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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Caetano Veloso – Teatro do SESI – Porto Alegre/RS (19/07/2014)



Caetano abrindo o show em Porto Alegre
(foto: Leocádia Costa)
Um show de Caetano Veloso, para mim, é mais do que um show: é a confirmação de todo um paradigma de percepções e ideologias. Vê-lo no palco é deparar-me com uma série de conceitos e formas muito pessoais de enxergar a vida, que se confirmam e dialogam com sua obra grandiosa e impactante. Há exatos 22 anos, com 13 de idade, já havia tido essa experiência numa apresentação da turnê do disco “Circuladô”, um dos melhores da carreira de Caetano. À época, em parceria com Arto Lindsay e Peter Scherer (os Ambitious Lovers), Caê tinha em sua banda Jacques Morelenbaum, Luiz Brasil, Dadi, Marcelo Costa, Marcos Amma e Wellington Soares, que davam ao espetáculo, numa sonoridade cheia e moderna, uma roupagem proto-world music – ao estilo da forjada por Ruyichi Sakamoto e pelos próprios Ambitious Lovers nos anos 80.

Pois, desta vez, nada de sonoridade “rebuscada”, de banda numerosa, de complexidade timbrística, de pop étnico-modernista. No palco, para o show do CD "Abraçaço", apenas ele ao violão e a competentíssima banda Cê, formada por Pedro Sá (guitarras), Marcelo Callado (baixo e teclados/efeitos eletrônicos) e Ricardo Dias Gomes (bateria e percussão). Uma formação simples e com a secura e objetividade do rock, o suficiente para um show espetacular. E mais do que isso: tão conectado com a contemporaneidade como sempre esteve este baiano, um artista fundamental para a formação de tudo o que há de mais inovador e sintonizado há 50 anos. A maior prova disso já estava na abertura, com o petardo “A Bossa Nova é Foda”. Não me venham com o tributo retrô do Daft Punk ao Chic em “Get Lucky” ou muito menos “Reflektor”, da saudada “nenhuma novidade” Arcade Fire. A brasileira “A Bossa Nova...” é de longe a melhor música de 2013. (coisa que muito tupiniquim vira-latas, que nem no futebol mais vence, jamais se sentiria merecedor.)

Embora o público do teatro fosse bem heterogêneo em idade, a abertura rock ‘n’ roll os pegou, se não desavisados, ainda um tanto frios e aguardando, em sua maioria, os clássicos. Que não tardaram em aparecer. Num deslocamento temporal de 48 anos, Caetano vai de uma canção do último trabalho para retrazer uma de seu debut, a obra-prima “Coração Vagabundo” (de “Domingo”, gravado em parceria com Gal Costa, em 1966). Além da ligação temática entre ambas, visto que trazem a bossa nova de João/Tom/Vinícius em seu cerne (na rock, em palavra; na samba, em forma), estava evidente ali a versatilidade da banda. Dentro da concepção harmônica proposta por Caetano, o trio executa com perfeição tanto uma quanto a outra, visto que “Coração Vagabundo” não ficara agressiva nem perdera a expressividade melancólica original.

O show é uma aula de escolha de repertório, composto por obras novas e antigas e outras bem pescadas. Aliás, comento frequentemente que artistas como ele, donos de obras extensas, profícuas e multirreferenciadas como um Gilberto GilChico BuarquePaul McCartney ou Stevie Wonder, têm o privilégio de poderem exercitar infinitas variações de set list, valendo-se tanto de músicas de sua autoria de diversas épocas como também composições de outros que dialoguem com aquele projeto. Foi assim que Caetano seguiu o show, intercalando faixas do ótimo "Abraçaço" (sobre o qual já escrevi aqui no blog), como a excelente faixa-título, o empolgante samba-reggae “Parabéns” e a “graciliana” “O Império da Lei”, com aquelas preferidas da galera. Foi o caso da breve mas emocionante execução de “Alguém Cantando”, originalmente na voz de seu filho, Moreno Veloso, no álbum “Bicho”, de 1977, e que só a tinha escutado com Caetano numa cena do filme “O Mandarim”, do Júlio Bressane, quando o autor a canta à capella.

