pirâmide" de Barry Levinson que traz as origens do detetive Sherlock Holmes, são apenas  alguns exemplos da esgrima no cinema, mas gostaria de destacar aqui o divertido duelo de James Bond contra o milionário Gustav Graves em "007 - Um Novo Dia Para Morrer" (2002) em que os adversários começam a disputa disciplinados, nas regras da competição, mas que aos poucos vão as abandonando até causar um verdadeiro caos e destruição no elegante clube inglês que frequentam. Filme de mediano pra fraco mas gosto muito dessa cena que tem inclusive a participação da cantora Madonna. 


A cena da esgrima em duas partes: até onde o esporte estava sendo respeitado
e quando Bond e o adversário mandam tudo às favas e passa a valer qualquer coisa.




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Nas cordas, no córner, no ringue. Lá se passam alguns dos grandes filmes que o cinema já nos deu. Desde o incipiente filme de Kubrick "A Morte Passou por Perto" de 1955; o clássico do neo-realismo italiano "Rocko e Seus Irmãos", de Luchino Visconti (1960); a saga Rocky, da qual os dois primeiros filmes (1977 e 1980) são os grandes clássicos mas cujo restante da franquia mantém toda uma mitologia particular; passando pelo comovente "o Campeão" de Franco Zeffirelli (1979); por "Hurricane", de Norman Jewison (1999); pelo boxe feminino no premiado "Menina de Ouro" de Clint Eastwood (2005);"o Vencedor" (2010) com Mark Wahlberg cujas cenas de luta deixam muito a desejar; até chegar ao recente (2015) "Nocaute" de ótima atuação de Jake Gyllenhaal, a Sétima Arte vem com frequência nos proporcionado filmes com bons roteiros, qualidade técnica e requinte sobre a Nobre Arte. Verdadeiros balés de direção que parecem tentar compensar ou contrapor a violência do esporte com cenas inesquecíveis.
Talvez o que melhor traduza todas essas qualidades, sendo frequentemente apontado em diversas listas como um dos 5 melhores filmes de todos os tempos, seja "Touro Indomável" (1980), mais um das obras de arte de Martin Scorsese. As cenas de luta são extremamente bem filmadas, intensas, inquietantes com sua fotografia em preto e branco e ambiente esfumaçado, contudo o filme não se fixa meramente na trajetória atlética de um boxeur dentro do ringue. "Touro Indomável" conta a história de um boxeador talentosíssimo, Jake LaMotta, que tinha tudo para alçar vôos cada vez maiores mas que por seu temperamento e indisciplina, vai aos poucos pondo toda sua carreira e, por consequência, sua vida a perder. A contagem foi aberta.





Cly Reis


sábado, 30 de julho de 2016

"Homem-Formiga", de Peyton Reed (2015)


E eu hesitei em ver "Homem-Formiga"! Não é nenhuma obra-prima, filmaço, não é o melhor filme da Marvel mas é muito bacana. Entretenimento e diversão garantidos. Um personagem carismático, situações engraçadas, cenas de ação de tirar o fôlego, efeitos especiais empolgantes, uma história coerente dentro do que se propõe e totalmente encaixada dentro do universo Marvel, cheia de ganchos e ligações com personagens e projetos futuros da produtora.
Um ladrão brilhante, recém saído da cadeia, Scott Lang (Paul Rudd), é o cara certo para recuperar para um cientista, Hank Pymm (Michael Douglas), o projeto de um traje que permitirá que pessoas possam ser encolhidas para fins bélicos. Utilizando o protótipo, o projeto original, Lang deve entrar nas instalações da antiga empresa onde Pymm trabalhou durante anos e, fazer o que sabe de melhor, roubar o projeto.
As cenas de encolhimento e aumento do personagem são demais, a cena do trenzinho Thomas e da formiga gigante já nos momentos finais do filme é um barato mas, se eu já estava gostando do filme àquelas alturas, a cena do "Disintegration" foi pra ganhar de vez um fã de The Cure como eu. Mas nem precisava. Não foi por causa disso. O filme é bem legal.
A cena do trenzinho:
Ação em miniatura.





Cly Reis

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Cinema Marginal #4 - "O Anjo Nasceu", de Júlio Bressane (1969)



Desta vez trago para vocês um filme mais "simples": "O Anjo Nasceu", de Júlio Bressane, de 1969. A historia é bem descomplicada e sua narrativa é bastante linear, mas é claro que seus personagens são cheios de alegorias e o espectador deve estar preparado para mais uma obra amoral (ou nem tanto).
Dois bandidos saem pela cidade cometendo atos de violência. Santamaria (Hugo Carvana), místico que acredita que com seus atos está se aproximando de um anjo que lhe limpará a alma; e Urtiga (Milton Gonçalves), um marginal ingênuo que segue os passos do amigo acreditando também, por sua ingenuidade, no anjo da salvação.
Qual a chance de salvação 
destes dois marginais?
Não é a primeira vez nem a ultima vez que falo isso sobre os filmes marginais mas não é um filme que vá agradar todo mundo. Há cenas de violência bem fortes, violência contra mulher, violência contra homossexuais, existe toda uma crítica religiosa e dependendo de como você receber o filme tudo isso pode não soar muito legal. A qualidade da imagem e som também são fatores que se deve superar ao assistir o filme mas essa era exatamente a proposta estética do cinema marginal.
As cenas do sequestro são bastante fortes bem como  as atuações
dos atores principais. Esse momento, especificamente, é fabuloso.
Apesar de ser uma quase antiestética, ela é muito bem utilizada por Bressane e seus planos longos (ou exageradamente longos) funcionam bem criando grande dramaticidade uma tensão nas cenas. É uma obra bem silenciosa mas em muitos momentos deste silêncio que muita coisa é dita.  A brincadeira visual que o filme faz com as placas que aparecem "incidentalmente" é genial em muitos momentos, como por exemplo, próximo ao final, quando os bandidos estão em um circo e ao fundo pode ver-se uma placa com dizeres "O encontro com a morte", e também no momento onde vão até um cinematógrafo e a câmera permanece durante algum tempo, uns vários segundos em close na placa "Cinematographo". Genial essa brincadeira toda. A crítica mais evidente do filme é a pessoas que cometem atos brutais buscando uma suposta salvação de suas almas, que buscam na religião a desculpa para seus atos e independente da crença, seita, doutrina ou seja lá o que for, isso fica claro no longa.
A minha cena favorita no filme é quando os dois bandidos, Urtiga e Santamaria,  estão comendo na mesa juntamente com a dona da casa ondes estão se escondendo, quando Santamaria expõe para a dona da casa sua maneira de pensar que é na verdade um perfeito resumo da proposta do filme e de certa forma, por extensão, do cinema marginal, "O que está certo é o errado... E o que está errado, pra mim é o certo".
Uma obra fantástica pela maneira como foi feita e pela ideia que transmite, tudo com muita criatividade utilizando bem as técnicas cinematográficas para, mesmo com pouco recurso, fazer muita coisa. Sua ambição claramente não era grandiosa mas vê-se as ferramentas cinematográficas sendo usadas de uma maneira tão inteligente que o exagero teatral dos personagens acabam fazendo sentido e tornando-se necessários, tamanho a grandiosidade artística da obra, que é forte, crua e real.
A placa ao fundo "Encontro com a morte".