Olorum no toró: uma homenagem a Moacir Santos
Moacir Santos (1926-2006)
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Trio 3-63: apresentação curta porém marcante
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Formado pela flautista Andrea Englert, pelo pianista Paulo Braga e pelo percussionista Marcos Suzano, três feras, o Trio 3-63 destilou um show curto mas emocionante do início ao fim, onde predominou a execução perfeita, unindo técnica e alma, e, claro, a reverência a Moacir Santos, instrumentista, arranjador e compositor, autor de obras-primas da MPB, como o célebre álbum “Coisas”, de 1960, e “Opus 3 nº 1”, de 1979. Moacir, que viveu grande parte de sua vida artística nos Estados Unidos, onde é venerado, foi, ao lado de Tom Jobim e Hermeto Paschoal, o grande mestre da revolução harmônica da música brasileira moderna. Sua estética tem, com um hibridismo impressionante, toques de jazz e erudito misturados aos ritmos essencialmente brasileiros, bebendo no vasto folclore do nordeste (maracatu, coco, roda, xaxado, cantos religiosos), na tradição dos ritmos afro-brasileiros (lundu, jongo, candomblé, samba, marcha, choro, maxixe) e até caribenhos (rumba, habanera, cuban jazz). Tudo sempre com muito bom gosto e perfeição.
Marcos Suzano, fera da percussão |
Mas o trio guardaria ainda outras duas surpresas. Primeiro que, a certa altura, o trio passou a quinteto. Primeiramente, com a entrada no palco do multi-instrumentista Lui Coimbra, que tocou violão e cantou a suave e brejeira “A Santinha lá da Serra”, parceria de Moarcir com o poeta Vinícius de Moraes. Depois, ao cello, Lui acompanhou a banda em outra novidade do show: “The beautiful life” e “Love Go Down”, canções inéditas no Brasil resgatadas por Andrea no acervo de Moacir nos EUA.
Ao final do show, junta-se aos integrantes o cantor e percussionista Carlos Negreiros, negro alto, tipo etíope, todo de branco como que uma entidade da umbanda. Com seu bongô e sua bela voz grave, mas de refinado alcance dos agudos, cantou com os quatro “Coisa nº 8 - Navegação”, de charmosa melodia e letra poética (“Depois de tanto palmilhar/ Desvios e bifurcações/ Da proa desta embarcação/ Consigo interpretar, enfim/ A carta de navegação/ Que o mar traçou dentro de mim”), proporcionando o momento mais emocionante do show. Foi também Negreiros quem creditou a Olorum, senhor da criação e dos céus, o milagre de estarmos ali, mesmo com o toró que o próprio orixá fazia cair lá fora. Só podia ser uma mensagem divina, pois fomos, de fato, abençoados nesta noite. Por Olorum e por Moacir Santos, cuja poderosa alma estava lá também, encharcando-se de alegria e beleza como nós todos.
por Daniel Rodrigues