Exemplo perfeito desse encadeamento bem pensado entre os números foi a trinca iniciada com a épica “Um Comunista”, do novo disco, que ganha ao vivo ainda mais dramaticidade ao contar, em forma de “biografia emotiva”, a trajetória do revolucionário baiano Carlos Marighella pelo olhar de Caetano, conterrâneo e admirador. O tema e a carga emocional desta desembocam na ainda mais grandiosa “Triste Bahia”, clássica adaptação do poema de Gregório de Matos feita por Caetano para seu célebre álbum "Transa", de 1972. O público, claro, delira com essa, tocada com muita competência pela banda, que consegue repetir/adaptar todas as variações rítmicas e harmônicas que a complexa melodia suscita. Pra finalizar o conjunto de três temas, outra nova: “Estou triste”, a deprimida canção que transportou a tristeza da Bahia para o Rio de Janeiro (“O lugar mais frio do Rio é o meu quarto”).

A festa seguiu para todos os gostos. Num palco onde só se viam cavaletes com quadros de construtivistas-minimalistas, a bela iluminação ressaltava o que interessava: a música. A expressividade do gestual longilíneo de Caetano se adensa no seu canto absolutamente afinado e bem pronunciado. Vieram, assim, na sequência, também “Odeio” e “Homem”, ambas de pegada bem rock e do início da parceria com a banda Cê; a romântica “Quando o galo cantou”, cuja execução ao vivo pareceu trazer-lhe com mais vivacidade a beleza da poesia; e a “matadora” “Funk Melódico”, das melhores e mais conceituais de "Abraçaço", em que Pedro Sá dá um show na guitarra. Sá, aliás, é, como em todo bom show de rock, quem sustenta a banda. Isso fica evidente na feliz recuperação de “De Noite na Cama”, tal qual a versão original que Caetano compusera para Erasmo Carlos em 1971. Isso se nota ainda mais na regravação de outra clássica: “Eclipse Oculto”, um pop a la Blitz, de 1984, que, agora, ganha peso e distorção, dando quase para “pogueá-la”.

Caê e banda mandando
um Abraçaço para a galera
(foto: Tita Strapazzon)
As fantásticas “Reconvexo” (imortalizada na voz da irmã Maria Bethânia), com sua poesia forte e altamente pessoal, e a picante “Você não entende nada” aplacaram de vez o coração de fãs como eu. Esta última, de tão querida que é na versão do disco “Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo”, chegou a ser cantada pela plateia no momento do refrão com os versos de “Cotidiano”, de Chico, que se intermeia com a de Caetano naquela apresentação de 1972. No palco, Caetano cantava: “Eu quero que você venha comigo”, e o público replicava: “Todo dia, todo dia”. Demais.

No bis, um erro e um acerto. Acerto por que ele abriu com nada mais, nada menos que “Nine Out of Ten”, outra clássica do "Transa". O erro? Pegar uma música em inglês, que não são todos que acompanham, justo para essa volta ao palco, o que esfriou um pouquinho a animação da saída em alto estilo com “Eu quero...”. Mas nada demais para um repertório tão lindo e tão significativo, biográfico em muitos dos casos, pois a música de Caetano conta a história de muitos momentos da vida de várias gerações. É por se identificar com isso que digo ser seu show mais do que uma mera apresentação. Ouvir Caetano, e assim tão proximamente, é um encontro comigo mesmo através do milagre dos sons. Foi assim em 1992, e agora novamente em 2014. Ali naquele palco, naquela objetividade e clareza rocker que permeia a proposta desse show, estavam muito mais do que somente ele e a banda. Estavam vivos a Rádio Nacional, a herança ibérica, a influência árabe no Ocidente, o sincretismo, o jazz, a filosofia, a contracultura, o barroco, o morro. A bossa nova. Tudo numa total harmonia e simbiose – algo que reflete minha forma de enxergar o mundo.

Depois de tudo isso, bastava acabar com um número gostoso e pegajoso nos ouvidos. Foi o que fez Caê ao finalizar o show com “Luz de Tieta” (e nem aí ele diz SOMENTE isso, pois que tal música recupera Jorge Amado e o “lirismo documental” de sua geração: Caymmi, Verger, Caribé...). Show daqueles que se sai com a sensação de terem valido cada centavo, com Caetano mostrando porque, aos 72 anos, consegue ser um dos artistas mais inquietos da música mundial. Mesmo que muito tupiniquim nem ouse admitir isso.




fotos: Leocádia Costa e Tita Strapazzon


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Jorge Ben - "África Brasil" (1976)


"O Jorge [Ben] é o cara que eu conheço
que consegue colocar mais
palavras num mesmo verso."
Jô Soares



