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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cinema Marginal #1 - "A Margem", de Ozualdo Candeias (1967)



Um filme completamente à margem do que estava sendo feito na época, com personagens completamente à margem de uma sociedade que não os aceitava (e até hoje não aceita bem). "A Margem" foi o pontapé inicial de uma bela carreira de Ozualdo Candeias e início triunfante do Cinema Marginal.
Na favela às margens do rio Tietê, duas trágicas histórias de amor, dois casais que a sociedade ignora e que, em meio à miséria e a luta pela sobrevivência, tentam encontrar-se através do sentimento.
O que seria essa estranha mulher de cabelos negros?
Não é um filme fácil, não e simples, é aberto a várias interpretações. Tem um estilo de filmagem mais natural, quase documental com os personagens muitas vezes sendo filmados tão de perto que chegam a dar a impressão que estão olhado para você, que estão falando com você. Essa aproximação com os personagens provoca um certo desconforto o que acredito tenha sido um dos motivos pelos quais muita gente que viu o filme não tenha gostado, justamente por esse deslocamento do convencional. A narrativa do filme também foge bastante do convencional apresentando poucos diálogos, atuações parecendo improvisadas pelos atores, áudio ruim e uma estética um tanto suja, podendo até mesmo, numa análise meio precipitada ser qualificado com "feio", mas numa segunda boa olhada (ou numa primeira bem caprichada) consegue-se perceber muito beleza no modo que como é filmado, a qualidade de seus enquadramentos, seu cenário e toda a poesia contida nele.
Um dos grandes pontos positivos do filme é forma como a morte é trabalhada em sua narrativa, como ela é introduzida de uma maneira inesperada mas que acaba dando um novo olhar para os personagens. A morte tem sua carga de dor, perda e tristeza, porém os personagens que vão morrendo (desculpe o spoiler mas não vou contar quais) reaparecem logo adiante no filme mais alegres como se a morte os tivesse libertado daquela situação de existência precária, onde viviam.
Nossos amados protagonistas.
O amor também tem um papel fundamental uma vez que todos os protagonistas têm alguma paixão e isso os motiva. Vivem na miséria quase sem nada, entre eles temos prostitutas,  um  motorista de caminhão, um deficiente mental e um estranho homem que aparenta estar perdido, no entanto, mesmo com suas dificuldades, todos ainda amam. O amor, por mais pobre que a pessoa seja, é algo que ela consegue compartilhar. A riqueza dos personagens está na grandiosidade de seu amor. Que lindo isso, não é?
Deve-se assistir o filme com um olhar atento. Ainda que sua estética possa causar desconforto, o áudio seja ruim e os diálogos pareçam complicados, tudo é totalmente bem proposital e todaa crítica social que carrega ainda é muito atual. "A Margem" é delicado como flor mas por outro lado tem muita força. É uma obra com poucos diálogos mas o bastante para que muita coisa seja dita, mais do que isso, GRITADA!