Se a expressão samba-rock pode ser atribuída à música de um artista, esse cara com certeza é Jorge Ben. Agora, se tem um disco para o qual esta mesma expressão possa ser aplicada com perfeição, esse álbum é o "África Brasil". Neste disco de 1976, Jorge Ben com a ajuda de uma banda de peso, cheia de suíngue, embalo, com músicos de diversas procedências e influências, trocava o violão pela guitarra elétrica e conjugava magistralmente os elementos básicos destes dois estilos, enriquecendo-os ainda com outros como funk, soul e jazz, obtendo um resultado absolutamente inigualável. Pode-se dizer que "África Brasil" é mais ou menos como Bob Dylan 'abandonado' as canções folk e pegando a guitarra... Só que aqui sem as vaias.
Com eletricidade, potência, ímpeto e pegada, "O Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)", que dá as boas-vindas no disco, é o sonho de qualquer banda que tenha tentado dotar seu rock de embalo. Com um riff contagiante e pungente, um baixo envolvente e uma cozinha que mescla funk, samba e batidas afro, a música que fala de um atacante carismático e goleador, a quem torcida saíra de casa somente para ver jogar, talvez seja o melhor exemplo dessa sonoridade pretendida e obtida por Jorge Ben neste álbum.
"Hermes Trismegisto Escreveu", uma das referências e amarração com o disco "A Tábua de Esmeralda" é uma incrível soul music da melhor qualidade onde reaparecem os interesses do cantor por assuntos místicos; já demonstrados em outros trabalhos; o futebol por sua vez, também volta a aparecer em "Meus Filhos, Meu Tesouro", batucada, carregada de brasilidade e ritmo, é interessantemente cantada à rock por Jorge Ben, chegando a rasgar a voz em determinados momentos, numa descontraída declaração de amor aos filhos. As boas "O Filósofo" e "O Plebeu" mantém a tradição do sambalanço de letras quase ingênuas características do cantor; e o clássico "Taj Mahal" ganha uma versão mais elétrica, mais guitarrada, mas interessantemente, cheia de cuícas.
"Xica da Silva", que serviu de trilha sonora para o filme homônimo, narra, em um samba manemolente e sensual, a história de uma negra que ascendeu à aristocracia brasileira graças a um caso com um nobre português na época do Império, bem naquele estilo característico de letra de Jorge Ben, de versos extensos com o máximo de palavras possíveis como observou muito bem certa vez o apresentador Jô Soares numa entrevista com o diretor do filme, Cacá Diegues.
Em "A História de Jorge", o cantor faz aquela tradicional auto-referência ("Jorge de Capadócia", "Jorge Well") dotando desta vez o personagem de mesmo nome que ele com o poder de voar; em "Camisa 10 da Gávea", Jorge Ben expressa mais uma vez sua paixão pelo futebol manifestando dessa vez sua admiração pelo ainda jovem craque rubro-negro, Zico, num samba-jazz cadenciado com mais um trabalho admirável do baixista Dadi, o Leãozinho da música de Caetano Veloso, ex-Novos Baianos e que viria a tocar em bandas como A Cor do Som e Barão Vermelho.
O Babulina faz a também costumeira homenagem a seu santo de devoção e igualmente xará, São Jorge, no rock-jazz-samba frenético e acelerado "O Cavaleiro do Cavalo Imaculado"; e fecha o disco com a faixa que lhe empresta o nome, "África Brasil", que na verdade não seria mais que uma versão da música "Zumbi", do álbum "A Tábua de Esmeralda", em outra referência-laço com aquele disco clássico, se não fosse sua agressividade rock, gritada e rasgada, a ponto de me lembrar "California Über Alles" dos Dead Kennedy's.
 "África Brasil" foi o responsável pela retomada da minha coleção de LP's uma vez que há uns 3 anos atrás, numa exposição sobre vinil, no CCBB resolvi comprar a reedição em bolachão deste clássico que havia acabado de sair (cara $$$), antes mesmo de comprar um novo toca-discos. Mas agora tenho ambos, o LP e o toca-discos. Bom,... e na verdade tenho o CD também.
Por muitos, "África Brasil" chega a ser apontado como o melhor disco nacional de todos os tempos e embora não seja o meu, entendo a preferência e não considero nenhum absurdo. Com certeza é um dos grandes álbuns da discografia nacional e mais uma obra-prima da fase mais criativa de Jorge Ben.
Salve Jorge!
Salve a África!
Salve "África Brasil"!
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FAIXAS:
01 – Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)
02 – Hermes Trismegisto Escreveu
03 – O Filósofo
04 – Meus Filhos, Meu Tesouro
05 – O Plebeu
06 – Taj Mahal
07 – Xica da Silva
08 – A História de Jorge
09 – Camisa 10 da Gávea
10 – Cavaleiro do Cavalo Imaculado
11 – Africa Brasil (Zumbi)


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Ouça:


Cly Reis

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Meus 10 melhores baixistas de todos os tempos

Não é a primeira vez – nem deve ser a última – que, abismado com alguma lista de supostos “melhores” publicada na imprensa, eu venha aqui por meio do Clyblog manifestar a minha contrariedade. E preferências. O modo de fazê-lo é, no entanto, não apenas criticando, mas montando a minha própria lista em relação àquele mesmo tema. Desta vez, o alvo é uma listagem publicada pela famosa revista de música britânica New Musical Express, que elencou os 40 maiores baixistas de todos os tempos (?!).

De novo, minha ressalva é pelos critérios. Como respeitar uma seleção que não inclui, pelo menos entre os 40, nomes fundamentais do instrumento para o desenvolvimento da música pop como Geddy Lee, do Rush, ou Steve Harris, do Iron Maiden? “Ah, Simon Gallup (The Cure) e Matt Freeman (Rancid) não são ‘dinossauros’ virtuosos”. Mas Krist Novoselic (Nirvana) nem Colin Greenwood (Radiohead) o são – e estão entre os votados. E mais: está lá – por merecimento, diga-se – o jazzista Charles Mingus. Ok, mas, se vai entrar na seara do jazz, da qual diversos músicos são de altíssima qualidade, técnica e influência, como não abarcar os óbvios nomes de Ron Carter, Paul Chambers, Jimmy Garrison, Stanley Clarke, Marcus Mïller e Dave Holland? Ou ainda: em 40, nenhum brasileiro? Nem Dadi, Bi Ribeiro ou Arthur Maia? Num mundo globalizado e conectado como o de hoje, foi-se o tempo em que músicos como eles eram meros desconhecidos de um país de música desimportante para o cenário mundial.

Como dizem por aí: “se não sabe brincar, não desce pro play”! Parece, sinceramente, que a tão consagrada NME não tem gente suficientemente entendedora daquilo que está tratando. As lacunas, sejam pelos critérios tortos, desconhecimento ou até preconceito, comprometem as escolhas largamente. Além disso, a ordem de preferências é bastante questionável. Parece terem optado por contemplarem baixistas de todos os estilos e subgêneros dentro daquilo que se considera música pop e deram “com os burros n’água”. Claro que há acertos, mas muito mais pela obviedade (seriam também loucos de não porem Jaco Pastorius, John Paul Jones, Kim Deal ou John Entwistle), fora que há aberrações como Flea aparecer numa ridícula 22ª posição - a Rolling Stone, em 2011, havia escolhido o baixista do Red Hot Chili Peppers como 2º melhor...

Pois, então, minimamente tentando “corrigir” o que li, monto aqui a minha lista de 10 preferidos do contrabaixo. Toda classificação deste tipo, inclusive a minha, é cabível de julgamento, sei. Porém, ao menos tento, com o conhecimento e gosto que tenho, desfazer algumas injustiças a quem ficou inexplicavelmente mal colocado ou, pior, nem incluso foi. E faço-o com algumas regrinhas: 1) sem ordem de preferência; 2) lançando breves justificativas e; 3) ao final de cada, citando três faixas em que é possível ouvir bons exemplos do estilo, performance e técnica de cada um dos escolhidos.

1 - Peter Hook
Um dos mal colocados da lista da NME, Peter Hook é certamente o baixista da sua geração que melhor desenvolveu sua técnica, tornando-se quase que o principal “riffeiro” do New Order. Entretanto, seu estilo próprio e qualidade já se notam desde o 1º disco da Joy Division. Baixo inteligente, potente e de muita personalidade.

Ouvir: “She’s Lost Control” (Joy Division); "Leave Me Alone" (New Order); “Regret” (New Order)



2 - Ron Carter
Qualquer um que pense em elencar os melhores contrabaixistas de todos os tempos, jamais pode deixar de mencionar o mestre do baixo acústico, cujo toque inconfundível tem inequívoca presença para a história do jazz, da MPB e da música pop moderna. O homem simplesmente tocou no segundo quinteto clássico de Miles Davis, participou da gravação de “Speak No Evil”, do Wayne Shorter, e tocou nos discos “Wave” e “Urubu” de Tom Jobim, pra ficar em três exemplos. Aos 80 anos, Ron Carter é uma lenda vida.

Ouvir: “Blues Farm” (Ron Carter); “O Boto” (com Tom Jobim); “Oliloqui Valley” (com Herbie Hancock)


3 - Flea
O cara parece de outro mundo. Compõe linhas de baixo complexas e não apenas sustenta tal e qual durante os show como o faz improvisando e pulando enlouquecidamente. Vendo Flea no palco, seja na mítica banda punk Fear, no Chili Peppers ou em participações como as com Jane’s Addiction e Porno for Pyros, parece fácil tocar baixo. Como diziam Beavis & Butthead: “Flea detona!”

Faixas: “Sir Psycho Sexy” (Red Hot Chili Peppers); “Pets” (Porno for Pyros); “Ugly as You” (Fear)


4 - Jaco Pastorius
Dos acertos da lista da revista. Afinal, como deixar de fora a maior referência do baixo do jazz contemporâneo? O instrumentista e compositor, presente em gravações clássicas como “Bright Size Life”, de Pat Metheny, e “Hejira”, de Joni Mitchell, equilibra estilo, timbre peculiar e rara habilidade. Como seria diferente vindo de alguém que se diz influenciado (nessa ordem) por James Brown, Beatles, Miles Davis e Stravinsky?

Ouvir: “Birdland” (com Weather Report); “The Chicken” (Jaco Pastorius); “Vampira” (com Pat Metheny)


5 - Geddy Lee
Quando o negócio é power trio, fica difícil desbancar qualquer um dos três no seu instrumento. Caso de Geddy Lee, do Rush. Mas acreditem: ele não está na lista da NME! Pois é: alguém que cria e executa linhas de baixo altamente criativas, de estilo repleto de contrapontos (e ainda toca teclado com o pé ao mesmo tempo), não poderia deixar de ser citado jamais. Pelo menos aqui, não deixou.

Ouvir: “La Villa Strangiato”; “Xanadu”, “Spirit Of The Radio


6 - Les Claypool
Outro dos gigantes do instrumento que não tiveram sua devida relevância na lista da NME (29º apenas). Principal compositor de sua banda, o Primus (outro power trio), Claypool, além disso, é um verdadeiro virtuose, que faz seu baixo soar das formas mais improváveis. Tapping, slap, dedilhado, com arco: pode mandar, que ele manja. Domínio total do instrumento.

Ouvir: “My Name is Mud”; “Tommy The Cat”; “Mr. Krinkle


7 - Simon Gallup
Se Peter Hook aperfeiçoou o baixo da geração pós-punk, colocando-o à frente muitas vezes da sempre priorizada guitarra no conceito harmônico do Joy Division e do New Order, o baixista do The Cure não fica para trás. Dono de estilo muito próprio, seu baixo é uma das assinaturas do grupo. Se a banda de Robert Smith é uma das bandas mais emblemáticas dos anos 80/90 e responsável por vários dos hits que estão no imaginário da música pop, muito se deve às quatro cordas grossas de Gallup.

Ouvir: “Play for Today”; “Fascination Street”; “A Forest


8 - Mark Sandman
Talvez a maior injustiça cometida pela NME – pra não dizer amnésia. Se fosse apenas pela mente compositiva e pelo belo canto, já seria suficiente para Sandman ser lembrado. Mas, além disso, o líder da Morphine, morto em 1999, era um virtuose do baixo capaz de inventar melodias com a elegância do jazz e a pegada o rock. Fora o fato de que seu baixo soava a seu modo, com a afinação totalmente fora do convencional, que ele fazia parecer como se todos os baixos sempre fossem daquele jeito: geniais.

Ouvir: “Buena”; “I'm Free Now”; “Honey White



9 - Bernard Edwards
A Chic tinha na guitarra do genial Nile Rodgers e no vocal feminino e no coro de altíssima afinação uma de suas três principais assinaturas. A terceira era o baixo de Bernard Edwards. O toque suingado e vivo de Edwards é um patrimônio da música norte-americana, fazendo com que a soul disco cheia de estilo e harmonia da banda influenciasse diretamente a sonoridade da música pop dos anos 80 e 90.

Ouvir: "Good Times" (Chic); “Everybody Dance“ (Chic); “Saturday” (com Norma Jean)"



10 - Bootsy Collins
Quando se pensa num contrabaixista tocando com habilidade e alegria, a imagem que vem é a de Bootsy Collins. Ex-integrante das míticas bandas Parliament-Funkadelic e da The J.B.’s, de James Brown, Bootsy é um dos principais responsáveis por estabelecer o modo de tocar baixo na black music. Quem não se lembra dele no videoclipe de “Groove is in the Heart” do Deee-Lite? A NME não lembrou...

Ouvir: “P-Funk (Wants to Get Funked Up)” (com Parliament); “Uncle Jam” (com Funkadelic); “More Peas” (com James Brown & The J.B.'s)



por Daniel Rodrigues
com a colaboração de
Marcelo Bender da Silva
e Ricardo Bolsoni